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5.4 Episódio 2 Modificação de regras (programas de incentivo à diversificação da

5.5.1 Regime sociotécnico resultante (2004/2005)

O regime sociotécnico resultante da instituição do Novo Modelo está baseado essencialmente nas Leis nº 10.847 e 10.848, regulamentadas com os decretos 5.981,

de maio de 2004, sobre alterações na governança do ONS; 5.163, de julho de 2004, que regulamenta a comercialização de energia elétrica no Ambiente Regulado de Contratação; 5.175, de agosto de 2004, que institui o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico; 5.177, de agosto 2004, que organiza as atribuições e o funcionamento da Câmara Comercializadora de Energia Elétrica; e 5.184, de agosto de 2004, que regulamenta a criação da EPE.

Os princípios básicos que servem de pano de fundo para as novas regras são resultado de uma retomada da ideia de serviço público da energia elétrica e a necessidade do Estado de cumprir um papel central no planejamento e expansão do sistema. A modicidade tarifária, a garantia de suprimento e o acesso à energia elétrica como um direito e um instrumento para reduzir a desigualdade foram estabelecidos como elementos orientadores do novo modelo.

O Novo Modelo do SEB centraliza as decisões de planejamento estratégico no âmbito governamental e introduz importantes modificações no ordenamento institucional vigente. Mas mantém a concepção de livre concorrência nos mercados de geração, comercialização e regulação, nos segmentos de transmissão e distribuição. A comercialização de energia foi estipulada em dois ambientes de contratação. O Ambiente Regulado de Contratação (ACR), onde é comercializada a energia nova, oriunda de novos empreendimentos (com contratos de 15 a 35 anos); energia existente, proveniente de usinas em operação (contratos de 3 a 15 anos); energia de fontes alternativas (15 a 35 anos), contratação de ajuste (até dois anos) e contratação de energia distribuída. O Ambiente Livre (ACL), para os grandes consumidores, onde as tarifas são estabelecidas por contratos bilaterais entre geradores e compradores. As regras de comercialização de energia elétrica estabelecem como princípios básicos: i) a licitação de venda de energia segmentada em geração nova e existente; ii) a introdução do mecanismo de contratação multilateral, em que cada gerador contrataria energia com todos os distribuidores; iii) o fim do autossuprimento direto entre empresas coligadas; iv) a obrigatoriedade da contratação do 100% do mercado consumidor. As distribuidoras estão obrigadas a informar ao MME a quantidade de energia necessária para o atendimento do seu mercado. A Aneel continua com seu papel de órgão regulador e fiscalizador.

No novo contexto institucional do setor, o planejamento decenal constitui um instrumento básico para subsidiar a realização dos leilões de compra de energia de

novos empreendimentos de geração e das licitações de novas instalações de transmissão, assim como a contratação de estudos investimentos hidroelétricos e de avaliações ambientais integradas de bacias hidrográficas. (DIAS e BARROS CACHAPUZ, 2006) Os estudos de impacto ambiental e social (licenciamento ambiental) passaram a ser incorporados na fase de planejamento de infraestrutura.

Finalmente, o Quadro 7 classifica conteúdo das principais regras geradas no Episódio 3. Vale destacar que, embora muitas das propostas tenham sido apresentadas como grandes mudanças, especialmente no modelo patrimonial e no paradigma de gestão de recursos, as regras resultantes dos processos decisórios para o estabelecimento do Novo Modelo Institucional do Setor Elétrico Brasileiro tendem a retomar muitas das regras que já tinham sido criadas nos episódios anteriores, complementa-las e organiza-las, fazendo que o resultado seja cauteloso, tendente à incorporação de inovações incrementais.

Regra Conteúdo Tipo de regra

Proposta de alterações estruturais no SEB.

Documento Diretrizes e Linhas de Ação para o SEB (2002)

Novo paradigma de gestão de recursos. Retomada do planejamento central. Paralização das privatizações e da energia emergência.

Regras de inovação radical7

Organização institucional do SEB

Leis nº 10.847 (2004); Lei nº 10.848 (2004)

Retoma planejamento central. Cria a EPE. A necessidade de cumprir com contratos e a revalorização das características do setor elétrico brasileiro fazem que as propostas do novo modelo não sejam completamente descoladas da

institucionalidade esboçada pela GCE durante a Crise de 20018. Regras de inovação incremental Ambientes de Contratação Lei nº 10.848 (2004); Decreto nº5163 (2004)

Estabelece a coexistência de dois ambientes de comercialização de energia elétrica, assim como a distinção entre energia velha e energia nova, criando novas categorias e proibindo a auto contratação.

Regra de inovação incremental

Novas funções Aneel

Lei 10.848 (2004); PL nº 3.337 (2004)

Restringe funções de controle na expansão do sistema; conservando funções regulatórias e fiscalizadoras

Regra de inovação incremental Quadro 7 Classificação das regras do Regime Sociotécnico (2004-2005)

Fonte: elaboração própria.

5.5.1.2 Atores

No novo regime, embora fossem redefinidas as relações hierárquicas entre os componentes do setor, o Ministério de Minas e Energia volta a ser o ator central.

7 Entende-se que as propostas supõem uma ruptura em relação aos paradigmas, processos e formas

de interação no regime vigente entre 1995 e 2001.

8 O próprio Secretário Executivo do MME, Mauricio Tolmasquim, diz a respeito do processo de

construção do Novo Modelo “Com o objetivo de não “revolucionar” totalmente a legislação do setor elétrico, optou-se por realizar alterações legislativas somente onde fosse necessário, ficando afastada uma consolidação na forma de um “código da eletricidade”, de acordo com a tradição das leis do setor”. (TOLMASQUIM, 2011, p. 73)

.Recupera funções de planejamento, implementação de políticas no setor energético e monitoramento do Setor e comanda o processo de reestruturação institucional. Vinculados ao MME estão a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), além das duas empresas mistas, Petrobras e Eletrobrás.

O Conselho Nacional de Planejamento Energético (CNPE), integrado pelos atores que fazem parte do sistema, o que inclui outros ministérios (como Agricultura e Pecuária, e Meio Ambiente), representantes da sociedade civil e das universidades; tem por função a proposição de políticas e diretrizes para o setor elétrico, bem como critérios gerais de garantia de fornecimento, por indicação de empreendimentos estratégicos ou pela importação de energia.

Com a nova legislação, foi criado um Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), para controlar permanentemente “a continuidade e a segurança do suprimento eletroenergético, em todo o território nacional”, acompanhando a totalidade das atividades relacionadas ao setor, desde a geração até a comercialização e importações ou exportações. A sua tarefa é analisar o processo, identificar riscos e sugerir alterações.

Também criada com a nova legislação, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) promove estudos de potencial energético e de viabilidade de novas usinas, incluindo obtenção de licença prévia para os aproveitamentos hidroelétricos, e desenvolve estudos de planejamento da matriz energética, visando à expansão do sistema elétrico e à redução dos riscos de racionamentos e apagões. O primeiro diretor da entidade foi Mauricio Tolmasquim, quem fosse secretário de energia ao longo do processo decisório para o Novo Modelo Institucional do SEB.

A Eletrobrás manteve as funções de holding das empresas federais. Ficou responsável ainda pela administração dos encargos e fundos setoriais, pela gestão do programa Luz para Todos e pela comercialização da energia de Itaipu Binacional e das fontes alternativas do programa Proinfa. A saída do grupo do PND favorece a capacidade de endividamento e investimentos da estatal.

As novas funções da Aneel como entidade reguladora do setor foram introduzidas pela Lei nº 10.848 de 2003. A entidade deve regular as atividades do

Operador Nacional do Sistema na coordenação dos Sistemas Interligados, e as operações de compra e venda de energia no âmbito da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CEEE). O ONS, no despacho de geração, determina quanto deve produzir cada usina a cada momento.

O núcleo de intelectuais composto pelo físico Luiz Pinguelli Rosa (Coppe/UFRJ), o engenheiro Mauricio Tolmasquim (Coppe/UFRJ) e o engenheiro Ildo Sauer (USP) foram essenciais no desenvolvimento tanto do conteúdo das primeiras propostas e diretrizes do novo modelo, quanto da divulgação destas; mas a presença de técnicos em postos-chave seria logo substituída pela prática de nomeação e indicação de cargos pelos partidos da base aliada, no caso o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB).

O BNDES perde seu papel preponderante. As associações representativas multiplicam-se. Entre as mais destacadas na participação ativa no regime, destacam- se a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), a ABCE, a Apine, Abiape e a Abraget.

5.5.1.3 Elementos técnicos e materiais

A capacidade instalada de energia elétrica teve um acréscimo de 10.519 MW no triênio 2003-2005, alcançando os 92.865 MW no final do período. O último ano dos contratos de energia emergencial foi 2005. Os contratos foram contabilizados pela Aneel nesses dados.

Tabela 4 Capacidade instalada de geração de energia elétrica por tipo de usina 2004-2007 (em MW)

2004 2005 2006 2007

UHE - Usinas Hidrelétricas* 68.999 70.857 73.433 76.871

UTE - Usinas Termelétricas 19727 20264 20372 20.957

EOL - Usinas Eolioelétricas 29 239 247

UTN - Usinas Termonucleares 2.007 2.007 2.007 2.007

Capacidade Instalada Total 90.678 93.157 96.634 100.450

Fonte: Balanço Energético Nacional 2010 – Ano Base 2009

O parque gerador estava constituído por 149 Centrais Hidroelétricas, com potência superior a 30 MW, 260 pequenas centrais hidroelétricas (PCHs) e 188 centrais geradoras hidroelétricas (CGH), com capacidade inferior a 1MW; duas centrais termonucleares e 870 empreendimentos termoelétricos, incluindo as centrais de cogeração à base de diferentes combustíveis, e 318 usinas de cana de açúcar. Das 54 usinas emergenciais contratadas pelo governo em 2001, 25 terminaram seus contratos em 2004 e as demais em dezembro de 2005. O quadro completa com 10 usinas eólicas e uma fotovoltaica (DIAS e BARROS CACHAPUZ, 2006).

A energia produzida pelas usinas associadas ao Proinfa começou a ser vendida em leilões especiais. Segundo dados da Eletrobrás de 2011, com o programa foram instaladas 41 usinas eólicas, 59 pequenas centrais hidroelétricas (PCHs) e 19 térmicas a biomas. Novas pesquisas incentivadas pela EPE e pela Aneel começaram estudar o potencial de fontes como o vento e ou a força mare motriz, mas não se produziram grandes investimentos.

Gráfico 4 Evolução da Capacidade instalada por tipo de usina 2004-2015 (em MW)

Fonte: Balanço Energético Nacional 2010 – Ano Base 2009

2004 2005 2006 2007 2015

UHE - Usinas Hidrelétricas* 76.1% 76.1% 76.0% 76.5% 65.2%

UTN - Usinas

Termonucleares 2.2% 2.2% 2.1% 2.0% 1.5%

EOL - Usinas Eolioelétricas 0.0% 0.2% 0.2% 3.8%

UTE - Usinas Termelétricas 21.8% 21.8% 21.1% 20.9% 29.4%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

6 ANÁLISE DOS PROCESSOS DECISÓRIOS