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Regime de Financiamento do Regime Próprio de Previdência Social

3 PENALIDADE DE CASSAÇÃO DE APOSENTADORIA

4.1 Regime de Financiamento do Regime Próprio de Previdência Social

O regime de financiamento é, como sugere o próprio nome, o método pelo qual o regime previdenciário é financiado, ou seja, o mecanismo que sustenta financeiramente a concessão dos benefícios; consistindo, portanto, na origem dos recursos.

São três os principais regimes clássicos de financiamento: o regime de repartição simples, o regime de repartição do capital de coberturas e o regime de capitalização.

O regime de repartição simples é baseado intensamente no princípio da solidariedade, em que as contribuições dos segurados ativos custeiam os benefícios dos segurados inativos,

70 CRETELLA JÚNIOR, Tratado de Direito Administrativo. Rio de Janeiro, Forense, 1967, p.337. 71 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanello. Direito Administrativo. 27ª edição. São Paulo: Atlas, 2014, p.641. 72 CAMPOS, Marcelo Barroso Lima Brito. Regime Próprio de Previdência Social dos servidores Públicos. Belo Horizonte: Líder, 2004, p.42.

73 SILVA, Delúbio Gomes Pereira da. Regime de previdência social dos servidores públicos no Brasil:

constituindo um ‘’ pacto intergeracional’’, não havendo formação de reservas. É este o regime utilizado pelo Regime Geral de Previdência Social para garantir a concessão das aposentadorias.

Já o regime de repartição de capital de cobertura pressupõe que as contribuições de todos os participantes sejam investidas na constituição de um fundo, que será utilizado para o financiamento das obrigações futuras.

No regime de capitalização (funding), o segurado forma um fundo (individual ou coletivo) em que são investidos pecúlios, destinados exclusivamente à sua aposentadoria. Portanto, não há o pacto intergeracional, considerando que cada geração financia os seus próprios benefícios previdenciários, havendo uma mitigação do caráter solidário neste regime.

A propósito, Wladimir Novaes Martinez discorre acerca do tema:

Assim, frequentemente, o regime de capitalização é o próprio do neoliberalismo, enquadrado como poupança individual e disponível, da iniciativa privada, para o plano do tipo contribuição definida, com baixo nível de solidariedade, hodierno e com tendência a se universalizar. Bom para as prestações programadas. Por outro lado, o regime de repartição simples, ideologicamente seria social-democrático, técnica previdenciária, de iniciativa estatal, para o plano do tipo benefício definido, com elevada solidariedade, ultrapassado no tempo e com tendência a desaparecer. Própria das prestações programadas74

Quanto ao Regime Próprio de Previdência Social, geralmente é adotado pelos entes o regime de repartição simples, principalmente para as aposentadorias75, apesar de não haver lei imperativa nesse sentido e sendo permitido, inclusive, a adoção de regimes diferentes para a concessão dos diversos benefícios.

Em que pese ser necessária uma nota técnica atuarial dispondo que estar-se-ia adotando um regime ou outro, alguns autores afirmam categoricamente que o RGPS utiliza o regime de repartição simples. Vejamos:

O sistema previdenciário dos titulares de cargo efetivo, antes e depois da Emenda Constitucional nº 41/03, caracteriza-se também pelo regime de financiamento

baseado na repartição simples, acrescido de aportes orçamentários. Por este

modelo, não há formação de uma poupança individual ou coletiva, pois os recursos apurados com a contribuição dos agentes ativos e a cargo dos respectivos entes estatais são imediatamente transferidos para o pagamento dos benefícios atuais dos aposentados e pensionistas. (grifo nosso)76

74 M A R T I N E Z , Wladimir Novaes. Primeiras Lições de Previdência Complementar. São Paulo: LTr, 1996. p.223

75

OLIVEIRA, Raul Miguel Freitas de. Previdência dos Servidores Públicos: regime próprio e previdência

complementar dos agentes públicos. Leme: J.H. Mizuno, 2013, p. 158.

76 MODESTO, Paulo (org.). Reforma da Previdência. Análise e crítica da Emenda Constitucional nº

‘’Não é ele, com certeza, um regime de capitalização. A sua configuração, especificada no restante do dispositivo, não permite isso. A integralidade e a vinculação evidenciam isso. Trata-se aqui, sem dúvida de um regime de

repartição, e de um regime peculiar, no qual os seus segurados participam do seu

financiamento, mas cabe ao Estado garantir-lhe o financiamento remanescente’’. (grifo nosso)77

Marcelo Leonardo Tavares e Marco André Ramos Vieira inclusive associam o princípio da solidariedade, já comentado acima, com a adoção do regime financeiro de repartição simples:

O princípio da solidariedade, com a introdução o termo ‘’solidário’’ nesse inciso, ficou explícito. A solidariedade refere-se ao princípio da repartição simples em

que os ativos financiam a previdência de quem está em gozo de benefício. No

presente caso, a solidariedade ainda é mais flagrante, um vez que inclusive aposentados e pensionistas contribuirão para a manutenção do sistema previdenciário. (grifo nosso)78

Por outro lado, outros acreditam que o regime adotado preponderantemente é o regime financeiro capitalizado:

Já nos casos dos Regimes Próprios e Fundos de Pensão, o referido modelo de financiamento não assume características de principialidade como nos grandes sistemas previdenciários públicos, pois o principal regime de financiamento é o

da capitalização, visto ser este o método a ser aplicado no principal e mais caro

benefício, que é a aposentadoria, sendo o regime de repartição simples utilizado somente para outros benefícios de menor custo''. 79 GN.

''A previdência do setor privado, por exemplo, era regida pela solidariedade social, o mesmo não se dando com a do setor público que era de ''caráter contributivo observados os critérios que preservassem o '' equilíbrio financeiro e atuarial'' (art. 40, caput). Logo, estávamos, especialmente a partir da Emenda Constitucional nº 20 de 1998, diante de um regime de capitalização gerido pelo poder público - totalmente diverso de qualquer regime de solidariedade como dos trabalhadores privados.

Diante deste regime de capitalização, pretendia-se o equilíbrio financeiro e atuarial no futuro do regime - o que, certamente, seria alcançado em certo número de anos, o que foi abortado pela atual reforma''.(grifo nosso)80

No entanto, conforme já mencionado, não se pode generalizar, afirmando que todo RPPS adota um ou outro regime, pois cada ente público decide qual o que mais se adequa à sua situação econômica e à sua finalidade.

77 GUERZONI FILHO, Gilberto. Notas sobre a cobrança de contribuição previdenciária no serviço público.

Revista de Informação Legislativa, Brasília, nº 152, ano 38, p. 79-87, out-dez.2001.

78 TAVARES, Marcelo Leonardo; IBRAHIM, Fábio Ziambitte; VIEIRA, Marcos André Ramos. Comentários à

reforma da previdência. EC nº 41/2003. Rio de Janeiro: Impetus, 2004, p. 15.

79 FERRARI, Augusto Tadeu et al. Regime Próprio de Previdência dos servidores: Como implementar?

Uma visão prática e teórica. Brasília: MPAS, 2002. Coleção Previdência Social, Série Estudos, v. 17.

80 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves. A reforma da previdência social e os servidores que ingressaram

no serviço público em data anterior à da publicação da Emenda Constitucional nº 41/03. in: TAVARES,

Marcelo Leonardo. A reforma da previdência social. Temas polêmicos e aspectos controvertidos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 187 - 209