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Segundo momento: a reação dos seguidores e seus determinantes

PARTE I FUNDAMENTAÇÃO E DESENHO DE PESQUISA

4 DESENHO DE PESQUISA

4.1.2 Segundo momento: a reação dos seguidores e seus determinantes

No segundo momento, a reação regional será avaliada. Um conjunto de variáveis será considerado como o input que determina a resposta de cada seguidor. Observando o modelo

teórico que propus no Capítulo 2 (Seção 2.3.3), os determinantes serão classificados dentro dos quatro componentes: Exclusividade, Hierarquia/Influência, Consenso e Provisão. O nível de atenção diplomática calculado no primeiro momento da análise será um dos determinantes utilizados. O grau de convergência com a PR será considerado, por sua vez, como o output da análise e a proxy para a aceitação ou rejeição da liderança. Este momento da investigação é causal e de teste de hipóteses.

O desenho de pesquisa está resumido nas figuras abaixo:

Figura 7 - Fluxograma da relação entre potência regional e seguidor

Figura 8 - Primeiro momento da análise (atenção de política externa da potência regional)

Fonte: elaborado pelo autor. O componente Atenção Diplomática será uma síntese composta dos dados relativos à diplomacia presidencial e à presença diplomática. O componente Atenção Econômica não é

agregado. Antes, as variáveis Participação no Comércio Total e Ajuda Oficial/Cooperação para Desenvolvimento são preservadas em sua forma original.

Figura 9 - Segundo momento da análise (determinantes da reação do seguidor)

A ambição original do desenho de pesquisa é cobrir um intervalo de aproximadamente 20 anos, indo desde o fim da Guerra Fria até as primeiras duas décadas dos anos 2000. Os anos 1990 são um ponto de partida útil, pois marcam o início da onda de “novo regionalismo” (FAWCETT; HURRELL, 1995), enquanto que os anos 2000 foram o momento em que as PRs se tornaram mais influentes na política internacional (HURRELL, 2006). Esse escopo foi modificado segundo a disponibilidade de dados em cada caso.

4.2 CONCEITOS, OPERACIONALIZAÇÃO E INDICADORES EMPÍRICOS

Os conceitos de interesses deste trabalho devem ser traduzidos em indicadores adequados para viabilizar sua observação empírica. As duas etapas do desenho de pesquisa aqui empregado atentam para fenômenos distintos e, por isso, demandam conceitos e indicadores específicos. Detalho, nesta subseção, as métricas adotadas para os itens observados nos dois instantes da análise.

4.2.1 Primeiro momento: atenção de política externa

A fase inicial da análise é descritiva e, portanto, não demanda variáveis causais. Requer, ao invés, indicadores empíricos para operacionalizar os fenômenos a serem descritos para cada líder e região. O conceito Atenção de Política Externa abrange os seguintes componentes e subcomponentes.

4.2.1.1 Atenção diplomática

Diplomacia presidencial

A concentração da política externa nas mãos do chefe do Executivo é uma característica onipresente da diplomacia do mundo globalizado (CASON; POWER, 2009; ROJAS; MILET, 1999). As PRs têm utilizado essa ferramenta ativamente em suas tentativas de projetar influência nas questões regionais e globais. Boa parte de seu êxito em galgar maior prestígio global tem sido atribuído ao engajamento direto de seus governantes na agenda internacional (ÖZCAN; KÖSE; KARAKOÇ, 2015; ROUQUIÉ, 2006). Irei mensurar a intensidade da diplomacia presidencial de cada país através do seguinte indicador empírico:

Número de visitas do chefe do Executivo a outros países. Contabilizados ou a partir de dados

oficiais disponibilizados pela Presidência de cada país ou por notícias da imprensa.

Presença diplomática

Entende-se a presença diplomática como o tamanho ou complexidade da missão diplomática dos líderes regionais em cada país e órgão multilateral por ano. Considera-se que uma missão maior em um país (i.e.: mais postos e maior número de funcionários) significa maior atenção diplomática. Dados serão obtidos de fontes oficiais de cada governo.

N. de postos existentes por país por ano. Contagem do número de postos de representação

(Embaixada, Consulado-Geral, Consulado, Vice-Consulado e Escritórios de Representação) mantidos em outros países.

N. de pessoal alocado em cada posto, por país por ano. Número de pessoal lotado em cada país. N. de adidos militares alocado em cada posto, por país por ano. Quantidade de adidos militares lotados em cada país.

Os dados relativos à diplomacia presidencial e à presença diplomática serão agregados para formar um único Índice de Atenção Diplomática, reportado tanto em valores absolutos quanto relativos.

4.2.1.2 Atenção econômica

Participação no comércio total

A importância de um parceiro na política externa de um país pode ser estimada pela sua relevância na balança comercial deste. Assim, será observado:

Comércio total: importações + exportações entre o líder regional e demais países. Os dados de comércio provêm da ONU, mais especificamente da International Trade Statistics Database da UNComtrade (http://comtrade.un.org/), suplementados quando necessários pelo Direction of

Ajuda Oficial/Cooperação para o Desenvolvimento

Investimentos realizados pela PR classificados como Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD)/Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID). Será mapeada:

AOD/CID total: classificada como AOD ou outros fluxos oficiais (ODA and Other Official

Flows OOF) ou CID, a depender da notação do país, em valores brutos (“gross”).

As duas medidas de Atenção Econômica não serão agregadas. Os motivos para essa opção e outros detalhes deste primeiro momento da análise, como o cálculo do Índice de Atenção Diplomática, serão explorados à fundo no Capítulo 8 (Seção 8.1.3).

4.2.2 Segundo momento: determinantes da reação regional

Como mencionado anteriormente, um dos objetivos deste trabalho é testar, para um grande número de observações, algumas das hipóteses e argumentos teóricos que a literatura sobre PRs construiu ao longo dos anos. Essa ambição será realizada no segundo momento da análise, em que serão testados os determinantes da reação regional à liderança. Assim, elegi variáveis que foram propostas por diferentes autores como possíveis determinantes do vínculo líder-seguidor. Abaixo, um plano geral para operacionalização de tais conceitos é apresentado. A mensuração e o escopo de cada um, não obstante, sofrerão variação de uma região para outra. Essas variações individuais serão abordadas nos Capítulos 6 e 7, quando cada região e líder for tratado individualmente. Seguindo o modelo teórico apresentado no Capítulo 2, cada variável é agrupada em um dos quatro componentes da liderança.

4.2.2.1 Exclusividade

1 Engajamento de potências extrarregionais

O grau de engajamento regional de uma grande potência pode impactar decisivamente a política externa da PR. Na sua classificação, Keohane (1969, p. 269) chama os dois níveis mais poderosos da hierarquia internacional de “system determining” ou “grande potência” e

“system influencing” ou “potência secundária”. Ele os define como países capazes de exercer grande impacto no sistema internacional sozinhos, no caso das grandes potências, ou junto a outros Estados, no caso das secundárias.

Lobell, Jesse & Williams (2015) sugerem que se uma potência extrarregional estiver ativamente engajada na região, um poder emergente terá menos espaço para afirmar sua liderança. A potência extrarregional pode ser um concorrente na provisão de bens públicos, assim multiplicando as possibilidades de coalizões de balanceamentos acessíveis aos países secundários, aumentando desse modo os custos da liderança. Destradi & Gundlach (2014) argumentam que mudanças no grau de engajamento das potências globais são choques externos no sistema regional, que precisam levar a um ajuste de comportamento da parte da PR caso essa queira continuar exercendo liderança. Assim, trata-se de um determinante ligado à dimensão de Exclusividade.

Em termos de followership, o engajamento de potências extrarregionais pode influir no grau de resistência que os liderados exibem em relação ao líder regional. Se Estados mais fracos encontram em potências extrarregionais uma fonte alternativa de provisão, diminuirão sua dependência da PR local e alargarão sua margem de autonomia (CANTIR; KENNEDY, 2015; LOBELL; JESSE; WILLIAMS, 2015; PRYS, 2010, p. 497–498).

Embora a literatura tenda a se focar no hegemon global – i.e.: os EUA –, para meu estudo julgo propício acrescentar mais dois atores, U.E e China, como atores extrarregionais relevantes. Na virada dos anos 2000 para 2010, a China já havia se consagrado como a segunda maior economia mundial, atrás dos EUA. Quanto à U.E, se todos seus Estados-parte forem tomados como um ator unitário, seu PIB combinado ultrapassa o dos EUA. O envolvimento dessas potências será mensurado por dois indicadores. Todos possuem também redes extensas de AOD que são instrumentais na consecução de seus objetivos políticos.

1a. Comércio total: Importações + exportações entre cada potência extrarregional e demais países da região. Os totais para EUA, U.E. e China serão somados em um único indicador. Os também provêm do UNComtrade e DOTS.

1b. AOD: Fluxos de AOD (ODA + OOF) entre potência e demais países. Dados para a AOD

dos EUA e U.E vêm da página de estatísticas do OCDE (http://stats.oecd.org/) e do repositório AidData.org para a China (http://china.aiddata.org/). Devido às diferenças de classificação entre ambas as fontes, serão utilizados os valores de AOD bruta (“gross”) ao invés de líquida

(“net”) para os dados OCDE.63 As doações dos três países serão somadas em um único indicador.

4.2.2.2 Hierarquia/Influência

2 Polaridade regional

Dada a tradição em compreender o regionalismo pela ótica das comunidades de segurança, a distribuição de capacidades de poder tem sido uma variável importante no estudo das dinâmicas regionais. Lemke (2010) encontra uma relação estatisticamente significativa entre a concentração de recursos de hard power por um Estado e a estabilidade de sua região, entendida como ausência de conflitos militares. Schenoni (2017a) afirma que a distribuição unipolar de capacidades materiais na África Austral e na América do Sul explica algumas das semelhanças no regionalismo sul-africano e brasileiro.

Este determinante está ligado à dimensão da Hierarquia/Influência. Se o poder material de um país for muito superior ao dos demais em termos de suas capacidades materiais (ordem unipolar), a aquiescência deverá ser mais fácil. Porém, se houver concorrentes com capacidades materiais similares, contra-alianças podem surgir e os custos da liderança aumentarão (LOBELL; JESSE; WILLIAMS, 2015). Vários estudos deram atenção ao papel dos atores concorrentes que buscam alterar a balança regional de poder (ALDEN; SOKO, 2005; BURGES, 2015; FLEMES; WEHNER, 2015; FLEMES; WOJCZEWSKI, 2011; SCHOEMAN, 2000). Em contraste, também já foi sugerido que PRs buscarão cooperação regional mais densa quando tiverem menos superávits de poder em relação ao seu entorno, e serão mais indiferentes quando dispuserem excedentes de poder (MALAMUD; RODRIGUEZ, 2013, p. 175).

A polaridade regional será mensurada pelo seguinte indicador:

2a. Versão recalculada do Índice Composto de Capacidades Materiais. Um dos indicadores mais amplamente usados para mensurar poder em termos realistas em estudos de RI é o Índice Composto de Capacidades Materiais (Composite Index of Material Capacities – CINC)

63 De acordo com o site da OCDE, “Gross ODA is the amount that a donor actually spends in a given year. This figure becomes net once repayments of the principal on loans made in prior years (but not interest) are taken into account, as well as offsetting entries for forgiven debt and any recoveries made on grants. In some cases, repayments exceed gross amounts, which is why net figures sometimes appear as negative values.” (“Frequently Asked Questions - OECD”, [s.d.])

elaborado pelo Correlates of War (COW) (http://cow.dss.ucdavis.edu/data-sets/national- material-capabilities). Ele pondera seis indicadores comumente associados com o hard power de um país: (i) população total, (ii) população urbana, (iii) produção de ferro e aço, (iv) consumo de energia, (v) efetivo militar, e (vi) gasto militar. O índice é calculado tomando a parcela de cada país no total mundial daquele componente (e.g.: (i) percentual da população total do país em relação à população total do planeta), somando todos os seis componentes e dividindo-os por seis.64

Infelizmente esse indicador não pôde ser utilizado neste trabalho visto que ele só vai até o ano 2012, em sua versão mais recente. Ademais, ao combinar seis componentes distintos, o indicador engloba diversos aspectos da capacidade de cada país, não somente poderio militar, acarretando problemas de multicolinearidade quando posto ao lado de outras variáveis. Para que ele seja aplicável ao meu recorte, é preciso editá-lo. Mais especificamente, duas adaptações são necessárias: aumentar o número de anos disponíveis através de fontes de dados alternativas; e minimizar o número de componentes para reter apenas variáveis relativas à atividade militar. Assim, para este estudo, calculo minha própria versão do CINC, tentando ser tão fiel quanto possível ao índice original enquanto o expando para incluir anos mais recentes. Para tanto, recolho dados de várias fontes e os combino seguindo a fórmula original do CINC.

Dois seis componentes originais, os que escolhi manter foram gasto militar e efetivo militar, dado que estão mais intimamente associados à defesa – ao passo que os demais componentes, embora relevantes para a segurança nacional, tendem a se correlacionar com a riqueza do país também. Utilizei dados do Banco Mundial65 para efetivo militar.66 Para gastos militares, consultei a base Military Expenditure Database do Stockholm Institute Peace

Research Institute (SIPRI). Ambas as fontes foram complementadas quando necessário pelos

relatórios anuais The Military Balance publicado pelo International Institute for Strategic

Studies (IISS). 64 Formalmente: 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑝𝑝= �𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑝𝑝 𝑇𝑇� + � 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑝𝑝 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑇𝑇� + � 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑝𝑝 𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑇𝑇� + � 𝐶𝐶𝑃𝑃𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑝𝑝 𝐶𝐶𝑃𝑃𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑇𝑇� + � 𝐶𝐶𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝑝𝑝 𝐶𝐶𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝑇𝑇� + � 𝐺𝐺𝐺𝐺𝐶𝐶𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝑝𝑝 𝐺𝐺𝐺𝐺𝐶𝐶𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝑇𝑇� 6

Onde “Popul” = população total, “PopUrb” = população urbana, “ProdFA” = produção de ferro e aço, “ConsEn” = consumo de energia, “EfetMil” = efetivo militar, “GastMil” = gastos militares. Os subscritos significam “p” = valores para o país, e “T” = valores do total mundial.

65 Os dados foram obtidos através do pacote “WDI” para R (AREL-BUNDOCK, 2018a)

66 Definição do indicador: "Armed forces personnel, total: Armed forces personnel are active duty military personnel, including paramilitary forces if the training, organization, equipment, and control suggest they may be used to support or replace regular military forces." (WB, http://data.worldbank.org/indicator/MS.MIL.TOTL.P1 10-04-17)

Outro ajuste concerniu os totais globais. Como estou interessado em polaridade

regional, não dividi pontuações dos países pelo total mundial, mas apenas pelo total regional.

Isto demonstra quanto cada país detém do total de recursos de poder material disponíveis na região. Foi calculada a média aritmética desses percentuais de cada país nos dois componentes. Formalmente, corresponde à Equação (1) abaixo:

𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑝𝑝= �𝐶𝐶𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃 𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝐸𝐸𝐸𝐸𝐺𝐺𝑃𝑃𝐶𝐶𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃 𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝐸𝐸𝐸𝐸𝐺𝐺𝑃𝑃𝑝𝑝 𝑅𝑅� + � 𝐺𝐺𝐺𝐺𝐶𝐶𝐸𝐸𝑃𝑃𝐶𝐶 𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝐸𝐸𝐸𝐸𝐺𝐺𝑃𝑃𝐸𝐸𝐶𝐶𝑝𝑝 𝐺𝐺𝐺𝐺𝐶𝐶𝐸𝐸𝑃𝑃𝐶𝐶 𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝐸𝐸𝐺𝐺𝐸𝐸𝐸𝐸𝑃𝑃𝐸𝐸𝐶𝐶𝑅𝑅� 2 (1) Os subscritos representam:

“p” = valores para cada país; “R” = total regional.

Com o índice CINC recalculado, a variável de interesse será a diferença de poder material entre a PR e os países vizinhos. Como comentado por Mourón & Urdinez (2014), para que o poder seja operacionalizado como um fenômeno relacional, é preciso levar em conta a quantidade de recursos de poder detidos por ambos os países interagentes, de modo a ver quão ampla é a distância entre eles. Assim, a variável gap de poder será calculada subtraindo a pontuação CINC de cada seguidor regional daquela de sua PR correspondente para o mesmo ano. O procedimento equivale à Equação (2) abaixo:

𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 𝐺𝐺𝑃𝑃𝑃𝑃𝑆𝑆 = 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐿𝐿  −  𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝑆𝑆 (2)

Onde:

“L” = a pontuação CINC do líder regional; “S” = a pontuação do seguidor.

Nesta equação, valores mais baixos representam multipolaridade, enquanto valores altos, unipolaridade.

3 Dependência comercial

Juntamente com defesa, a integração comercial tem sido uma das principais lentes através das quais se busca entender o regionalismo (HURRELL, 1995). Também, as lógicas da interdependência complexa, sensitividade e vulnerabilidade são relevantes para elucidar política externa e liderança. A matéria-prima do poder e influência não se restringe a tropas e

divisões; dependência comercial é um pivô importante para o exercício da influência entre Estados (KEOHANE; NYE, 2001). Krapohl et al. (2014) argumentam que a interdependência das potências de suas regiões, por ser relativamente baixa, e também sua maior inserção nos mercados externos, motivam seu pouco entusiasmo pela integração regional. Ela também é considerada um determinante ligado à Hierarquia/Influência e será estimada pelo seguinte indicador:

3a Dependência comercial: calculada dividindo a corrente de comércio (importações +

exportações) entre o país parceiro e a PR pelo comércio total entre o parceiro e o mundo. Os dados indicarão quão dependente o país parceiro é do comércio com a PR. Os dados de comércio provêm novamente da UNComtrade, DOTS e agências nacionais.

4.2.2.3 Consenso

4 Solidariedade regional

A coesão regional é impactada pelo nível de convergência das preferências dos Estados (HURRELL, 1995). As preferências dos governantes são fundamentais em determinar se a cooperação regional será bem-sucedida ou não (ACHARYA; JOHNSTON, 2007). Trata-se de um determinante ligado ao aspecto Consensual da liderança. A solidariedade e proximidade entre chefes de Estado pode, portanto, ser um importante fator para antecipar se a PR tentará intensificar as relações com sua região e, também, se será bem aceita nisto. O regionalismo pós- liberal na América do Sul foi atribuído em parte ao ciclo eleitoral de governos de esquerda (SANAHUJA, 2012), enquanto que a duradoura divergência entre os grandes países árabes é uma das possíveis causas da tibieza dos esforços regionalistas (FAWCETT, 2011). Schenoni (2017a, p. 82) argumenta que distribuição de capacidades materiais e estabilidade interna são mais importantes que solidariedade ideológica na explicação do alinhamento político entre países em uma região, porém sem oferecer confronto direto entre o poder explicativo da ideologia contra aquelas variáveis. Visto que esta tese utiliza tanto polaridade quanto solidariedade regional como variáveis, posso verificar comparativamente a influência de cada fator. A solidariedade regional para com a PR é medida por:

4a. Distância/diferença ideológica entre chefes de Estado de países da região e o chefe de Estado da potência regional. “Ideologia” é um dos termos mais polissêmicos e difíceis a

operacionalizar em Ciências Sociais, tanto pela miríade de definições para o conceito (GERRING, 1999), quanto pelo fato que sua manifestação é distinta em contextos diferentes, e.g.: “esquerda” e “direita” fazem sentido para classificar governantes em um contexto sul- americano, mas não no Oriente Médio. Para esta tese, importa observar um atributo específico que cumpra dois critérios: (1) seja relativo ao chefe de Estado ou seu partido e (2) permita identificar grupos ou polos relativamente estáveis em cada região. Excluem-se, portanto, fatores demográficos ou históricos (e.g.: opinião pública, línguas oficiais, percentual de xiitas na população, etc.) que não variam com a troca de governante, e aqueles que não são úteis para definir a região em termos de polos ou campos aos quais cada Estado possa filiar-se. Assim, para cada região será proposto um indicador empírico próprio que permita posicionar os Estados em determinado campo ideológico.

4.2.2.4 Provisão

5 Estabilidade regional

A estabilidade é consistentemente apresentada na literatura como uma variável relevante na compreensão da liderança regional. É frequentemente considerada como um dos bens públicos que uma PR deve fornecer e, por essa razão, uma ordem regional estável é também tomada como um sinal da existência de liderança regional (SCHOEMAN, 2000). Isso significa que essa variável está relacionada à dimensão Provisão da liderança. A forma como esse conceito se traduz em followership, no entanto, não é inequívoca. À medida que um país mais fraco se torna instável, pode exigir um maior envolvimento da PR, o que é um sinal de que a liderança desta última é de fato reconhecida. A intervenção da PR (em lugar de uma organização internacional multilateral ou ainda uma potência ocidental) pode, dependendo da situação, ser percebida pelo país instável como mais legítima ou menos comprometedora.

Alguns autores, como Sandal (2014), revertem a seta causal e afirmam que as regiões não são estáveis por causa dos líderes, mas sim que as regiões quando estáveis reconhecem líderes. Por exemplo, uma PR como o Brasil, que privilegia o soft power ao invés do hard

power, é aceita como líder se e enquanto a América do Sul permanecer estável e livre de

conflitos. Ambientes mais hobbesianos devem ser menos receptivos a esse tipo de tutela e exigir, ao contrário, meios mais vigorosos de restaurar a ordem. Isso indica que, embora seja provável que um regime em vias de desestabilização requeira assistência externa, não está claro se o pedido será sempre direcionado ao poder local. É possível que esta variável interaja de

alguma forma com o envolvimento de potências extrarregionais ou com a polaridade regional, i.e.: se existem provedores alternativos de estabilidade que possam ser chamados. Pode-se, portanto, prever duas possibilidades: (a) países instáveis exibirão mais followership do líder regional; (b) países instáveis exibirão mais resistência ao líder regional, se provedores de segurança alternativos estiverem disponíveis. A estabilidade política será medida da seguinte forma:

5a. Estabilidade política. Medirei a estabilidade através do International Country Risk Guide (ICRG) publicado pelo Grupo PRS, versão Researchers Dataset. O guia mede o risco através de um sistema de pontos, em que altas pontuações equivalem risco pequeno, enquanto baixas pontuações indicam alto risco. A base monitora 22 componentes empíricos, agrupados em três categorias: política, financeira e econômica. Para esta pesquisa, utilizo apenas as observações relacionadas ao risco político. De acordo com o guia da metodologia do ICRG, as pontuações são atribuídas pela equipe do PRS, que coleta e analisa informações políticas e econômicas