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A idéia de formar-se o grupo VIDEOCLAT surgiu a partir de um curso, que foi oferecido em julho de 1983, pelo Núcleo de Memória Popular do ABC, do Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo

mundial e o movimento internacional por uma Nova Ordem Informativa e Comunicativa

Capítulo 4 Os anos oitenta: Da resistência ao impulso das novas tecnologias

18 A idéia de formar-se o grupo VIDEOCLAT surgiu a partir de um curso, que foi oferecido em julho de 1983, pelo Núcleo de Memória Popular do ABC, do Instituto Metodista de Ensino Superior de São Bernardo

do Campo, em São Paulo. O tema do curso foi “O vídeo como instrumento de animação cultural e intervenção social”, planejado pelos professores Luiz Roberto Alves, Regina Festa e Luiz Fernando Santoro que foram encarregados de ministrá-lo. Os cinco grupos que formaram o VIDEOCLAT foram o Núcleo de Memória Popular do ABC, o CEPÍS (Centro de Educação popular do Instituto Sedes Sapientiae), o CEPS - ABC (Centro de Estudos Políticos e Sociais do ABC), o CEPASE (Centro de Pesquisa e Assessoria Socio­ económica) e Celso Maídos pelo PT (Partido dos Trabalhadores).

recuperado nessa experiência, é menos o resultado final e sim, o processo de trabalho.” comenta o professor Luiz Fernando SANTORO (1986, p. 168). Esta preocupação revela uma tendência e uma característica que posteriormente cresce no trabalho dos grupos, entidades e ONGs, que passam a trabalhar com o vídeo junto ao movimento popular. Nos anos noventa este tipo de trabalho com vídeo vai ficar conhecido no Brasil como “vídeo- processo” significando a utilização do vídeo como instrumento pedagógico e a preocupação com o processo de produção como um momento de utilização para a formação, valorizando desta forma o processo como um elemento tão importante quanto o acabamento ou o produto final.19

A experiência do grupo VIDEOCLAT foi muito significativa. O grupo resolveu continuar se reunindo após a experiência do I CONCLAT e mudou de nome para grupo do VÍDEO POPULAR, (op.cit, 1986, p. 170) Este grupo foi o embrião, uma das principais sementes que fez surgir em dezembro de 1984 a Associação Brasileira de Vídeo do Movimento Popular (ABVP), agrupando já em 85 mais de sessenta grupos e entidades de vários estados brasileiros interessadas nesta área de atuação.

Como vimos no primeiro capítulo deste trabalho, é durante os anos oitenta que se esboçam as primeiras tentativas de articulação nacional do movimento pela democratização da comunicação. Paralelamente a essas experiências práticas, como o movimento das rádios livres e o movimento de vídeo popular, começa a se gestar um movimento político que vem se

19 Sobre metodologia participativa em vídeo, ver texto do autor : VIEIRA DE SOUZA, Mareio. “Terra e vida Catarina: um vídeo feito pelos trabalhadores sem terra”. In: Rompre lá culture du silence. Passerelles- Dph, Paris - França, n° 7, RITMO & FPH.

institucionalizar na Frente Nacional por Políticas Democráticas de Comunicação. Esse movimento é paralelo e não está articulado aos projetos e trabalhos desenvolvidos com as novas tecnologias em comunicação. São dois lados de uma mesma moeda que inicialmente são gerados de forma espontânea e independente.

4.2- A luta institucional do Movimento pela Democratização da Comunicação

O movimento “institucional”, ou seja, aquele que vai se organizar para lutar por políticas públicas democráticas de comunicação, por legislação, direitos reconhecidos juridicamente, institucionalmente, etc; teve como embrião as teses apresentadas pela delegação do Curso de Comunicação da UFSC, em setembro de 1980 em Curitiba, no IV Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação - ENECOM. Estas teses foram apresentadas sob o título “Os estudantes de Comunicação e a Radiodifusão Brasileira”. A tese que foi aprovada no ENECOM, ainda não deixava claro a importância da criação de um movimento nacional articulado com outras entidades em nível nacional. Apenas estabelecia as bases teóricas e técnicas para o questionamento do sistema de comunicação vigente no país que irão nortear o início do movimento.

Em 7 de outubro de 1983, como já vimos, durante a realização do IV Encontro Latino americano de Faculdades de Comunicação e o VU Congresso da ABEPEC, acontecido em Florianópolis, é realizada a primeira reunião do movimento que culmina no ano seguinte com o lançamento de um documento-

manifesto oficializando a criação da Frente Nacional de Lutas por Políticas Democráticas de Comunicação. Pela primeira vez, reunia-se em torno de um projeto político comum para a luta por políticas democráticas de comunicação, entidades representativas e acadêmicas de comunicação, bem como outras entidades ligadas à sociedade civil (OAB-RJ, Sind.Eng.-RS, Sind. Processamento de Dados- RS.).

Mas como podemos ver, estas entidades ainda eram entidades afins, tinham uma relação técnica e direta com a matéria. O Sindicato dos Engenheiros, por tratar de elementos de telecomunicação, eletrônica e outros processos tecnológicos que perpassam a engenharia; o Sindicato de Processamento de Dados, pela evidente relação da informática e as novas tecnologias da comunicação e a Ordem dos Advogados do Brasil, talvez a entidade que mais caracterizasse esse sentido amplo que o movimento busca até hoje; por um envolvimento legal, institucional e jurídico, que o movimento adquiriu desde o seu inicio.

Dois elementos inéditos caracterizaram essa reunião: pela primeira vez se articula no Brasil uma proposta global, que tenta dar conta do papel das políticas de comunicação do Estado brasileiro, bem como tenta esboçar as primeiras propostas de encaminhamento concreto para uma luta política em nível deste Estado. Até esse momento, havia ocorrido apenas lutas e propostas específicas, fragmentadas, que tinham sido esboçadas e referendadas por um discurso genérico de crítica à política e ao sistema de comunicação vigente, sem porém propor alternativas concretas. O segundo elemento é a importância do evento e a representatividade da reunião que, pela primeira vez,

reuniu entidades tão expressivas e representativas. Esse foi o elemento fundamental que animou os participantes e os organizadores a propor uma nova reunião para discutir a criação de uma Frente Nacional por Políticas Democráticas de Comunicação - (FNPDC). A reunião foi marcada para os dias 22 e 23 de novembro de 1983, porém o início do movimento já começava a demonstrar como seria dura a luta e quantas dificuldades iria enfrentar na sua organização. O movimento, sem recursos, teve que protelar diversas vezes a reunião que seria realizada em Brasília. O lançamento de um documento-manifesto, no dia 4 de julho de 1984, foi uma estratégia para articular e divulgar o movimento para o lançamento oficial que foi realizado no dia 24 de setembro do mesmo ano.

O lançamento oficial da Frente, ocorreu em Brasília, na sala da comissão de comunicação da Câmara dos Deputados. O lugar estrategicamente escolhido, já demonstrava que o movimento daria uma grande importância para as lutas legais, de mudança da legislação, como o Código Brasileiro de Telecomunicações, lei de imprensa, entre outras.

É relevante salientar que o país vivia um momento conjuntural importante, com o avanço dos novos movimentos sociais, a luta pela redemocratização do país, aglutinada na campanha pelas eleições diretas para presidente da república - a campanha das “Diretas Já”- que levou milhões de brasileiros às ruas exigindo a volta da democracia. Aumentava a cada dia a pressão para que a emenda Dante de Oliveira que estabelecia eleições diretas para presidente da república fosse votada. Em todas as grandes cidades brasileiras realizaram-se comícios gigantescos como nunca haviam acontecido

no país. Entre o segundo semestre de 1984 e o inicio de 85, quando foi derrotada a emenda das “ Diretas Já” no Congresso Nacional, e foi articulada pela oposição moderada a alternativa da eleição indireta de Tancredo Neves e José Samey pelo colégio eleitoral, a Frente Nacional por Políticas Democráticas de Comunicação chegou a reunir 45 entidades e 27 parlamentares.

Com a derrota da emenda Dante de Oliveira e com a instalação da “Nova República” a Frente se desestrutura enquanto organização, não conseguindo reunir-se para encaminhar lutas e tirar posições comuns. O ano de 1985 é considerado e avaliado pelo movimento como um ano de refluxo (FENAJ, 1993). Várias entidades de peso dentro do movimento pela democratização da comunicação como a FENAJ, ABI e OAB, se empenharam e priorizaram a mobilização por uma Assembléia Nacional Constituinte. A FENAJ ainda tentou debater o tema da comunicação dentro do movimento por uma Assembléia Nacional Constituinte, livre, soberana e democrática, porém a repercussão foi pequena. O movimento por uma Constituinte exclusiva, eleita com a tarefa única de elaborar a nova Constituição, proposto por entidades da sociedade civil, foi derrotado. O Congresso aprova uma alternativa conservadora, delegando poderes constituintes ao Congresso que seria eleito em 1986. Neste momento a Frente Nacional se diluiu dentro do processo de mobilização da constituinte e de desmobilização que começa a tomar corpo em vários setores da sociedade civil progressista, em conseqüência das varias derrotas sofridas (eleições diretas, constituinte). Em abril de 1986, a FENAJ promove o Encontro Nacional dos Jornalistas sobre “Comunicação e Constituinte” com a participação de 140 delegados de 25 sindicatos de todo o

país. Esse encontro, juntamente com o X ENECOM promovido em julho de 1986, são os dois eventos significativos que debateram e tentaram articular e reafirmar a Frente Nacional por Políticas de Comunicação no ano de 1986, conforme já ressaltamos no primeiro capítulo.

Em um relatório apresentado no Congresso de Goiânia (1987) a FENAJ faz um balanço do acúmulo teórico e político alcançado pela Frente Nacional de Luta por Políticas Democráticas de Comunicação no anos 80. Neste relatório a FENAJ avalia que, a partir do acúmulo da experiência adquirida durante a existência da Frente, é possível unificar a luta pela democratização da comunicação, através de uma Frente Nacional entre diversas categorias profissionais ligadas á área da comunicação (jornalistas, radialistas, artistas, técnicos, etc.), certos setores empresariais que tem interesse na área da comunicação (pequenas e médias emissoras de radio e TV, jornais e agências de publicidade), bem como setores democráticos e populares sensíveis à do questão da comunicação,

Assim, a partir da experiência da Frente Nacional, a FENAJ argumenta no documento, que deve ser dada prioridade à luta pela democratização da radiodifusão. No relatório intitulado, “A base social para a luta pela democratização da comunicação: a rearticulação de uma frente nacional de luta”, a FENAJ avalia que sem democratizar o rádio e a televisão não teremos avanço significativo na democratização da comunicação no Brasil. Neste momento conjuntural, a FENAJ avaha que é preciso assinalar que as contradições fundamentais dos sistemas de comunicação no Brasil são aquelas suscitadas pela caracterização do atual controle das emissoras como privado e

comercial, “...é um controle que gera concentração da propriedade, do capital, da tecnologia e da produção numa área vital para a busca de autonomia ideológica para as classes sociais majoritárias e oprimidas” (FENAJ,1987,p.23).

A compreensão de que é preciso romper com o corporativismo e fazer um grande movimento de massa, com participação popular já é ressaltado no relatório, deixando claro o entendimento de que as categorias profissionais da área da comunicação não são as únicas e nem os setores mais prejudicados com o atual controle monopolista dos veículos de comunicação. O documento relaciona como interessados nesta luta, além das categorias de trabalhadores da comunicação, pequenos e médios empresários da área, bem como “aqueles que sofrem a utilização brutal do rádio e da televisão num processo histórico de exclusão dos benefícios da produção e do progresso material e espiritual da sociedade.” (op.cit, 1987, p.24)

Capítulo 5- Nos anos noventa, a consolidação

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