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Mapa 18 Origem dos Pendulares (2010)

2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO: UMA ABORDAGEM

2.1 A IMPORTÂNCIA DOS CONCEITOS DE ESPAÇO, REGIÃO, TERRITÓRIO,

2.1.3 Território

O território tradicionalmente foi muito utilizado por geógrafos a fim de realizarem estudos sobre a distribuição de componentes populacionais e econômicos no espaço. No entanto, a categoria território ganha força nas discussões de diversos campos do conhecimento, a exemplo dos estudos sobre políticas sociais, uma vez que a análise do território é indispensável para uma adequada formulação das políticas sociais a serem executadas em um determinado espaço.

Segundo Koga (2003, p. 33), “o território representa o chão do exercício da cidadania, pois cidadania significa vida ativa no território”, é nele onde se concretizam as relações sociais, de vizinhança e solidariedade, assim como as relações de poder, e é nele onde as desigualdades sociais tornam-se evidentes. A autora coloca o território como chão concreto das políticas, a raiz dos números e a realidade da vida coletiva, assim, de acordo com ela, o território pode significar um novo aporte para o debate no campo das políticas públicas.

Santos (2008a) destaca a importância da categoria território para os estudos geográficos. O território, de acordo com o autor, pode ser considerado como o palco de operação de diversos agentes, sejam eles locais ou globais, e se formam a partir das relações entre fixos e fluxos. Os primeiros permitem ações que modificam o lugar; quanto aos fluxos, estes são o resultado das ações que se instalam nos fixos, ao modificar a sua significação e o seu valor.

Para Raffestin (1993), o espaço é anterior ao território, este forma-se a partir do espaço. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o ator “territorializa” o espaço. Entretanto, o autor afirma que o território não é o espaço, mas se apoia nele. O território é, assim, um local de relações, só existindo em função dos objetivos intencionais do ator, podendo ser tido como o espaço apropriado por e a partir das relações de poder. O território é, assim, o “espaço político” por excelência. Nesse sentido, não se pode falar de território sem se voltar ao espaço e nem se pode falar de espaço sem se direcionar ao território, uma vez que o espaço pode ser visto como um território, quando são levadas em consideração as relações de poder existentes. Segundo Zelinsky (1974), o espaço geográfico é diferenciado, nas mais diversas regiões do planeta, que é mutável, com o decorrer do tempo, e que é caracterizado por relações de poder as mais variadas. Relações estas entre diferentes territórios e dentro de um mesmo território, principalmente se pensarmos a partir do ponto de vista de uma escala política ou administrativa.

A desconstrução do território muitas vezes é tida sobre o termo “desterritorialização”, que, segundo Haesbaert (2007), poderia significar a diminuição e o enfraquecimento do controle de fronteiras, aumentando assim a dinâmica, a fluidez, a mobilidade, seja ela depessoas, bens materiais, capital ou informações. Ainda para este autor, não se pode considerar que o território esteja desaparecendo, ou seja, que haja a aniquilação do espaço pelo tempo, uma vez que podemos conceber uma espécie de “territorialização” no movimento. Deve-se atentar a que tipo de mobilidade está se referindo. No caso do migrante, este é parcela integrante, ou se ainda não o é, está em busca de integração, numa pós-modernidade marcada pela flexibilização e precarização das relações de trabalho. O melhor seria optar pelo qualificativo “desterritorializado”, uma vez que este termo pode ser utilizado para os migrantes de classes subalternas em sua relação de exclusão na ordem socioeconômica capitalista, mas dificilmente pode ser utilizado para as classes privilegiadas. Ainda segundo o autor:

[...] um dos fenômenos mais freqüentemente ligados à desterritorialização diz respeito à crescente mobilidade das pessoas, seja como novos nômades, vagabundos, viajantes, turistas, imigrantes, refugiados ou como exilados – expressões cujo significado costuma ir muito além de seu sentido literal, ampliando-se como poderosas (ou ambivalentes, assim, controvertidas) metáforas [...]. Entretanto, até que ponto a mobilidade geográfica pode ser vinculada à desterritorialização. (HAESBAERT, 2007, 237).

De fato, para parte dos migrantes, há certa perda de identidade no lugar de destino, o que faz fazendo com que o migrante não se sinta parte integrante no atual espaço. Mas este certamente está em busca dessa integração e muitas vezes ele consegue.

Os territórios podem ser construídos tanto ao nível local, quanto ao nível nacional. Cada um sofre alterações em suas distintas escalas espaciais, mas, também, sofre alterações em suas relações sociais com o passar do tempo. Daí a necessidade de se voltar à história da formação territorial de um determinado espaço, como defende Manuel Correia de Andrade. Segundo o autor, o conceito de território liga-se a ideia de domínio ou gestão de uma área, ou seja, “a formação de um território dá as pessoas que nele habitam a consciência de sua participação, provocando o sentido de territorialidade” (ANDRADE, 1995, p. 20).

Em outras palavras, determinado espaço que possuía relações de poder caracterizadas por servidão entre o trabalhador do campo e seu “senhor” podem sofrer mudanças ao longo do tempo em virtude de uma grande crise nacional na produção de certo produto. Tal crise pode possibilitar a mudança do perfil econômico desse espaço, ou seja, uma área anteriormente produtora de cana-de-açúcar, em virtude de uma crise, tenta buscar outros meios de crescimento e desenvolvimento econômico que não necessariamente impliquem em relações de servidão.

Diante do exposto, a análise do território torna-se crucial para o entendimento sobre fluxos de capital e população, na medida em que tais fluxos, sejam de saída, sejam de entrada de capital ou de população, podem mudar a configuração territorial do espaço. Nesse sentido, a influência do território para a instalação de um polo industrial, por exemplo, pode vir mudar a dinâmica populacional de um determinado espaço, ao atrair população de outras localidades, a fim de servir de mão de obra para esta indústria. A partir daí, as relações sociais anteriormente existentes nesse espaço se transformam, e podem interferir na aplicação das políticas sociais.