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Relação com a comunidade educativa: alunos, encarregados de educação, colegas,

1. Percurso Pessoal, Académico e Profissional

2.2. Relação com a comunidade educativa: alunos, encarregados de educação, colegas,

comunitária.

À parte o lado pessoal - construí fortes relações de amizade com alguns colegas e funcionários -, interessa aqui desenvolver o tema da relação com a comunidade educativa, do ponto de vista profissional. Analisarei, ponto a ponto, essa relação com com os diferentes atores envolvidos (alunos, encarregados de educação, colegas, funcionários administrativos e auxiliares, autarquias e entidades de importância comunitária).

ALUNOS

Mantive sempre uma relação cordial com os alunos, fazendo-me respeitar respeitando- os. Entendo que na sala de aula, principalmente com crianças ou adolescentes, o professor deva manter um certo distanciamento para evitar ser confundido como mais um elemento da turma, não querendo com isto dizer que o professor deva ser uma figura distante, avesso aos sorrisos e até a uma ou outra brincadeira. No entanto, professor e alunos têm funções diferentes na sala de aula e o limite entre essas funções deve ser mantido, sob pena de o docente perder o controlo da turma. Por outro lado, acredito que essa marcação de limites deve ser feita de forma muito subtil, não levando o aluno a temer a presença do professor ou a sentir-se inibido na sua presença. O professor, ainda mais quando diretor de turma, deve privilegiar o diálogo com os alunos, criando um ambiente de confiança, um adulto competente a quem o aluno possa recorrer se sentir necessidade de desabafar algum problema. Por exemplo, um aluno vítima de maus tratos em casa ou na escola deverá sentir sempre que tem no professor alguém que o pode ajudar a ultrapassar esses problemas.

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No dia a dia da turma, os direitos e deveres de professores e alunos devem estar bem presentes na consciência de cada um. Nem sempre os professores reconhecem os direitos dos alunos, tal como os alunos nem sempre reconhecem os seus deveres para com os colegas e professores. Na minha atividade profissional, defendi sempre o respeito pelos direitos dos alunos (desde o questionar um professor que chega sempre atrasado, ao simples respeito pelo tempo de intervalo). Ao mesmo tempo, exijo que os alunos respeitem a figura dos colegas e dos professores, não admitindo excessos e recorrendo às vias previstas para a resolução desses problemas.

Até hoje, com maiores ou menores problemas, julgo nunca ter saído de nenhuma escola com questões por resolver, no que diz respeito à relação com os alunos. Com muitos mantenho até uma comunicação bastante frequente, através de redes sociais ou correio eletrónico. É com grande satisfação que recebo notícias de alguns ex-alunos, que fazem questão de me informar que acabam de entrar na universidade ou que estão a terminar o ensino superior. Sentimo-nos reconhecidos quando, ao fim de alguns anos, o aluno sente vontade de dar conta dos seus sucessos académicos ao antigo professor.

ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO

Foi na minha passagem por Vila Viçosa que tive o maior contacto com os encarregados de educação dos meus alunos, por ter sido ali que me foi atribuída uma direção de turma. Cumpri sempre com as minhas obrigações legais, de reunir e informar sempre que necessário, mesmo em situações extraordinárias, fora do horário estabelecido, talvez por me encontrar num meio pequeno onde até no café somos interpelados. Nada que me incomode.

Optei sempre por um estilo de comunicação assertivo, no qual, por vezes tive de dizer coisas menos simpáticas sobre os seus educandos, coisas que nem sempre são fáceis de aceitar, uma vez que a imagem dos alunos na escola nem sempre é a mesma que deles têm em casa.

Procurei ser a ponte entre a escola e a família, julgo que com sucesso. De resto não era uma turma com problemas complicados. Apenas algum défice de atenção e empenho, por parte de alguns alunos, e um ou outro caso de absentismo escolar injustificado. O maior problema com que tive de lidar tratou-se de uma situação entre alguns encarregados de educação e uma

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professora. Os encarregados de educação queixavam-se que as notas dos educandos, naquela disciplina, eram muito baixas em relação aos anos anteriores e que, dessa forma, não poderiam concorrer ao curso de medicina. A professora salientava a falta de empenho dos alunos, que a maior parte dos professores comprovava. Os alunos, que eu soubesse, nenhum estava interessado em concorrer a medicina. Esse é outro tema sobre o qual poderia discorrer, mas não é esse o objetivo deste trabalho. Por vezes, os encarregados de educação julgam poder controlar cada passo no futuro dos seus educandos. O embate com a professora durou todo o ano, desde o final do primeiro período. Mantive o meu papel de mediador entre uns e outros, sem que a relações saíssem prejudicadas. Não me competia a mim, mesmo legalmente, resolver o problema de acordo com o que me era proposto de um lado e do outro. No final, a direção da escola propôs uma resolução que ia ao encontro da vontade das duas partes. No ano seguinte a professora não continuaria com aquela turma (por vontade própria e atendendo à vontade dos encarregados de educação).

FUNCIONÁRIOS ADMINISTRATIVOS E AUXILIARES

Entendo a escola como um organismo vivo onde cada qual cumpre as suas funções, só assim sendo possível o seu regular funcionamento. Assim, nunca senti que o meu lugar de professor me superiorizasse ou inferiorizasse aos demais colegas, e neles incluo o pessoal administrativo e auxiliar. Sei que nem sempre é assim e cheguei a presenciar situações degradantes em que alguns professores exigiam ser tratados pelos funcionários com toda a reverência do mundo. Na escola, tal como na sociedade, todos cumprimos funções diferentes, diferenças essas que não alteram em nada a dignidade de uns e outros e, consequentemente, o tipo de tratamento.

Por onde passei, tive sempre boas relações com os funcionários das escolas, em particular em Alpendorada e Valpaços, onde alguns dos funcionários eram também meus formandos nos processos de RVCC. Não posso deixar de recordar a D. Miquelina, funcionária do bar da escola em Alpendorada, que todos os dias aguardava os professores do turno da noite, era o meu caso, com uma sopa caseira. Não fazia parte das suas funções, nada a obrigava a isso, e no entanto, fazia-o, pela amizade que entretanto se foi criando entre o pessoal da noite.

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AUTARQUIAS

Infelizmente, e ao contrário da minha experiência em Timor-Leste e Guiné-Bissau, onde as autarquias ou entidades equivalentes se envolvem mais diretamente nas atividades escolares, em Portugal nunca senti grande envolvimento das mesmas. Sei que algumas autarquias portuguesas se envolvem diretamente com as escolas, porém, no caso das escolas onde trabalhei no nosso país, senti que a ligação entre escola e câmara municipal se manifestava, essencialmente, nas intrigas políticas que rodearam a constituição dos mega-agrupamentos ou aquando da mudança de diretores. No que diz respeito às atividades escolares propriamente ditas, à exceção da Câmara Municipal de Valpaços, que se fez representar por algumas vezes em algumas atividades, nunca senti grande ligação. Contudo, reconheço a importância da relação entre autarquias e escolas, primeiro porque as escolas são o ponto chave da preparação dos mais jovens munícipes e, segundo, porque em conjunto, escolas e autarquias podem realizar uma série de atividades conjuntas tendo em vista o desenvolvimento da comunidade, ao nível cultural e social. Uma autarquia tem nas suas escolas um potencial humano que deve ser aproveitado. Não o fazer constitui um enorme desperdício de recursos humanos.

ENTIDADES DE IMPORTÂNCIA COMUNITÁRIA

Foi no Agrupamento de Escolas de Valpaços que encontrei um maior envolvimento entre a escola e outras entidades de importância comunitária, talvez porque, ao lecionar nos cursos EFA (Educação e Formação de Adultos), periodicamente tínhamos de organizar uma atividade (Atividade Integradora), na qual deveríamos envolver alguma instituição de importância comunitária. Assim, nas nossas atividades envolvemos escuteiros, bombeiros, cooperativa de produtores de azeite e câmara municipal. Com todas as críticas que podem e devem ser feitas ao funcionamento dos cursos EFA, a verdade é que os mesmos tinham também algumas virtudes e uma delas era a obrigatoriedade de criar laços com a comunidade. A escola prepara pessoas para a vida, porém, dentro dos seus muros apenas passa uma pequena parcela dessa mesma vida. A aposta na integração da escola no meio envolvente não só será benéfica para este, como também para os próprios alunos, através de atividades que desenvolvam neles uma série de competências sociais e humanas, que, em último caso, farão deles cidadãos mais comprometidos com as suas comunidades.

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