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O meu percurso profissional: entre a filosofia e a cidadania

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Academic year: 2020

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Universidade do Minho

Instituto de Educação

outubro de 2016

O meu percurso profissional:

Entre a Filosofia e a Cidadania

Pedro José Cunha da Silva Peixoto

O meu percur

so profissional: Entre a F

ilosofia e a Cidadania

UMinho|2016

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Pedro José Cunha da Silva Peixoto

outubro de 2016

O meu percurso profissional:

Entre a Filosofia e a Cidadania

Universidade do Minho

Instituto de Educação

Trabalho realizado sob a orientação do

Doutor José Carlos Casulo

Relatório de Atividade Profissional

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“A nossa vida é toda ela feita de acasos. Mas é o que em nós há de

necessário que lhes há-de dar um sentido.”

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Agradecimentos

Aos meus pais e irmãos, por sempre me terem apoiado ao longo da minha vida, dos meus estudos e do meu crescimento, contribuindo assim para o que sou hoje.

À Liliana Ferreira, por toda a paciência e ajuda ao longo do processo.

Aos meus professores, de ontem e de hoje, por tudo aquilo que me deram ao longo dos meus anos de escola e de universidade.

Ao Doutor José Carlos Oliveira Casulo, meu orientador de mestrado, pelo apoio prestado ao longo do processo.

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O MEU PERCURSO PROFISSIONAL: ENTRE A FILOSOFIA E A CIDADANIA Pedro José Cunha da Silva Peixoto

Mestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário Universidade do Minho

2016

RESUMO

O presente trabalho, intitulado “O meu percurso profissional: Entre a Filosofia e a Cidadania”, corresponde ao relatório detalhado da minha atividade profissional desenvolvida entre setembro de 2006 e outubro de 2016, e substitui a dissertação de mestrado, ao abrigo do despacho RT 38/2011.

Este relatório está dividido em três capítulos. No primeiro - Percurso Pessoal, Académico e Profissional - revisito todo o meu percurso até ao momento atual. No segundo – Prática Letiva – exponho e analiso a minha experiência enquanto professor, não só no que respeita à docência mas também a outras atividades e cargos escolares inerentes à profissão. Finalmente, no terceiro e último capítulo - Situação Atual e Projetos para o Futuro – descrevo a minha situação atual e discorro sobre alguns dos meus projetos para o futuro. Todos os capítulos são acompanhados, no final, por uma reflexão crítica motivada pelas atividades narradas.

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MY PROFESSIONAL CAREER: BETWEEN PHILOSOPHY AND CITIZENSHIP

Pedro José Cunha da Silva Peixoto

Master in Philosophy Teaching in the Secondary School Universidade do Minho

2016

ABSTRACT

This paper, entitled "My professional career: Between Philosophy and Citizenship", is a detailed report of my professional activity, from September 2006 to October 2016, and replaces the masters dissertation under the RT 38/2011.

This report is divided into three chapters. In the first - Personal, Academic and Professional Course – I will revisit all my way up to the present moment. In the second - Teaching – I will explore and analyse my experience as a teacher, not only regarding actual teaching experience but also, other school activities and positions inherent to the profession. Finally, on the third chapter - Current Situation and Future Projects – I will talk about my current situation and my projects for the future. All chapters are accompanied by a critical reflection motivated by narrated activities.

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Índice

Agradecimentos ...iv RESUMO ... v ABSTRACT ...vi Introdução ... 9

1. Percurso Pessoal, Académico e Profissional ... 12

1.1. Percurso Pessoal ... 13 1.1.1. Infância ... 13 1.1.2. Adolescência ... 19 1.1.3 Juventude e Universidade ... 22 1.1.4. O Mundo do Trabalho ... 24 1.2. Percurso Académico ... 27 1.3. Percurso Profissional ... 30

1.3.1. Guiné-Bissau – PASEG – Programa de Apoio ao Sistema de Ensino da Guiné-Bissau .. 30

1.3.2. Vila Viçosa – Escola Secundária Públia Hortense de Castro ... 32

1.3.3. Valpaços – Agrupamento de Escolas de Valpaços ... 32

1.3.4. Alpendorada – Agrupamento de Escolas de Alpendorada ... 33

1.3.5. Experiência na Área Comercial ... 33

1.3.6. Timor-Leste – PFICP – Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores. ... 34

1.3.7. Timor-Leste – Formar Mais. ... 35

1.4. Outras Atividades Relevantes ... 36

1.4.1. Voluntariado ... 36 1.4.2. Associativismo Jovem ... 36 1.4.3. Aulas de Guitarra ... 38 1.4.3. Tunas Académicas ... 38 1.4.5. Bandas Musicais ... 39 1.4.6. Comunicação e Imagem ... 39 1.4.7. Viagens ... 40 1.5. Reflexão Crítica ... 40 2. A Prática Letiva ... 43

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viii 2.1.1. Professor no PASEG (Programa de Apoio ao Sistema Educativo da Guiné-Bissau) –

setembro de 2006 a agosto de 2008. ... 44

2.1.2. Professor na Escola Secundária Públia Hortensia de Castro, em Vila Viçosa – ano letivo de 2008/2009 ... 45

2.1.3. Professor/Formador no Agrupamento de Escolas de Valpaços – ano letivo de 2009/2010 ... 47

2.1.3. Professor/Formador no Agrupamento de Escolas de Alpendorada e Matos – ano letivo de 2010/2011 ... 49

2.1.4. PFICP – Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores (Timor-Leste, entre 2012 e 2014)... 49

2.1.4. Projeto Formar Mais, Timor-Leste, de julho de 2016 até ao momento. ... 51

2.2. Relação com a comunidade educativa: alunos, encarregados de educação, colegas, funcionários administrativos e auxiliares, autarquias e entidades de importância comunitária. ... 51

2.3. A autoavaliação e a avaliação dos alunos e do sistema ... 55

2.4. Reflexão crítica: A Pertinência do Estudo da Filosofia no Ensino Secundário. ... 59

3. Situação atual e projetos para o futuro ... 63

3.1. Situação Atual... 64

3.2. Projetos para o Futuro ... 64

3.3. Reflexão Crítica ... 65

Conclusão ... 67

Bibliografia ... 70

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Desde o final da licenciatura que tinha a ambição de prosseguir os meus estudos, algo que fui adiando devido a uma série de compromissos profissionais que me obrigaram a andar com a casa às costas, por África, por Portugal e, mais recentemente, por Timor-Leste. Finalmente, em 2016, numa paragem profissional mais ou menos forçada, encontrando-me numa situação de desemprego, senti que deveria aproveitar o meu tempo procurando dar um passo em frente na minha formação académica. Fi-lo, acima de tudo, por motivos profissionais, por ter visto passar à minha frente algumas oportunidades de trabalho que requeriam o grau de mestre, mas também o fiz por motivos pessoais, por sentir que, de alguma forma, todo este processo contribuiria para que fosse dado mais um passo rumo à minha realização enquanto ser humano. Não é que acredite que as pessoas se possam sentir mais ou menos realizadas de acordo com o seu grau académico, obviamente as metas para a realização pessoal são sempre subjetivas, no entanto, no meu caso, sinto-me mais realizado quanto maior for o conhecimento adquirido ao longo da vida.

Apesar de me encontrar, na altura, desempregado tinha algumas perspetivas de trabalho em mente, pelo que optei por realizar o mestrado ao abrigo do Despacho RT 38/2011, que possibilita que um profissional da área do ensino, com uma licenciatura pré-bolonha e com mais de cinco anos de tempo de serviço, realize o mestrado tendo por base a sua experiência profissional relatada num relatório crítico (Cf. anexo 1). É esse relatório que agora apresento dividido em 3 capítulos: 1 – Percurso Pessoal, Académico e Profissional; 2 – Prática Letiva; e 3 – Situação Atual e Projetos para o Futuro.

No primeiro capítulo, é feita uma retrospetiva da minha vida nos diferentes níveis, pessoal, académico e profissional, onde procuro descrever alguns dos episódios mais marcantes da minha vida e que, de alguma forma contribuíram para o meu desenvolvimento. Termino o capítulo com uma reflexão crítica, analisando o meu percurso e a forma como ele me levou a redefinir objetivos por influência das experiências adquiridas.

Em seguida, no segundo capítulo, debruço-me sobre a Prática Letiva, desde o início até ao momento atual. Faço uma passagem por todas as escolas e projetos onde lecionei, sem esquecer os cargos e outras atividades relevantes. No final do capítulo apresento uma reflexão crítica acerca da pertinência do ensino da Filosofia no ensino secundário. A opção por este tema deve-se ao facto de, ao longo dos meus anos de serviço, ter notado uma certa ostracização das

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humanidades e em particular da disciplina de Filosofia. Ao mesmo tempo, analisando a sociedade em que vivemos, começam-se a notar os efeitos dessa exclusão. Por isso, por julgar ser este um tema atual que merece a devida atenção de todos os atores envolvidos no sistema educativo português, optei por me debruçar um pouco sobre ele.

Finalmente, no terceiro capítulo, detenho-me a descrever a minha situação atual e os meus projetos para o futuro. Na parte final do capítulo passo a refletir criticamente sobre aquilo que supostamente iria ser a minha carreira e aquilo em que ela se tornou. Acima de tudo procuro demonstrar aí que, independentemente dos planos que traçamos, se não nos prendermos muito a eles, podemos encontrar alternativas que nos podem levar bem mais longe. Da mesma forma pretendo demonstrar que a aposta na Filosofia não é apenas a aposta numa carreira bem definida. Ela abre-nos outras portas e prepara-nos para outro tipo de desafios.

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1.1. Percurso Pessoal 1.1.1. Infância

Nasci numa sexta-feira de março, corria o ano de 1979, em Amares, junto às margens do Cávado, marca geográfica que me acompanhará ao longo da vida, até ao momento em que outras águas me viriam a servir de casa e caminho, sem nunca perder de vista a umbilical ligação ao rio que me viu nascer. Pese embora a ligação familiar às terras de Amares, na verdade, foi graças a um mero acidente de percurso que ali viria a vislumbrar, pela primeira vez o mundo, já que imediatamente, logo à saída da maternidade, fui viver para o Concelho de Braga, mais precisamente para a freguesia de Parada de Tibães. Das vagas memórias desse tempo, e delas se diz que são frequentemente fabricadas pela imaginação mais tardia, a verdade é que as conservo, verdadeiras ou não, bem presentes na minha retina. Lembro-me, por exemplo, de um caminho de terra em frente a casa, que se iniciava num cedro, ou seria um cipreste, e que terminava, pelo menos para mim, uns metros adiante numa ligeira inclinação do terreno. A isto me refiro por, e isso veremos mais adiante, toda a minha vida ter sido marcada por estradas, curvas e a sede do desconhecido, do que se esconde para lá da curva do caminho, quiçá os primeiros arranhões da lança que espicaça o espírito e a inquietação filosófica de questionar o que se encontra além do horizonte comum. Recordo ainda caras e vozes daquele tempo. A minha ama, a motorizada do meu tio a rugir nas manhãs frias de Inverno e a minha prima, ainda a dormir, embrulhada num cobertor azul, a ser levada para casa dos meus avós, ainda o dia estava a nascer. Parece-me importante referir estes factos, não como simples exercício de memorização ou de estilização do texto, mas porque no final, e vistos da perspetiva atual, o conhecimento destes e outros acontecimentos me levam a crer que, de alguma forma, determinadas capacidades e competências já lá estavam, em potência, à espera de se desenvolverem, marcando decisivamente o meu interesse, mais tarde, pelas artes visuais, pela música e pela filosofia.

O tempo passou e, por volta dos quatro anos, fui viver para a Vila de Prado, no Concelho de Vila Verde. Foi a minha primeira mudança de casa, outras oito estavam ainda por acontecer. Em Prado frequentei o infantário da Casa do Povo, junto à ponte sobre o Cávado. Por ali cresci até aos seis anos, idade com que entraria para a escola primária. Dessa fase do jardim infantil, guardo igualmente muitas memórias e até o nome de diversos colegas, alguns dos quais presença constante até ao final do Ciclo Preparatório. Recordo, em particular, a minha primeira

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ambição a nível profissional. Contrariamente à preferência da maior parte dos meus colegas que quereriam ser bombeiros, polícias ou paraquedistas, eu queria ser ator de westerns, qual John Wayne, a minha primeira grande referência cinematográfica. Nos dias de hoje, seria certamente criticável, mas à época, sempre que se aproximava um aniversário ou um Natal, contra a vontade dos meus pais, eu queria receber pistolas de fulminantes e chapéus de cowboy. Confesso que hoje não sinto qualquer interesse pela posse de qualquer tipo de armamento, sou, aliás, totalmente contrário à utilização de armas pela sociedade civil e nem a caça desportiva me interessa minimamente. Dessa fantasia conservo unicamente o gosto por alguma música country e pelos grandes espaços ao ar livre, pelo contacto com a natureza. Foi por essa altura que, um dia, movido pelo desejo de ir ver o que se encontrava mais além dos meus reduzidos horizontes, peguei num pau, atei-lhe um saco e, da mesma forma que uma personagem de um livro de banda de desenhada que havia lá por casa, o ajeitei sobre o meu ombro e decidi seguir viagem. Desapareci por uns vinte minutos, fui ver o que é que havia ao fundo do caminho e quando voltei já toda a vizinhança andava à minha procura. Não chegaria longe, ao contrário do herói do meu livro, que levava no saco os seus pertences e alguns mantimentos, eu não levava nada e a ideia também não era fugir, era apenas explorar um pouco. Não encontrei a gruta de que ouvira falar, apenas dois metros de terra escavados num talude, provavelmente por outros rapazes pouco mais velhos que eu. Mantinha-se a curiosidade para com o mundo à minha volta e, contam em casa, frequentemente colocava questões para as quais ninguém me conseguia dar resposta. Não culpo, obviamente, ninguém pela ausência de explicações, eu próprio, ainda hoje, não consigo responder claramente a uma boa parte das inquietações que me assombram, em particular no campo filosófico. Desse tempo, não esqueço os fins de tarde em frente a casa. Na altura éramos muitos e todos brincavam na rua. Compreendo que os tempos são outros e os perigos abundam, porém, a liberdade de que dispúnhamos para brincar desafiava a imaginação e levava-nos a descobrir o mundo pelas próprias mãos. Hoje, todas essas capacidades e competências, criativas e sociais, por exemplo, também se desenvolvem mas de uma forma mais controlada e supervisionada. Um dia, não daqui a muitos anos, poderemos avaliar com maior exatidão o impacto dessas diferenças geracionais. Ainda não consigo dizer se estas mudanças ocorreram para melhor ou para pior. Certo é que acredito no poder da brincadeira e dos momentos de lazer no desenvolvimento pessoal, contrariamente à prática mais atual de ocupar as crianças o tempo todo com atividades de aprendizagem extra escolares, muitas vezes para deleite dos próprios pais, orgulhosos das habilidades dos filhos, que ficam sempre bem no

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contexto da vida social. Não critico a aprendizagem da música, de uma língua ou a prática desportiva, entre outras coisas interessantes e enriquecedoras no percurso de uma criança, mas acredito que tudo vale a pena na proporção certa, libertando algum tempo para um desenvolvimento que acontece autonomamente e ao ritmo de cada um, nos momentos menos planificados, no contacto com o outro.

Daqui à Instrução Primária o passo foi rápido e curto, a escola não era distante e ainda em Prado frequentei, em dois estabelecimentos diferentes, a primeira, segunda, terceira e quarta classes. Fui nesse período um excelente aluno, mas confesso que, já aí, revelava alguma aversão aos números. Não é que não compreenda ou desvalorize a matemática, que seria de nós sem ela, o meu problema sempre foi mais de relação que de compreensão. Numa folha de papel, os números dançavam aos meus olhos e enquanto resolvia uma operação, não deixava de pensar nos passos anteriores, voltando sempre atrás para os corrigir, o que raramente era necessário. Esta luta rapidamente me levava à irritação, desconcentrando-me completamente, levando-me a ter de começar tudo do princípio. Pelo contrário, no que às letras dizia respeito, sentia-me bem mais confortável. Aprendi a ler e a escrever com facilidade e no final da primeira classe já era apontado pela professora como exemplo, em particular na leitura, perante os alunos de outros anos de escolaridade, prática pedagógica que hoje reprovo completamente, por acreditar que ao invés de servir como incentivo serve, no mínimo, para humilhar, não trazendo qualquer benefício para as pessoas visadas, sejam elas adultos ou crianças. Aliás, analisando o meu percurso escolar da época, retiro hoje grandes lições que me ajudam profissionalmente, em particular acerca do que não deve ser feito. Enfim, outros tempos e outros métodos, mas voltando à minha aptidão para as letras, foi graças a ela que acabei por receber uma das minhas primeiras alcunhas, o poeta, por ser constantemente requisitado para escrever umas quadras em ocasiões festivas especiais na escola. Não eram obviamente poemas, a qualidade seria duvidosa, no entanto, eram os primeiros passos numa área mais artística que revelavam uma certa apetência para brincar com as palavras, com a construção de ideias e conceitos e, acima de tudo, a capacidade para jogar com tempos e ritmos, já aí, ainda sem o saber, estaria presente a música, que se revelará mais tarde como elemento fundamental no meu desenvolvimento. Julgo ter sido também por esta altura que terei desenvolvido a minha fixação por mapas e pela geografia do planeta terra, mais um dos fatores que me terão incutido o gosto pelas viagens e pela exploração. Antigos ou recentes, os primeiros pelas inscrições enigmáticas que sugerem lugares nem sempre reconhecidos nos nossos dias, os segundos pela promessa de

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novos horizontes, uns e outros têm exercido grande fascínio sobre mim, fazendo-me desde cedo perder, ou ganhar, horas a observá-los. Durante este período tive duas professoras, uma na primeira classe e outra nos restantes anos. Como já referi, os métodos de ensino eram, aos olhos de hoje, por vezes duvidosos, mas estou-lhes grato por me terem dado bases que considero importantes para a minha formação académica posterior. No entanto, não posso deixar de lembrar referências, quanto a mim lamentáveis, aos “grandes feitos” do Estado Novo, ou o facto de rezarmos com alguma frequência no início das aulas, em particular durante o mês de maio. Tive uma formação de raiz católica e, na altura, nada daquilo me incomodava. Hoje, não posso deixar de me lembrar de uma colega que era Testemunha de Jeová e que, fazendo parte da turma, tinha de passar por tudo aquilo, sendo muitas vezes posta de parte pelos próprios colegas, algo que hoje identificaríamos como algum tipo de bullying. Apesar de a nossa cultura ter uma matriz judaico-cristã, que respeito e não ignoro, acredito numa escola pública inclusiva, para todos, independentemente das suas origens geográficas ou culturais.

Foi por esta altura que frequentei o Corpo Nacional de Escutas (C.N.E.), onde dei os meus primeiros passos no associativismo jovem. Inicialmente como Lobito, título atribuído aos membros mais jovens e posteriormente como Júnior ou Explorador. Deste período guardo excelentes memórias e aprendizagens que me ficaram para a vida. Este tipo de atividade, cada vez mais em desuso, ajudou-me a desenvolver, entre outras coisas, o interesse pela natureza, pelo ar livre e pelo exercício físico, na altura ainda em tom de brincadeira. Para além disso, pelas funções que nos eram atribuídas nos encontros semanais ou nos acampamentos, fui desenvolvendo algum sentido de responsabilidade e autonomia. Aquilo que para muitos, talvez por desconhecimento, não passa de uma mera atividade lúdica ocasional, foi determinante no meu desenvolvimento pessoal, tendo-me ajudado a desenvolver competências a nível técnico (geografia, leitura de mapas, orientação, sobrevivência), e a nível pessoal/social (trabalho em equipa, comunicação, empatia, trabalho comunitário, entre outros).

Um dos feitos que gosto de relembrar desta altura foi a construção de um campo de futebol. Era comum cada lugar da vila ter a sua equipa de futebol e chegou a existir um campeonato organizado por nós, sem adultos, sem mais nada, uma organização informal baseada na vontade de jogar de uma forma aparentemente mais séria. Inicialmente, no local onde vivia não tínhamos campo, tal como a maior parte das equipas daquele campeonato, que jogavam em lotes de terrenos ainda à espera de construção, com balizas improvisadas com

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mochilas ou pedras. Começamos por jogar num desses lotes, um retângulo que tinha boas medidas para a prática do jogo. Por ser um lugar onde abundava a construção de prédios e casas novas, percebi que tínhamos todas as condições para encontrar materiais para fazer um mini estádio de fazer inveja aos nossos adversários. Juntei uns amigos e fomos pedir madeira a umas obras para fazer as balizas. Depois de algumas recusas lá conseguimos o material. Em seguida, com areia fizemos as marcações do campo. Relva não tínhamos mas o lote, onde por vezes pastavam ovelhas, já era verde por natureza. Nunca fomos campeões, mas tínhamos o melhor campo da terra. Ali jogámos até eu abandonar a vila e lembro-me de alguns dos nossos pais comentarem, e até moverem algumas diligências, para que ali se viesse a construir um ringue de futebol. Voltei ao local há uns anos e deparei-me com um cenário fantástico. Naquele local, existe hoje um campo de futebol de relva sintética, julgo que propriedade da Câmara Municipal ou da Junta de Freguesia, ao serviço da comunidade. Sonhar valeu a pena.

Também na Vila de Prado frequentei o quinto e o sexto anos de escolaridade, na altura, o Ciclo Preparatório. Foi um período interessante, do qual guardo imensas memórias mas, acima de tudo, foi um período de intenso crescimento pessoal, em parte porque, tendo ido viver para Braga no final do primeiro período do sexto ano, decidi, com os meus pais, que continuaria a estudar em Prado até ao final do ano letivo. Era apenas um miúdo que, todos os dias, viajava de autocarro logo pela manhã e, quase sempre, regressava a casa ao final do dia, tendo por vezes a cargo o meu irmão mais novo que também continuou a estudar, durante esse ano, em Prado. Não recordo esse tempo como um período difícil da minha vida, mas antes como uma fase na qual aprendi a lidar com novas responsabilidades. Acima de tudo, nesse curto espaço de tempo, entre janeiro e junho de 1991, cresci muito rapidamente.

No que às aulas diz respeito, continuava a ser um bom aluno, com as notas a rondar o quatro e o cinco, à exceção de matemática, onde dificilmente passava do três. Distinguia-me, em particular, nas disciplinas de História, Ciências da Natureza, Português e Educação Musical, onde, por intervenção do professor, me comecei a interessar de forma mais séria pela música e a desenvolver competências para tocar instrumentos que, por essa altura, já ia tocando de ouvido, o piano, a flauta e a harmónica. Por essa altura, devido ao interesse crescente pelas ciências, em particular por tudo o que dissesse respeito ao conhecimento espacial, cheguei a sonhar ser astronauta. Hoje, mantenho algum interesse na área, porém, esse interesse não

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supera a minha curiosidade pela vida no planeta Terra. Para mim, e por enquanto, enquanto houver terra para conhecer, o espaço pode esperar.

O fim do ano chegou e com ele as despedidas. Não ia para longe e, de facto, a vida mostrou-me que, em relação a alguns amigos desse tempo, não foi um adeus para sempre. No entanto, naquela idade as distâncias parecem maiores e lembro-me bem do último dia de aulas, na verdade não eram aulas, vivia-se a semana cultural, a derradeira semana de cada ano escolar. Participei numa atividade musical, um festival da canção. Antes de ir embora estive com alguns amigos, sempre sem tocar no assunto da despedida e quando faltavam alguns minutos para o autocarro peguei nas minhas coisas e saí sem fazer questão de me despedir. Entrei no autocarro, sentei-me, como sempre lá ao fundo e, talvez porque tenha a mania de olhar o mundo de um ponto de vista cinematográfico, algo que me acompanha desde sempre, tudo acontecia como se da cena final de uma longa metragem se tratasse. As mesmas caras de sempre, poucos eram estudantes mas eram-me já familiares, tal como acontece noutras situações em que utilizamos com frequência o mesmo transporte público, iam-se desvanecendo pelo caminho à medida que abandonavam o autocarro. Sentia parte daquele que tinha sido o meu mundo até então desaparecer e lembro-me de pensar, a cada momento que alguém saía, que talvez fosse a última vez que os via. Não pensava nisto com tristeza, não tinha qualquer ligação afetiva com aquelas pessoas, mas independentemente de sermos colegas de escola ou parceiros de autocarro, tocamo-nos superficialmente, passando a fazer parte das vidas uns dos outros, ainda que indelevelmente. Não o saberia explicar na altura, mas aprendi muito naqueles derradeiros sete quilómetros de viagem. Se um simples olhar nos pode deixar para sempre qualquer coisa, posso refletir naquilo que as minhas ações, enquanto professor, poderão deixar na vida de outros, que poderei não voltar a reencontrar, mas que durante um bom período de tempo partilharam o mesmo espaço comigo. Naquele dia, saí do autocarro, não terei pensado em tudo isto, mas recordo-me de ter a certeza de que um ciclo se fechava e que outro se apressava a começar. Percebi que teria chegado ao fim da infância.

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1.1.2. Adolescência

Em Braga, uma nova realidade se estendia à minha frente, não que eu já não tivesse uma forte ligação com esta cidade, sempre a identifiquei como a minha terra e aqui vinha com frequência, se não fosse por mais nada, pelo menos, sempre que o S. C. de Braga jogava em casa, aqui vinha com o meu pai assistir aos jogos, nascendo aí uma das paixões que me acompanha há mais de trinta anos, o futebol e, em particular, o meu clube. Voltando à nova realidade, que diante de mim se abria, era tempo de fazer novas amizades e de encontrar uma nova escola. Não foi complicado, nunca encontrei grandes dificuldades de integração por onde tenho passado, se bem que essa integração, por vezes, tenha um preço. Naquela idade, porque procuramos alguma afirmação social no seio dos novos grupos, alinhamos em comportamentos e ações menos recomendáveis, em particular no contexto escolar. Nunca deixei de respeitar professores e colegas e nunca me deixei levar por caminhos sinuosos que me pudessem levar ao consumo de substâncias ilegais, contudo, o meu comportamento, mais concentrado na afirmação pessoal que nas performances académicas, viria a ter alguma influência num ligeiro deterioramento dos resultados obtidos nos testes. Passava com alguma facilidade, sem grande esforço, acomodando-me à situação e, apesar de tudo, era bem visto pelos colegas e professores, sendo sempre um aluno muito ativo nas atividades extracurriculares, como a rádio escolar, eventos desportivos, musicais, jornal da escola e centro escolar de informática, onde aprendi a programar em BASIC, muito útil mais tarde quando aprendi Lógica na faculdade. Ao mesmo tempo aprendia, e isso é-me muito útil hoje em dia, a identificar padrões de comportamento nos alunos, muito provavelmente porque, ao analisar-me a mim próprio enquanto aluno e adolescente, compreendo muitas das ações dos meus alunos atuais, conseguindo ir facilmente ao encontro das suas necessidades. Não era o bom nem o vilão, nem saberia identificar-me em nenhum grupo ou estilo. Tinha um lado geek, interessava-me por computadores e por música que mais ninguém ouvia mas, ao mesmo tempo, andava com os alunos que ouviam Heavy Metal e com os aficionados do desporto. Um híbrido num mundo que normalmente se subdivide em grupos, onde todos fazem parte de um catálogo. Estávamos na temida Escola Secundária de Maximinos e não me dei mal por ali.

Não sei em que idade tive a minha primeira experiência do Eu. Sei que por esta altura, sentia um certo prazer em pensar “eu estou aqui, este sou eu, esta voz que ouço no meu pensamento é a minha voz, eu existo”. Entrava numa espécie de transe ou meditação e isso

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dava-me prazer. Não cheguei às mesmas conclusões de Descartes, que até ao décimo segundo ano era apenas um nome mais ou menos conhecido para mim, nem escrevi sobre o assunto. Mas, sem o saber, o interesse pela Filosofia começava a despertar embora eu não o soubesse. Já antes, questões como, “porque é que existimos?” me causavam perplexidade. Muito antes deste período da minha vida, recordo que no quinto ano de escolaridade, numa aula de Religião e Moral, depois de o professor nos fazer recuar até à origem do Universo, talvez confuso com o conceito do infinito, ter questionado o professor, “E antes de Deus, quem criou Deus?”. A resposta foi, jamais me esquecerei, “Isso é uma pergunta de burro, Deus criou-se a si próprio!”. Não sou ateu, vivo uma espiritualidade muito própria que terei todo o prazer em explicar e partilhar com quem estiver disposto a ouvir, mas se algo me aproxima de um conhecimento, não lógico mas de certa forma fundamentado, de um Deus ou força criadora, esse algo nunca poderá advir de respostas como a do citado professor, para não falar, uma vez mais, dos métodos criticáveis de ensino com os quais aprendi muito, novamente acerca do que não deve ser feito.

Continuei, do décimo ao décimo segundo ano, na Escola Secundária de Maximinos, agora no curso de Humanidades. É comum pensar-se no Curso de Humanidades como uma fuga para os alunos que pretendem fugir dos números e das ciências. Já aqui referi que os números nunca foram o meu forte, no entanto, procurei as humanidades por me ter sentido sempre mais atraído para a área. Ainda ponderei o Curso de Artes e até um curso profissional de realização em Lisboa. Ainda assim, e mais tarde pude comprovar isso quando frequentei o Curso de Arquitetura por três anos, gosto de artes mas não sou de escolas, pelo menos no que às artes diz respeito, mas esse tema poderei desenvolver um pouco mais adiante quando me referir à minha passagem pela Faculdade de Arquitetura. Certo é que, no décimo ano, optei pelo Curso de Humanidades, ainda sem grandes certezas quanto ao meu futuro profissional, ainda para mais, tinham-me oferecido uma guitarra no nono ano, eu tinha encontrado uma banda, portanto, os meus sonhos eram agora outros, mais compatíveis com os desejos de um adolescente.

Por esta altura repartia o meu tempo entre os estudos, a música e o associativismo jovem, enquanto membro de um grupo de jovens. A minha atividade no associativismo jovem, veio colmatar um vazio que ficou desde a minha mudança para Braga, já que anteriormente havia frequentado o escutismo e estava, nessa área, relativamente inativo há já algum tempo. Bastante empenhado, fui rapidamente integrado no seio do grupo e, ao fim de dois anos fui

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convidado para integrar a direção do mesmo, no cargo de vice-presidente. No ano seguinte, acabei mesmo por assumir a presidência. Foi um período de intensa atividade onde ganhei amizades para a vida e onde me senti extremamente útil, no que diz respeito ao trabalho comunitário. Um dos pontos altos desta atividade foi a minha participação, como monitor, na Colónia de Férias de Maximinos onde, por dois anos consecutivos, colaborei nos meses de verão. Esta foi a minha primeira aproximação ao mundo da educação, embora em moldes muito diferentes. No entanto, o contacto com crianças e jovens de contextos sociais mais desfavorecidos, deu-me as primeiras experiências e bases para aquilo que um dia mais tarde viria a ser a minha principal atividade profissional. Sem que o soubesse, estava lançada a semente.

Entretanto, na Escola Secundária, continuava a participar, muito ativamente, em várias atividades, com particular destaque para a Rádio Escolar, onde a construção dos guiões dos programas me deu um certo treino para a planificação de aulas de que iria necessitar mais tarde. Ainda hoje, olho para a planificação de uma aula como se se tratasse de um guião de um programa de rádio ou de uma série de televisão, onde há um princípio, um meio e um fim, tendo em vista um objetivo final predefinido que procuro alcançar. Recorrendo às mesmas técnicas do audiovisual, procuro muitas vezes semear a curiosidade logo no início, sem levantar demasiado o véu, captando a atenção do ouvinte/espetador/aluno, até ao momento final em que tudo acaba por se revelar.

Infelizmente, porque por esta altura me movia entre uma série de diferentes interesses, que nem sempre os académicos, deixei por concluir uma das disciplinas do 12.º ano, a disciplina de Latim, que só viria a concluir no ano seguinte. No que diz respeito à Filosofia, na qual me viria a licenciar mais tarde, não era um aluno exemplar, mais por desconhecimento e falta de motivação que por falta de capacidades, como mais tarde viria a descobrir. Na verdade, o meu interesse pela área viria a surgir uns anos mais tarde quando estudava Arquitetura. Em relação a essa falta de interesse e motivação, criada essencialmente por métodos de ensino criticáveis, baseados na memorização, tenho a dizer que, mais uma vez olhando para trás, consigo tirar valiosíssimas lições que me ajudam hoje em dia a tornar a minha prática letiva muito mais aliciante e interessante para os alunos, não tanto pela reprodução do que vi mas, acima de tudo, pela rejeição de um método que em nada se assemelha ao que mais tarde aprendi na universidade. De uma maneira geral, na escola secundária exigiam-me que

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decorasse uma série de conteúdos, sem questionar, sem criticar, sem aprender ativamente, para que os pusesse em prática em testes ou exames finais. A meu ver, apesar de reconhecer a importância da aquisição de uma série de conteúdos factuais, ferramentas essenciais na atividade filosófica, o ensino da Filosofia no ensino secundário deve passar essencialmente pelo desenvolvimento da atitude filosófica e crítica do aluno perante a vida. Embora o programa da disciplina, em particular nos dois primeiros anos, Introdução à Filosofia, passe por aí, a experiência pessoal e a observação demonstram-me que, em muitos casos, isso esteja longe de acontecer. Acerca do meu renovado interesse pela Filosofia, falarei mais adiante quando chegar às razões que me levaram a trocar o Curso de Arquitetura pelo Curso de Filosofia.

1.1.3 Juventude e Universidade

Terminado o Ensino Secundário, era altura de tomar decisões importantes quanto ao meu futuro. No horizonte pairavam umas quantas possibilidades que me agradavam na altura, da Comunicação Social à Arqueologia, eram muitas e variadas as opções. No entanto, devido ao crescente interesse pela área da Arquitetura, que fui descobrindo ao longo do Ensino Secundário apesar de não frequentar o Curso de Artes, surgia uma oportunidade numa universidade privada à qual me poderia candidatar com algumas das provas específicas que tinha realizado. Desde cedo demonstrava alguma apetência para as artes, tinha sido um bom aluno a Educação Visual e, analisando o mercado de trabalho, acabei por optar pela Arquitetura, na Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão. Esta opção viria a revelar-se um erro, o mercado de trabalho na área não estava assim tão favorável e rapidamente compreendi que, apesar dos meus impulsos criativos, a Arquitetura ia muito além daquilo que eu imaginara. Ao invés de uma atividade puramente criativa, revelava-se como uma atividade extremamente minuciosa e muito técnica, para a qual eu não me sentia vocacionado. Dava-me muito bem nas disciplinas de Projeto, Desenho, História, mas experimentava dificuldades nas cadeiras de Geometria Descritiva, Estruturas e Matemática, para as quais não estava devidamente preparado. Para além disso, não me revia nas ideias de alguns professores que procuravam impor a sua própria escola, sentindo-me prejudicado no momento em que avaliavam os meus projetos e ideias. Na Arquitetura existem várias correntes e julgo ser prejudicial a atitude de impor apenas uma, com uma atitude dogmática, rejeitando todas as outras opções. Acredito numa Arquitetura funcional, tal como me ensinavam, mas não tão simples e vazia, por achar que a função do Arquiteto não é apenas a criação de espaços que funcionem mas, ao mesmo tempo, a criação de espaços que

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criem ambientes tendo em conta um dado objetivo. Assim, as minhas opiniões acerca das cores, dos materiais e das formas utilizadas, ainda que apoiadas muitas vezes na psicologia, eram imediatamente refutadas por não seguirem uma escola mais funcional e minimalista. Para mim, as casas não são feitas para figurar em capas de revista mas para serem habitadas por seres humanos que se vão querer sentir confortáveis e felizes no seu interior. Ainda lutei, durante três anos, pelo meu lugar na Arquitetura, mas a amizade e as conversas com outros colegas que frequentavam o Curso de Filosofia, e as horas passadas no comboio a pensar naquilo que queria para a minha vida, levaram-me a encontrar um novo rumo e interesse na Filosofia.

Antes de encerrar estas linhas dedicadas à minha passagem pelo Curso de Arquitetura, gostaria de referir que foi por lá que dei os primeiros passos na minha atividade ligada às tunas académicas, que viria a ter o seu auge uns anos mais tarde na Universidade Católica Portuguesa. O meu interesse pela música não era recente e, na altura, decidi entrar para a Tuna Académica da Universidade Lusíada de Famalicão. Comecei pela guitarra mas rapidamente descobri um novo interesse no bandolim, instrumento que ainda hoje me dá um enorme prazer executar. De resto, apesar de ter feito por lá alguns bons amigos que ainda conservo, a experiência nesta tuna nunca chegou a ser, nem de perto, tão positiva e gratificante como mais tarde na Tuna Académica da Faculdade de Filosofia de Braga.

Como referi, o meu percurso na área da Arquitetura não me corria de feição e, ao mesmo tempo, crescia o interesse pela Filosofia, não só pelas razões acima mencionadas mas também pelas inquietações pessoais que me iam surgindo nos mais diversos campos. Procurava dar um novo sentido à minha vida, encontrando um sentido na Filosofia. Foi assim que, ao fim de quase três anos, depois de muito conversar com os meus pais, que eram quem me financiava os estudos, tomei a decisão de me inscrever na Licenciatura em Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Filosofia de Braga. Não foi uma escolha totalmente pacífica, para mim ou para eles, no entanto, entendi e consegui que entendessem que estas escolhas não se devem fazer apenas pelo lado mais pragmático da vida, optando por um rumo de acordo com as perspetivas profissionais e económicas, mas antes de mais por vocação. Hoje, verifico frequentemente, no contacto com os pais e alunos, a tendência de tomarem decisões quanto ao futuro tendo em vista uma profissão bem remunerada. Sei que isso pode ser importante mas, acima de tudo, aconselho as pessoas a seguirem uma opção para a qual se sintam verdadeiramente vocacionadas. Se temos de lutar pela vida ao menos que o

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façamos numa atividade que nos preencha e nos dê prazer. No que ao Curso de Filosofia diz respeito, falarei com mais detalhe quando descrever, à frente, o meu percurso académico.

1.1.4. O Mundo do Trabalho

Terminada esta fase da minha vida, com um diploma na mão, as perspetivas de encontrar emprego não eram as melhores nem as mais favoráveis, mas para isso estava eu já avisado e preparado há bastante tempo. No entanto, um sonho persistia, o de ter uma experiência fora do país, de preferência num contexto muito diferente daquele a que eu estava habituado. Pouco tempo após o término da licenciatura, abriu um concurso para lecionar em África, mais propriamente em Cabo Verde e em S. Tomé e Príncipe. Concorri sem saber o que me esperava. O tempo passou e, quando já nada o fazia prever, recebo um telefonema a convocar-me para uma entrevista, em Lisboa, tendo em vista o preenchimento de uma vaga na Guiné-Bissau. Não tinha concorrido para lá mas porque o meu curriculum estava na Bolsa de Cooperantes do I.P.A.D. (Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento), acabei por ser chamado. Percebi mais tarde que isto acontecia com frequência, em particular no que diz respeito à Guiné-Bissau, país para o qual quase ninguém queria ir. Aproveitei a oportunidade, fui à entrevista e no dia seguinte recebia um telefonema onde me informavam que tinha sido selecionado e se estava preparado para ir. Tinha de responder no momento sob pena de passarem ao candidato seguinte. Disse que sim, foi a escolha mais difícil da minha vida até àquele momento. Foi também a minha melhor escolha de sempre, não só pela Guiné-Bissau, mas por tudo o que tem sido a minha vida desde aquele dia até ao momento atual.

Depois dos procedimentos habituais, vacinas, passaporte, contrato, algumas indicações, lá estava eu, no aeroporto de Lisboa, pronto para embarcar, com um bilhete de ida e volta nas mãos. Ia acompanhado de três colegas que só conheci na porta de embarque, todos a caminho de África pela primeira vez. Os nossos maiores receios logo se dissiparam à chegada a Bissau, tão bem fomos recebidos pela equipa de professores que já lá se encontrava. Foram dois anos de importantes conquistas e experiências, a nível pessoal e profissional. Sem me alongar, para já, no teor do meu trabalho, posso adiantar que fui professor de Filosofia no Ensino Secundário Guineense e Formador de Professores Guineenses, estas foram as principais funções, entre outras que adiante irei desenvolver.

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Após uma experiência de dois anos na Guiné-Bissau, era altura de regressar a Portugal. Apesar de estar bastante agradado com a experiência, sentia vontade de lecionar Filosofia no Ensino Secundário em Portugal, não só para me manter atualizado, mas também para experimentar verdadeiramente o trabalho numa escola portuguesa. Fui colocado em Vila Viçosa e tinha a meu cargo quatro turmas do décimo ano. Em três dessas turmas lecionei Filosofia, sendo que numa delas fui diretor de turma. Noutra turma, de um curso profissional, lecionei Saúde Infantil, na vertente de Psicologia e Desenvolvimento.

No ano seguinte, fui colocado em Valpaços e comecei a entender que o percurso de um professor do Ensino Secundário em Portugal, passaria invariavelmente por uma série de mudanças de localização, sem perspetivas de estabilização num lugar apenas. Também as tarefas mudavam, sem que isso dependesse da nossa vontade. Desta vez tinha a meu cargo, em Valpaços e noutras localidades mais ou menos próximas, grupos de adultos em processo de RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências), ao abrigo do Programa Novas Oportunidades. Ainda no mesmo programa, tinha duas turmas de EFA (Ensino e Formação de Adultos), onde fui formador de CP (Cidadania e Profissionalidade) e CLC (Cultura, Língua e Comunicação). Por esta altura, começava a sentir novamente vontade de ter uma nova experiência fora do país que, contudo, só viria a acontecer um pouco mais tarde.

Alpendorada foi o meu destino seguinte, onde tive novamente a cargo a área de CP (Cidadania e Profissionalidade). No final do ano, regressei a Braga onde aguardei o resultado do concurso seguinte. No entanto, estávamos em 2012, ano em que a situação se agravou consideravelmente no que diz respeito à colocação de professores e acabei por apostar numa nova área, seguindo uma oportunidade que me apresentaram. Uma empresa de Construção Civil, de um amigo, necessitava de alguém que, com algum domínio da língua inglesa, lhes facilitasse o processo de criação de uma sucursal na Polónia. Era um desafio interessante e aceitei. Para além de algum trabalho de logística, uma vez que era necessário instalar um grupo de trabalhadores naquele país, executei ainda algumas tarefas administrativas e comerciais. Terminada esta fase, fui convidado para ficar na empresa, nos escritórios em Portugal mas, mais uma vez, fruto da crise que se abateu sobre o setor, fui informado de que a empresa poderia estar em risco. Em vias de fechar, aconselharam-me a estar atento a outros empregos que me dessem outras garantias de futuro, algo que nunca deixara de fazer por querer voltar ao

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ensino. Pouco depois, surgiu um concurso para dar formação a professores em Timor-Leste, na área da Cidadania e Desenvolvimento Social. Concorri e fui selecionado.

Estive em Timor quase três anos, acompanhando o PFICP (Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores) do primeiro ao último dia. A principal componente do meu trabalho consistia na implementação do novo currículo da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento Social no Ensino Secundário timorense. Para tal, entre outras funções, tinha a meu cargo a supervisão e formação científico-pedagógica de um grupo de professores timorenses. Numa segunda fase, corri com eles o país, disseminando o novo currículo junto de todos os outros professores da disciplina. Isto para referir apenas os aspetos mais essenciais do trabalho. Entretanto, o projeto chegou ao fim e regressei a Portugal, onde só voltei a encontrar emprego muito recentemente, abrindo-se uma nova possibilidade de regressar a Timor-Leste.

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1.2. Percurso Académico

No que diz respeito aos meus primeiros anos de instrução escolar, não vou entrar em muitos detalhes, pelo que os exponho de seguida muito sucintamente:

1.º CICLO – 1985 a 1989

Frequentei o Ensino Básico na Vila de Prado, inicialmente na Escola da Igreja Nova (1.ºano) e os anos seguintes na Escola do Bom Sucesso n.º1 (2.º,3.º e 4.º anos).

2.º CICLO – 1989 a 1991

Ainda na Vila de Prado frequentei, agora na Escola C+S, o 5.º e o 6.º anos de escolaridade.

3.º CICLO – 1991 a 1994

Já em Braga, na freguesia de Maximinos, frequentei o 7.º, 8.º e 9.º anos na Escola Secundária de Maximinos.

ENSINO SECUNDÁRIO – 1994 a 1998

Frequentei o Ensino Secundário na Escola Secundária de Maximinos, no curso de Humanidades.

ENSINO SUPERIOR – LICENCIATURA EM ARQUITETURA – 1998 a 2001

A minha primeira passagem pelo Ensino Superior, aconteceu na Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão. Ao longo de 3 anos fui aluno do Curso de Arquitetura, que acabei por não concluir. Projeto I e II, Desenho I e II, Geometria Descritiva, Estática, Matemática, Ergonomia, História da Arquitetura, Materiais, Teoria da Arquitetura, Informática (Autocad), são algumas das disciplinas que frequentei, tendo-me destacado mais nas áreas do Desenho, do Projeto, da História, e menos nas áreas ligadas às ciências exatas, como a Matemática, a Estática e a Geometria Descritiva, para as quais não possuía bases suficientemente sólidas.

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ENSINO SUPERIOR – LICENCIATURA EM FILOSOFIA – 2001 a 2006

Esta minha segunda experiência no Ensino Superior, na Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Filosofia de Braga, foi bem mais produtiva, em boa parte por se tratar de uma área para a qual eu me encontrava verdadeiramente motivado e me sentia realmente vocacionado. Ao longo do curso frequentei as cadeiras de Lógica Formal, Filosofia Social e Política, Filosofia Antiga, Introdução ao Trabalho Filosófico, Psicologia de Educação, História e Filosofia da Educação, Cristianismo e Cultura, Filosofia do Conhecimento, Axiologia e Ética, Filosofia Medieval, Ontologia, Epistemologia Geral, Filosofia Moderna, Filosofia em Portugal, Teoria do Desenvolvimento Curricular, Sociologia da Educação, Filosofia da Linguagem e Hermenêutica, Filosofia da Religião e Teodiceia, Filosofia Contemporânea, Antropologia Filosófica, Estética e Didática da Filosofia. Para além destas cadeiras frequentei ainda um Seminário no 4.º ano e outro, de acompanhamento pedagógico da atividade de estágio, no 5.º ano.

Integrado no último ano da licenciatura, realizei o estágio na Escola Secundária Carlos Amarante em Braga. Ao contrário do que acontecia em anos anteriores, naquele ano, por decisão do Ministério da Educação, os estágios passaram a realizar-se em diferentes moldes. Ao invés de experimentarmos verdadeiramente a atividade de professor, foram-nos atribuídas turmas que tivemos de partilhar com outros colegas estagiários e com o professor da disciplina. Dessa forma, acabamos por lecionar apenas algumas aulas de algumas unidades do programa. A meu ver, esta alteração representou um grande empobrecimento de uma atividade que deveria servir como período de grande enriquecimento e aprendizagem para os jovens professores. No final do estágio ficamos com algumas noções daquilo que é lecionar numa turma do Ensino Secundário, mas com muito poucos conhecimentos acerca do trabalho do dia a dia de uma escola, que vai muito além das aulas. Para além disso, nestes moldes, não foi possível ter um conhecimento global daquilo que envolve o trabalho do professor, que trabalha uma turma de princípio ao fim do ano, tendo em conta um currículo e uma série de metas a alcançar. Restaram-nos apenas umas aulas, aqui e ali, para termos uma pequena noção daquilo que nos esperava. No meu caso lecionei algumas aulas em duas turmas de níveis diferentes, uma do 10.º ano e outra do 11.º.

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O grupo de estágio do qual fiz parte, com mais três colegas, procurou propor e participar noutras atividades extracurriculares, o que nem sempre nos foi aceite ou permitido. Ainda assim, fomos convidados para colaborar nas decorações de Natal e na organização do Dia da Escola, onde organizamos um espetáculo com a Tuna Académica da Faculdade de Filosofia de Braga, da qual eu fazia parte, e com um Grupo de Danças Africanas. Para além disso, a atividade extracurricular mais interessante que nos foi possível realizar tratou-se de uma visita de estudo à Fundação de Serralves e à Casa da Música, no Porto.

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1.3. Percurso Profissional

1.3.1. Bissau – PASEG – Programa de Apoio ao Sistema de Ensino da Guiné-Bissau

Iniciei o meu percurso profissional na Guiné-Bissau, em 2006, cumprindo um sonho antigo de ir ver o mundo, de conhecer outras realidades diferentes da minha, de abrir os meus horizontes e de cumprir aquilo que eu considero ser uma retribuição, opcional, de cada ser humano para com a humanidade. Se somos um produto daquilo que esta foi até ao momento, porque não contribuir, transformando-a, para que o produto futuro seja ainda melhor, e o educador encontra-se num lugar privilegiado para o fazer. Se o papel de cada um, por si só, é quase insignificante, tal não se verifica quando somamos o esforço de todos. Não é que seja necessário deslocarmo-nos para outro continente para o fazermos, podemos muito bem fazê-lo na nossa própria cidade, mas desta forma, juntei duas coisas que há muito queria fazer. No final, trouxe mais do que dei, uma nova perspetiva de carreira, uma mão cheia de experiências, viagens e aventuras, muitas histórias que um dia pretendo escrever e, acima de tudo, uma nova visão sobre o papel do ser humano no mundo, muito mais pluralista, entregue ao outro (sem se esquecer de si), ao invés do ser humano individualista, preocupado com as pequenas coisas do dia a dia, focado na construção de uma carreira de sucesso a qualquer custo e na obtenção de uma série de bens materiais que quase nos são impostos desde o berço, como indicadores determinantes de um indivíduo bem sucedido. Mais adiante, no segundo capítulo, desenvolverei este tema, dos valores que o nosso Sistema de Ensino e a própria sociedade incutem nos alunos. Para já, detenho-me a expor sucintamente o conjunto de atividades que exerci nesta primeira experiência profissional, que vão muito além da prática letiva mais convencional, no contexto de sala de aula. Assim, estas foram as minhas principais funções enquanto professor e formador na República da Guiné-Bissau:

- Docência da disciplina de Filosofia, no Liceu Dr. Agostinho Neto(Cf. p. 44).

- Formação de professores de Filosofia, no âmbito do GAP Filosofia (Grupo de Apoio Pedagógico aos Professores de Filosofia). Esta atividade abrangia todos os professores de Filosofia dos liceus de Bissau, que recebiam formação pedagógica e científica. De salientar que não existe nenhuma licenciatura em Filosofia naquele país, pelo que, na maior parte das vezes,

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os professores eram licenciados noutras áreas, quando não tinham apenas a escolaridade obrigatória (11.ª classe).

- Colaboração na elaboração de materiais de apoio à formação de professores de Filosofia (GAP). Em conjunto com outros colegas portugueses, professores de Filosofia no mesmo projeto, desenvolvemos um conjunto de materiais, visando o apoio à formação de professores, e o apoio à atividade dos mesmos (planificação de aulas, textos de apoio, técnicas de pesquisa e aprofundamento de conhecimentos, métodos de ensino, entre outros).

- Participação na elaboração da Antologia de Textos de Filosofia, sendo a mesma, posteriormente utilizada na docência da disciplina ao nível das várias escolas. Dada a não existência de um manual escolar (os professores guineenses baseavam-se nos antigos manuais portugueses), criamos uma antologia de textos, de acordo com o programa, que compreendia os principais autores da História da Filosofia, para que professores e alunos os pudessem obter e utilizar mais facilmente, tal era a falta de manuais. Ao mesmo tempo, e porque o Ministério da Educação da Guiné-Bissau pretendia introduzir um exame nacional da disciplina, um dos nosso objetivos era garantir que, em todas as escolas do país, todos tivessem acesso aos mesmos materiais.

- Dinamização e apoio à Oficina em Língua Portuguesa do Liceu Dr. Agostinho Neto (cursos de Textos Utilitários e Escrita Criativa para alunos e professores do ensino secundário).

- Locução e Produção de Conteúdos no programa de rádio Outras Vozes também Vossas, com a rubrica semanal Pensatempos.

- Ensino de Guitarra Clássica no Centro Cultural Português de Bissau.

- Participação, como músico, no projeto O Canto da Samora, projeto da Oficina em Língua Portuguesa do Liceu Samora Machel;

- Realização de trabalhos gráficos destinados à divulgação de atividades do projeto. - Participação na produção de conteúdos e elaboração gráfica do Boletim das Oficinas em Língua Portuguesa.

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- Colaboração com a Embaixada de Portugal na divulgação de eventos, como o Torneio de Ténis da Cooperação Portuguesa em Bissau. Realização de cartazes e anúncios para rádio e televisão.

- Participação, como compositor, no projeto Escola Limpa, criando a base musical para um tema de sensibilização dos alunos e professores para o problema do lixo excessivo nas escolas da Guiné-Bissau.

1.3.2. Vila Viçosa – Escola Secundária Públia Hortense de Castro

Em 2008 regressei a Portugal e, contra todas as expetativas, consegui colocação no mês de outubro, no Alentejo, em Vila Viçosa. Os primeiros tempos foram, sobretudo, tempos de aprendizagem e adaptação ao sistema de ensino português. Os colegas falavam frequentemente por siglas e recorrendo a um vocabulário técnico ao qual eu não estava habituado. As próprias instruções que me eram dadas pela direção ou pelo grupo disciplinar eram dadas nesses termos. Só ao fim de algum tempo fiquei familiarizado com esta nova realidade profissional e a sua linguagem própria.

Ultrapassadas as dificuldades referidas, foi um ano bastante positivo, onde me foi dada a oportunidade de experimentar o trabalho numa escola secundária, algo para o qual eu me havia preparado ao longo da licenciatura. Para além da lecionação da disciplina de Introdução à Filosofia, fui diretor de turma, professor de Saúde Infantil num curso profissional e ainda participei noutras atividades escolares (Cf. pp. 45-47).

1.3.3. Valpaços – Agrupamento de Escolas de Valpaços

No ano seguinte, em 2009, fiquei colocado em Valpaços. Desta vez as minhas responsabilidades incidiam na formação de adultos. Ao abrigo do Programa Novas Oportunidades, as minhas responsabilidades repartiam-se em duas principais áreas. Nos cursos EFA (Ensino e Formação de Adultos) fui formador de CP (Cidadania e Profissionalidade) e CLC (Cultura, Língua e Comunicação); nos RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências) fui formador, júri e avaliador nas áreas de CE (Cidadania e Empregabilidade) e CP (Cidadania e Profissionalidade) (Cf. pp. 47-48).

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1.3.4. Alpendorada – Agrupamento de Escolas de Alpendorada

No ano seguinte, em 2010, fui colocado em Alpendorada. Sempre preferi o ensino da Filosofia às tarefas de formador de RVCC. No entanto, e porque isso não é uma escolha minha mas da Escola onde sou colocado, por estar a substituir uma professora dessa área, voltaram-me a atribuir funções no Centro Novas Oportunidades, desta vez novavoltaram-mente como formador de CP (Cidadania e Profissionalidade) a adultos em processo de reconhecimento e validação de competências (Cf. p. 49).

Acerca do trabalho realizado em Alpendorada, e anteriormente em Valpaços, na formação e certificação de adultos, confesso que sempre me mostrei bastante crítico em relação aos procedimentos que nos eram impostos pelas escolas e pelo próprio Ministério da Educação. Se por um lado me parece que existia uma boa ideia que sustentava os processos de RVCC e os Cursos EFA, por outro, os procedimentos, a motivação dos formandos e as pressões exercidas para que se apresentassem números expressivos, deitaram, muitas vezes, tudo a perder. Não duvido das competências de muitas das pessoas que me passaram pelas mãos, que justificaram claramente a obtenção do 9.º ou do 12.º anos de escolaridade. No entanto, éramos muitas vezes pressionados a validar competências a quem não as demonstrava, uma vez que pairava sobre os Centros Novas Oportunidades, a possibilidade de serem encerrados se não atingissem certas metas quanto ao número de pessoas que concluíam com sucesso o processo.

1.3.5. Experiência na Área Comercial

Em agosto de 2011, após a minha experiência em Alpendorada, o contrato chegou ao fim. Como em anos anteriores, aguardei o resultado do Concurso Nacional de Professores. Contudo, a crise, ou a desculpa da crise, sugeriam que aquele seria um ano muito complicado para voltar a ser colocado. Os cortes no orçamento da educação e o aumento do número de alunos por turma, entre outros fatores, fizeram reduzir a quantidade de horários disponíveis. O tempo avançava e eu, simplesmente, não conseguia colocação. Por esta altura, há já algum tempo que ponderava uma nova experiência fora do país e mantinha-me atento a todos os concursos que pudessem surgir, mal sabia que uma nova experiência no estrangeiro estava quase a concretizar-se, numa área totalmente inesperada, a área comercial.

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A convite de um amigo, que tinha na altura uma empresa de construção, fui convidado, não para um emprego mas para uma espécie de prestação de serviços. Tinha surgido um novo projeto na Polónia e estavam à procura de alguém com conhecimentos suficientes na língua inglesa para os auxiliar em todo o processo, desde a instalação dos funcionários à criação de uma sucursal naquele país. Nesse sentido, parti para a Polónia, ainda sem qualquer vínculo à empresa, estava desempregado, pagavam-me todas as despesas e era uma boa oportunidade para viajar, conhecer outro país e quiçá, abrir uma nova porta no mundo profissional. Nunca quis abandonar o ensino mas, dadas as circunstâncias, não podia ficar parado. Estive algum tempo em Poznan e quando regressei a Portugal, fui convidado a representar a empresa em reuniões comerciais, novamente na Polónia. Voltei, desta vez a Varsóvia, onde apresentei a empresa portuguesa a uma série de empresas polacas e espanholas que operavam por lá. Consegui alguns novos contratos mas quando regressei a Portugal, fui informado que, apesar dos sucessos noutros países, no nosso as coisas não estavam a correr bem à empresa. Ainda assim, convidaram-me a continuar com eles. Contudo, abria-se uma nova oportunidade no ensino. Estavam abertos dois concursos para Timor-Leste, num deles a seleção seria feita pela Universidade do Minho, no outro a seleção ficaria a cargo da Universidade de Aveiro. Concorri aos dois e acabei por ser selecionado pela Universidade de Aveiro. Estava de volta ao ensino e tinha à minha frente uma nova experiência num país que há muito despertava a minha curiosidade. Para além disso, ser formador de Cidadania e Desenvolvimento Social numa nova nação, numa democracia que está a dar os seus primeiros passos, poder acompanhar de perto todo esse processo, era motivo de grande entusiasmo da minha parte. Tal como da primeira vez, quando fui para a Guiné-Bissau, não hesitei e aceitei de imediato.

1.3.6. Timor-Leste – PFICP – Projeto de Formação Inicial e Contínua de Professores.

Cheguei a Timor-Leste em junho de 2012, depois de uma longa espera em Portugal por questões burocráticas. Ao longo dos quase três anos que lá passei, foram várias as atividades em que estive envolvido, sendo que as principais foram as seguintes.

- Formação de professores timorenses da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento Social, nas áreas pedagógica e científica. De notar que não existe uma licenciatura específica para lecionar nesta área, pelo que grande parte dos professores, quando possuíam uma licenciatura, a mesma podia ser das mais diferentes áreas. Procuramos trabalhar preferencialmente com professores com algum tipo de formação nas ciências sociais, no entanto

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isso nem sempre foi possível. Um dos maiores desafios foi desenvolver e apurar, junto dos professores, novas técnicas pedagógicas. Habituados ao sistema indonésio, que vigorou durante grande parte da sua vida enquanto alunos, a maior parte dos professores limitava-se, inicialmente, a transcrever o conteúdo dos manuais no quadro, para que os alunos tivessem acesso à matéria. Em alguns casos, pouco mais faziam.

- Implementação do novo currículo do ensino secundário (C.f. pp 49-51).

- Colaboração com os autores dos manuais da Universidade de Aveiro. Apesar de os manuais estarem já elaborados aquando da minha ida para Timor, colaborei com os autores tendo em vista uma segunda edição. Nesse sentido, corrigimos gralhas, adaptamos exercícios à realidade local, adaptámos o texto para uma melhor compreensão (dadas as grandes dificuldades linguísticas da maior parte dos professores, pouco habituados a falar português), entre outros acertos que julgámos serem necessários.

- Organização e apoio aos momentos de formação. Três vezes por ano, as equipas de professores timorenses que recebiam formação em Díli deslocavam-se aos outros distrito tendo em vista ministrarem formação aos seus colegas. A organização destas formações, criação de turmas, horários, apoio logístico e apoio administrativo, passava pelos professores portugueses das diferentes áreas. No meu caso não foi exceção.

- Organização de eventos e atividades. Em diversos momentos realizamos atividades e eventos que procuravam, por um lado, divulgar o trabalho do nosso projeto, e por outro, pela ligação que tínhamos com o Instituto Camões, divulgar a língua portuguesa e a cultura lusófona. Aqui, as tarefas podiam variar, da cobertura fotográfica do evento à produção de conteúdos, passando por vezes pelo catering e até por representações artísticas. No meu caso particular, fui várias vezes requisitado para tocar guitarra, entre outras coisas.

1.3.7. Timor-Leste – Formar Mais.

Atualmente encontro-me na República Democrática de Timor-Leste, onde exerço as funções de formador de professores, num novo projeto de cooperação para o desenvolvimento. Acerca deste projeto, falarei mais adiante, no terceiro capítulo, aquando da descrição da minha situação atual (Cf. p. 64).

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1.4. Outras Atividades Relevantes 1.4.1. Voluntariado

COLÓNIA DE FÉRIAS DE MAXIMINOS

Inserida nas atividades anuais do Grupo de Jovens Alvorada, encontra-se a Colónia de Férias de Maximinos, na qual participei como monitor em dois anos consecutivos. Organizada pelo Colégio de S. Caetano, com o apoio da Junta de Freguesia e de diversos cidadãos anónimos e empresas da cidade, esta colónia de férias conta anualmente, com o apoio dos membros do grupo de jovens que se disponibilizam para serem monitores. Esta experiência foi o meu primeiro contacto com o mundo da educação, do ponto de vista do educador. Do princípio ao fim do dia, cada monitor, adjuvado por outros colegas, ficava responsável por cerca de dez crianças (dos 6 aos 14 anos), tendo a seu cargo a orientação do grupo em diferentes atividades, tais como, refeições, jogos, idas à praia, visitas culturais, entre outras. A gestão de pequenos conflitos, interesses e emoções era uma constante, pelo que terei ganho aí alguma experiência nesse campo.

1.4.2. Associativismo Jovem

ESCUTEIROS

A minha primeira experiência no associativismo jovem, deu-se ainda em Prado, aquando da minha passagem pelo núcleo do C.N.E. (Corpo Nacional de Escutas) a funcionar naquela localidade. Independentemente daquilo que se possa pensar, apesar de os escuteiros estarem muitas vezes conotados com a religião e com alguns resquícios do Estado Novo, vistos por vezes como uma espécie de herdeiros da Mocidade Portuguesa, na verdade nunca senti que, de alguma forma, me tentassem influenciar politicamente. Pelo contrário, acho que o papel dos escuteiros na minha vida, foi determinante no desenvolvimento de algumas competências como a autonomia, o sentido de responsabilidade, o gosto pelo contacto com a natureza, a sensibilização para as questões ambientais e a capacidade para a resolução de problemas práticos. Mais tarde, na Guiné-Bissau e em Timor-Leste, dadas algumas carências alimentares e constrangimentos materiais, que naqueles países podem surgir a qualquer momento, senti-me sempre preparado para me adaptar às situações de forma natural, encontrando sempre outras

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soluções. Ainda no campo das competências desenvolvidas, agora a nível social, começar desde cedo a lidar com os outros, participando em atividades em que ora nos encontramos em posições de chefia, ora nos encontramos em posições de subordinação, só nos pode preparar para situações que mais tarde, ao longo da vida, iremos encontrar, desde a vida académica, à vida profissional.

G.J.A. – GRUPO DE JOVENS ALVORADA

Fiz parte do Grupo de Jovens Alvorada, um grupo da freguesia de Maximinos, em Braga. Trata-se de um grupo de inspiração cristã, que em conjunto com outras instituições religiosas e seculares, procura dinamizar uma série de atividades de interesse público. Claro que o interesse público, quando se trata de organizar uma cerimónia religiosa, é relativo, no entanto, o grupo nunca se ficou por aí, participando em várias atividades de apoio social. Identificação de situações de risco (droga/pobreza/violência), organização da Colónia de Férias anual da freguesia, colaboração com a Junta de Freguesia em atividades culturais e recreativas, eram apenas algumas das atividades mais frequentes.

Uma das atividades internas mais interessantes do grupo eram as reuniões semanais e o debate de temas, não exclusivamente religiosos. Desengane-se aquele que julga que neste tipo de grupos todos defendem as mesmas posições e orientam o seu pensamento com base num qualquer catecismo. Na verdade, as portas estiveram sempre abertas a todo o tipo de opiniões e orientações políticas e religiosas, que só enriqueciam as tais discussões semanais. Nelas participei, a partir de uma determinada altura, como animador. As minhas funções consistiam na apresentação dos temas a debate e, posteriormente, na moderação dos mesmos. Aprendi que num debate sério, no qual alguém entra para defender as suas ideias mas leva uma mente capaz de escutar os outros e, por vezes, de lá sair com novas ideias, podemos crescer e aprender muita coisa. Por isso, ainda hoje, utilizo frequentemente os debates no contexto da sala de aula, não só porque acredito serem uma excelente ferramenta de ensino, mas também porque me parece de extrema importância ensinar os alunos a debater, a argumentar, em suma, a pensar. Infelizmente, os exemplos televisivos que os alunos têm resumem-se a debates políticos ou futebolísticos, onde se discutem mais egos que ideias, onde se confundem ideias com propaganda, debates de onde nunca se sai diferente nem se aprende nada de novo.

Referências

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