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CENÁRIOS POSSÍVEIS

2 ÁFRICA NO SISTEMA INTERNACIONAL: ESTRUTURA, AGÊNCIA E ‘DEPENDÊNCIA’

2.4 RENASCIMENTO E REAFIRMAÇÃO DA ÁFRICA (2000-2017)

O processo de reforma OUA teve início em 1999 em Argel na Cúpula da OUA e contou com a participação de todos os países africanos, com exceção do Reino de Marrocos. Com objetivo de analisar e discutir as propostas de reforma apresentadas por Pretória, Abuja e Trípoli, foi realizado uma Cúpula Extraordinária em Sirte, em setembro do mesmo ano.

Um dos projetos, defendido pelo líder líbio, que acabou sem apoio dos outros líderes africanos, propunha a criação dos Estados Unidos da África através da união política e econômica dos países africanos, com um presidente continental, moeda e exército únicos. Em contraponto à proposta de Kadafi, Mbeki e Obasanjo defendiam mudanças menos profundas. Obasanjo propunha uma instituição mais efetiva quanto às questões de segurança, com capacidade de intervenção e relegando a segurança do continente aos países africanos – o que condizia com suas preocupações regionais no período. Já Mbeki refletia as preocupações da economia sul-africana e, com o respaldo

do Renascimento Africano, tentava ampliar as plataformas de financiamento externo da África – defendendo que, para tanto, era necessário mudar a imagem internacional do continente (ADEBAJO, 2008; TIEKU, 2004). Os líderes africanos, tentando acomodar as propostas de reforma apresentadas em Sirte, decidiram substituir a OUA pela União Africana (UA), bem como elaborar um Ato Constitutivo, a ser ratificado até o ano 2000. No ano seguinte, em Lomé, Togo, quando da realização Cúpula Ordinária da OUA, vinte e sete Chefes de Estados africanos assinaram o Ato Constitutivo da UA, tendo os demais assinado até 2002 (ADEBAJO, 2008; LANDSBERG, 2010).

Em Durban, na África do Sul, em julho de 2002, a Organização da Unidade Africana foi formalmente substituída pela União Africana. A UA surgiu com objetivo de reunir uma vasta quantidade de instituições sub-regionais, capazes de promover cooperação e integração continentais, fomentar a relação entre os países nos âmbitos social, econômico e político - diminuindo a probabilidade de conflitos entre os Estados membros -, e estabelecer um aparato institucional que permitisse a participação efetiva dos países africanos no mercado internacional, nas negociações financeiras, entre outros (BADMUS, 2015; TIEKU, 2004).

Além disso, foram lançadas diversas iniciativas complementares no âmbito da economia, da governança e de segurança. Na esfera econômica, destaca-se o lançamento, em 2001, da Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano (NEPAD), um plano de desenvolvimento para a África com uma abordagem dos problemas africanos diferenciada daquela das instituições financeiras internacionais, responsável por uma reinserção do continente nos debates pelo seu próprio desenvolvimento (AKOKPARI, 2001; LANDSBERG, 2008). No âmbito da governança, destaca-se, nesse sentido, a criação do Mecanismo Africano de Avaliação Paritária (MAAP), iniciativa para promoção da paz, democracia e governança baseada em mecanismos voluntários e auto-impostos (ADEDEJI, 2008). No campo da segurança, foram criados diversos mecanismos, dentre os quais se destacam o Conselho de Paz e Segurança da União Africana (PSC), formado por 15 países membros e responsável pelas questões de paz e segurança do continente e a Força Africana de Pronto Emprego (ASF), constituída por cinco brigadas regionais de intervenção (MAKINDA; OKUMU, 2008; MWANASALI, 2008).

Após passar por duas décadas de instabilidade política, problemas socioeconômicos e marginalização, a África deu sinal de estabilidade e emergiu como uma nova fronteira comercial e de investimentos e como objeto de interesses

geopolíticos, econômicos e estratégicos por parte das potências tradicionais e emergentes, aumentando significativamente a sua importância no cenário internacional (OLIVEIRA; CARDOSO, 2015). Em grande medida, esse novo momento vivenciado pela África está diretamente ligado ao rápido crescimento que a maioria das economias africanas teve nas últimas décadas (em média 5.7% a.a.). Este crescimento é resultado da combinação entre aumento dos preços de commodities internacionais (petróleo e alimentos), incremento significativo dos Investimentos Externos Diretos (IED) e aumento do consumo das populações (CALLAGHY, 2009; CASTELLANO, 2013; GORDON, 2013; UNECA, 2016).

Desde o início dos anos 2000, o IED aumentou em mais de 400% e houve novas descobertas de reservas de petróleo e gás em todo o continente (ROXBURGH et al., 2010). O aumento do consumo das populações se deve, em parte, ao aumento do acesso a produtos de menor preço vindo de mercados emergentes, como China, e por uma expansão das classes médias, que hoje já correspondem a 34% da população do continente. Atualmente, a maioria dos países do continente encontra-se em um processo de transição, em que as classes médias ocupam de 21 a 50% da população (CASTELLANO, 2013; VISENTINI, 2013a).

No âmbito securitário, a partir dos anos 2000, através de arranjos políticos do tipo power-sharing (distribuição de poder), assistiu-se ao encerramento gradual de diversos conflitos armados de grande intensidade no continente africano. Isto é, os grupos insurgentes abandonaram as armas e foram acomodados no sistema político (como partidos políticos) e nas instituições estatais (como as Forças Armadas). Assim, em Angola, após a morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, a longa guerra civil foi encerrada em 2002; na R.D. Congo, em 2003, foi assinado o acordo de paz que pôs formalmente fim à “Guerra Mundial Africana”; na Libéria foi estabelecido um Acordo de Paz Abrangente, em 2003; no Burundi, o acordo de paz foi assinado em 2003; na Costa do Marfim, a guerra foi encerrada em 2007; e no Sudão, após um longo e intenso período de negociação, foi assinado um Acordo de Paz Abrangente (CPA), que colocou o fim à Segunda Guerra Civil (ADEBAJO, 2013; BURBACK; FETTWEIS, 2014; FRANCIS, 2006; TULL; MEHLER, 2005; WILLIAMS, 2014). Em alguns desses países houve estabilidade pós-conflito (Angola, Libéria, Serra Leoa), em outros,

todavia, permaneceu o chamado “Estado de Violência” (R. D. Congo, Costa do Marfim)47.

Isso somou-se a um maior engajamento da nova organização continental (UA), a qual abandonou a retórica de “não-intervenção nos assuntos internos dos Estados- membros”, que caracterizou a atuação da sua predecessora (OUA), e adotou uma postura mais proativa, com um arcabouço conceitual mais elaborado, e uma estrutura institucional mais preparada para assumir a responsabilidade pela estabilização do continente (CARDOSO, OLIVEIRA, 2015; MWANASALI, 2008), imprimindo uma nova dinâmica de segurança no continente. Desde a sua criação, a UA buscou dar respostas mais assertivas aos desafios de segurança na região através de estabelecimento de mecanismos de prevenção, mediação e desdobramentos de missões de paz, como a

African Union Mission in Burundi (AMIB) em 2003, a African Union Mission in Sudan

(AMIS) em 2004 e a African Union Mission in Somalia (AMISOM) desde 2007(BADMUS, 2015; BURBACK; FETTWEIS, 2014).

Apesar de apresentarem sérias limitações de recursos (financeiros, materiais, humanos e logísticos), estas operações de paz foram de extrema importância para legitimidade da UA como o principal ator continental para questões de segurança. Ainda que a missão no Burundi tenha sido um sucesso, e que ainda seja difícil fazer uma avaliação da missão na Somália, é fundamental ressaltar que a AMIB e a AMIS foram fundamentais para o envolvimento das Nações Unidas nos conflitos na Libéria e no Sudão (Darfur) (CARDOSO, OLIVEIRA, 2018). Nesse contexto, a AMIB foi substituída pela United Nations Operations in Burundi (ONUB) em 2004 e a AMIS foi substituída em 2007 por uma missão híbrida conduzida conjuntamente pela ONU e pela UA, a United Nations African Union Mission in Darfur (UNAMID) (BADMUS, 2015; BURBACK; FETTWEIS, 2014).

Embora tenha ocorrido um grande avanço no processo de gerenciamento das crises políticas e na resolução dos conflitos armados, assim como o continente passou a dar sinais de estabilização, ainda existem focos de disputas e instabilidades em algumas regiões. Destacam-se as recentes conflagrações no Sudão do Sul, na R.D. Congo, na

47 Existe uma ampla literatura (TULL; MEHLER, 2005; TOFT, 2010) que avalia a eficácia dos arranjos de power-sharing na estabilidade pós-conflito. Para Igor Castellano “[...] [as] guerras civis que são encerradas sem uma definição militar (superioridade militar de um dos lados), mas exclusivamente por acordos de paz (power sharing), geralmente são implantados mecanismos frágeis de distribuição de poder e de pacificação das forças em conflito que em alguns casos não garantiram a estabilidade

Somália, na Líbia, no Mali e na Costa do Marfim, bem como as recentes crises políticas na Gâmbia, Guiné Bissau, Burundi e em Burkina Faso.

Outro aspecto que caracteriza o renascimento africano é a inserção das potências emergentes, como China, Índia e Brasil, no continente, a partir dos anos 2000 (TAYLOR; WILLIAMS, 2004; TAYLOR, 2014). Para Visentini (2013a), as carências de infraestrutura, de capacitação técnica e de investimentos em geral e os mercados consumidores dos países africanos se apresentaram, não só como oportunidades de negócios interessantes – tanto para os emergentes, quanto para os africanos –, mas igualmente como uma oportunidade para a “emergência de um novo paradigma socioeconômico [...] de projetos políticos, diplomáticos e sociais alternativos” (VISENTINI, 2013a, p.10).

A China, em particular, ao longo da década de 1990, na tentativa de contornar o isolamento internacional promovido pelo Ocidente após os incidentes na Praça da Paz Celestial, em 1989, e buscando novos fornecedores de matérias-primas para sustentar o seu rápido crescimento econômico e mercados para seus produtos industrializados, desenvolveu uma política de (re)aproximação com o continente africano, estabelecendo programas de ajuda com diversos países. Desde o estabelecimento do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) em 200048, aumentou o fluxo de IED e de comércio da China com África, tornando o país asiático um dos principais parceiros comerciais do continente africano49 (o comércio China-África ultrapassou US$ 220 bilhões em 2014) (EOM; BRAUTIGAM; BENABDALLAH, 2018; TAYLOR, 2014; VISENTINI, 2013a).

Podemos destacar diversas iniciativas, impulsionadas pela consolidação desta interação, com impactos significativos no continente: primeiro, o governo chinês ampliou a ajuda internacional para o continente, com capacitação de profissionais, cooperação técnica, ajuda humanitária, entre outros; segundo, o desenvolvimento de

48 O FOCAC foi oficialmente lançado em 2000, em uma conferência ministerial realizada em Pequim, que reuniu Chefes de Estado e de Governo africanos, representantes do setor privado e de organizações regionais e internacionais. O funcionamento do Fórum se dá por meio de conferencias ministeriais, de frequência trienal, que ocorrem alternadamente em Pequim e em um país africano. Nessas conferências são anunciadas, na forma de Planos de Ação, as orientações programáticas da cooperação China e países africanos nos três anos posteriores à realização do Fórum. A segunda Cúpula do FOCAC ocorreu em 2003 em Adis Abeba (Etiópia); a terceira em 2006 em Pequim; a quarta em 2009 em Sharm-El-Sheikh (Egito); quinta em 2012 em Pequim; sexta em 2015 em Johanesburgo (África do Sul) e a sétima em 2018 em Pequim (EOM; BRAUTIGAM; BENABDALLAH, 2018; VISENTINI, 2013a).

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Em 2009, Pequim ultrapassou os EUA tornando-se o segundo maior parceiro comercial do continente, atrás apenas da UE (EOM; BRAUTIGAM; BENABDALLAH, 2018).

infraestrutura do continente tem progredido substancialmente, com a construção de prédios públicos, usinas de produção de energia, estradas, escolas e centros de desenvolvimento agrícola, hospitais, etc; terceiro, os IED da China têm impulsionado Zonas Econômicas Especiais e Zonas de Livre Comércio em diversos países africanos, compensando a perda de empregos decorrente das exportações chinesas (BURBACK; FETTWEIS, 2014; PAUTASSO, 2016; VISENTINI, 2013a).

No âmbito securitário, a China assinou diversos acordos de cooperação segurança e defesa com diversos países africanos. Além disso, Pequim se transformou em um importante contribuinte de tropas (TCCs) para as operações de paz da ONU no continente africano. Atualmente o país possui cerca de 1835 contingentes (civis e militares) em quatro das sete missões de paz da ONU na África - MINURSO (Saara Ocidental), MINUSMA (Mali), UNAMID (Darfur), UNMISS (Sudão do Sul). Desde 1999, contingentes chineses participaram de outras seis missões de paz das Nações Unidas na África, a saber, MONUC na RDC (1999-2010), UNAMSIL na Serra Leoa (1999-2005), UNMEE na fronteira entre a Etiópia e a Eritreia (2000-2008), UNMIL na Libéria (2003-2018), UNOCI na Costa do Marfim (2004-2017) e UNMIS no Sudão (2005-2011) (BARTON, 2018; DPKO, 2018; HE, 2018).

Nesse mesmo período, especialmente, a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001, assistiu-se a renovação dos interesses das potências tradicionais, como os EUA, Reino Unido e França, no continente. Com a declaração da Guerra Global contra o Terror em 2002, a África, principalmente as regiões do Chifre, Sahel e Magreb, foi vista pelo governo estadunidense como estratégica para o combate ao terrorismo internacional. Assim, a partir de 2002, os EUA lançaram diversos programas, como a Operação Liberdade Duradoura – Chifre da África (CJTF-HOA), a Parceria Regional Contra terrorista para o Leste da África (PREACT), a Iniciativa Pan Sahel (PSI), a Iniciativa Contraterrorista Trans-Shariana (TSCTI), entre outras, com objetivo de combater grupos terroristas nestas regiões (ADEBAJO 2013; SCHMIDT 2013). Em 2008, foi estabelecido o Comando dos Estados Unidos para a África (AFRICOM), responsável por operações, exercícios, capacitação dos soldados e cooperação securitária com os países africanos (VISENTINI, 2013a).

A região do Chifre da África, em particular, se transformou num importante alvo de operações contra-insurgência estadunidenses no continente africano, pós-11 de setembro; pois, além de estar próxima do Oriente Médio, foi também a região onde a rede terrorista al-Qaeda iniciou as suas operações em grande escala (com os atentados

em Nairóbi e Dar es Salaam em 1998). Esta nova percepção de ameaça baseia-se numa confluência de fatores característicos da região, como as atividades de grupos radicais islâmicos, o potencial desagregador dos Estados fracos/falidos, as parcelas de territórios não governados e a ideia de que tais características serviriam como atrativos para refúgio e recrutamento de organizações terroristas, sobretudo para a rede al-Qaeda (CARDOSO, 2016; SCHMIDT 2013).

Houve um incremento das relações bilaterais entre os Estados Unidos e os países da região. Para os Estados que já eram aliados - Etiópia, Djibuti, Quênia e Uganda - a GWoT representou a consolidação de suas relações com os EUA. Em relação aos países com os quais os EUA haviam se mantido antes relativamente afastados, como Sudão e Eritreia, estes tiveram suas relações com Washington subitamente transformadas. O Sudão, transformado em pária internacional (rouge State) na década 1990, acabou beneficiando-se da GWoT, ao ser reintegrado à comunidade internacional após a suspensão das sanções (FISHER; ANDERSON, 2015). Cartum tornou-se um aliado importante dos Estados Unidos na região na luta contra o terrorismo, uma vez que passou a usar suas conexões e a fornecer informações ao governo norte-americano (CARDOSO, 2016; SCHMIDT 2013).

Além de questões militares, a presença das potências globais no continente, principalmente, após a crise financeira internacional de 2008, é incentivada pelo acesso e/ou controle de recursos naturais e energéticos. Os Estados Unidos, por exemplo, buscam reduzir a sua dependência do petróleo do Oriente Médio, região caracterizada por instabilidades latentes. As estratégias adotadas pelas potências europeias são semelhantes – intensificaram a presença militar e buscaram incrementar o intercâmbio comercial (TAYLOR, 2010; VISENTINI, 2013a).

Apesar dos avanços significativos verificados no continente nas últimas décadas, todavia, há desafios importantes para um maior dinamismo das relações interafricanas contemporâneas. Pode-se citar, a distribuição irregular da população no continente, o que tende a gerar centros urbanos muito populosos e zonas rurais/interioranas pouco habitadas (HERBST, 2000); o déficit de infraestrutura (de transporte – rodovia e ferrovia -, energia,... ), tende gerar baixo comércio intra-africano (hoje se situa em torno de 12% do comércio total); a intervenção unilateral das potências extrarregionais (EUA, Reino Unido e França) na agenda política e de segurança africana (CASTELLANO, 2013).

Igualmente, no que se refere à UA, é válido ressaltar que, ainda que a sua estrutura institucional e o arcabouço conceitual sejam significativamente mais abrangentes e avançados que os de sua antecessora, a organização apresenta igualmente sérias limitações de recursos – financeiros, materiais, humanos e logísticos – o que contribui para que se mantenha dependente não só do auxílio, mas também da disposição e dos interesses de atores extracontinentais para poder assegurar a paz e a estabilidade no continente. Fica claro, assim, que a União Africana precisa intensificar seus esforços e encontrar um meio de superar suas limitações – especialmente financeiras –, sob pena de, em caso contrário, seguir tendo sua atuação limitada por interesses (ou pelo desinteresse) de atores extracontinentais. Nesse sentido, inciativas como a Reforma Institucional da UA, liderada pelo presidente de Ruanda, Paul Kagame, que foca o aumento das contribuições dos Estados membros, de forma a garantir a independência financeira da Organização, são de fundamental importância. Resta saber se elas conseguirão efetivamente atingir seus objetivos (APUULI, 2018; CARDOSO; OLIVEIRA, 2018).

Embora ainda existam desafios importantes, o que se percebe, a partir dos anos 2000, é uma maior capacidade dos países africanos de adotar um posicionamento mais assertivo na política continental e mundial, o que tem sido acompanhado por ações concretas em diversos campos, como as missões de paz conduzidas por esses países no âmbito da UA (AMIB, AMIS e AMISOM) e, projetos como o Programa para o Desenvolvimento de Infraestrutura em África (PIDA), que visa resolver o déficit de infraestruturas no continente, a Agenda 2063 e a Área de Livre Comércio da África (AfCFTA)50. Assim, nota-se uma maior articulação dos países nos fóruns continentais e sub-regionais na busca por soluções mais assertivas para os problemas estruturais e conjunturais do continente.

50 A AfCFTA foi lançada em março de 2018, durante a Cúpula da UA em Kigali, com o objetivo de incrementar o comércio intra-africano e o peso do continente no comércio mundial. Em Kigali, o acordo foi assinado por 44 países africanos. Em junho, durante a cúpula da UA em Nouakchott, África do Sul, Burundi, Lesoto, Namíbia e Serra Leoa também assinaram o acordo para o estabelecimento da AfCTA. Nesse sentido, apenas a Eritreia, Guiné Bissau, Libéria e Nigéria ainda não assinaram o documento, que precisa de 22 ratificações para entrar em vigor. Até o presente momento, 21 países já ratificaram o documento.