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Regimes Tecnológicos e Padrões Setoriais de Inovação: Dinâmicas Inovativas

Segundo Dosi (1998) um regime tecnológico pode ser entendido como sendo um conjunto de firmas, disciplinas profissionais e sociedades, pesquisa universitária e programas de treinamento, com estruturas regulatório-legais que geram suporte ou restringem o desenvolvimento dentro de um determinado regime e ao longo de uma trajetória determinada. De acordo com Malerba e Orsenigo (1997) um regime tecnológico pode ser entendido como um conjunto de quatro elementos fundamentais: oportunidade tecnológica, apropriabilidade da inovação, cumulatividade dos avanços tecnológicos e o conhecimento das firmas. As diferentes formas que assumem essas variáveis representam a dinâmica do processo inovativo nas diferentes empresas e nos diferentes setores.

Em primeiro lugar, as oportunidades são decorrentes de dois fatores principais: tecnologia disponível e capacidade de investimentos em inovações. Em relação ao primeiro fator, quanto maior a tecnologia disponível, maior a probabilidade de ocorrer uma inovação. Da mesma forma, quanto maior for a capacidade da empresa em investir em inovação, como o

estabelecimento de departamentos de P&D e parcerias com universidade, maior será a chance de a empresa promover alguma inovação.

Podem-se descrever as condições de oportunidade tecnológica ainda mais detalhadamente a partir de quatro fatores: nível, variedade, penetrabilidade e fontes. Em relação ao nível, as oportunidades inovativas podem ser classificadas em altas ou baixas. Os ambientes com alta propensão a inovações são caracterizados por incentivem as empresas a buscarem contínuas inovações, sobretudo de caráter radical. Em ambientes de baixas oportunidades a inovação, as novas combinações têm um caráter menos radical e dinâmico.

Quanto maior for a variedade de oportunidades tecnológicas, maior será a propensão da empresa de gerar inovação, uma vez que maiores serão as opções disponíveis para que isso ocorra. A penetrabilidade está associada à capacidade da inovação de gerar diversificação através da sua introdução em diferentes mercados e produtos. Por fim, as fontes de oportunidades tecnológicas podem ser divididas entre internas e externas. As fontes externas estão ligadas a parcerias com universidades e empresas de pesquisa, a interação da empresa com outras empresas, fornecedores, clientes, entre outras. As fontes internas estariam principalmente atreladas ao departamento de P&D da firma.

Em segundo lugar, no que concerne a apropriabilidade das inovações, são grandes estímulos que a empresa tem a inovar. Esse fator está associado ao tamanho dos benefícios de se realizar uma inovação. Assim, as condições de apropriabilidade mostram a possibilidades das empresas inovativas se protegerem do processo de imitação, e, consequentemente, auferir lucros a partir da atividade inovativa. A apropriação pode ser identificada em duas dimensões: nível de apropriabilidade e meios de proteção. Quanto maior for o nível de apropriabilidade, mais eficientes são os meios de proteção, ou em outras palavras, mais difícil das empresas imitadoras se apropriarem de determinada tecnologia. Já os meios de proteção estão relacionados aos meios que as firmas utilizam para se protegerem, como ocorrem com as patentes, segredos industriais entre outros.

Em terceiro lugar, a cumulatividade dos processos inovativos está ligada a ideia do processo evolutivo em que ocorrem as inovações. Os conhecimentos vão sendo acumulados ao longo do tempo, e as inovação vão ocorrendo ao longo de uma trajetória evolutiva, de forma que os conhecimentos adquiridos hoje contribuem para a inovação no amanhã, e assim sucessivamente. Assim, as empresas que são inovativas hoje também são mais propensas a

realizarem inovações no futuro. A alta cumulatividade ocorre geralmente em setores que apresentam uma alta dinâmica inovativa e retornos decrescentes.

Ainda de acordo com Malerba e Orsenigo (1997), podem ser identificadas três diferentes fontes de cumulatividade: (i) os processos de aprendizagem e os retornos crescentes dos níveis de tecnologia, uma vez que os novos conhecimentos são construídos sobre os realizados anteriormente; (ii) Fontes organizacionais, como através da consolidação de departamentos de P&D; e (iii) Pelo fato de sucesso gerar sucesso. Assim, as empresas que tiveram lucros extraordinários no passado podem estar reinvestindo e Desse modo, aumentando a probabilidade de inovação.

Por fim, o último dos quatro fatores seria o conhecimento. O conhecimento é um dos pilares para a atividade inovativa, pois servem como base para que as novas combinações possam ser desenvolvidas. Podem ser identificadas duas características principais do conhecimento: a natureza do conhecimento e os meios de transmissão de tal conhecimento.

Em relação à natureza do conhecimento, podemos ter as seguintes características: (i) ele pode adquirir tanto um caráter tácito, sendo específico de cada empresa, ou explícito, sobre a forma de conhecimento codificado, estando com o acesso mais facilmente disponível para outros indivíduos que desejarem; (ii) o conhecimento pode ser genérico, quando tem a possibilidade de ser utilizado por diversos setores, ou específico, quando sua aplicação é restrita a alguns setores; (iii) pode ser simples ou complexo, dependendo da complexidade tecnológica, que pode ocorrer pela necessidade da integração de diversas disciplinas e avançado conhecimento científico; (iv) pode ser independente ou sistêmico, sendo que é considerado independente quando o conhecimento pode ser descrito por si mesmo, e sistêmico quando depende de uma gama de conhecimentos.

Essas quatro características que o conhecimento pode ter afetam os seus meios de transmissão. Quanto mais tácito, específico, complexo e sistêmico é o conhecimento, mais difícil desse conhecimento ser transmitido e difundido. Por outro lado, quanto mais codificado, genérico, simples e independente o conhecimento é, maiores são as chances de eles serem difundidos. Portanto, os conhecimentos com tais características, são mais facilmente publicados e difundidos através de meios de comunicação, sendo mais facilmente transmitidos entre os agentes.

O processo inovativo não apresenta um caráter homogêneo entre os diferentes setores industriais. Segundo Pavitt (1984), um determinado conhecimento tecnológico não é de fácil reprodução entre os diferentes setores industriais, uma vez que esses conhecimentos vêm se formando ao longo de uma trajetória evolutiva, e, portanto, tendo um caráter específico para cada tipo de setor. As economias de escala, barreiras de entrada e curvas de aprendizado são fatores que levam a inovação a atingir uma dinâmica característica em cada setor, não sendo facilmente disseminadas entre os diferentes ramos da economia. Isso vai de forma antagônica aos postulados neoclássicos, em que a tecnologia seria um a fator exógeno e se difundiria instantaneamente par todos os setores.

Pavitt (1984) criou uma taxonomia classificando as empresas em três setores distintos: (i) dominadas por fornecedores; (ii) intensivas em escala de produção; e (iii) baseadas em ciência.

As empresas dominadas por fornecedores apresentam baixa contribuição no que diz respeito ao processo de desenvolvimento tecnológico, tendo geralmente apenas um papel secundário no processo inovativo, já que usualmente apresentam menor porte e possuem pouco gasto em engenharia e P&D. Quase toda mudança tecnológica é promovida pelos fornecedores de materiais e equipamentos. Exemplos de firmas desse tipo encontra-se em setores tradicionais da economia, como é o caso da indústria têxtil e da indústria moveleira, que dependem fortemente de seus fornecedores, sobretudo dos setores químicos e de bens de capital, para promoverem inovações.

O segundo grupo da taxonomia de Pavitt (1984) abrange as empresas intensivas em escala de produção. Tais empresas têm como característica a produção em larga escala. Nesses tipos de setores, a inovação é algo recorrente e ocorre geralmente dentro do seu próprio sistema produtivo, uma vez que essas empresas costumam apresentar grande porte e verticalização das tecnologias utilizadas na produção de seus produtos. Nesse sentido, as empresas pertencentes a esse grupo também acabam contribuindo para a inovação de empresas fornecedoras de menor porte. Exemplo de setores ligados a essa classificação seriam a indústria automobilística e a indústria de bens duráveis eletrônicos.

Por fim, os setores baseados em ciência são representados principalmente pela indústria química e eletroeletrônica. Nesse tipo de indústria, há uma alta dinâmica tecnológica, estando atreladas as atividades de P&D. Tais atividades são responsáveis pelo desenvolvimento de novos produtos que geralmente dependem do avanço da ciência para

apresentarem uma evolução tecnológica. As firmas desses setores costumam ser de porte elevado e utilizam-se de diversas formas para manter a liderança tecnológica, como patentes, habilidades específicas, segredos industriais, entre outros.