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1. CONSTITUIÇÃO E URBANISMO

1.3. REGRAS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO DIREITO URBANÍSTICO

A Constituição Republicana, em seu artigo 72, parágrafo 17, previa

expressamente a desapropriação por utilidade pública. As Constituições posteriores,

até a de 1969, traziam em seu bojo a competência da União para estabelecer os

planos nacionais de viação férrea e de estradas de rodagem, assegurando aos

Municípios competência para legislar sobre assuntos locais de seu interesse,

incluindo-se a função urbanística.

Fundamento do Direito Urbanístico, a função social da propriedade já fazia

parte do ordenamento jurídico pátrio desde a Constituição de 1967, com a redação

que lhe foi dada pela Emenda Constitucional número 1, de 1969. Tal conceito, de

função social da propriedade era, entretanto, desprovido de conteúdo normativo

específico.

A Constituição de 1988 veio trazer um capítulo dedicado à Política Urbana,

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Sendo o “índice de felicidade” um dos novos indicadores para a verificação do bem-estar de uma população. O índice foi criado em 2005 pelo Prêmio Nobel de Economia em 2002, o psicólogo Daniel Kahneman, com o auxílio de economistas e outros profissionais.

Raphael Bottura Corbie Naércio Aquino Menezes-Filho, no trabalho Os Determinantes Empíricos da Felicidade no Brasil, apresentado à Universidade de São Paulo, disponível em

<http://www.anpec.org.br/encontro2004/artigos/A04A152.pdf>, acesso em 24 de março de 2007, afirmam que “o bem-estar humano é composto por duas dimensões básicas: a dimensão objetiva e a subjetiva. A dimensão objetiva é aquela passível de ser publicamente apurada, observada e medida por fora, e que se reflete nas condições de vida registradas por indicadores numéricos de nutrição, saúde, moradia, criminalidade, etc. A dimensão subjetiva consiste na experiência interna de cada indivíduo, isto é, tudo aquilo que passa em sua mente de forma espontânea, que ele sente e pensa sobre a vida que tem levado (...). Notamos ainda uma dependência recíproca entre ambas, a partir da observação de situações extremas: se o lado objetivo do bem- estar não preencher requisitos mínimos (alimentação, moradia, saúde etc.), não há mais bem-estar possível. Por outro lado, o inverso também é verdadeiro. Para alguém terrivelmente deprimido, mesmo cercado de luxo e conforto, o viver torna-se um grande desgosto: ‘não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu’. A felicidade é algo que está num campo de intersecção entre estas duas dimensões do bem-estar”.

inserido no título “Da Ordem Econômica e Financeira”, consubstanciado nos artigos

182 e 183. Além disso, disciplinou o Direito Urbanístico nos artigos 21, XX e XXI; 22,

IX; 23, III, IV e IX; 24, I, VI e VII, e seus parágrafos; 25, § 3

o

; 30, II, VIII e IX

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,

formando assim o regramento constitucional do Direito Urbanístico:

Art. 21. Compete à União: (...)

XX – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;

XXI – estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação; (...)

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)

IX – diretrizes da política nacional de transportes; (...)

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV – impedir a invasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;

(...)

IX – promover programas de construção de moradias e melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico;

(...)

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; (...)

VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;

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VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

(...)

§ 1o No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar- se-á a estabelecer normas gerais.

§ 2o A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3o Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

§ 4o A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.

(...)

§ 3o Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

(...)

Art. 30. Compete aos Municípios: (...)

II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; (...)

VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;

IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

(...)

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes.

§ 1o O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.

§ 2o A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.

§ 3o As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.

§ 4o É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente de: I – parcelamento ou edificação compulsórios;

II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2o Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

§ 3o Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Eis, pois, o regramento constitucional do Direito Urbanístico, (normatização

em caráter preceptivo, no nível constitucional), do qual se pode extrair as regras que

determinam as condutas positivas e negativas impostas por força de preceito

constitucional ao Poder Público e ao particular.

Dentre essas regras é de se destacar:

a) o dever atribuído ao Poder Público municipal de executar a política de

desenvolvimento urbano, voltada para a ordenação do pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade, com vistas a garantir o bem-estar dos habitantes;

b) a obrigação de elaboração de plano diretor, imposta às cidades com mais

de 20 mil habitantes;

c) o dever de fazer cumprir a função social da propriedade, atribuída ao

particular, sob a fiscalização do Poder Público, mediante o atendimento das

exigências fundamentais de ordenação da cidade (expressas – ou não – no plano

diretor);

d) o pagamento de justa e prévia indenização em dinheiro, salvo na hipótese

de desapropriação-sanção, quando a indenização poderá ser paga em títulos da

dívida pública com resgate em até dez anos, assegurados o valor real da

indenização e os juros legais;

e) a obrigação, imposta ao proprietário de solo urbano não edificado,

subutilizado ou não utilizado, de, após instado a tal pelo Poder Público, parcelar ou

edificar compulsoriamente, sob pena, sucessivamente de IPTU progressivo no

tempo e desapropriação-sanção (sanções estas que dependem de previsão em lei

municipal específica, baseada no plano diretor);

f) a obrigação imposta ao Poder Público de assegurar a aquisição do

domínio na hipótese de cumprimento dos requisitos da usucapião urbana

constitucional (pró-moradia), bem como a obrigação imposta ao proprietário de

suportar a perda do bem usucapido;

g) o dever de atribuir o título de domínio ao homem, à mulher ou a ambos,

independentemente de sua situação civil, imposto ao Poder Público;

h) a vedação de utilização da via da prescrição aquisitiva de aquisição de

domínio por mais de uma vez, imposta ao particular que preencha as condições da

usucapião constitucional urbana e;

i) a vedação de aquisição do domínio através da prescrição aquisitiva

quando se tratar de imóvel público.