• Nenhum resultado encontrado

Relevância científica: o momento para estudos large n sobre potências regionais

PARTE III ANÁLISE EMPÍRICA DOS DETERMINANTES DO

BRASIL E TURQUIA

1.4.2 Relevância científica: o momento para estudos large n sobre potências regionais

Metodologicamente, busco fazer uma contribuição original ao analisar este fenômeno de modo quantitativo. A maioria dos estudos sobre potências regionais adere ao estudo de caso como principal abordagem (ALDEN; SOKO, 2005; FLEMES; WEHNER, 2015; FLEMES; WOJCZEWSKI, 2011; HERZOG, 2014; PINHEIRO; GAIO, 2014; PRYS, 2009).

O tópico já vem sendo estudado há mais de uma década na forma atual e pode-se afirmar que avançou de um momento inicial interpretativo para um mais preocupado com testes e validações. A maturação do campo é revelada pelas tendências da literatura especializada. Enquanto os primeiros artigos da área voltavam-se para esforços classificatórios, de construção de tipologias e teorias (DESTRADI, 2010; HURRELL, 2006; JORDAAN, 2003; NOLTE, 2010; PRYS, 2010; SCHOEMAN, 2000; SOARES DE LIMA; HIRST, 2006), os últimos têm se ocupado de testar ou validar os predicados que foram desenvolvidos ao longo do tempo, bem como alargar o escopo conceitual do campo (ALDEN; LE PERE, 2009; BURGES, 2015; DAL, 2016; FLEMES, 2010a; GODEHARDT; NABERS, 2011a; MALAMUD; RODRIGUEZ, 2013; MOURÓN; ONUKI, 2015). O presente trabalho se inscreve neste último filão. Assim, não será minha preocupação nevrálgica oferecer conceitos ou taxonomias inteiramente

2 Lall (2016, p. 415) afirma que a abundância de dados sobre nações desenvolvidas e a escassez dos mesmos para o restante do mundo leva muitas análises em RI a padecerem de um “viés de democracias avançadas”, comprometendo o potencial de generalização dessas pesquisas.

originais, já que o campo dispõe de uma rica literatura com esse propósito. Não obstante, como a imprecisão semântica é um problema importante, a tese oferecerá, lateralmente, contribuições conceituais e terminológicas.

Embora a transição da agenda de pesquisa de um momento para o próximo represente uma maturação, a prevalência de estudos qualitativos small n implica que muitas das hipóteses e argumentos teóricos produzidos até hoje têm alcance inferencial limitado (FLEMES; NOLTE, 2010). Isto é, suas conclusões são restritas a certos contextos e não foram verificadas em um número maior de observações.

Ademais, a política externa das potências regionais tem sido frequentemente analisada enfatizando alguns episódios diplomáticos notáveis da high politics, tais como esforços de mediação, gerenciamento de crises, ou tensões vicinais, o que gera problemas de representatividade e raridade. Um estudo large n como o atual é uma contribuição significativa para o campo, ao testar os vários argumentos teóricos elaborados até aqui contra uma população vasta de casos, não dependendo exclusivamente de episódios dramáticos da política regional.

Em especial, utilizar um modelo multivariado possibilita contrastar as diferentes variáveis que foram consideradas pela literatura como determinantes da política externa das potências regionais umas contra as outras, o que permite estimar seus pesos causais relativos em diferentes contextos regionais (MAHONEY, 2008; RAGIN, 2004).

Ademais, o extenso levantamento de dados necessário para uma pesquisa como esta levou a criação de bancos de dados inéditos sobre a política externa brasileira e turca, que deverão ser um recurso valioso para a comunidade científica. Uma discussão mais técnica dos benefícios de um estudo large n multivariado é oferecida no Capítulo 3 (Seção 3.2.2).

***

Em síntese, esta tese se mostra relevante tanto para a academia quanto para a sociedade estendida. Academicamente, o estudo é original por adotar uma abordagem quantitativa – até então subutilizada no campo – a qual deverá superar algumas limitações anteriores na literatura e complementar o entendimento disponível do tema. Legará também à comunidade acadêmica bancos de dados inéditos sobre a política externa dos países estudados. Socialmente, a compreensão do fenômeno em questão faz-se oportuna, em virtude da estranha falha desses Estados em liderar suas regiões e consequente falange de instabilidades que se produziu nelas nos últimos anos.

1.5 PLANO DA TESE

A tese organiza-se em três partes. A primeira (Capítulos 2 a 4) trata das definições, teorias e métodos empregados, bem como da estratégia para conduzir a investigação. A segunda parte (Capítulos 5 a 10) apresenta os líderes e suas políticas externas, enquanto a última seção (Capítulos 11 a 14) trata dos liderados, suas reações e as causas destas; acha-se aí também a conclusão geral da tese.

No Capítulo 2, será lançada a fundamentação teórica da pesquisa. Nele, apresento os principais conceitos da tese: potências médias, intermediárias e regionais; poder, hegemonia e liderança; followership e regiões. O objetivo será rever sistematicamente a literatura disponível e construir um modelo analítico original. No Capítulo 3, discuto os fundamentos da metodologia empregada, o método comparativo, e como esse pode oferecer respostas aos questionamentos que norteiam a análise. Introduzo também o ferramental estatístico que será empregado. O Capítulo 4 apresenta formalmente o desenho de pesquisa para investigar a questão da liderança e followership, seguido do conjunto de variáveis e hipóteses adotadas.

O Capítulo 5 devota-se à apresentação e à descrição dos casos selecionados. Aqui será justificada a escolha do Brasil e da Turquia como casos de liderança regional. Nos Capítulos 6 e 7, respectivamente, será conduzida a revisão da literatura relevante sobre a política externa e regionalismo de cada um desses líderes. Através dessa apreciação, buscarei diagnosticar o quão bem esses casos se encaixam nas expectativas do modelo teórico de liderança regional desenvolvido no Capítulo 2.

Os Capítulos 8, 9 e 10 responderão se as regiões são ou não o principal foco da política externa desses países. Será apresentada a base de dados original desenvolvida para esta tese. Trata-se de um atlas que mapeia a distribuição dos recursos da política exterior desses Estados ao longo do tempo. A exposição dos dados permitirá verificar quais regiões e parceiros têm sido prioritários na política externa brasileira e turca.

A última pergunta de pesquisa, a saber, se o comportamento das potências regionais resultou em followership, será explorada nos capítulos subsequentes. Os Capítulos 11 e 12 analisam a resposta da América do Sul e do Oriente Médio/Norte da África, respectivamente, e irão testar estatisticamente quais são os determinantes mais influentes na produção dessa reação. O Capítulo 13 encerra a análise quantitativa testando um modelo unificado para ambos os casos. O Capítulo 14 concluirá a tese, sintetizando suas contribuições e limitações. Apêndices geográficos e estatísticos são fornecidos ao final.