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Segundo a teoria neoshumpeteriana, o processo de inovação tecnológica ocorre a partir de uma trajetória evolutiva. A partir dessa visão evolucionária, as ações que a empresa realiza hoje estão fortemente correlacionadas com o comportamento que ela vem apresentando ao longo do tempo. De outra forma, a herança das características e comportamentos que a empresa apresentou no passado influencia nas suas decisões futuras. Segundo Nelson e Winter (1982), analogamente à Biologia, as empresas apresentam uma “herança genética”. Isso quer dizer que mesmo o processo evolutivo seja dinâmico, a empresa vai mantendo as suas “características genéticas” ao longo do tempo. O elemento que faria com que essa “herança genética” se mantivesse ao longo do tempo seria a rotina. Nas palavras dos autores,

In our evolutionary theory, these routines play the role that genes play in biology call evolutionary theory. They are a persistent feature of the organism and determine its possible behavior (though actual behavior is determined also by the environment); they are heritable in the sense that tomorrow's organisms generated from today' s (for example, by building a new plant) have many of the same characteristics, and they are selectable in the sense that organisms with certain routines may do better than others, and, if so, their relative importance in the population (industry) is augmented over time (NELSON; WINTER, 1982, p.14).

De acordo com Nelson e Winter (1982), as rotinas apresentam grande relevância, uma vez que são os padrões de comportamentos que a firma adota que a fazem sobreviver ao longo do tempo no mercado. Desse modo as rotinas são a base para o comportamento dos agentes, e, sobretudo, das organizações. É sobre essa perspectiva que a rotina pode ser considerada como os genes da empresa, posto que são as elas que definem como a empresa se comportará ao longo do tempo. Segundo os autores, as rotinas são:

[...] characteristics of firms that range from well-specified technical routines for producing things, through procedures for hiring and firing, ordering new inventory, or stepping up production of items in high demand, to policies regarding investment, research and development (R&D), or advertising, and business strategies about product diversification and overseas investment (NELSON; WINTER, 1982, p.14). Nelson e Winter (1982) fazem uma distinção de três classes de rotina. O primeiro conjunto de rotinas é denominado características de operação e tem relação com as plantas, equipamentos e fatores de produção que a empresa possui em determinado momento, sendo que não pode ser facilmente alterada em um curto período de tempo. Portanto, trata-se de uma rotina de curto prazo. O segundo conjunto relaciona-se com as alterações do estoque de capital da empresa. Tal conjunto mostra que o padrão de comportamento das empresas variam em distintas situações e papel de uma grande gama de elementos estocásticos presentes nas decisões de investimento. Por fim, o terceiro grupo está ligado ao processo de modificações que as rotinas vão sofrendo ao longo do tempo. Trata-se do processo evolutivo que as firmas vão sofrendo ao longo dos anos. Essa evolução ocorre através da introdução de novas rotinas ou de aprimoramento das anteriores, mediante ao processo de busca. Esse processo constante de busca por inovação por sua vez, acaba constituindo também uma rotina.

Ainda de acordo com Nelson e Winter (2006), as rotinas têm as seguintes características: (i) São memórias da organização, uma vez que a rotinização constitui o aspecto de maior relevância para o acúmulo de conhecimento tácito organizacional; (ii) Tem uma função de trégua, visto que o estabelecimento de uma rotina se deriva do estabelecimento

de regras e padrões, fazendo com que haja um controle sobre os indivíduos em suas funções; (iii) Serve como uma forma de meta, que está associado a ideia de que as novas rotinas implantadas pela empresa partem de rotinas conhecidas de outras empresas, visando obter a melhor eficiência possível; e, por fim, (iv) a rotina como habilidades, uma vez que a rotina deriva em grande parte das habilidades individuais. Assim, o comportamento organizacional está fortemente ligado ao comportamento habilidoso individual.

O processo de busca está atrelado às estratégias que a empresa assume visando obter vantagens competitivas, bem como a manutenção de tais vantagens ao longo do tempo. Segundo Nelson e Winter (1982) em analogia a biologia, o processo de busca teria um paralelo com o processo de mutação. É através desse processo que as empresas procuram aprimorar suas rotinas, sendo que o processo de busca também pode ser rotinizado. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que o processo de busca pode modificar as rotinas, ele também é condicionado por ela. O processo de busca será motivado de acordo com probabilidade de se encontrar novas rotinas e em funções de outras variáveis. Nelson e Winter (1982) citam como exemplo os gastos com P&D, que dependem do tamanho da firma.

De acordo com Nelson e Winter (2006), o processo de busca inovativa é distinto entre as empresas, sendo que cada firma apresenta uma forma de busca particular, condicionado tanto por fatores internos quanto por fatores externos à empresa. Os fatores internos estariam relacionados com a capacidade organizacional da firma, seu conhecimento científico e tecnológico, seu desempenho passado na busca por inovação, entre outros. Já os fatores externos estrariam atrelados ao paradigma científico em vigência, a conjuntura econômica, o comportamento dos concorrentes, entre outros.

Por fim, o processo de seleção está associado a uma espécie de filtragem das inovações, exercidas pelo ambiente. Assim, tem-se uma maior eficiência os processos inovativos nos mercados, uma vez que são esses processos que sobreviverão à ação seletiva. O processo de busca e seleção estão fortemente entrelaçados. As empresas buscam as rotinas que lhes tragam vantagens competitivas e selecionam essas rotinas através de critérios como nível de solução de problemas, indicadores econômicos, nível de conhecimento que a firma dispõe, entre outros. Segundo Nelson e Winter (2006),

Busca e seleção são aspectos simultâneos e interativos do processo evolucionário: os mesmos preços que geram o feedback da seleção também influenciam as direções da busca. As firmas evoluem ao longo do tempo através da ação conjunta de busca e seleção, e a situação do ramo de atividade em cada período carrega as sementes de sua situação no período seguinte (NELSON; WINTER, 2006, p.40).

Conforme Dosi (2006) a seleção exercida pelo mercado direciona os investimentos em inovação que as empresas irão realizar. Essa seleção pode ocorrer ex-ante ou ex-post. A seleção ex-ante ocorre quando as firmas antecipam a seleção inovativa, ou seja, as firmas escolhem quais tipos de inovação que serão colocadas no mercado. São exemplos de critério

ex-ante a negociabilidade, a possível rentabilidade e a redução de custos que uma determinada

inovação pode apresentar. Por sua vez, a seleção ex-post ocorre quando as inovações promovidas pela firma são acolhidas ou não pelo mercado. Em analogia a biologia, essa seleção final de mercado é como a seleção natural darwinista, na qual as inovações que mais se adaptassem ao mercado seriam as que sobreviveriam.