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Várias outras redes regionais estão sendo criadas, como a RECON Rede de Comunicadores do Nordeste, formada por jornalistas, produtores de vídeo, radialistas e agente de pastoral da comunicação dos

mundial e o movimento internacional por uma Nova Ordem Informativa e Comunicativa

Capítulo 5- Nos anos noventa, a consolidação institucional do movimento

57 Várias outras redes regionais estão sendo criadas, como a RECON Rede de Comunicadores do Nordeste, formada por jornalistas, produtores de vídeo, radialistas e agente de pastoral da comunicação dos

no Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e é representante da União Católica Internacional de Imprensa (UCIP) no Brasil.

5.7.2- De Rede em Rede: Da Rede de Imprensa para a Rede de Rádio

Em 1995 articulou-se a Rede Católica de Rádio (RCR), dentro desta perspectiva e com a experiência da Rede Brasileira de Imprensa Católica, com o apoio da União de Radiodifusão Católica do Brasil (UNDA/Br) e da UCBC). “A segmentação e a formação de redes são duas tendências apontadas pelos estudiosos como alternativas para o rádio”, chegaram à conclusão os articuladores da RCR, pois assim a criação de redes tem possibilitado que as grandes emissoras ofereçam aos clientes uma forma de atingir um mercado mais amplo por um custo menor e as pequenas rádios uma programação mais variada e profissional. O projeto da RCR foi articulado e negociado com a EMBRATEL, sendo que o contrato prevê a transmissão por satélite, através de três rádios bases de redes regionais (Rádio Difusora, em Goiás, Rádio Clube, no Paraná e Rádio Aparecida, em São Paulo). Inicialmente estão previstos 85 receptores para as três bases. O sistema de transmissão de radiodifusão será digital, que é o sistema mais atualizado de transmissão radiofônica. Essas três rádios-mães serão as rádios que coordenarão o sistema e a integração das demais rádios a rede. O sistema entrará em operação ainda em 1995 (UCBC- UNDA/BR,1995).

5.7.3- Rede VIDA de Televisão: terceirização e interatividade em um projeto de rede de televisão católica.

Talvez o projeto mais ousado e ambicioso de rede de comunicação alternativa que tenha surgido nos últimos anos, seja o projeto da Rede Vida de Televisão. No primeiro semestre de 1995, estará no ar, a partir de sinal emitido de São José de Rio Preto, estado de São Paulo, uma experiência pioneira: uma rede de televisão com uma filosofia assumidamente católica. A Rede Vida de Televisão começou a se concretizar quando, no final do mandato do presidente José Samey, o empresário João Monteiro de Barros Filho conseguiu a concessão para instalar uma emissora de televisão, a TV Independente de São José de Rio Preto.

O edifício que abrigará a sede da futura rede e a torre de transmissão já foram inaugurados e através de contrato com a EMBRATEL já está garantido o acesso de dois milhões de antenas parabólicas espalhadas por todo o país.

Segundo o professor Ismar de Oliveira SOARES (1994), a concessão do novo canal, ocorreu com o conhecimento. do projeto que estava nele implícito, pois o governo federal sabia das pretensões da família Monteiro. Na verdade desde o inicio das negociações em Brasília, o empresário deixou claro que não pretendia simplesmente entrar no mercado com uma mera “TV regional”, mas que pretendia “criar um espaço de produção cultural e de prestação de serviços que levasse em conta as efetivas necessidades da sociedade brasileira” (ibidem,1994). Desta forma, o empresário católico

articulou-se com setores da Igreja Católica e procurou a CNBB, buscando uma aliança que permitisse desenvolver uma política de comunicação coerente com os princípios defendidos pelo setor de comunicação da CNBB. O apoio veio de forma indireta, com adesão de alguns bispos como Dom Antônio Mucciolo de Barretos e Dom Luciano Mendes de Almeida, de Mariana e com o envolvimento de entidades como a UCBC, a UNDA/BR e a Organização Católica de Cinema - (OCIC). Tal fato possibilitou a criação do INBRAC- Instituto Brasileiro de Comunicação Cristã, uma associação destinada a

implantar e a manter a futura Rede Vida de Televisão- RVT.

A proposta política de trabalho da RVT optou pela terceirização, valorizando o trabalho das produtoras independentes. A Rede Vida não investirá em grandes produções apostando na parceria com produtoras independentes de todo o país. A rede irá iniciar seu trabalho estimulando as Dioceses a adquirirem antenas parabólicas e utilizarem sua programação para debates, formação e divulgação do seu projeto de televisão.

O INBRAC tem articulado um diálogo com segmentos especializados da sociedade como pesquisadores da comunicação, educadores, produtores independentes de vídeo e cinema. Várias reuniões foram organizadas com a colaboração de professores da EC A - USP. A partir destas discussões, a Rede Vida está criando um Departamento de Comunicação e Educação que é responsável por programas de “Cultura”, “Educação para a Cidadania”, “Educação Sistemática” e “Educação Religiosa à Distância”. O INBRAC tem chamado esta proposta de projeto de “Interatividade”, ou seja um diálogo com a sociedade através das organizações sociais.

Entre as ONGs que tem se disposto a discutir a proposta de programação, está a ABVP, que tem examinado a possibilidade de oferecer uma contribuição na apresentação de programas de vídeo já terminados e na elaboração de novos projetos em parceria com produtoras associadas em diversos estados do Brasil. A RVT baseou-se em uma das conclusões do último Congresso da UCBC, segundo a qual nem as ONGs, nem as pastorais da Igreja, possuem uma política de comunicação articulada, além de não dispor de canais regulares de comunicação com a sociedade para se colocar a disposição destes projetos sociais. “A RVT coloca-se à disposição dos coordenadores de projetos, não apenas para divulgar, mas principalmente para favorecer a criação de produtos que tenham qualidade e conteúdo, permitindo uma efetiva democratização da comunicação social no país”, argumenta o professor Ismar de Oliveira SOARES, professor da ECA-USP e presidente da União Católica Latino-Americana de Imprensa (UCLAP), além de responsável pelas propostas de trabalho da Rede Vida de Televisão (idem).

Como vimos, a RVT está articulando uma malha de relações que vai envolver desde entidades de comunicação (UCBC, OCIC-Br, UNDA/BR, ABVP, UCLAP) até dioceses e paróquias municipais. Este processo cria uma relação diferenciada entre o programador (emissor) e o telespectador (receptor). A mediação, a interação e o dialogo que pode se estabelecer entre esta rede de televisão e o público é algo bastante novo e pode ajudar a criar uma relação diferenciada com os meios de comunicação de massa, principalmente o rádio e a televisão. É importante destacar, como já vimos,

que várias destas entidades que estão contribuindo para o projeto da RVT participam diretamente do FNDC.

Recentemente tem sido estimulada uma tendência de “interatividade” na televisão brasileira. A Rede Globo tem colocado no ar o programa “Você Decide” onde um tele-drama é encenado e o telespectador decide o final através do voto. O programa tem feito muito sucesso e o seu formato já foi vendido e exportado para diversos países incluindo a Inglaterra, “sim ou não”, estas são as alternativas que a Rede Globo oferece ao telespectador. Este estilo simplista e maniqueista de resolver os problemas, na verdade não contribui seriamente para uma discussão da realidade brasileira. Os problemas apontados no programa são isolados do seu contexto e o democratismo é a solução para o populismo eletrônico realizado pela Rede Globo de Televisão. No final, “você decide” e está tudo encerrado. Populares de alguma cidade do Brasil reúnem-se organizados pela Rede Globo para assistir o programa e dar a sua opinião: sim ou não. Após a contagem final dos votos dados por telefone, o final pré-gravado que venceu vai ao ar e tudo está resolvido, “democraticamente”. Nenhuma entidade representativa da sociedade civil dá opinião, nenhum caso é contextualizado historicamente e nenhuma solução coletiva é apontada para o problema. O que vale é o divertimento, o entretenimento e o final que a maioria deseja.

Diferentemente, da proposta interativa da Rede Globo, a Rede de Televisão Educativa (TVE) tem desenvolvido um programa interativo diferente. O programa “Um Salto para o Futuro” da TVE tem como objetivo discutir temas relevantes para a escola. Planejado para debater em cadeia

nacional temas relacionados com a educação, o programa é preparado por diversos grupos de diversos estados da federação, que participam via satélite no aprofundamento do tema debatido naquele programa. O público-alvo do programa são os professores das escolas públicas brasileiras. Estes programas são transmitidos ao vivo e gravados para serem utilizados em cursos e debates com professores nos diversos estados onde são transmitidos os programas. Especialistas do assunto são consultados via satélite e uma apresentadora do Rio de Janeiro faz a mediação do debate.

O programa é diario e muitas vezes durante urna semana vários temas se complementam dando oportunidade para que a discussão seja aprofundada. Existe também uma preocupação em diversificar as regiões e estados que participam do programa, mostrando a diversidade e a riqueza cultural do Brasil, de norte a sul.

A Rede Vida de Televisão demonstra preocupação em seus documentos, com a regionalização e participação da sociedade civil. Parece-nos que a proposta de “interatividade” da RVT está mais próxima da proposta do programa “Um Salto para o Futuro” do que da “interatividade” do programa “Você Decide”.

Um elemento importante de ser ressaltado no projeto da RVT, é o fato de que a rede, apesar de ter uma filosofia assumidamente católica, é “leiga”, ou seja, a concessão do canal da emissora geradora é de um grupo empresarial privado de Barretos, interior de São Paulo. O Grupo de João Monteiro de Barros Filho é proprietário de cinco emissoras de rádio e um jornal diário na

região (LOPEZ, 1994). A proposta que culminou com a criação do INBRAC articulou os interesses de vários atores neste processo. Atualmente, um largo setor da hierarquia da Igreja Católica, cerca de 300 bispos, apoia o projeto. O presidente do INBRAC é Dom Antônio Maria Mucciolo, Arcebispo de Botucatu e grande amigo de Monteiro de Barros Filho (idem). Dentro deste projeto, a grosso modo, identificamos, pelo menos três atores importantes : os empresários de comunicação (além da família Monteiro de Barros está envolvido o empresário Roberto Montoro filho, proprietário da TV Morada do Sol); setores da hierarquia da Igreja Católica (Arcebispos e bispos) e entidades e especialistas em comunicação próximos da Igreja Católica (além da UCBC, UNDA/BR, OCIC-Br, estão envolvidas várias produtoras de comunicação vinculadas as congregações da igreja (Sistema Salesiano de Vídeo, Irmãs Paulinas, Associação Senhor Jesus, Verbo Filmes e outros).

Este ambicioso projeto pretende articular os interesses de todos estes grupos, além de abrir espaço para produtoras independentes, terceirizando sua produção. O projeto é comercial e pretende conquistar uma fatia do mercado nacional de propaganda. Por princípios éticos, a rede não aceitará, propaganda de cigarros e bebidas alcóolicas. Este projeto não possui uma característica ideológica muito clara. Na divulgação apresentada até agora, sobre a futura programação da Rede, dá-se uma ênfase a aproximação com as paróquias, com muito espaço para programas religiosos (Missa na TV, cursos de batismo, catecismo, etc.) e algum espaço para programas educativos. A proposta acrescenta porém, que haverá espaço para programas “leigos”, ou seja programas independentes, desde que não firam os princípios da rede : “ nada de pornografia e violência exagerada”(LOPEZ, 1994).

Podemos dizer, que a tática de negociação e conciliação interna, em que a Igreja Católica historicamente tem uma larga experiência, poderá ser muito útil para o projeto da RVT. Afinal, dentro do projeto, existem grupos mais próximos à Teologia da Libertação como a UCBC, OCIC-BR e outros próximo do Movimento Católico de Renovação Carismática, com características mais conservadoras, como a Associação Senhor Jesus. Todos eles ainda terão que se entender e se acomodar com a vertente empresarial e comercial do projeto da RVT. Pelas informações ainda embrionárias que temos sobre a Rede Vida de Televisão ( pois ela ainda está em fase de implantação) não podemos fazer uma avaliação de sua composição final. Porém é preocupante, dentro de uma perspectiva que pretende ver a RVT como uma alternativa democratizadora, o fato de que somente os programas religiosos e carismáticos estejam garantidos na programação, sendo que para os programas sociais, documentários e programas independentes esteja garantido apenas o “espaço” para ser usado comercialmente. Se a Rede Vida não tiver um projeto especifico mais claro para sua proposta de “interatividade” e diálogo com a sociedade civil, ela corre o risco de se transformar em apenas mais uma rede de televisão católica tradicional, transmitindo mensagens religiosas e carismáticas58.

5.7.4- A ética na Comunicação: uma importante contribuição das organizações cristãs

Outro elemento que não podemos deixar de salientar, quando falamos da contribuição das entidades vinculadas às igrejas progressistas para o Movimento pela Democratização da Comunicação é a reflexão sobre a “Ética

58 Estados Unidos, Portugal e o Vaticano por exemplo, possuem seus canais de TV Católicos que são

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