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ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

2. Análise e discussão dos resultados

2.1. Impacto do tratamento com CPAP na qualidade de vida dos pacientes com apneia obstrutiva do sono Escala QVAOS

2.1.3. Relacionamento Social (Grupo III)

Os resultados da comparação das médias dos itens do Relacionamento Social das fases TO e T3, são apresentados no Quadro 7. Através dos dados obtidos, verificámos que as médias de apenas cinco dos onze itens que constituem a subescala do Relacionamento Social, apresentam médias da Fase T3 significativamente inferiores às médias da Fase TO {Relação com o companheiro porque ressona, Assistir a concertos, Relação com o companheiro por ter que dormir em quartos separados, Relação com os familiares mais próximos e Receber familiares ou amigos em casa). Apesar de apenas as médias destes cinco apresentarem diferenças estatisticamente significativas, a média global da subescala Relacionamento Social da fase T3 é significativamente inferior à fase TO. Uma vez que os itens são avaliados através do grau de dificuldade, podemos concluir que os pacientes apresentam uma menor dificuldade nas suas relações sociais, o que se traduz numa melhoria da sua qualidade de vida.

Continuando com a leitura do quadro 7, verificámos que os itens Relação com o companheiro porque ressona, Assistir a concertos, e Relação com o companheiro por ter que dormir em quartos separados, apresentam um valor de t mais elevado, o

que revela que o tratamento com CPAP, contribui para uma melhoria bastante significativa destes itens.

Analisando o conjuntos dos itens desta dimensão, os resultados obtidos evidenciam que, após três meses de tratamento com CPAP, os pacientes percepcionaram uma melhoria significativa no seu relacionamento social em geral.

Quadro 7

Relacionamento Social: comparação de médias dos itens antes do tratamento (TO) e após tratamento com CPAP (T3).

Itens Média

TO

Média T3

t P Sig.

1- Relação com o companheiro porque ressona 2,65 1,73 5,575 ,000 ##* 2- Relação com os vizinhos porque ressona 1,39 1,22 1,353 ,182 NS 3- Relação com o companheiro por ter que

dormir em quartos separados

2,08 1,53 3,621 ,001 ***

4- Relação com os familiares mais próximos 1,69 1,33 2,638 ,011 * 5- Relação com os colegas de trabalho 1,47 1,35 ,973 ,335 NS 6- Receber familiares ou amigos em casa 1,69 1,41 2,187 ,033 * 7- Visitar familiares ou amigos 1,75 1,57 1,197 ,237 NS 8- Assistir a concertos, ir ao cinema.. 2,59 1,92 4,230 ,000 *** 9- Relacionamento íntimo e sexual 2,33 2,10 1,600 ,116 NS 10- Ficar sexualmente excitado 2,22 2,14 ,551 ,584 NS 11 - Ter um orgasmo ou ficar sexualmente

satisfeito

2,08 2,08 ,000 1,000 NS

Analisando ainda os mesmos resultados (Gráfico 3), constatámos que os itens que mais afectam o relacionamento social dos pacientes com apneia obstrutiva do sono, ou seja os que apresentam as médias mais elevadas na fase TO, são os itens Relação com o companheiro porque ressonam e assistir a concertos, verificando-se com o tratamento uma melhoria acentuada destes itens, traduzida numa média inferior a 2 (pouca a nenhuma dificuldade).

Globalmente, o relacionamento social dos pacientes com apneia obstrutiva do sono, parece estar directamente relacionado com um dos principais sintomas nocturnos, o ressonar, dado que o item Relação com o companheiro porque ressonam e Relação com o companheiro por ter que dormir em quartos separados, apresentam uma média muito próxima do valor 3 (algumas vezes), na fase TO e igualmente com um dos principais sintomas diurnos, a sonolência excessiva, dado que também o item Assistir a concertos, ir ao cinema etc., apresenta uma média próxima do valor 3.

O ressonar é um dos sintomas nocturnos com maior impacto negativo nas relações sociais dos pacientes com apneia obstrutiva do sono, nomeadamente as relações com os companheiros de quarto. O ressonar é a causa mais frequente de conflitos conjugais e deterioração das relações, podendo levar ao divórcio (Paiva, 1991). O ressonar dos pacientes com apneia obstrutiva do sono pode ser de tal forma perturbador que os companheiros chegam a apresentam sintomas psicopatológicos idênticos aos da apneia obstrutiva do sono como, irritabilidade, ansiedade, depressão, fadiga e sonolência diurna excessiva, em consequência da privação do sono, provocada pelo ruído intenso do ressonar. Para conseguirem dormir, muitos companheiros destes pacientes tomam medicação indutora do sono e analgésicos, para as cefaleias.

Continuando com a análise do gráfico 3, verificámos que a apneia obstrutiva do sono não afecta o relacionamento social com familiares, vizinhos e colegas de trabalho dos pacientes com apneia obstrutiva do sono, uma vez que os itens, Relação com os vizinhos porque ressona, Relação com os familiares mais próximos, Relação com os colegas de trabalho, Receber familiares ou amigos em casa e Visitar familiares ou amigos, apresentam uma média inferior ao valor 2 (pouca dificuldade a nenhuma dificuldade). Verificámos ainda que, a apneia obstrutiva do sono não tem impacto negativo no relacionamento íntimo e sexual dos pacientes, uma vez que os itens, Relacionamento íntimo e sexual, Ficar sexualmente excitado e Ter um orgasmo ou ficar sexualmente satisfeito, apresentam uma média ligeiramente superior ao valor 2 (pouca dificuldade), na fase TO. Relativamente a estes itens esperávamos encontrar médias mais elevadas, quer pela idade dos pacientes, cerca de 62,9% têm idade superior a 55 anos, quer pelas características polissonográficas designadamente, a baixa percentagem de sono REM, a fragmentação do sono e o elevado índice de apneia/hipopneia, características estas que estão fortemente associadas à impotência e a diminuição da libido. Uma vez que a erecção penial está particularmente associada ao sono REM, estágio do sono mais fragmentado nos pacientes com apneias repetitivas e severas, os pacientes com apneia obstrutiva do sono apresentam assim, maior dificuldade no seu relacionamento sexual e íntimo, comparativamente aos indivíduos saudáveis da mesma idade (Bennett, 1999).

Pelas razões anteriormente aduzidas e ainda pelo facto da impotência estar frequentemente associada a doenças como a diabetes e a hipertensão, cuja prevalência é elevada na população masculina portuguesa (Trigo e colaboradores, 2001), os dados obtidos relativos à intimidade sexual dos pacientes não são conclusivos, dada a elevada probabilidade de estarem enviesados pela falta de sinceridade nas respostas

dadas às perguntas, Relacionamento íntimo e sexual, Ficar sexualmente excitado e Ter um orgasmo ou ficar sexualmente satisfeito. Estas perguntas podem ter tido um efeito perturbador ou ter sido percebidas pelos inquiridos como susceptíveis de gerarem respostas "socialmente desejáveis" (Sudman e Bradlburn, 1982, in Giglione e Matalon, 1997). Contudo os resultados dos diferentes estudos revelam que apenas uma minoria (3% a 5%) dos pacientes, referiram que a sua actividade sexual melhorou com o CP AP (Wright, 1999 e Meslier, 1998).

Através da análise e interpretação dos resultados desta dimensão concluímos que, globalmente, o tratamento com CPAP teve um impacto positivo no relacionamento social dos pacientes com apneia obstrutiva do sono.

Gráfico 3 - Médias dos itens da subescala Relacionamento Social antes do tratamento (TO) e após tratamento (T3). (valores da escala)