• Nenhum resultado encontrado

A relação de causa-efeito

No documento COMITÊ EDITORIAL 26/11/2012 (páginas 47-52)

Indústria e investidores institucionais: fatores sistêmicos na perspectiva da dinâmica inovadora no Brasil

4. A relação de causa-efeito

O método científico para a análise da complexidade sistêmica deve caracterizar o processo contraditório considerando os seus elementos determinantes como a contradição em si. No Brasil, o processo contraditório da concentração econômica produziu o excedente financeiro que assumiu a forma dos investidores institucionais, que por sua vez impõem sua natureza contraditória sobre as múltiplas relações entre o setor de bens de produção, qualificado como o pólo dinâmico, e o setor de bens de consumo individual, na dimensão inter e intra-setorial.

A dinâmica econômica é dependente dos gastos inter e intra-setoriais dos bens de produção, que por sua vez alimentam a geração do gasto em força de trabalho e assim as condições de reprodução dos setores de consumo individual. Em termos mais específicos, a indústria de bens de produção tem capacidade de induzir, a partir de sua produção, a demanda para si mesma e para os outros setores econômicos.

A fórmula seguinte nos ajuda a compreender:

I – CC1 + CV1 +

α

1 + β1 ( β1cc + β1cv)

II – CC2 + CV2 +

α

2 + β2 ( β2cc + β2cv)

Onde: I – Setor de Bens de Produção; CC1 = parte do capital despendido em ativos circulantes e fixos; CV1= parte do capital despendido em força de trabalho; α1= trabalho excedente, que por sua vez tem uma parte é destinada ao consumo improdutivo e outra parte é destinada ao gasto produtivo, que se divide em capital constante (β1cc) e o variável (β1cv); II – Diz respeito ao setor de consumo individual; possui a mesma composição, porém, aplicada nas relações sociais de produção do setor II.

Grosso modo, a dinâmica econômica é determinada pelo setor de bens de produção, que ao realizar os gastos produtivos (β1cc + β1cv) incorpora rendimentos ao

capital variável e assim amplia das bases objetivas de demanda do setor de bens de consumo individual, inclusive para o seu decisório sobre a recomposição operacional (ativos fixos e circulantes). Neste caso têm-se as relações interdepartamentais. Mas o mesmo se aplica para as trocas intradepartamentais, ou seja, o gasto produtivo do setor I destinado a reposição do ativo fixo dinamiza os subsetores de bens de produção.

O ponto central é que a remuneração exigida pelos investidores institucionais, acrescida por elementos do prêmio de risco β*(Rm-Kf), dado a situação objetiva das relações sociais que limitam os alcances das margens de contribuição no setor, avança sobre os rendimentos que poderiam ser despendidos para os ativos fixos ou na perspectiva da inovação no âmbito da empresa (β1cc= β1cf ), por conseqüência, em sentido amplo, se monta uma dinâmica pautada em ativos circulantes e a variação menor da força de trabalho, o que na perspectiva da inovação é o equivalente a uma

dinâmica mais pautada em processos e produtos. Enfim, enfraquece a determinação do setor de bens de produção da dinâmica econômica, sobretudo, a dinâmica pautada no progresso tecnológico.

O paradoxo que se levanta neste texto é que a economia brasileira, no contexto da crise aguda do desenvolvimento apoiado no capital industrial, necessitava de volumosos investimentos produtivos para recuperar a capacidade do pólo dinâmico, entretanto, em função das condições sistêmicas devidamente analisadas nas primeiras partes deste trabalho, fez-se uma estrutura de capital que gerou na empresa um processo de reformas para atender os níveis de retornos dos investidores institucionais.

Não se trata de considerar somente a apropriação dos grandes volumes de recursos financeiros excedentes. O ponto fundamental é que a subordinação da produção a lógica da financeirização, no primeiro momento se fez em favor dos investidores institucionais, na medida em que promoveu as reformas gerenciais e assegurou a distribuição dos dividendos, mas, no tempo seguinte, vem afetando as trocas setoriais e assim retraindo a dinâmica econômica, gerando contradições para os investidores institucionais e as perspectivas do progresso tecnológico.

Além do processo de remuneração dos investidores institucionais, que por sua vez influi de forma negativa na dinâmica econômica, existe o fator da condição estrutural concentrada do capitalismo brasileiro. Na economia brasileira, nas últimas décadas, consolidou-se uma nova base econômica mais concentrada e espraiada em vários subsetores produtivos.

A indústria de transformação no Brasil, por exemplo, trabalhou com uma composição operacional cujos gastos com a força de trabalho despendidos se situaram em torno de 20%, o que se pode considerar como uma proporção de composição orgânica estimada em 4 por 1. No que se refere ao gasto com o ativo fixo, entendido como gasto com depreciação no capital despendido se estima em torno de 10%, o que pode ser caracterizado como uma relação de 7 por 1 na constituição do capital constante, em outros termos, os gastos com o circulante e o imobilizado. 2 Os indicadores macroeconômicos relacionados ao tema nos leva a crer que a reprodução do pólo dinâmico, devido o alto nível de concentração econômica, esteve pautada em ativos circulantes.

A primeira vista, percebe-se que a base econômica monopolista está consolidando um sistema de preços mais rígido, que limita a transferência do valor adicionado por meio do decisório operacional e tático das empresas, em outras palavras, o fornecimento de insumos a produção passou a ser feito por grandes empresas, que por sua vez estabelecem posições fortes perante o sistema de preços prevalecente nas relações sociais.

Diga-se de passagem, esse é um dos elementos que corroboram para o aumento expressivo das importações de insumos produtivos nas conjunturas recentes de apreciação cambial.

Entretanto, a despeito do movimento contraditório elencado no texto, os setores que compõem o pólo dinâmico da economia brasileira cresceram durante o período e o gasto produtivo da indústria continua com a capacidade indutora da dinâmica para o conjunto dos setores.

2A estimativa é baseada nos dados contidos na pesquisa: HIRATUKA, C. & SARTI, F. Perspectivas do investimento na indústria. Rio de Janeiro: Synergia: UFRJ, Instituto de Economia; Campinas:

O problema é que a falta dos reinvestimentos em ativos fixos na proporção necessária, ou seja, o progresso tecnológico que sustente novos patamares da reprodução sistêmica, somada a um processo de reformas gerenciais que se propuseram a diminuição da relação capital-produto em busca de ganhos econômicos e financeiros em favor dos investidores institucionais, que também se deparou com o problema das relações sociais de produção mais concentradas nos setores de fornecimento da indústria, que por sua vez limitaram a flexibilidade de preços dos ativos circulantes, montaram uma série de contradições a dinâmica econômica pautada pelo progresso tecnológico.

Isto não representa dizer que agora predomina a impossibilidade do progresso técnico em condições monopolistas do desenvolvimento capitalista. A reflexão realizada neste trabalho procurou demonstrar que o financiamento do pólo dinâmico da indústria pautado no atual estado de coisas do mercado de capitais, dado as relações sociais monopolistas em torno do fornecimento dos insumos produtivos, gerou muitas contradições para a construção da dinâmica da economia brasileira pautada no progresso tecnológico.

Em síntese, no final dos anos 80, o pólo dinâmico da economia brasileira carecia de volumes altos de investimentos no processo dos diferenciais tecnológicos, tendo em vista o restabelecimento da dinâmica econômica. Mas, pelo contrário, o que se viu foi o compartilhamento estratégico com o financiamento baseado no mercado de capitais, que por sua vez determinou um processo gerencial e produtivo pautado pela apropriação de rendas, sem garantir a contrapartida do reinvestimento na magnitude necessária nas empresas. Além disso, fundaram-se novas relações sociais de produção, agora mais concentradas, que também surgiu como elemento contraditório, na medida em que consolidou um sistema de preços mais rígido nas trocas operacionais dos setores.

Conclusão

O desenvolvimento do artigo atendeu aos objetivos delineados na introdução, a saber: a oferta de uma visão sistêmica no sentido de apontar que a entrada dos investidores institucionais acolheu em certa medida a necessidade de financiamento dos setores produtivos mais desenvolvidos, porém, trouxe consigo a construção de contradições para a dinâmica econômica pautada em progresso tecnológico, ou seja, as relações que permitem o desenvolvimento do sistema econômico e do próprio sistema da indústria. Portanto, trata-se do paradoxo do financiamento.

É importante notar que não se trata da natureza singular dos investidores institucionais... Trata-se da situação objetiva da economia brasileira, vista por meio de dinâmica setorial, na qual a entrada dos investidores institucionais fomentou o movimento contraditório. Portanto, uma relação dialética entre os elementos objetivos e subjetivos.

A taxa de investimentos na economia brasileira continua baixa e segue condicionando qualquer aspiração de uma dinâmica inovadora. As iniciativas mais recentes caminham no sentido de estabelecer uma verdadeira reforma do sistema financeiro que dê conta do financiamento de longo prazo, visto, por alguns, como a forma de restabelecer a competência criativa nas empresas. Em suma, pelo menos para a perspectiva da indústria, trata-se do ressurgimento do debate sobre os padrões de financiamento e suas aplicações ao processo do desenvolvimento. Este trabalho procurou contribuir com esta perspectiva.

Enfim, se faz necessária uma política fiscal mais progressiva perante a distribuição de dividendos, no sentido de estimular a recompra de ações combinada com investimentos em ativos fixos nas empresas.

Referências Bibliográficas

ASSAF NETO, A. Contribuição ao estudo de avaliação de empresas no Brasil: uma aplicação prática. Ribeirão Preto, 2003.

BOSCOV, C & BISPO, J. S. A comparação da distribuição de riqueza gerada entre os setores de serviço, comércio e indústria. Contexto, Porto Alegre, v. 10, n.17, p59-70, 1 semestre 2010.

CHESNAIS, F. La mondialisation financière: gênese, coût et enjeux. Paris: Syros, 1996. ___________. La mondialisation du capital. Paris: Syros, 1997.

___________. A finança mundializada. São Paulo: Boitempo, 2005.

FILHO, M. T. (2004). A FIESP na década neoliberal (1990-1999). São Paulo: PUC/SP. (Tese de Doutorado)

FIORI, J. L. O poder global. São Paulo: Boitempo, 2007.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisas estruturais. Disponível em: <WWW. ibge.gov.br > .

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Textos para discussão. Vários números. Disponível em: <WWW. ipea.gov.br > .

PRADO, E. Causa e efeito? Ou causa-efeito? . Disponível em WWW. Economia e complexidade. com.br. Acessado em 26/07/2012.

SARTI, F. & HIRATUKA, C. (Coord.). Perspectivas do investimento na Industrial. Rio de Janeiro: Synergia: UFRJ, Instituto de Economia; Campinas: UNICAMP, Instituto de Economia, 2010.

TAVARES, M. C. Ciclo e crise: o movimento recente da industrialização brasileira. Campinas: IE, 1998.

TAVARES, M. C. & BELLUZZO, L. G. A Mundialização do Capital e a Expansão do Poder Americano. In. O Poder Americano. Petrópolis: Vozes, 2007.

No documento COMITÊ EDITORIAL 26/11/2012 (páginas 47-52)