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2.2 TRATAMENTO NEO-SCHUMPETERIANO

2.2.4 Regimes tecnológicos e padrões setoriais de inovação

Em geral, turbulências nas atividades de inovação parecem ser características fundamentais na evolução industrial. Entretanto, a evolução industrial aparece caracterizada também por graus notáveis de persistência nas atividades inovativas de um grande número de firmas de uma indústria, de modo que existam similaridades e diferenças entre os setores quanto às fontes, à natureza e aos impactos das inovações (MELO, 2008).

De acordo com Orsenigo e Malerba (1997) apud Figueiredo (2013), o regime tecnológico pode ser definido como uma combinação particular de algumas propriedades fundamentais da tecnologia, que geram condições que induzem o empresariado à inovação. Estas propriedades são as discutidas por Dosi (2006): (a) condições de oportunidades tecnológicas; (b) condições de cumulatividade do progresso técnico, e: (c) condições de apropriabilidade privada dos efeitos da mudança tecnológica.

No que tange a primeira condição, diz respeito às oportunidades econômicas geradas pelos esforços do avanço tecnológico, que ocorre por meio dos momentâneos ganhos de monopólio ou pelas diversas aplicações da tecnologia, seja em produto ou processo (DOSI, 2006 apud FIGUEIREDO, 2013).

Bases de conhecimento são definidas como o local onde são guardadas todas as informações potencialmente relevantes a respeito de tudo o que acontece em uma empresa, tornando possível ter um fácil e rápido acesso a esses dados quando for necessário. Como discutido anteriormente, essa base de conhecimento é gerada a partir dos conhecimentos tácitos e específicos dos trabalhadores dentro da empresa, portanto, parte do conhecimento científico é desenvolvido internamente, e devido isso, não pode ser inteiramente difundido.

Quanto às condições de cumulatividade do progresso técnico, de fato o conhecimento e as formas tácitas da tecnologia não são informações de fácil acesso e reprodução, cada tecnologia carrega consigo um nível particular de técnicas produtivas tácitas. Neste meio, apenas as firmas que acumularam conhecimento com base na trajetória de suas experiências com a tecnologia serão capazes de manterem-se no vértice da fronteira tecnológica. Outras poderão se emparelhar a estas empresas, dependendo da combinação entre o nível das três propriedades discutidas, principalmente a próxima (DOSI, 2006 apud FIGUEIREDO, 2013).

As condições de apropriabilidade são propriedades do conhecimento especifico da marca, produto, da tecnologia, do mercado, ou do ambiente legal, que permitem ou não a proteção da inovação por parte do inovador, que por sua vez é incentivado ou não a inovar. Os níveis de apropriabilidade diferem quanto indústrias e tecnologias. Exemplos de apropriabilidade são patentes, produtos diferenciados, segredos industriais, ou o custo e tempo necessário para que haja as imitações (DOSI, 2006 apud FIGUEIREDO, 2013).

O regime tecnológico (isto é, os diferentes níveis de dotações das propriedades tecnológicas) incidem, portanto, no padrão de comportamento e estratégias das empresas no que diz respeito às atividades de inovação. Setores de diferentes intensidades tecnológicas exigem diferentes níveis de esforço tecnológico por parte das firmas que se relacionam com a tecnologia, com fins de manutenção de seus mercados, receitas, ou capacidade produtiva. Neste meio, Freeman (1974) sintetiza as estratégias tecnológicas correntes à disposição das firmas (em relação à P&D, atividades inovativas ou de aprendizado), quando confrontadas com a mudança tecnológica (FIGUEIREDO, 2013).

Uma análise setorial que pode ser realizada através dos padrões tecnológicos foi apresentada por Pavitt (1984). O autor classifica as empresas em três setores distintos (um grupo se subdivide), levando em conta os graus de intensidade tecnológica incorporados em cada um. O estudo procurou classificar as indústrias como usuárias e produtoras de tecnologia em três grandes grupos: (a) dominados por fornecedores; (b) firmas intensivas na produção; e (c) setores baseados em ciência.

As firmas dominadas pelos fornecedores encontram-se principalmente nos setores tradicionais da produção industrial e na agricultura, construção civil, produção doméstica informal e em muitos serviços pessoais, financeiros e comerciais. Elas são, normalmente, pequenas e suas capacitações de engenharia e P&D interna são fracas. Elas se apropriam menos de vantagens tecnológicas, quando comparadas a qualificações profissionais, aparência estética, marcas e propaganda. As trajetórias tecnológicas são definidas, portanto, por redução de custos.

Firmas dominadas pelos fornecedores geralmente dão uma contribuição secundária as suas tecnologias de processo e de produto. A maior parte das inovações vem dos fornecedores de equipamentos e materiais, embora algumas vezes os grandes clientes, a pesquisa com financiamento oficial e a extensão dos serviços também dêem sua contribuição. Como exemplo, podemos citar a indústria têxtil, vestuário, calçados e mobiliário.

As firmas intensivas em produção podem ser decompostas em duas categorias: produtores em larga escala e fornecedores especializados. No primeiro caso, as firmas inovadoras produzem uma proporção relativamente grande de suas próprias tecnologias de processo para as quais elas destinam uma proporção relativamente elevada de seus próprios recursos inovativos. As firmas inovadoras também são relativamente grandes; têm um nível relativamente elevado de diversificação tecnológica vertical na direção de equipamentos relacionados as suas próprias tecnologias de processo e dão uma contribuição relativamente grande às inovações produzidas em seus setores de atividade principal. Como exemplo, as indústrias de bens duráveis eletrônicos e automóveis.

Finalmente, o terceiro grupo de empresas da taxionomia desenvolvida por Pavitt (1984), é o das empresas baseadas em ciência. Segundo o autor as principais empresas que compõe este grupo são empresas dos segmentos da indústria química e eletro-eletrônica. Em geral são empresas de grande dinâmica tecnológica e com departamentos de P&D bastante importantes na cultura destas empresas.

Dado o alto grau de desenvolvimento tecnológico das empresas deste grupo, o fato de estas empresas se encontrarem na fronteira tecnológica faz com que as habilidades destas empresas sejam uma barreira à entrada de empresas concorrentes que não disponham das mesmas competências. Nestes termos, a proteção por meio de patentes se faz necessária apenas para algumas empresas do setor químico, principalmente as empresas do setor de química fina. Para as outras empresas, os principais fatores que garantem a proteção para as inovações são as habilidades tecnológicas desenvolvidas por elas.