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CAPÍTULO 3. Metodologia

4.3 Representação conceitual da UTC 17 [contrato pedagógico]

No texto da Francisco (1999) “Autoridade e contrato pedagógico em Rousseau”, utilizado para formulação do conceito da UTC ‘contrato pedagógico’, não apresenta a entidade estrutural ‘ser’ de modo explícito; por outro, as cláusulas do contrato pedagógico apresentam a entidade estrutural ‘servir’, mais precisamente na cláusula da utilidade:

O que Rousseau pretende com ela é somente captar a essência da relação

pedagógica e da autoridade docente [...]. Essa essência pode servir assim

como modelo a partir do que poderíamos aferir se estamos tomando corretamente nossa prática e entendendo bem o sentido de nossa autoridade (FRANCISCO, 1999, p. 110).

Em outras partes do texto, o contrato pedagógico é o resultado de uma relação a partir de outras cláusulas, quer dizer, a partir de outras regras:

as regras dessa relação devem ser vistas com objeto de contrato, isto é, do mútuo e livre acordo entre as partes envolvidas. Somente assim essas partes poderão ter obrigações e vantagens, ou deveres e direitos, consciente e livremente acordados, sabendo de antemão o que podem ou não podem esperar um do outro, o que podem não podem fazer com o outro (FRANCISCO, 1999, p. 104).

Essas regras são entendidas como: cláusula do comando e obediência, cláusula do comando no interesse e vantagem do aluno, cláusula afetiva e cláusula do compromisso, como atestam os próximos excertos:

O contrato pedagógico está fundado na diferença básica que existe entre duas partes contratantes. Uma, o mestre, sendo superior em forças, conhecimentos e experiências, e outra, o aluno (uma criança ou adolescente), sendo inferior, naqueles mesmos aspectos (grifos nossos).

Está fundada também no fato de que esse último, em diferentes graus segundo a faixa etária, precisa da condução do primeiro em seu processo de

desenvolvimento, isto é, da aquisição de forças, conhecimentos e experiências. A primeira e central cláusula desse contrato será, então, a de que na relação pedagógica um deve conduzir, isto é, comandar, e o outro deve ser conduzido, isto é, obedecer (FRANCISCO, 1999, p. 105).

O comando e a obediência são justificados:

a condução e o comando pelo mestre é algo somente temporário e admitido apenas e tão-somente porque tem como finalidade construir no aluno a capacidade de autocondução[...], que o mestre exerça seu comando no

interesse e vantagem do aluno, quer dizer ordenar apenas aquilo que seja bom para o aluno do ponto de vista de seu desenvolvimento, de seu crescimento, da construção de sua autonomia, de sua promoção (grifos

nossos) (FRANCISCO, 1999, p. 106-108).

Como também é justificada a causa da afetividade:

Por outro lado, o mestre não poderia desdobrar todas as pesadas exigências do contrato se não tivesse uma espécie de respeito, e estima por seu aluno [...], é possível na presença de uma relação de estima e respeito pelo outro. Essa estima e respeito correspondem precisamente à ligação afetiva e à dimensão ética, intrínsecas ao contrato pedagógico (FRANCISCO, 1999, p. 111).

Se nas cláusulas do contrato pedagógico a entidade estrutural ‘servir’ aparece de forma explícita; por sua vez, a entidade estrutural ‘ser’ é passível de inferência:

Se um mestre porventura deixar de cumprir seus deveres no pacto, o aluno estará em pleno direito de lhe retirar toda a autoridade [...]. Essa hipótese poderá ocorrer, por exemplo, quando o professor pretende apenas ter autoridade – isto é, exigir que o aluno cumpra sua obrigação no contrato - sem, entretanto, estar fornecendo a contrapartida, cumprir sua parte no pacto (grifo nosso) (FRANCISCO, 1999, p. 113-114).

Observamos que Francisco (1999) limita-se a explicar as cláusulas do contrato, mas ela não faz uma representação conceitual adequada do termo ‘contrato pedagógico’. Por isso, precisamos responder: o que é X? E conforme os dados, inferimos o quadro 31:

Quadro 31

TERMO + É DEFINIÇÃO

Para completarmos a definição canônica ‘contrato pedagógico é pacto’ com a definição pragmática, é preciso utilizar as proposições instrumentais contidas nos trechos que transcrevemos das cláusulas. Consequentemente, ao acrescentarmos ao quadro 31 as proposições factitivas e resultativas, obteremos o quadro 32:

Quadro 32

TERMO É DEFINIÇÃO

Contrato pedagógico = Pacto entre professor e aluno regido por cláusulas, que visa regular as relações existentes durante um período limitado, suscitando direitos e deveres recíprocos em relação ao processo de ensino e ao processo de aprendizagem. Ver contrato didático.

Como resultado:

Termo [X] Proposição formal, resultativa e factitiva [Y]

Contrato pedagógico Pacto regido por cláusulas, que visa regular as relações existentes entre professor e aluno durante um período limitado, suscitando direitos e deveres recíprocos em relação ao processo de ensino e ao processo de

aprendizagem.

Ao reescrevermos o resultado conforme o quadro 27 e 30, visualizaremos o quadro 33: Quadro 33

UTC Definição Autor, ano, página. 17 Contrato

pedagógico

Pacto entre professor e aluno regido por cláusulas, que visa regular as relações existentes durante um período limitado, suscitando direitos e deveres recíprocos em relação ao processo de ensino e ao processo de aprendizagem. [Adaptado de Francisco, 1999, p. 103-113]. Ver Contrato didático.

Francisco, 1999, 17- 111

No contexto em que ocorre a forma ‘contrato pedagógico – foram registradas 12 ocorrências – há permanência da forma e do conteúdo; contudo, em outro contexto, registramos uma forma diferente com o mesmo arquitermo contido no quadro 32:

As afirmações de Bachelard (1989) ajudaram-me a perceber que tal como ocorre em outras ciências, na Pedagogia também nos deparamos com obstáculos epistemológicos, à espera de novas análises e superação. Um desses obstáculos poderia ser o conceito de contrato didático utilizado no cotidiano escolar, como o pacto entre dois parceiros - professor e aluno – (grifos nossos) para a efetivação do ensino e da aprendizagem em determinado programa de aprendizagem. (PINTO, 2003, p. 2).

Assim, as proposições grifadas, mais a entidade estrutural ‘ser’, produz o que apresentamos no quadro 34:

Quadro 34

TERMO + É DEFINIÇÃO

Contrato didático = Pacto entre professor e aluno

Em que:

Termo [X] Proposição formal [Y]

Contrato pedagógico é pacto entre professor e aluno Contrato didático é pacto entre regular professor e aluno

Assim, o arquitermo ‘pacto’ é complementado pela expressão “entre professor e aluno”. No entanto, “Contrato pedagógico visa as trocas entre professor e aluno durante um período limitado que suscita direitos e deveres recíprocos” (JONNAERT; BORGTH, 2002, p. 1). Nesse caso, a inferência com ‘serve’ cabe na compreensão conceitual, como mostramos na quadro 35:

Quadro 35

TERMO Serve para DEFINIÇÃO

Contrato pedagógico = Regula as relações existentes entre professor e aluno durante um período limitado, suscitando direitos e deveres recíprocos.

A reescrita da definição da tabela 34 complementada com a definição da tabela 35 tem como resultado:

Termo [X] Proposição formal, resultativa e factitiva [Y]

Contrato pedagógico Pacto entre professor e aluno regido por cláusulas, que visa regular as relações existentes durante um período limitado, suscitando direitos e deveres recíprocos em relação ao processo de ensino e ao processo de aprendizagem.

Contrato didático Pacto entre professor e aluno regido por cláusulas, que visa regular as relações existentes durante um período limitado, suscitando direitos e deveres recíprocos em relação ao

processo de ensino e ao processo de aprendizagem. O resultado reescrito de acordo o quadro 27, 30 e 33, é apresentado no quadro 36: Quadro 36

UTC Definição Autor, ano, página. 17 18 Contrato pedagógico Contrato didático

Pacto entre professor e aluno regido por cláusulas, que visa regular as relações existentes durante um período limitado, suscitando direitos e deveres recíprocos em relação ao processo de ensino e ao processo de aprendizagem.

Francisco, 1999, 17-111

Jonnaert; Borgth, 2002, 1 Pinto, 2003, 2

Ao seguir a linha de raciocínio de Faulstich (2003), afirmamos que o quadro 35 apresenta a palavra ‘contrato’ que possui um significado abrangente e da língua comum, que se organiza por meio de argumentos que lhe atribuem o caráter particularizante de especialidade da área de Pedagogia. As figuras 10 e 11 mostram-nos a visualização desse fenômeno:

[[Contrato] pedagógico] A B Figura 10 [[Contrato] didático] A B Figura 11

As figuras 10 e 11 apresentam a variação lexical que decorre da comutação de reoperadores de significado, sem que haja prejuízo conceitual porque a comutação não modifica a representação conceitual. Com isso, a UTC 17 atinge a exaustão semântica e mostra uma imagem adequada da realidade quando recebe a definição contida no quadro 35.

4.4 Representação conceitual das UTCs 24 [educação formal] 27 [educação não-formal]