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Mapa 18 Origem dos Pendulares (2010)

2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO: UMA ABORDAGEM

2.1 A IMPORTÂNCIA DOS CONCEITOS DE ESPAÇO, REGIÃO, TERRITÓRIO,

2.1.2 Região

De acordo com Claval (2011), entre 1920 e 1960 era bastante popular a concepção da geografia humana voltada para as configurações espaciais e para as formas de organização regional. No que se refere aos fatos de configuração regional, foram os geólogos que deram partida. Mas foi entre os geógrafos que o conceito de região tomou força. Estes acolhem bem a ideia de região natural. Quanto aos historiadores, estes se dedicaram a história local, no início do século XIX, surgindo daí a ideia de região histórica. Mas foi no decorrer do século XIX que o estudo da distribuição dos homens passou a ocupar um lugar importante na descrição geográfica, principalmente com o progresso da cartografia.

Na primeira metade do século XX, entre a maioria dos geógrafos, a démarche regional apreende um misto de suporte natural, formas de ocupação dos solos e atividades humanas dentro de um conjunto territorial. A preocupação não é com a delimitação da área, mas estava voltada para a determinação dos traços específicos. Ou seja, a démarche regional clássica destaca as combinações de características da paisagem e das forças sociais e econômicas, não tinha como preocupação a explicação dos comportamentos humanos pela influência do ambiente, também não tinha como objetivo estabelecer relações de causalidade, mas sim, caracterizar cada conjunto pela combinação das formas observadas. A explicação poderia ser feita, mas em um segundo momento, a fim de mostrar como as formas destacadas refletem o conjunto de fatores que agem regionalmente. Entretanto, para a maior parte dos pesquisadores convém em seguida explicar a gênese das determinações das estruturas regionais.

Ainda segundo Claval (2011), a interpretação de Vidal de La Blache acerca das organizações regionais complexas partia de uma ideia de totalidade, ou seja, os fenômenos estão vinculados entre si e entre a realidade de escalas. Demongeon estudou as estruturas espaciais ao relacionar as formas de ocupação dos solos, o hábitat, a organização do espaço e os hábitos, as instituições e os projetos dos grupos. Mas este tinha uma preocupação de caráter mais político e social, e não chegou a apresentar descrição regional. Quanto a Cholley, apesar de ser um geomorfólogo, refletiu muito acerca da geografia humana e da geografia regional, ao levar em consideração o estudo das combinações, ao se reportar aos domínios, meios ou regiões. Para este estudioso, a região geográfica implicava a sobreposição dos limites físicos, biogeográficos e humanos. No entanto, por volta dos anos 1900 ou 1930, a descrição regional não era mais apenas tomar nota de justaposições, mas também, evidenciar a longa duração das combinações na qual os fatos acontecem, dando à geografia um objeto específico, uma estrutura, que seria a região (CLAVAL, 2011).

O contexto acima referido foi adotado por Claval a fim de situar as abordagens relativasao termo região ao longo do avanço da ciência geográfica, na tentativa de conceituá- lo. Segundo o autor:

Quem diz região diz organização do espaço [...]. Para muitos geógrafos é o estudo dos objetos estáveis, onde se encontram misturados os elementos físicos e as realidades sociais, que constituem as regiões, semeadura dos estabelecimentos humanos ou os mais humanizados. O geógrafo deve elaborar o inventário dessas formas de organização. (CLAVAL, 2011, p. 168-170).

Segundo Barros (2012), o geral e o regional ou corográfico6 são “expressões positivas das possibilidades metodológicas encontradas na Geografia”, sendo plenamente possível utilizar ambas as possibilidades em um mesmo estudo, numa relação de complementariedade entre as duas. Ainda segundo Barros (2012):

A consciência da presença estrutural dentro da Geografia dos dois horizontes cognitivos – o horizonte das regularidades nos arranjos espaciais, por um lado, e o horizonte das singularidades dos lugares, por outro – estava nas mentes de protagonistas da iniciativa espacial, pelo menos na mente daquele que produziu o mais influente trabalho no campo do estudo dos assentamentos ou distribuições das populações humanas no espaço, Walter Christaller. (BARROS, 2012, p. 25).

Nesse sentido, a região seria a forma como o espaço se organiza em termos de características específicas, sejam elas, físicas, econômicas ou sociais, ou seja, a organização dessas características do espaço em tipos específicos e comuns, formando regiões geográficas. Segundo Gomes (2007), a noção de região para a geografia é bastante complexa. Em meados do século XIX, antes de a geografia tomar prestígio acadêmico, a geologia adotava a região como um dos seus conceitos principais, influenciando diversos estudiosos de outras áreas, a exemplo da geografia abordada por Vidal e Gallois. A abordagem da região passa, assim, por diversas e amplas discussões que vão desde a noção de região natural, passando por abordagens positivistas e possibilistas. A região existia, assim como unidades do saber geográfico e não como unidades morfológicas, surgindo a ideia de região geográfica ou região- paisagem, como resultado do trabalho humano em um determinado ambiente. Foram muitos os

6 Com a modernização e institucionalização da Geografia a disciplina assume duas linhas de pensamento e

medolologia, por um lado tem-se a Geografia Geral ou das leis gerais que formam teorias, com padrão metodológico generalizador e a Geografia Regional ou especial, com padrão metodológico descritivo, ao dividir o espaço geográfico em tipos de regiões que se diferenciam umas das outras por características particulares. A corografia, do grego chora, diz respeitoà descrição dos lugares tanto em termos culturais, quanto naturais (BARROS, 2012).

estudiosos que adotavam a região como eixo de discussão geográfica, a exemplo de Humboldt, Gallois, La Blache, Hastshorne, Ritter entre outros.

A região obteve uma posição central na geografia clássica, com o objetivo de identificar e descrever as diferenciações no espaço geográfico. Mas com a crise da geografia clássica, surge a necessidade de uma rediscussão a respeito da noção de região, procurando abordagens que fossem além da perspectiva regional-descritiva. A partir daí a região passa a ser um meio e não mais um produto, surgindo a análise regional. A região, agora sendo uma classe de área e fruto de uma classificação geral que divide o espaço segundo critérios justificáveis no julgamento de sua relevância para uma explicação. Aparecem, então, os termos regiões homogêneas e regiões funcionais.

As primeiras dizem respeito a espaços mais ou menos homogêneos, partindo da ideia de uma seleção de variáveis estruturantes do espaço, onde intervalos nas frequências e na magnitude destas variáveis definem esses espaços. Nas regiões funcionais, a estruturação do espaço é vista a partir das múltiplas relações que circulam e dão forma ao espaço que é internamente diferenciado, a cidade torna-se o centro de organização do espaço, com o termo regiões polarizadas e com a valorização da vida econômica que dá fundamento às trocas e fluxos de mercadorias, serviços e mão de obra. As regiões funcionais foram a base dos modelos espaciais de Christaller, Weber e Thünen.

Mas a partir dos anos 1970 há uma crítica a esse tipo de perspectiva voltada aos modelos econômicos neoclássicos, pois seguindo estas perspectivas, os estudiosos acabariam por naturalizar o capitalismo, como a única forma de conceber o desenvolvimento social. Surge, a partir daí, a corrente crítica da geografia radical, argumentando que a diferenciação do espaço se deve à divisão territorial do trabalho e ao processo de acumulação capitalista. Alguns geógrafos procurando estabelecer relação entre o conceito de região e os conceitos de economia política de Marx. Como é o caso das regiões vistas sob o prisma das formações socioespaciais. Por volta de meados da década de 1970 surge mais uma corrente crítica, o humanismo na geografia, ao tentar buscar no passado da geografia elementos que seriam importantes resgatar, surgindo elementos como consciência regional, sentimento de pertencimento e mentalidades regionais, a região passa a ser vista como um produto real dentro de um quadro de solidariedade territorial.

O conceito de região surgiu, assim, da necessidade de uma afirmação identitária dos lugares já a partir da antiguidade clássica. Diante disso, Gomes (2007) afirma que a região é um conceito que funda uma reflexão política de base territorial, e coloca em jogo comunidades de interesse identificadas a certa área. A região sendo uma discussão entre os limites da

autonomia face a um poder central. Nesse sentido a região auxilia na compreensão do fundamento político, no controle e gestão de um território. Ainda de acordo com o autor, na afirmação de uma regionalidade há sempre uma proposição política, vista sob um ângulo territorial, e o regionalismo, ou seja, a consciência da diversidade continua a se manifestar por todos os lados.

De acordo com Lins (1998), o conceito de região sempre foi utilizado na diferenciação de áreas geográficas, inicialmente possuindo uma noção de lugar ou área de caráter específico, posteriormente incorporado ao vocábulo científico, significando uma área com características próprias, diferente de outros lugares. Entretanto, inovações no conceito de região fizeram com que seu significado variasse no decorrer do tempo, de acordo com as vertentes de pensamento assumidas em cada época, seja por meio de paradgmas positivistas, possibilistas ou por meio de correntes voltadas para o materialismo histórico e par a dialética marxista.

Nos estudos populacionais, especificamente sobre migrações, diversas abordagens sobre o conceito de região podem ser empregadas, na medida em que a temática das migrações pode ser vista a partir de múltiplas perspectivas, sejam elas perspectivas de estrutura do espaço físico, econômico e social, bem como perspectivas psicológicas e identitárias. Todas com sua importância, não existindo um conceito certo ou errado, pois cabe a cada pesquisador utilizar das abordagens mais convenientes e que respondam as suas questões de pesquisa. Observa-se, assim, que a categoria região é indispensável quando se trabalha com desenvolvimento regional e com a regionalização, na medida em que proporciona o entendimento da configuração do espaço em transformação. Pode ser verificado, a partir do contexto, que há uma estreita relação entre as categorias território e região, ambas vinculadas às relações políticas e de poder.

Segundo Lins (1998), na geografia, o termo regionalização passou a ser entendido como um procedimento metodológico semelhante ao da classificação, sendo assim, possível uma infinidade de regionalizações em uma mesma área. A regionalização seria uma técnica de classificação e diferenciação de áreas.

Diante do exposto, podemos concluir que o procedimento de regionalização divide o espaço geográfico em tipo de regiões que se diferenciam umas das outras por características particulares. Um exemplo de regionalização é a divisão do Brasil em grandes regiões: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Cada uma apresentando um conjunto de características, físicas, econômicas e sociais que as tornam diferentes.

De acordo com Santos (2008 a), na história das civilizações, as regiões se configuraram por meio de processos orgânicos expressos pela territorialidade de um grupo, onde se prevalecia identidade, exclusividade e limites. Com o processo de globalização há quem fale do fim das

diferenciações regionais, provocada pela expansão do capital hegemônico. Entretanto, o tempo acelerado, acentua a diferenciação dos eventos e aumenta a diferenciação dos lugares.

[...] já que o espaço se torna mundial, o ecúmeno se redefine, com a extensão a todo ele do fenômeno da região”. As regiões são o suporte e a condição de relações globais que de outra forma não se realizariam [...] As condições atuais fazem com que as regiões se transformem continuamente, legando, portanto, uma menor duração do edifício regional. Mas isso não suprime a região, apenas ela muda de conteúdo. A espessura do acontecer é aumentada, diante do maior volume de eventos por unidade de espaço e por unidade de tempo. (SANTOS, 2008, p. 246-247).

Nesse sentido, a instalação de indústrias, assim como os deslocamentos populacionais entrariam como os fluxos econômicos e de população, respectivamente, que mudariam os fixos, a área física, concreta, a ser modificada. Assim, a concepção de Santos sobre os fixos e os fluxos deixa clara a ligação e a relevância da categoria território para os estudos sobre fluxos populacionais em territórios que passam por processos de dinâmica econômica.