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REGIME JURÍDICO DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

No documento TEORIA GERAL DA EMPRESA (páginas 61-66)

LEITURA BÁSICA:

CAMPINHO, Sérgio. Curso de Direito Comercial. – 16ª Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.

LEITURA COMPLEMENTAR:

MONTEIRO, Newton Lucca Rogério; SANTOS, J. A. Penalva; SANTOS, Paulo Penalva. Comentários ao Código Civil Brasileiro. Do Direito de Empresa (arts. 996 a 1.087), vol. IX. Forense: Rio de Janeiro/2005. Páginas 107 a 119.

CAPACIDADE PARA SER EMPRESÁRIO.

O art. 966 do Código Civil define os requisitos para a caracterização da condição jurídica de empresário (efetivo exercício profissional da atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços).

Ocorre que, além destes requisitos, o Código Civil, em seu art. 97291, determina como condição para empresário individual a capacidade. Dessa forma, uma vez adquirida a plena capacidade, a pessoa natural poderá exercer a atividade de empresário.

O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL.

Vimos que, embora tenha havido mudança no critério de definição do objeto de Direito Comercial para o objeto de Direito Empresarial, algumas atividades continuam excluídas da condição formal de empresário, permanecendo com a natureza de não-empresarial.

Com efeito, como já visto, o Código Civil de 2002 inaugurou uma nova tipologia ao indicar dois tipos de empresários: o individual (pessoa natural) e a sociedade empresária (pessoa jurídica).

91 BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

91 BRASIL. Lei nº 10.406/2002. Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

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Diante disso, o exercício da empresa é realizado diretamente pela pessoa do empresário individual, quem responderá com todas as forças de seu patrimônio pessoal, desde que passível de ser executado, por todas as dívidas contraídas por ele (conforme será melhor abordado oportunamente). Vale ressaltar que a sistemática de nosso ordenamento jurídico permite a responsabilização pessoal do empresário individual, tendo em vista que o direito brasileiro não admite a figura do empresário individual com responsabilidade limitada.

Nesse sentido, o termo empresário assume a feição técnico-jurídica, segundo a qual empresário é a pessoa (empresário individual ou sociedade empresária) que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, não se confundindo com os sócios da sociedade empresária que são empreendedores ou investidores.

Cumpre ressaltar que o empresário individual também não se confunde como trabalhador autônomo, visto que o empresário é quem exerce atividade economicamente organizada. Significa dizer: sua atividade profissional está lastreada em uma organização que compreende a articulação, a ordenação de trabalho e os meios materiais.92

Conforme ensina Sérgio Campinho, o ponto acima é o que distingue o empresário individual do profissional autônomo, ou seja:

(...) o pipoqueiro ou o vendedor de águas de coco em uma “carrocinha” não pode ser visto como empresário, mas sim como um vendedor autônomo. Todavia, se uma pessoa natural adquire algumas “carrocinhas” e as equipa para a venda de pipocas ou águas de coco, contratando pessoas para operar as vendas, criando elementos distintivos de seus produtos, ter-se-á o explorador dessa atividade como empresário, pois exerce atividade econômica organizada, ainda que o padrão de organização seja de pequeno vulto, ainda que a atividade revele negócio de pequeno porte93.

Autor da parte que compreendia as ‘atividades negociais’ no Anteprojeto que originou o Novo Código Civil, Sylvio Marcondes destaca três elementos importantes dispostos no art. 966 que compõem o conceito de empresário:

92 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 26. 93 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 26 e 27.

92 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 26. 93 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 26 e 27.

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(...) o exercício da atividade econômica e, por isso, destinada à criação de riqueza, pela produção de bens ou de serviços para a circulação, ou pela circulação dos bens e serviços produzidos;

(...) atividade organizada, através da coordenação dos fatores de produção – trabalho, natureza e capital – em medida e proporção variáveis, conforme a natureza e o objeto da empresa;

(...) exercício realizado de modo habitual e sistemático, ou seja, profissionalmente, o que implica, em nome próprio e com ânimo de lucro. Conclui o eminente professor que se considera: “empresário quem exerce profissionalmente (...), isto é, a habitualidade da prática da atividade, a sistemática dessa atividade e que, por ser profissional, tem implícito que é exercida em nome próprio e com ânimo de lucro. Essas duas ideias estão implícitas na profissionalidade do empresário”94, ficando de fora as empresas ocasionais, mas incluindo-se as sazonais.

Assim, quando a empresa é titularizada por uma pessoa natural, tem- se a figura do empresário individual, o qual será caracterizado pelos elementos constantes no art. 966, além do requisito especial do exercício

da atividade em nome próprio, conforme expresso no art. 968, I, no qual se

estabelece, para fins de inscrição do Empresário Individual, a necessidade de informação do seu nome civil, nacionalidade, domicílio e estado civil.

Diante disso, o empresário, para que seja considerado regular, deve proceder com a sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, na respectiva sede, antes de dar início às suas atividades. Assim, “O requerimento de registro deverá conter: a) seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens; b) a firma sob a qual exercerá a atividade, com a respectiva assinatura autografa, ou seja, o modo como assinará a firma individual; c) o capital; d) o objeto; e, por fim, e) a sede.”95

Para efeitos de recolhimento de tributos federais, o Decreto n.º 9.580/201896 equipara o Empresário Individual às pessoas jurídicas para fins de Imposto de Renda, impondo a ele a obrigação de se inscrever no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas (CNPJ). Da mesma forma, se Empresário Individual for contribuinte do ICMS, também é necessária sua Inscrição Estadual.

94 MARCONDES Silvio, Questões de Direito Mercantil, pg.11 apud BULGARELLI, Waldírio. A Teoria Jurídica da Empresa. Ed. RT/1985, p. 420. 95 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 27.

96 BRASIL. Decreto nº 9.580/18. (...)Título I – DOS CONTRIBUINTES. Art. 158.  São contribuintes do imposto sobre a renda e terão seus lucros apura- dos de acordo com este Regulamento (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27): I - as pessoas jurídicas, a que se refere o Capítulo I deste Título; e II - as empresas individuais, a que se refere o Capítulo II deste Título. § 1º  O disposto neste artigo aplica-se independentemente de a pessoa jurídica estar regularmente consti- tuída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27, § 2º; e Lei nº 5.172, de 1966 - Código Tributário Nacional, art. 126, caput, inciso III). (...)

Capítulo II – DAS EMPRESAS INDIVIDUAIS. Seção I – Da caracterização. Art.  162.  As empresas individuais são equiparadas às pessoas jurídicas (Decreto-Lei nº 1.706, de 23 de outubro de 1979, art. 2º).

§ 1º São empresas individuais: I - os empresários constituídos na forma estabelecida no art. 966 ao art. 969 da Lei nº 10.406, de 2002 - Código Civil; II - as pessoas físicas que, em nome individual, explorem, habitual e profissionalmente, qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de lucro, por meio da venda a terceiros de bens ou serviços (Lei nº 4.506, de 1964, art. 41, § 1º, alínea “b”; e Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27, § 1º); e III - as pes- soas físicas que promovam a incorporação de prédios em condomínio ou loteamento de terrenos, nos termos estabelecidos na Seção II deste Capítulo (Decreto-Lei nº 1.381, de 23 de dezembro de 1974, art. 1º e art. 3º, caput, inciso III).

(...)

94 MARCONDES Silvio, Questões de Direito Mercantil, pg.11 apud BULGARELLI, Waldírio. A Teoria Jurídica da Empresa. Ed. RT/1985, p. 420. 95 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 27.

96 BRASIL. Decreto nº 9.580/18. (...)Título I – DOS CONTRIBUINTES. Art. 158.  São contribuintes do imposto sobre a renda e terão seus lucros apurados de acordo com este Regulamento (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27): I - as pessoas jurídicas, a que se refere o Capítulo I deste Título; e II - as empresas individuais, a que se refere o  Capítulo II deste Título. § 1º  O disposto neste artigo aplica- se independentemente de a pessoa jurídica estar regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional (Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27, § 2º; e Lei nº 5.172, de 1966 - Código Tributário Nacional, art.  126,  caput,  inciso III). (...)

Capítulo II – DAS EMPRESAS INDIVIDUAIS. Seção I – Da caracterização. Art.  162.  As empresas individuais são equiparadas às pessoas jurídicas  (Decreto-Lei nº  1.706, de 23 de outubro de 1979, art. 2º). § 1º  São empresas individuais: I - os empresários constituídos na forma estabelecida no  art. 966 ao art. 969 da Lei nº 10.406, de 2002 - Código Civil; II - as pessoas físicas que, em nome individual, explorem, habitual e profissionalmente, qualquer atividade econômica de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de lucro, por meio da venda a terceiros de bens ou serviços (Lei nº  4.506, de 1964, art. 41, § 1º, alínea “b”; e  Decreto-Lei nº 5.844, de 1943, art. 27, § 1º); e III - as pessoas físicas que promovam a incorporação de prédios em condomínio ou loteamento de terrenos, nos termos estabelecidos na Seção II deste Capítulo (Decreto-Lei nº 1.381, de 23 de dezembro de 1974, art. 1º e art. 3º, caput, inciso III). (...)

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Apesar de receber o mesmo tratamento fiscal, não se pode concluir que o Empresário Individual seja pessoa jurídica; na realidade, ele é pessoa natural com tratamento fiscal de pessoa jurídica, por isso está submetido à inscrição no CNPJ.

Discorrendo sobre a empresa individual, ensina Rubens Requião que: o comerciante singular, vale dizer, o empresário individual, é a própria pessoa física ou natural, respondendo os seus bens pelas obrigações que assumiu, quer sejam civis, quer comerciais. A transformação da firma individual em pessoa jurídica é uma ficção de direito tributário, somente para efeito de imposto de renda (in: Curso de Direito Comercial 1º vol, 22ª ed. Saraiva, São Paulo/1995, p. 68).

Tal distinção desemboca no sistema de responsabilidade empresarial, que será aprofundado nas próximas aulas. Contudo, vale ressaltar que o sistema de responsabilidade do Empresário é o PATRIMONIAL, ou seja, ele responde pelas obrigações decorrentes do exercício da atividade com todos os seus bens presentes e futuros, mas sempre no limite das forças do seu patrimônio.97

Em regra, a empresa tem por lastro o patrimônio do Empresário, o qual pode ser alcançado por obrigações assumidas por ele fora das atividades empresariais, da mesma forma que as obrigações assumidas no âmbito das atividades empresariais alcançam também seus bens pessoais.

Ainda, caso o empresário individual tenha a pretensão de admitir outro(s) sócio(s), entende-se que “(...) fica-lhe facultado requerer, perante o Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação de seu registro de empresário individual para o de sociedade empresária, que, assim, venha a constituir”.98

O EMPRESÁRIO RURAL.

Sobre o empreendedor rural, o Código Civil de 2002 propôs regulação específica para este, haja vista a existência de peculiaridades intrínsecas à atividade rural.

97 CPC – “Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”.

98 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 27.

97 CPC – “Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”.

98 CAMPINHO, Sérgio. Curso de direito comercial: direito de empresa – 16. Ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019, p. 27.

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Sendo assim, conforme ensina Fábio Ulhoa Coelho:

o Código Civil reservou para o excedente de atividade rural um tratamento específico (arts. 971 e 984). Ele está dispensado de requerer sua inscrição no registro das empresas, mas pode fazê- lo. Se optar por se registrar na Junta Comercial, será considerado empresário e submeter-se-á ao regime correspondente. Neste caso, deve manter escrituração regular, levantar balanços periódicos e pode falir ou requerer a recuperação judicial. Sujeita-se, também, às sanções da irregularidade no cumprimento das obrigações gerais dos empresários. Caso, porém, o empresário rural não requeira a inscrição no registro das empresas, não se considera juridicamente empresário e seu regime será o do direito civil (...).

Em que pese as peculiaridades acima expostas, o Código Civil reservou ao empresário rural a faculdade de requerer sua inscrição perante o Registro Público de Empresas Mercantis. Feita a referida inscrição, será assim equiparado ao empresário sujeito a registro, devendo se submeter ao regime jurídico correspondente. Por exemplo, poderá se valer de institutos como da recuperação judicial, que, em regra, são aplicáveis apenas ao empresário sujeito a registro na Junta Comercial de sua respectiva sede.

PESSOAS QUE EXERCEM PROFISSÃO INTELECTUAL, DE NATUREZA CIENTÍFICA, LITERÁRIA OU ARTÍSTICA.

Com base no que já foi abordado no tópico 5 deste Curso, ao tratar sobre as sociedades simples e empresárias, o Código Civil de 2002 excluiu, expressamente, da condição de empresário, certas pessoas.

Dentre tais atividades, entende-se que não serão considerados empresários aqueles que exercem profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo que se valham do concurso de auxiliares e colaboradores, conforme vimos anteriormente.

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