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A relação entre desenvolvimento, Estado e a forma da representação política no regime democrático-burguês: noções teóricas, limites e

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

2 A ESTRATÉGIA GOVERNAMENTAL PETISTA SOB LIMITES ESTRUTURAIS

2.2 A relação entre desenvolvimento, Estado e a forma da representação política no regime democrático-burguês: noções teóricas, limites e

possibilidades

Como foi visto, a busca pela promoção de um “projeto nacional de desenvolvimento” a ser implementado por governos de colaboração de classes figuraram – em todas as oportunidades que governou ou pleiteou gerir o Estado brasileiro – como marca inseparável das propostas governamentais petistas para pavimentar o caminho de pretensas reformas sociais.

Apesar de reconhecer que é preciso “avaliar com objetividade as

restrições e potencialidades do atual quadro sócio-político e econômico do país, para evitar um voluntarismo que poderia frustrar a proposta de transformação da economia e da sociedade brasileiras” (Idem, 2002b, p. 1), o PT entendia que sua

estratégia de conciliação possibilitava “propor para o Brasil um novo modelo de

desenvolvimento economicamente viável, ecologicamente sustentável e socialmente justo” (Idem, ibidem), desde que conseguisse “ousar, rompendo com o conformismo fatalista pretensamente pragmático que sonega direitos básicos da população e resgatando os valores éticos que inspiraram e inspiram as lutas históricas pela justiça social e pela liberdade” (Idem, ibidem).

Há, portanto, no horizonte da proposta governamental petista, um reconhecimento de que existem implicações das condições objetivas que poderiam criar obstáculos ao seu projeto, contudo, as indicações de que seria possível produzir as circunstâncias para que estes entraves fossem superados – concretizando o dito “projeto nacional de desenvolvimento”, em direção às reformas sociais – revela a confiança petista (demonstrada à exaustão até aqui) de que a conformação de um governo fundado na conciliação de classes poderia abrir o caminho para tais mudanças, em detrimento da luta de classes.

O fato do chamado “projeto nacional de desenvolvimento” defendido pelas propostas governamentais de conciliação de classes ter se manifestado – na melhor das hipóteses – apenas de maneira parcial e circunstancial não encerra a polêmica a respeito de sua viabilidade na concretização de reformas na atualidade. A força das narrativas que atribuem a não implementação das reformas a “erros” do governo ou aos desígnios políticos da interrupção da experiência governamental petista exige uma análise mais profunda, que apreenda as determinações objetivas e subjetivas que podem, enfim, demonstrar a razão pela qual essas transformações não ocorreram.

Parte dessa análise, portanto, deve se considerar – entendendo a necessidade de apreender as implicações das determinações mais decisivas sobre a estratégia adotada por um tipo de experiência governamental – que é na relação das propostas de desenvolvimento (que em tese conduziriam à implementação de reformas) com o papel do Estado e a forma como nele se manifesta o estatuto da representação institucional no quadro do capitalismo contemporâneo que se pode

compreender os limites e possibilidades que recaem sobre a estratégia de conciliação de classes no âmbito da superestrutura política.

É evidente que o PT adotou, durante o curso de sua trajetória e diante de suas experiências de governo, acepções distintas do que poderia se considerar desenvolvimento, como se viu anteriormente. Contudo, em todas elas e com suas distinções, o papel do Estado e da representação política do governo assumiam protagonismo a respeito da possibilidade de implementação desses projetos. Essa interpretação instiga uma análise que obriga a pensar a intervenção do Estado no desenvolvimento de determinadas condições necessárias à melhoria de vida dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, revisita a questão da natureza de dominação e reprodução da lógica do capital como funções centrais do Estado numa sociedade de classes.

Considerando a estratégia “democrático-popular” de conformação de uma experiência de conciliação de classes, que poder teria esse governo para conduzir o Estado à implementação das reformas sociais propostas pelo PT? Independente do tempo que essa operação pudesse levar, estar no governo central seria suficiente, desde que se trabalhasse em perspectiva histórica (como sugere a direção petista)? Ou há limites? O fato de se estabelecer um governo de colaboração de classes sob a forma de representação política protagonizada por uma organização como o PT modifica a natureza do Estado? É possível conceber, considerando essa suposta natureza “volátil” do Estado, uma função “indutora de desenvolvimento” que permita esse tipo de governo promover as reformas sociais? Isso se dá dessa forma numa sociedade de classes e nesta época histórica do capitalismo monopolista? Sob quais circunstâncias isto seria possível? São algumas perguntas que só podem ser respondidas, contudo, destacando a importância de se procurar investigar as expressões contemporâneas do Estado no capitalismo atual.

2.2.1 Estado, um complexo de dominação de classe resultante da totalidade das relações sociais

Um dos grandes méritos do marxismo, além de contribuir com o desenvolvimento de uma teoria e de um método de interpretação (e transformação) da realidade, foi o de se debruçar sobre os fenômenos sociais reais, sobretudo os que instigam os debates mais controversos. Foi assim com o trabalho, a economia

política e, também, com o Estado. Ficou a cargo de Marx, Engels e Lenin o desenvolvimento das elaborações que erguem a compreensão sobre o que é o Estado em sua expressão mais imanente.

É evidente que, como tudo na realidade, o Estado não pode ser tomado como algo descolado da história. As suas manifestações, particularidades e características são explicadas dialeticamente pela dinâmica das relações sociais construídas social e historicamente (com centralidade na correlação de forças estabelecida no conflito histórico entre as classes sociais) e, ao mesmo tempo, influenciadas pelas condições da existência material, como determinação decisiva. Nesse sentido, outros pensadores deram decisivas contribuições posteriores nesse debate, a exemplo de Poulantzas, Gramsci, Meszáros, dentre outros.

Contudo, mais do que uma análise da complexificação do Estado que se estabelece a partir das múltiplas formas de ampliação da superestrutura política da sociedade, a investigação das possibilidades de promoção das reformas sociais por meio da representação política exige compreender de onde vem a natureza do poder estatal – se é do conjunto da totalidade das relações sociais ou se seria um produto da origem social e/ou da orientação política de seus governantes.

Responder a esta questão afirmando o caráter decisivo dos governantes sobre o Estado posiciona o mecanismo da representação política como elemento não apenas influente, mas determinante em relação ao poder estatal. E, neste caso, o Estado seria, portanto, o resultado da articulação política do regime legalmente instituído. Em outras palavras, assumir o governo geraria as condições para a promoção do desenvolvimento e das reformas – o que coincide, em termos da afirmação da estratégia de conciliação de classes como caminho possível, com a proposta governamental petista.

No entanto, a comprovação pela prática social não atesta a veracidade dessa tese. Basta dizer que durante o século XX, por exemplo, não foram poucas as vezes que organizações com origem na classe trabalhadora ascenderam a postos de representação política e, ainda assim, o Estado seguiu manifestando sua natureza burguesa, ou seja, de salvaguarda da ordem capitalista.

Uma primeira observação deve levar em consideração o fato de que o Estado não surge simplesmente como uma ideia necessária pré-concebida, mas como resultante de processos sociais reais, determinados historicamente. Foi com

esta visão metodológica que Marx empreendeu contra Hegel suas críticas a respeito do Estado como necessidade racional em si.

Hegel parte da ideia de que o ser humano é objetivamente egoísta e, por isto, a existência de um Estado nada mais seria do que uma necessidade racional da busca pela estabilidade e liberdade, que possibilitaria a realização plena dos indivíduos e da sociedade civil. O poder estatal seria, portanto, a representação máxima da vontade coletiva, pois estaria acima dos interesses particulares de grupos e dos indivíduos. Por esta razão em Hegel o Estado é respaldado como sujeito absoluto12.

A crítica de Marx, mesmo quando ainda pertencia aos círculos da esquerda hegeliana, se baseia no fato de que a interpretação filosófica de Hegel parte de uma objetividade, mas é idealista. Há uma objetividade porque considera o indivíduo e a sociedade civil como a base real para que os Estado pudesse existir, no entanto, apenas com a existência do Estado é que os indivíduos e a sociedade civil poderiam existir plenamente, como se estes só pudessem existir por meio dele. Ao empreender tal crítica, segundo Marx (1982, p. 25), sua investigação

... desembocou no seguinte resultado: relações jurídicas, tais como formas de Estado, não podem ser compreendidas nem a partir de si mesmas, nem a partir do assim chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas, pelo contrario, elas se enraízam nas relações materiais de vida, cuja totalidade foi resumida por Hegel sob o nome de "sociedade civil" (bürgerliche Gesellschaft), seguindo os ingleses e franceses do século XVIII; mas que a anatomia da sociedade burguesa (bürgerliche

Gesellschaft) deve ser procurada na Economia Política.

Da mesma forma que se expressa a crítica de Marx para com Hegel, o ponto de partida para entender a relação entre representação política e poder estatal é a crítica das inversões entre a realidade concreta, histórica e a perspectiva de “ideia como fonte objetiva”: “Se Hegel tivesse partido dos sujeitos reais como base

do Estado, ele não precisaria deixar o Estado subjetivar-se de uma maneira mística”

(Idem, ibidem, p. 44).

12 Segundo Hegel (1995, § 433, tradução de Marcos Lutz Müller e grifo nosso), “A luta do reconhecimento, e a

submissão a um senhor, é o fenômeno (Erscheinung) do qual surgiu a vida em comum dos homens, como um começo dos Estados. A violência (Gewalt), que é fundamento nesse fenômeno, não é, no entanto, fundamento do direito, embora seja o momento necessário e legítimo na passagem do estado da consciência-de-si submersa no desejo e na singularidade ao estado da consciência-de-si universal”. O respaldo do Estado (e

da sua violência) advém precisamente da suposta necessidade de um poder exterior que imponha limites à sua condição natural que cria um “impulso de dominar uns aos outros”. A superação desse estado egoísta de natureza exigiria uma força “externa”, uma vez que isto não pode acontecer “enquanto eles estão presos em sua

imediatez, em sua naturalidade: pois é ela justamente que os exclui um do outro, e os impede de ser como livres, um para o outro” (Idem, ibidem, § 431, tradução de Marcos Lutz Müller).

Isto significa que para encontrar a chave da relação entre representação política e poder estatal, faz-se necessário entender quais os determinantes que objetivam o Estado como um instrumento político de classe. Uma interpretação não materialista como a de Hegel, que “faz da ideia o sujeito e do sujeito propriamente

dito, assim como da ‘disposição política’, faz o predicado” (Idem, ibidem, p. 32),

apenas concretiza dois extremos analíticos complementares: o de, sendo o Estado a razão em si, não há espaço para que a representação política seja um instrumento (ainda que limitado) a serviço de enfrentá-lo e; que investir na representação política, por consequência, é a forma institucional de apenas legitimá-lo, posto que sua existência determina (e deve seguir determinando) toda forma de vida social.

O mérito da interpretação materialista foi o de tomar a objetividade e, com ela, estabelecer uma relação inversa ao idealismo hegeliano: O Estado, suas manifestações, particularidades e características se explicam dialeticamente pela dinâmica das relações sociais construída social e historicamente (com centralidade na correlação de forças estabelecida no conflito histórico entre as classes sociais) e, ao mesmo tempo, influenciada pelas condições da existência material, como determinação decisiva.

Com a superação das relações que marcaram o período do comunismo primitivo em decorrência da luta pela posse do excedente e dos meios de produção, se ergueram diversas sociedades de classes e estas sociedades não prescindiram de um Estado para garantir suas novas ordens sociais. Quando os conflitos de classe se acirram ao limite, estes determinam uma luta sangrenta entre essas classes e dessa luta decorre uma classe vitoriosa, surgindo então a necessidade de instituir um poder organizado que não apenas legitime essa supremacia sobre a(s) outra(s) classe(s), mas que exerça o poder da forma mais “natural” possível, evitando que tal choque de interesses – próprio de uma sociedade dividida em classes – não evolua para um confronto físico de proporções intermináveis.

Este poder organizado, composto por instrumentos coercitivos (exército permanente, polícia, etc.) e ideológicos (escolas, universidades, etc.) é o Estado.

Ocorre que – de modo muito mais desenvolvido que nos modos de produção escravista e feudal – o Estado, no capitalismo, possui instrumentos coercitivos e, sobretudo, instrumentos ideológicos profundamente eficientes na tarefa de esconder o antagonismo de classes. Para tanto, ficou para o Estado

de construir consensos políticos e ideológicos capazes de prevenir que a classe explorada se levante contra a ordem social.

O Estado burguês incorporou, portanto, as mesmas instituições coercitivas dos antigos Estados (exércitos, tribunais, etc.), cujo papel é assegurar a propriedade privada e solidez das relações de produção na sociedade, reprimindo eventuais revoltas e “desordens” dos escravos modernos (os operários), mas não apenas. No Estado da burguesia desenvolveram-se instituições – notadamente como resultado de conquistas relacionadas à luta de classes – cujo objetivo é o de subverter a socialização política (resultado em larga medida das lutas sociais dos explorados) em formas de dominar os cérebros da classe explorada, fazendo-a crer que as atuais relações de exploração existentes sejam apenas uma manifestação “natural” da qual a sociedade não pode prescindir. Este é o fundamento que explica a ideia de que o Estado é a razão em si: o poder dessa ideologia está não na força da ideia abstrata do Estado, mas precisamente na força das relações sociais tidas como “naturais” que o Estado “precisa existir” para proteger.

É partindo desse entendimento que Marx (2010b, p. 40-41, grifos nossos) diferencia a representação política do exercício do poder real quando estabelece que mesmo quando os indivíduos se emancipam politicamente e passam “atuar no Estado”, isto não retira a condição de explorado e nem tampouco confere ao Estado uma natureza universal:

O Estado político pleno constitui, por sua essência, a vida do gênero humano em oposição à sua vida material. Todos os pressupostos dessa vida egoísta continuam subsistindo fora da esfera estatal na sociedade burguesa, só que como qualidades da sociedade burguesa. Onde o Estado político atingiu a sua verdadeira forma definitiva, o homem leva uma vida dupla não só mentalmente, na consciência, mas também na realidade, na vida concreta; ele leva uma vida celestial e uma vida terrena, a vida na comunidade política, na qual ele se considera um ente comunitário, e a vida na sociedade burguesa, na qual ele atua como pessoa particular, encara as demais pessoas como meios, degrada a si próprio à condição de meio e se torna um joguete nas mãos de poderes estranhos a ele. A relação entre o Estado político e a sociedade burguesa é tão espiritualista quanto a relação entre o céu e a terra. [...] Na sua realidade mais imediata, na sociedade burguesa, o homem é um ente profano. Nesta, onde constitui para si mesmo e para outros um indivíduo real, ele é um fenômeno inverídico. No

Estado, em contrapartida, no qual o homem equivale a um ente genérico, ele é o membro imaginário de uma soberania fictícia, tendo

sido privado de sua vida individual real e preenchido com uma

A afirmação de que no Estado político pleno (o Estado democrático no capitalismo) o homem equivale a um ente genérico e é preenchido com uma

universalidade irreal, em oposição à desigualdade posta na sociedade burguesa do

ponto de vista material, resulta precisamente do fato de o Estado em si não ser o elemento determinante das condições da realidade e nem a fonte da qual brota o funcionamento das relações que ordenam a vida dos indivíduos e da sociedade civil – que o determinam –, mas precisamente o inverso. São as relações sociais reais de exploração e desigualdade (a partir das quais o trabalhador é um “joguete nas mãos de poderes estranhos”) que justificam um Estado que ao mesmo tempo figura no terreno das aparências como algo exterior e superior e aparece como inato e universal, onde todos os indivíduos são sujeitos jurídicos “genéricos”, alijados das marcas sociais de classe.

A necessidade constante de analisar as particularidades em movimento do Estado no capitalismo contemporâneo – para melhor compreendê-lo e extrair da realidade dinâmica as tarefas da classe trabalhadora na atualidade não pode, portanto, se impor como uma revisão dessa lição histórica, mas como uma contribuição para pensar como a existência de uma natureza de classe no Estado se complexifica manifestando-se de múltiplas formas, tal qual pensou Gramsci.

O pensamento marxiano, ao contrário da sedução politicista, parte dessa verdade – que não é nem impressionista, nem dogmática, mas fundada em uma análise trans-histórica – para daí entender as particularidades engendradas pelo movimento das determinações histórico-sociais. Utilizar tais particularidades e a complexificação do Estado para dissolver a sua natureza, em nome de um suposto “esforço dialético”, é negar que a realidade é dinâmica e que sobre ela atuam forças e tendências em constante luta, mas que nessa luta há sempre aspectos mais decisivos que cedem sua natureza ao objeto. Partindo dessa conclusão teórico- metodológica é que é possível identificar o lugar da representação política frente o Estado, revelando sua relação com o exercício do poder estatal.

2.2.2 Os limites da forma da representação política no Estado capitalista contemporâneo frente os dilemas da experiência governamental petista

por quase quatro mandatos reaquecem o debate entre o significado da representação política e do poder estatal.

Isto se dá pela própria característica de um governo de conciliação de classes, ou seja, uma coalizão política entre organizações de origem na classe trabalhadora com frações da classe dominante e seus partidos, porque a própria existência desse governo atípico (e mais ainda quando a representação política máxima do governo é um representante de uma organização da classe trabalhadora) joga mais sombras sobre a real natureza de classe de governos desse tipo, reproduzindo o senso comum de que o caráter de um governo se vincula à origem de classe ou mesmo às posições políticas de sua representação principal, o que seria suficiente para modificar igualmente a natureza do Estado – originalmente erguido conforme os interesses da classe dominante.

Uma das operações teóricas (ainda que se dê de modo não consciente) que fundamenta essa conclusão é o risco de uma supervalorização da representação política, como se esta fosse sinônimo de poder estatal. Mas há também o risco oposto, que é o de esvaziar o espaço da representação política por uma visão instrumental monolítica de Estado. Ambas as operações produzem teorias justificativas e têm consequências políticas. Para entender a natureza e o papel desses governos, portanto, exige-se uma precisão teórica sobre a questão.

É a representação política (o fato de estar nos postos máximos de comando das instituições do Estado) um sinônimo de capacidade de modificações estruturais na sociedade, ou seja, de exercício pleno do poder estatal? E se a conquista da representação máxima nas instituições estatais (no caso brasileiro, o Executivo nacional) não é suficiente para promover tais mudanças, há alguma utilidade em ocupar esses espaços? Se governar não é o mesmo que assumir o poder, trata-se, portanto, de mera reprodução da ordem? Ou é um espaço que, mesmo com limites, serve para realizar certas incursões?

O tema é complexo porque exige uma interpretação dialética e histórica de questões de natureza estrutural e um resgate das determinações estruturais que permanecem ocultas no movimento constante dos novos fenômenos. E é importante porque é a partir dele que pode se tirar conclusões políticas sobre as questões que envolvem o problema teórico da interdição da implementação de reformas diante de um governo que propunha, originalmente, isto.

A discussão, por exemplo, sobre se “algo deu errado” com os governos petistas de conciliação de classes invariavelmente é atravessada por tais questões. O momento político atual de ofensiva da classe dominante ou mesmo o fato dos governos liderados pelo PT não terem realizado sequer reformas consistentes de interesse dos trabalhadores são resultantes tão somente dos equívocos políticos e do compromisso assumido com a classe dominante antes de chegar ao governo? A resposta afirmativa da questão ensejaria, por exemplo, uma visão politicista de poder. Afinal, bastaria “não se cometer tais equívocos” e conquistar a representação política sem estabelecer alianças com a classe dominante para avançar num plano