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Reflexos do julgamento da ADC-16 pelo STF e a nova redação da Súmula

1.2. A CONTA VINCULADA COMO INSTRUMENTO DE MITIGAÇÃO DE RISCOS:

1.2.3. Responsabilidade subsidiária – Encargos trabalhistas

1.2.3.1. Reflexos do julgamento da ADC-16 pelo STF e a nova redação da Súmula

O posicionamento jurisprudencial sobre a questão da responsabilidade subsidiária da Administração Pública em matéria trabalhista estava consolidado, nos moldes das decisões mencionadas anteriormente.

Ocorre que, em 24.10.2010, o STF finalmente julgou a ADC-16, proposta pelo Governador do Distrito Federal, que pediu ao Tribunal para declarar constitucional o art. 71, § 1º da Lei 8.666/93.

O objetivo da ação era, clara e ostensivamente, impedir a aplicação da Súmula 331 do TST, porquanto o Judiciário Trabalhista passou a condenar sistematicamente os tomadores de serviço pelo simples fato da terceirização comprovada pelos respectivos contratos.

É importante registrar que, quando do julgamento da ADC-16, pendiam de apreciação, pelo STF, inúmeras Reclamações propostas contra decisões do Judiciário Trabalhista que aplicavam a Súmula 331 do TST.

Tais Reclamações arguiam basicamente que a aplicação do item IV da Súmula 331 do TST – na redação original (que imputa responsabilidade subsidiária à Administração) – por órgão fracionário de Tribunal (Turmas do TST, por exemplo), resultaria em desrespeito à Súmula Vinculante n.º 10 do STF, cujo teor é o seguinte:

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JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Súmula Vinculante n.º 10

Viola a cláusula de reserva de Plenário (CF, artigo 97), a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência no todo ou em parte.

Era exatamente o que acontecia quando se aplicava a Súmula 331 do TST, ou seja, negativa implícita de vigência do § 1º do art. 71 da Lei 8.666/93, ou, em outros termos, declaração tácita de inconstitucionalidade do dispositivo, sem que tivesse havido manifestação do Plenário ou do Órgão Especial, como determina o art. 97 da Constituição Federal.

CONSTITUÇÃO FEDERAL

Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

Pois bem, o STF, ao julgar a ADC-16, declarou constitucional o dispositivo inquinado da Lei de Licitações e Contratos e vedou a responsabilização subsidiária de modo automático:

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Responsabilidade contratual. Subsidiária. Contrato com a administração pública. Inadimplência negocial do outro contraente. Transferência consequente e automática dos seus encargos trabalhistas, fiscais e comerciais, resultantes da execução do contrato, à administração. Impossibilidade jurídica. Consequência proibida pelo art., 71, § 1º, da Lei federal nº 8.666/93. Constitucionalidade reconhecida dessa norma. Ação direta de constitucionalidade julgada, nesse sentido, procedente. Voto vencido. É constitucional a norma inscrita no art. 71, § 1º, da Lei federal nº 8.666, de 26 de junho de 1993, com a redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995.

(ADC 16, julgamento 24.10.2010; DJe 08-09-2011)

Como consequência do julgamento da ADC-16, o mérito das Reclamações passou a ser apreciado monocraticamente, por autorização do Plenário, pelos relatores, que passaram a, sistematicamente, cassar as decisões do Judiciário Trabalhista que aplicam a Súmula 331 do TST.

O assunto só é agora levado ao escrutínio do Pleno em caso de admissibilidade de Agravo Regimental. Em sua quase totalidade, as decisões do Plenário do STF posteriores ao julgamento da ADC-16 cassaram os julgados trabalhistas que aplicaram a Súmula 331 do TST.

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E M E N T A: RECLAMAÇÃO – ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO À AUTORIDADE DA DECISÃO PROFERIDA, COM EFEITO VINCULANTE, NO EXAME DA ADC 16/DF – INOCORRÊNCIA – RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA POR DÉBITOS TRABALHISTAS (LEI Nº 8.666/93, ART. 71, § 1º) – ATO JUDICIAL RECLAMADO PLENAMENTE JUSTIFICADO, NO CASO, PELO RECONHECIMENTO DE SITUAÇÃO CONFIGURADORA DE CULPA “IN VIGILANDO”, “IN ELIGENDO” OU “IN OMITTENDO” – DEVER LEGAL DAS ENTIDADES PÚBLICAS CONTRATANTES DE FISCALIZAR O CUMPRIMENTO, POR PARTE DAS EMPRESAS CONTRATADAS, DAS OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS REFERENTES AOS EMPREGADOS VINCULADOS AO CONTRATO CELEBRADO (LEI Nº 8.666/93, ART. 67) – ARGUIÇÃO DE OFENSA AO POSTULADO DA RESERVA DE PLENÁRIO (CF, ART. 97) – SÚMULA VINCULANTE Nº 10/STF – INAPLICABILIDADE – INEXISTÊNCIA, NO CASO, DE JUÍZO OSTENSIVO OU DISFARÇADO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE QUALQUER ATO ESTATAL – PRECEDENTES – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

(Rcl 12580 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2013, DJe-048 PUBLIC 13-03-2013)

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AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. ADMINISTRATIVO.

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE TRANSFERIR PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A OBRIGAÇÃO DE PAGAR OS ENCARGOS TRABALHISTAS RESULTANTES DA EXECUÇÃO DE CONTRATO ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 71, § 1º, DA LEI N.

8.666/1993 RECONHECIDA NA AÇÃO DECLARATÓRIA DE

CONSTITUCIONALIDADE N. 16. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

(Rcl 12926 AgR, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 15/12/2011, DJe-09-02-2012)

JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

1. Acórdão que entendeu ser aplicável ao caso o que dispõe o inciso IV da Súmula TST 331, sem a consequente declaração de inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993 com a observância da cláusula da reserva de Plenário, nos termos do art. 97 da Constituição Federal. 2. Não houve no julgamento do Incidente de Uniformização de Jurisprudência TST- IUJ-RR-297.751/96 a declaração formal da inconstitucionalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993, mas apenas e tão somente a atribuição de certa interpretação ao mencionado dispositivo legal. 3. Informações prestadas pela Presidência do Tribunal Superior do Trabalho. 4. As disposições insertas no art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993 e no inciso IV da Súmula TST 331 são diametralmente opostas. 5. O art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993 prevê que a inadimplência do contratado não transfere aos entes públicos a responsabilidade pelo pagamento de encargos trabalhistas, fiscais e

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comerciais, enquanto o inciso IV da Súmula TST 331 dispõe que o inadimplemento das obrigações trabalhistas pelo contratado implica a responsabilidade subsidiária da Administração Pública, se tomadora dos serviços. [...] 6. O acórdão impugnado, ao aplicar ao presente caso a interpretação consagrada pelo Tribunal Superior do Trabalho no item IV do Enunciado 331, esvaziou a força normativa do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993. 7. Ocorrência de negativa implícita de vigência ao art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993, sem que o Plenário do Tribunal Superior do Trabalho tivesse declarado formalmente a sua inconstitucionalidade. 8. Ofensa à autoridade da Súmula Vinculante 10 devidamente configurada. 9. Agravo regimental provido. 10. Procedência do pedido formulado na presente reclamação. [...] 11. Cassação do acórdão impugnado.

(Rcl 8150 AgR, Rel. Min. ELLEN GRACIE, Pleno, DJe 03-03-2011)

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Agravo Regimental em Reclamação. 2. Direito do Trabalho. Súmula 331, IV, do Tribunal Superior do Trabalho. Acórdão de Órgão Fracionário. Violação à Cláusula de Reserva de Plenário. Súmula Vinculante 10. Ocorrência. 3. Responsabilidade Subsidiária da Administração Pública. Afastamento. Art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993. Constitucionalidade. Precedente. ADC 16. 4. Agravo regimental a que se dá provimento, para reconsiderar a decisão agravada e julgar procedente a reclamação.

(Rcl 9894 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, Dje 17-02-2011)

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5. É inegável – e incompreensível juridicamente - o descumprimento das decisões proferidas por este Supremo Tribunal Federal nos autos de reclamação e na Ação Declaratória de Constitucionalidade n. 16.

[...] Portanto, apesar de ter proferido outra decisão por força do que decidido nesta reclamação, a Segunda Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região reiterou o provimento e, mais uma vez, e em manifesto descumprimento agora da decisão que lhe impôs novo julgamento em conformidade com a Constituição, afastou novamente a aplicação do § 1º do art. 71 da Lei n. 8.666/1993, e concluiu pela responsabilidade subsidiária da Administração Pública por obrigações trabalhistas de empregado que não compõe os seus quadros. De se anotar o que antes ponderado neste Supremo Tribunal: “Que não está o Juiz adstrito à letra da lei, não se nega; que o fundamento da moral da aplicação do texto legal não lhe é estranho, não se objeta; que a equidade, os fins sociais, o bem comum devem inspirá-lo, não só se reconhece, de consciência, como se afirma em disposição expressa. Mas, por outro lado, que o Juiz não se substitui ao legislador e não julga ‘contralegem’; que não despreza e descumpre a norma impositiva, é tanto regra jurídica como regra moral: porque seria imoral que se autorizasse o Juiz negar aplicação à lei sob o fundamento moral de que sua consciência a ela se opunha. Estabelecer-se-ia o reino do arbítrio, da vontade de cada um, erigida em Juízo soberano. O que equivaleria a não haver Juízo que pudesse impor-se a

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todos. (…). Mitigue o Juiz o rigor da lei, aplique-a com equidade e equanimidade; dose-lhe a dureza ante a fraqueza humana; é de seu dever e deve ser o seu comportamento. Mas não a enfrente para negá-la, que não se constrói assim o direito” (RE 93.701, DJ 11.10.1985)

6. Pelo exposto, na linha do entendimento firmado por este Supremo Tribunal, casso a decisão proferida [...]e determino que outra decisão seja proferida como de direito.

(Rcl 12080, DJe 9.11.2011)

Vide também: Rcl 13481 MC, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA, DJe 30/03/2012

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. ENCARGOS TRABALHISTAS. PRESTADORA DE SERVIÇOS. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 71, § 1º, DA LEI 8.666/93. PRECEDENTE DO PLENÁRIO. [...]

O agravo merece provimento. É que o Plenário desta Suprema Corte, instado a se manifestar sobre a constitucionalidade do artigo 71, § 1º, da Lei n°. 8.666/93, nos autos da ADC n. 16, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJe de 9.9.2011, reconheceu a constitucionalidade do aludido diploma legal. O julgado restou assim ementado: [omissis] Em face do exposto, estando o acórdão recorrido em confronto com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, DOU PROVIMENTO ao agravo de instrumento, que converto em RECURSO EXTRAORDINÁRIO e, desde logo, DOU-LHE PROVIMENTO.

(AI 760203, Rel. Min. LUIZ FUX, Dje 09/04/2012)

Porém, o STF passou a manter os acórdãos da Justiça Trabalhista que aplicam a Súmula 331 do TST, nos quais fica evidenciada, expressamente, a culpa da Administração pela ocorrência do dano ao trabalhador.

Tais decisões do STF pela manutenção dos acórdãos trabalhistas geralmente se fundam na impossibilidade de apreciação da matéria fática constante dos autos, porquanto as condenações na esfera trabalhista são fundamentadas na verificação, no caso concreto, da ocorrência de culpa in vigilando pela Administração (fiscalização omissa ou negligente).

Por outro lado, não havendo expressa menção, no acórdão reclamado, da comprovação da mencionada culpa da Administração, a decisão do STF tem sido, sistematicamente, pela cassação do julgado.

Verifica-se uma clara tendência, na Corte Suprema, de mitigar o alcance do acórdão da ADC 16, para legitimar a condenação subsidiária da Administração, a despeito da vedação expressa do § 1º do art. 71 da Lei 8.666/93, declarado

42 constitucional pelo STF. E tal mitigação dá-se quando se verifica, no caso concreto, a ocorrência de culpa da Administração na fiscalização do contrato – matéria fática, cujo exame é da competência das instâncias judiciárias ordinárias. Para ilustrar, citem-se os seguintes arestos:

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Ementa: Agravo Regimental na Reclamação. Responsabilidade Subsidiária. Artigo 71, § 1º, da Lei 8.666/93. Constitucionalidade. ADC 16. Administração Pública. Dever de fiscalização. responsabilidade do Município. Afronta à Súmula Vinculante 10. Inocorrência. Agravo regimental a que se nega provimento. 1. A Administração tem o dever de fiscalizar o fiel cumprimento do contrato pelas empresas prestadoras de serviço, também no que diz respeito às obrigações trabalhistas referentes aos empregados vinculados ao contrato celebrado, sob pena de atuar com culpa in eligendo ou in vigilando. 2. A aplicação do artigo 71, § 1º, da Lei n. 8.666/93, declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADC 16, não exime a entidade da Administração Pública do dever de observar os princípios constitucionais a ela referentes, entre os quais os da legalidade e da moralidade administrativa. 3. A decisão que reconhece a responsabilidade do ente público com fulcro no contexto fático-probatório carreado aos autos não pode ser alterada pelo manejo da reclamação constitucional. Precedentes: Rcl 11985-AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-050 DIVULG 14-03-2013 PUBLIC 15-03-2013. 4. A ausência de juízo de inconstitucionalidade acerca da norma citada na decisão impugnada afasta a violação à Súmula Vinculante 10 desta Corte. 5. A impugnação específica da decisão agravada, quando ausente, conduz ao desprovimento do agravo regimental. Súmula 287 do STF. Precedentes: Rcl nº 5.684/PE-AgR, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe-152 de 15/8/08; ARE 665.255- AgR/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, Dje 22/5/2013; AI 763.915-AgR/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 7/5/2013. 6. Agravo regimental a que se nega provimento.

(Rcl 19845 AgR, DJe-PUBLIC 08-05-2015)

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Ementa: Agravo Regimental na Reclamação. Responsabilidade Subsidiária. Artigo 71, § 1º, da Lei 8.666/93. Constitucionalidade. ADC 16. Administração Pública. Dever de fiscalização. Responsabilidade do estado. Agravo regimental a que se nega provimento. 1. A Administração tem o dever de fiscalizar o fiel cumprimento do contrato pelas empresas prestadoras de serviço, também no que diz respeito às obrigações trabalhistas referentes aos empregados vinculados ao contrato celebrado, sob pena de atuar com culpa in eligendo ou in vigilando. 2. A aplicação do artigo 71, § 1º, da Lei n. 8.666/93, declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADC 16, não exime a entidade da Administração Pública do dever de observar os princípios constitucionais a ela referentes, entre os quais os da legalidade e da moralidade administrativa. 3. A decisão que reconhece a responsabilidade do ente público com fulcro no contexto fático-probatório carreado aos autos não

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pode ser alterada pelo manejo da reclamação constitucional. Precedentes: Rcl 11985-AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-050 DIVULG 14-03-2013 PUBLIC 15-03-2013. 4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(Rcl 14729 AgR, DJe-025 PUBLIC 06-02-2015)

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E M E N T A: RECLAMAÇÃO – ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO À AUTORIDADE DA DECISÃO PROFERIDA, COM EFEITO VINCULANTE, NO EXAME DA ADC 16/DF – INOCORRÊNCIA – RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA POR DÉBITOS TRABALHISTAS (LEI Nº 8.666/93, ART. 71, § 1º) – ATO JUDICIAL DE QUE SE RECLAMA PLENAMENTE JUSTIFICADO PELO RECONHECIMENTO, NO CASO, POR PARTE DAS

INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS, DE SITUAÇÃO CONFIGURADORA DE

RESPONSABILIDADE SUBJETIVA (QUE PODE DECORRER TANTO DE CULPA “IN VIGILANDO” QUANTO DE CULPA “IN ELIGENDO” OU “IN OMITTENDO”) – DEVER JURÍDICO DAS ENTIDADES PÚBLICAS CONTRATANTES DE BEM SELECIONAR E DE FISCALIZAR O CUMPRIMENTO, POR PARTE DAS EMPRESAS CONTRATADAS, DAS OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS REFERENTES AOS EMPREGADOS VINCULADOS AO CONTRATO CELEBRADO (LEI Nº 8.666/93, ART. 67), SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO INDEVIDO DO PODER PÚBLICO E DE INJUSTO EMPOBRECIMENTO DO TRABALHADOR – SITUAÇÃO QUE NÃO PODE SER COONESTADA PELO PODER JUDICIÁRIO – ARGUIÇÃO DE OFENSA AO POSTULADO DA RESERVA DE PLENÁRIO (CF, ART. 97) – SÚMULA VINCULANTE Nº 10/STF – INAPLICABILIDADE – INEXISTÊNCIA, NA ESPÉCIE, DE JUÍZO OSTENSIVO, DISFARÇADO OU DISSIMULADO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE QUALQUER ATO ESTATAL – CARÁTER SOBERANO DO PRONUNCIAMENTO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS SOBRE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA – CONSEQUENTE INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL DA RECLAMAÇÃO PARA EXAME DA OCORRÊNCIA, OU NÃO, DO ELEMENTO SUBJETIVO PERTINENTE À RESPONSABILIDADE CIVIL DA EMPRESA OU DA ENTIDADE PÚBLICA TOMADORA DO SERVIÇO TERCEIRIZADO – PRECEDENTES – NATUREZA JURÍDICA DA RECLAMAÇÃO – DESTINAÇÃO CONSTITUCIONAL DO INSTRUMENTO RECLAMATÓRIO – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

(Rcl 16059 AgR, DJe-021 PUBLIC 30-01-2015)

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EMENTA Agravo regimental em reclamação. Responsabilidade subsidiária da Administração Pública. Contrariedade ao que foi decidido na ADC nº 16/DF. Ausência de comprovação do elemento subjetivo do ato ilícito. Aplicação automática da Súmula TST nº 331. Atribuição de culpa ao ente público por presunção. Inadmissibilidade. Agravo regimental não provido. 1. Responsabilidade subsidiária da Administração Pública pelo pagamento de verbas trabalhistas como consequência direta do inadimplemento dessas verbas pela empregadora, a indicar a culpa in vigilando da Administração Pública. 2. Ausência de comprovação do elemento subjetivo

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do ato ilícito imputável ao Poder Público. 3. Agravo regimental não provido.

(Rcl 16054 AgR, DJe-035 PUBLIC 20-02-2014)

JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

E M E N T A: RECLAMAÇÃO – ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO À AUTORIDADE DA DECISÃO PROFERIDA, COM EFEITO VINCULANTE, NO EXAME DA ADC 16/DF – INOCORRÊNCIA – RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA POR DÉBITOS TRABALHISTAS (LEI Nº 8.666/93, ART. 71, § 1º) – ATO JUDICIAL RECLAMADO PLENAMENTE JUSTIFICADO, NO CASO, PELO RECONHECIMENTO DE SITUAÇÃO CONFIGURADORA DE CULPA “IN VIGILANDO”, “IN ELIGENDO” OU “IN OMITTENDO” – DEVER LEGAL DAS ENTIDADES PÚBLICAS CONTRATANTES DE FISCALIZAR O CUMPRIMENTO, POR PARTE DAS EMPRESAS CONTRATADAS, DAS OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS REFERENTES AOS EMPREGADOS VINCULADOS AO CONTRATO CELEBRADO (LEI Nº 8.666/93, ART. 67) – PRECEDENTES – RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO.

(Rcl 14.947 AgR/RS, Tribunal Pleno, DJe PUBLIC 1º.8.2013)

JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

2. A aplicação do artigo 71, § 1º, da Lei n. 8.666/93, declarado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADC nº 16, não exime a entidade da Administração Pública do dever de observar os princípios constitucionais a ela referentes, entre os quais os da legalidade e da moralidade administrativa. 3. As entidades públicas contratantes devem fiscalizar o cumprimento, por parte das empresas contratadas, das obrigações trabalhistas referentes aos empregados vinculados ao contrato celebrado. Precedente: Rcl 11985-AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 21/02/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-050 DIVULG 14-03-2013 PUBLIC 15-03-2013. 4. A comprovação de culpa efetiva da Administração Pública não se revela cognoscível na estreita via da Reclamação Constitucional, que não se presta ao reexame de matéria fático-probatória. Precedentes: Rcl 3.342/AP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; Rcl 4.272/RS, Rel. Min. Celso de Mello; Rcl. 4.733/MT, Rel. Min. Cezar Peluso; Rcl. 3.375-AgR/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes.

(Rcl 14151 ED, DJe-112 PUBLIC 04-06-2013)

Embora a ADC-16 tenha sido julgada em 24.10.2010, a publicação do acórdão deu-se somente em 8.9.2011, quase um ano depois! No interregno, o TST modificou a redação da Súmula 331, a propósito de adequá-la ao entendimento do STF.

Assim, por força da Resolução 174/2011 (DEJT 31.5.2011), o verbete passou a ter a seguinte redação (destacamos):

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JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO Súmula 331 (redação atual)

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974).

II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988).

III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial.

V - Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada.

VI – A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral.

Como consequência imediata da nova redação da Súmula 331 do TST, o Judiciário Trabalhista passou a, efetivamente, verificar, no processo, a existência da culpa (subjetiva!!) da Administração, caracterizada pela fiscalização omissa ou negligente.

Os arestos a seguir demonstram a aplicação da Súmula, na sua nova redação. Reproduzimos, a seguir, deliberações nas quais o TST afastou a responsabilização subsidiária porquanto ausente demonstração de culpa da Administração.

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA EM FACE DE DECISÃO PUBLICADA ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Agravo de instrumento a que se dá provimento para determinar o processamento do recurso de revista, em face de haver sido demonstrada possível afronta ao artigo 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93. RECURSO DE REVISTA. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA.

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CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. Nos termos do item V da Súmula nº 331 do TST, editado à luz da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal na ADC nº 16/DF, nos casos de terceirização de serviços, os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta responderão subsidiariamente pelas dívidas trabalhistas das empresas prestadoras, quando forem negligentes em relação ao dever de fiscalizar o cumprimento das obrigações contratuais e legais da contratada. No presente caso, o quadro fático delineado no acórdão regional não evidencia a culpa in

vigilando do ente público. Na verdade, a responsabilidade a ele imposta

decorreu do mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela prestadora dos serviços e da aplicação da teoria da responsabilidade objetiva, decisão que contraria o verbete acima referido. Recurso de revista de que se conhece e a que se dá provimento.

(RR - 9700-95.2009.5.02.0036, DEJT 06/02/2015)

JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

AGRAVO DE INSTRUMENTO RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. SÚMULA N.º 331 DO TST. Demonstrada a má- aplicação da Súmula n.º 331, V, deste Tribunal Superior à hipótese dos autos, dá-se provimento ao agravo de instrumento a fim de determinar o processamento do recurso de revista. RECURSO DE REVISTA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. SÚMULA N.º 331, V, DO TST. 1. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Ação Declaratória de Constitucionalidade n.º 16/DF, publicada no Dje de 09/09/2011, reconheceu a constitucionalidade do artigo 71, § 1º, da Lei n.º 8.666, de 26 de junho de 1993, com a redação que lhe emprestou a Lei n.º 9.032/1995. A excelsa Corte, na ocasião, sufragou tese no sentido de que a mera inadimplência da empresa contratada não justifica a transferência,