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3. CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE GEOAMBIENTAL

3.2. CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE GEOAMBIENTAL DE MARÍLIA

3.2.3 RELEVO: hipsometria, declividade e orientação das vertentes

Com base na ordem taxonômica de classificação geomorfológica do relevo do Estado de São Paulo estabelecida por Ross (1992), de natureza conceitual, o sítio urbano em que se assenta a cidade de Marília se enquadra na Unidade Morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná (1° Taxon) que sustenta a Formação Marília, substrato rochoso do Planalto Residual e de relevo de Marília. A Unidade que compõe Morfoesculturalmente (2° Táxon) o complexo

139 paisagístico de Marília, assim como de São Carlos, é o Planalto Ocidental Paulista, mais precisamente no Planalto Residual de Marília (ROSS e MOROZ, 1996: 50).

Com uma paisagem de planaltos de altitudes médias de relevo talhado nas camadas sedimentares compõe o denominado Planalto Residual de Marília, cujas formas de relevo predominantes são as colinas com topos aplainados, convexos e tabulares; com altimetria variando entre 500 e 600m. De acordo com Santos (2009, p.48), a formação geológica que dá sustentação à morfologia do Planalto Residual de Marília é a Formação Marília (substrato rochoso) cujo tipo de relevo característico é os tabuliformes. Em relação a este tipo de relevo característico da unidade geomorfológica do Planalto Residual de Marília, destaca-se sua distinção, por exemplo, do Planalto Ocidental Paulista por dois motivos, o primeiro por uma litoestratificação geológica particular, que segundo Santos (2009) “varia de horizontal a sub-horizontal, por ser típico em centros de bacia, onde as camadas geológicas deixam de ser concordantes no plano inclinado para serem no plano horizontal” e o segundo de ordem climática por alternância de climas secos e úmidos associados à resistência litológica do arenito da formação Marília, por isso, este planalto em termos de gênese e formação, encontra-se em constante evolução.

De acordo com Sallum e Suguio (2006, p.387), as formações geológicas dominantes que afloram no Planalto Ocidental Paulista e no Planalto Residual de Marília são a Formação Serra Geral representada por um conjunto de derrames de basaltos, pertencente ao Grupo São Bento; Formações Caiuá (Rio Paraná, Goio Erê e Santo Anastácio), Santo Anastácio, Adamantina e Marília, pertencentes ao Grupo Bauru (formações Uberaba, Vale do Rio do Peixe, Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Marília) que se instalou sobre os derrames da Formação Serra Geral, e também os Depósitos Cenozóicos segundo Santos (2009, p.47).

Assim como desenvolvido para a área urbana e entorno rural próximo da cidade de São Carlos, para o recorte territorial de Marília também foi elaborada a carta de hispometria (Mapa 15), a carta de percentual de declividade (Mapa 16) e a carta de orientação das vertentes (Mapa 17), para análise específica dos setores geográficos urbanos da cidade.

A cidade de Marília surgiu no contexto nacional de expansão da atividade cafeeira rumo ao interior do Estado de São Paulo em busca de "terras novas" devido ao desgaste das

140 terras próximas ao litoral e fértil. A instalação da Cia. Paulista de Estradas de Ferro estimulou a ocupação da região acelerada pelo desenrolar dos trilhos.

A estrada de ferro percorre a malha urbana no sentido zona leste passando pelas zonas centro leste, centro norte até a zona norte, de onde se estende sentido Pompéia, Tupã. Neste caso, os trilhos da ferrovia não necessariamente foram instalados nos locais mais altos em termos de altitude, porém a maior parte dos trilhos está entre 630 e 660m de altitude, portanto, respeitando uma planificação do sítio urbano.

A área urbana de Marília, diferente do que ocorre na cidade de São Carlos, não possui uma ligação direta com a presença de afluentes e Córregos, mesmo porque, tal como se constitui a geologia e geomorfologia do Planalto Residual de Marília com relevo tabuliforme e escarpas abruptas, os vales das principais drenagens se esculturam nas rampas das escarpas e tálus.

A distribuição altitudinal ao longo dos setores geográficos em Marília possui característica interessante e bastante singular, com padrão geral de altitudes elevadas no centro e diminuição gradativa em direção às bordas das escarpas em todos os sentidos e zonas de expansão da área urbana. A partir disso, observa-se que a maior parte da zona sul, zonas centrais (na zona centro norte até a altura do bairro São Miguel) e zona oeste da malha urbana possui altitude superior a 660m, chegando a 690m de altitude, sendo, portanto, os setores geográficos urbanos mais altos. Em termos regionais, no Planalto de Marília as maiores declividades ocorrem no lado norte devido à constituição da bacia do Rio do Peixe, sendo que o lado sul apresenta menor declividade associado a bacia do Rio Paranapanema (SALLUM E SUGUIO, 2009, p.91).

A maior parte da malha urbana da cidade está localizada em cotas altimétricas de 630 a 660m, incluindo a zona norte, leste, oeste, zona central (centro norte, centro sul, centro leste) e zonal sul. Porém, a maior parte do traçado urbano da zona leste, locais próximos dos limites das escarpas no bairro Vila Nova e a maior parte dos bairros residenciais da zona norte, com exceção do bairro Distrito Industrial, parte do bairro Parque das Nações, Altos do Palmital e Santa Antonieta (nas proximidades da Avenida República) possui altitude inferior, de 600 a 630m. Nestas cotas altimétricas destacam-se os bairros Jânio Quadros, JK, Figueirinhas e bairro Santa Antonieta. Na zona leste destacam-se os bairros Aeroporto e Altaneiras. Na zona oeste alguns bairros como parte do Aquárius, São

141 Miguel e Bandeirantes apresentam altitudes de 600 a 630m que, em muitos casos, se justifica pela dinâmica de expansão da malha urbana e seu espraiamento na direção do centro (núcleo urbano inicial) para os limites mais íngremes do Planalto Residual, delimitado pelas escarpas e rampas de colúvio.

Os percentuais de declividade entre 0 - 5% são observados em todas as zonas de expansão da área urbana, notadamente onde se estabeleceram as principais Avenidas, Rodovias e Ruas da cidade de Marília, ou seja, as mais importantes vias de acesso em todos os vetores de expansão possuem os menores percentuais de declividade.

Quase a totalidade do tecido urbano está localizada em sítio com altitude entre 600 a 690m, sendo, desta forma, uma variação média de 90m. Entretanto, nesta variação ainda pode-se ressaltar que as cotas altitudinais predominantes no interior da malha urbana são de 600 a 660m. Nestas cotas altimétricas destaca-se a presença de declives em torno de 5 – 10% com aumento de forma gradual de 10 – 15%, ainda seguindo a tendência de aumento da declividade, neste caso no sentido dos centros das vias de acesso em direção aos limites das escarpas, gradualmente mais íngremes.

As demais cotas altimétricas inferiores a 600m estão vinculadas a pequenos bairros nos limites mais íngremes do planalto residual, exatamente nas bordas superiores das escarpas, sendo também locais de nascentes de Córregos e afluentes com presença de corpos d’água. Estes locais apresentam de 15 – 20% e superiores a 20% de declividade, principalmente nas curvas entre as escarpas onde se estabelecem os corpos d’água. As maiores declividades ocorrem nos limites do Planalto de Marília, associados aos morrotes alongados e espigões, escarpas festonadas e colinas médias (NUNES, 201271). A partir daí, com o aumento do grau de inclinação do relevo e do risco de ocupação, a declividade passa a ser um fator que delimita o desenho da malha urbana.

É neste contexto que o quadro natural da cidade de Marília passa a ser apropriado pelo mercado imobiliário na valorização dos espaços e segregação dos grupos sociais, materializados, de um lado, por loteamentos e condomínios fechados, e de outro pelo surgimento espontâneo de favelas delimitado pelas escarpas. No caso do padrão habitacional e forma de ocupação do solo nas extremidades íngremes da malha urbana de

71 Notas de aula ministrada pelo Prof°. Dr°. João Osvaldo Rodrigues Nunes, em atividade de campo na cidade de

Marília e Echaporã, na disciplina "Geomorfologia" junto ao Programa de Graduação em Geografia da FCT- UNESP Presidente Prudente, 2011.

142 Marília, de forma irregular e em áreas de risco a altitude chega a cotas de 540 a 570m, bastante inferiores aos níveis médios de altitude do restante dos setores geográficos urbanos, principalmente entre 600 e 660m.

As declividades superiores a 30% ocorrem nos limites das escarpas do Planalto de Marília e os vales das principais drenagens. Estes vales formam rampas junto à escarpa do Planalto de Marília, e geralmente apresentam-se recobertos por taludes que se formam de baixo para cima na dinâmica de deposição de materiais, denominadas “rampas de colúvios”.

As altitudes mais baixas no entorno da malha urbana variam de 540 a 400m e referem-se à diminuição um tanto quanto abrupta das cotas altimétricas no conjunto de escarpas que bordeiam as superfícies mais aplainadas do Planalto Residual de Marília. Em termos de declividade, é nos setores de menor altitude que o percentual de declive do relevo é muito acentuado, sendo superior a 40%, chegando a mais de 95%. A partir da declividade do relevo (Mapa 16) é possível observar a delimitação precisa das bordas das escarpas com alto percentual de declividade; além disso, observa-se que quase a totalidade da malha urbana possui declividade em torno de 0% a 15%, sendo superiores a 20% justamente nos limites e curvas entre as escarpas onde se estabelecem os cursos d’água.

A declividade é significativamente menor na porção superior do Planalto de Marília, e podem ser observadas superfícies de aplainamento principalmente em partes da zona sul e leste da malha urbana.

146 Com relação às características gerais de orientação das vertentes (Mapa 17) na área urbana de Marília, não é possível estabelecer um padrão de orientação exato de determinados setores geográficos para um sentido específico. Na verdade, configura-se uma divisão irregular e mista de orientações que de forma preliminar associam-se possivelmente a dois aspectos principais.

O primeiro aspecto suposto é que por não haver diferenças altitudinais de forma abrupta nas superfícies de aplainamento no Planalto Residual de Marília, se restringindo as bordas com alto percentual de declividade e variação significa de cotas altimétricas, a orientação das vertentes pode se estabelecer sem um padrão específico. O segundo aspecto se vincula a possível influência direta das escarpas (com declividade superior a 90% no entorno da malha urbana) no imageamento da área pelo sensor do satélite Landsat72 que pode ter comprometido a captação da radiação de superfície na banda específica deste tipo de aplicação do sensoriamento remoto passivo.

De qualquer forma, é possível observar a distribuição de faixas do relevo no sentido leste-oeste com orientação das vertentes voltadas para o norte e nordeste, muito próximas aos setores geográficos orientados a leste. As vertentes para sul e sudoeste também se distribuem neste mesmo sentido leste-oeste nas imediações das vertentes norte-noroeste. As demais orientações definidas na carta se apresentam de forma pontual e heterogênea dificultando a definição de padrões de distribuição no conjunto da malha urbana.

Em suma, na cidade de Marília a constituição geológica e geomorfológica do Planalto Residual são fatores primordiais no entendimento da variável altitude e declividade nos setores geográficos urbanos da cidade e, principalmente, explicam a forma de ocupação e expansão urbana que se desenvolveu e ainda se desenvolve a partir dos topos em direção as bordas das escarpas.

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