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3 O ESPAÇO DA EDUCAÇÃO NAS REDES DA TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: CONTEXTOS DE ENSINO E O

3.3 Reflexões Geográficas das redes tecidas pelas TIC: Espaço virtual de ensino no contexto UAB

A episteme geográfica aborda o espaço de diversas maneiras, o espaço construído nas relações humanas, no vivido, no poder, no natural, dentre outros. O espaço possui diversos conceitos, amplamente discutidos na geografia, porém o espaço virtual que vem sendo construído, pela maioria das análises dos autores nas abordagens sobre as TIC, se apresenta desprovido de corpo e significado, como algo que existe, mas não é paupável ou concreto. O espaço virtual que se

constrói a partir do ensino UAB pode ser considerado amplamente real. Ele se constrói a partir de inúmeras relações sociais em movimento contínuo e em constante expansão.

O espaço virtual apontado por muitos autores como abstrato/subjetivo se configura de forma concreta e visível no contexto da proposta de ensino da Geografia- UAB, por interligar diversos sujeitos distintos em relação à sua cultura, ao seu território de contextos socioeconômicos diferentes, independentemente do tempo e distância que ocupam. Portanto, os fixos e os fluxos podem se conectar de diversas maneiras dentro desses nós invisíveis, mas possuidores de ligações paupáveis e reais em meio à informação e à comunicação dos sujeitos.

Indubitavelmente, a extensão da mudança no mundo digital está nas infinitas possibilidades de processar a linguagem e a comunicação.

De acordo com Chatfield (2013), há mais de um século que temos a televisão e o rádio, no entanto, em apenas duas décadas, a internet e as tecnologias em rede global inteligente nos unem a objetos e pessoas que, no futuro, através de chips e bases de dados centralizados, podem criar um tipo de ligação nunca visto entre carros, roupas e alimentos, isto é, entre o mundo fabricado à nossa volta. Tudo isso originado pelas novas informações sobre o mundo em quantidades inovadoras, informações de onde estamos, o que estamos fazendo, e que tipo de pessoas somos. Então, como nós indivíduos podemos vingar no mundo digital? Como fica nossa identidade pessoal, privacidade, comunicação, atenção e a regulação de todos esses aspetos enfrentados diariamente?

Para Chatfield (2013), a natureza da tecnologia digital é tão multifacetada como a própria natureza humana, podendo desempenhar muitos papéis nas nossas vidas: mediador, biblioteca, amigo, sedutor, conforto, prisão. São telas e espelhos em constante mudança, nos quais temos a oportunidade de nos ver a nós próprios e aos outros como nunca antes. Chatfield (2013) admite que Marshall McLuhan foi o pioneiro nos estudos da comunicação e afirmou que as tecnologias mudaram as nossas relações de espaço e tempo e que somos criaturas tecnológicas.

Chatfield (2013) adverte que, desde a invenção da escrita, o mundo tem sido transformado por tecnologias intelectuais, tecnologias que nos permitem expandir a mente. Com palavras, imagens e filmes, um computador é capaz de simular todos os outros meios de comunicação por um unico sistema integrado e sustentado pelos domínios imateriais da própria informação.

Segundo Chatfield (2013), o mais importante de tudo isso é o fato de os dispositivos digitais serem capazes de apresentar e reproduzir informação e construir outros mundos. O mundo digital atrai pessoas para suas densas possibilidades, muitas vezes experiências com significado

mais profundo do que experiências meramente reais. “o sujeito online pode não ser a mesma pessoa em carne e osso” Chatfield (2013, p. 31).

Ao atravessar imaterialmente o espaço online, encontramos mais facilidades do que quando partilhamos um espaço físico. Pode ainda reduzir as outras pessoas ao nível de objetos, como presença que desligamos a nosso bel-prazer, tratando aspectos digitais como complexos e confusamente humanos. Avatares e segundas personalidades em jogos e outras páginas sociais não só proporcionam uma fuga à realidade, também criam um caminho ao encontro de outras pessoas e novas formas de ligação. “[...] nos tempos que correm e a entender um futuro no qual a tecnologia irá mediar e definir cada vez mais intimamente o que significa ser humano” Chatfield (2013, p. 34). Em razão disso, as normas comportamentais alteram hábitos de estar no mundo, ligados ou desligados em um conjunto de possibilidades de pensamento e de ação.

[...] as maiores vantagens de vivermos ligados à internet. Conectados à colméia mental do mundo, dispomos de velocidade e alcance. Podemos pesquisar e referenciar numa questão de minutos uma grande parte do conhecimento reunido pela humanidade, bem como rumores e opiniões. Estamos apenas a poucos momentos de um contato com milhares de outras pessoas. [...] Graças ao assombroso poder informativo dos nossos meios de comunicação, o tempo é mais do que nunca o recurso mais precioso que temos. (CHATFIELD 2013, p. 44)

Chatfield (2013) adverte que arriscamos transformar os seus milagres em armadilhas de tempo multifacetado ou multifuncional, capacidade de simultaneidade de vários tipos de tarefas. Mas tem igualmente de existir tempo e espaço para outras liberdades e para trabalharmos segundo métodos cuja única justificação necessária é a de que resultem conosco. A Google possui a tendência de tratar os serviços digitais como se fossem naturais ou inevitáveis, como coisas fora da história e do erro humano numa paisagem de comunicação, não são menos criados pelo ser humano do que um par de calças de ganga ou uma pilha Duracell. Por detrás de suas existências aparentemente inefáveis, estão contextos históricos e humanos prontos a serem discutidos.

Chatfield (2013) propõe que o estudo e discussão dos meios de comunicação digital se tornassem parte obrigatória dos sistemas de educação no mundo inteiro, juntamente com as letras, os números e as ciências, uma combinação de história digital com oportunidade para debater as realidades e limitações de todas as coisas, desde serviços de comunicação e motores de busca até avatares e jogos. Um terreno comum para as gerações trocarem história e experiências sobre o mundo digital de acordo com suas experiências.

A informação está ao alcance da mão, ainda que não sob a forma de uma resposta única, porém o processo de seleção dessa informação já não tem lugar antes de ser enviado para o mundo. Em vez de primeiro selecionar e depois publicar, primeiro publica-se e só depois se responde às próprias seleções do mundo, maximizando persistentemente as coisas que ganham público e despendendo pouco esforço nas que não conseguem. “[...] as batalhas pela cultura e as ideias são na maioria das vezes dominadas por aqueles poucos que conseguem ganhar a atenção das massas” (CHATFIELD, 2013, p. 94).

A respeito da comunicação, o autor infere que todos nós somos hoje emissores e comentadores, tal como somos jornalistas, locutores de rádio, críticos, consoladores e assessores de imprensa de nós próprios, o tempo inteiro. Sobre as relações sociais, afirma existir a possibilidade de as pessoas sofrerem nas mãos de outras pela combinação digital de distância e anonimato e perda de qualidade de vida graças à extrema facilidade de comportamentos digital exploradores, redutores e potencialmente viciantes. Conclui que, para o uso eficiente da TIC, todos nós precisamos ser mais do que objetos uns para os outros, de encontrar espaços online e offline que nos aceitem em pessoa como indivíduos merecedores de civilidade. Devem ser traçados limites online e em pessoa, nós somos humanos na medida em que os outros nos deixam ser.

Chatfield (2013) adverte que estamos próximos a uma migração maciça de esforços, atenção, relações e identidades humanas para ambientes artificiais expressamente concebidos para nos entreter e fascinar. A relação entre as atividades virtuais de um indivíduo e o seu grau de satisfação na vida pode confrontá-lo com um dilema de imersão tóxica, ou seja, um conflito entre os prazeres bastante reais proporcionados pela imersão num espaço virtual e os efeitos potencialmente tóxicos que esta imersão pode ter na vida da sociedade em geral. Algumas pessoas passam a sentir- se mais fortemente motivadas para se refugiarem numa vida virtual, em vez de procurarem mudar a sua vida real.

A própria descrição de um objeto como sendo virtual pode ser enganadora neste contexto, pois possuir dados e píxeis é um negócio tão sério como a compra e venda de petróleo, a regulação de transações virtuais passa a ser cada vez mais uma questão real, em parte devido às novas formas com as quais semelhantes objetos são criados, possuídos e adquiridos. Algo que pode vir a transformar os bens virtuais num investimento mais rentável e atrativo do que os supostamente reais.

Chatfield (2013) conclui que nenhuma nação ou organização tem ainda capacidade de controlar os atrativos das nossas experiências digitais. Cabe a todos a tarefa de negociar o futuro

dessa abertura e essa tarefa requer novas formas de relacionamento entre governos, cidadãos, empresas e associações de pessoas.

Voltando ao tema da discussão aqui apresentada, as afirmações teórico-metodológicas geográficas e a possibilidade imaginativa de investigação podem contribuir para embasamento e afirmação do espaço virtual pela emergência de novos trabalhos investigativos que tentam explicar a sociedade digital resultante das relações globalizantes das TIC.

Assim, ao contrário das críticas em relação à dificuldade teórico-metodológica de definição de um objeto de análise, os pressupostos dos fenômenos imateriais se incorporam e se entrelaçam de maneira complexa e, ao mesmo tempo, rica na produção de questionamentos dessas ações. Tais ações podem se revelar por meio do campo definido em uma ou mais categorias de análise geográficas.

É importante mostrar que a análise teórico-metodológica em conjunto pontua uma ampla contribuição, com possibilidades diversas e direcionamentos, seja pela relação do objeto/sujeito ou sujeito/objeto. Não está desprovida dos instrumentos de análise oriundos da geografia clássica e moderna, pelo contrário é possível perceber que toda ação do sujeito investigada depende da categoria, sem reluzi-la à sua dimensão material, lógica e formal, mas em conjunto, como um todo que inclui o imaterial, psicológico e social em meio às tecnologias.

Isso significa que, para a análise geográfica, os pressupostos filosóficos positivistas de observação e descrição do real, os sociológicos de produção, em campos dicotômicos e dialéticos, e os pressupostos fenomenológicos, por meio da percepção e valorização dos fenômenos imateriais, se incorporam e se entrelaçam de maneira complexa e rica na produção de questionamentos.

Essa ação pode se desenvolver em apenas uma perspectiva paradigmática, ou pode realizar-se em paradigmas distintos, em conjunto de maneira dialética. Como exemplo, a pesquisa pode seguir a abordagem fenomenológica, a qual se baseia na análise sujeito/objeto ou do positivismo, que se baseia no objeto/sujeito, ou, ainda, em conjunto com as demais correntes paradigmáticas. Para o método fenomenológico, o sujeito descreve o objeto e suas relações a partir do seu ponto de vista. Consequentemente, paradigmas podem acontecer em diferentes períodos históricos pelas transformações de produção e sociais.

Em suma, o espaço virtual é um instrumento de análise integrada aos velhos e novos paradigmas na sociedade, seja pela relação homem/natureza, pelo valor da região, o campo substituído pelo laboratório, o pragmatismo, o socialismo dialético, a atenção às relações de

produção no espaço e processos históricos, o valor das categorias para existir e coexistir em meio ao avanço da globalização, sobretudo em torno das TIC.

O Espaço como habitat, conjunto das necessidades reais, o lugar onde ocorre a produção social e fatos sociais da população, o território onde a população está fixada, a paisagem que ocorre no território e denuncia uma divisão do trabalho em meio à dicotomia entre a Geografia física e a Geografia Humana. Todos esses conceitos são, para a pesquisa científica geográfica, resultados de diferentes paradigmas e interesses que não impedem o questionamento do objeto, pelo contrário busca entendê-lo em diferentes abordagens.

É válido mencionar que, para essa construção, consideramos a análise do objeto com objetividade, porém sem excluir sentimentos, desejos, posições e a carga ideológica/ interpretativa do pesquisador. Há o objetivo de alcançar verdades científicas possíveis, que sigam atreladas à essência original do objeto de investigação.

Isto posto, significa que as bases teórico- metodológicas para a análise da Geografia permanecem, mas o caminho investigativo pelo objeto/sujeito ou sujeito/objeto, em harmonia, permitem possibilidades amplas de explicação da realidade de acordo com as transformações tecnológicas globalizantes da atualidade.

Enfim, podemos proceder à análise do espaço virtual de ensino, ou do espaço de ensino virtual em conjunto de maneira dialética articulada entre objeto/sujeito e sujeito/objeto. Esse debate pode se dar pela ação dos sujeitos na arena de apenas uma categoria geográfica, ou pode se revelar em mais de uma categoria geográfica.

4 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO - TIC: UMA DISCUSSÃO

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