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5 FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO:

5.1 Conselhos Municipais de Educação na Paraíba: comparando dados

5.1.4 Representação dos conselheiros

Compreendendo os CME como espaços de aprendizagem da democracia participativa e órgãos que representam a sociedade civil, a discussão sobre a importância da representação neste colegiado deve ser urgente, pois necessária. Entendemos que os representantes determinam, em grande parte, a qualidade do funcionamento dos Conselhos e sua capacidade de controlar os interesses do Executivo. E neste caso, a representação também pode ser politicamente nula quando, por exemplo, um conselheiro que representa a sociedade civil, é um professor contratado pelo município, pois, mesmo representando o sindicato dos agricultores - para citar uma entidade -, este conselheiro está “atrelado” ao governo,

com vínculo formal, e jamais atuará para defender os interesses da sociedade se estes ferirem os interesses da SE.

Na Paraíba, os dados do SICME em relação à representação indicam que dos 102 CME em funcionamento, a representação de pais consta em 82 conselhos, sendo que destes, 71 conselhos têm apenas 1 representante e 11 conselhos têm 2 representantes. Sobre a representação do Poder Executivo, dos 102 CME, 83 contam com algum representante, sendo que 48 conselhos com 1 representante; 15 conselhos com 2 representantes; 8 conselhos com 3 representantes; 4 conselhos com 4 representantes; 5 conselhos com 5 representantes; 1 conselho com 6 representantes e 2 conselhos com 8 representantes. Um dado importante a observar é que mesmo que a maioria dos CME (48) tenha apenas um representante do Executivo, as informações dão conta de que este representante é, geralmente, o/a secretário/secretária de educação ou respectivo(a) adjunto(a) e que atuam como presidente/a do órgão. Em 39 dos 102 CME que funcionam, 26 destes contam com 1 representante de escolas privadas e 13 com 2 representantes deste mesmo setor.

Na microrregião de Guarabira, durante esta pesquisa, tivemos dificuldade em determinar a representação dos conselheiros, pois, além de não terem sido nomeados oficialmente, os registros em atas são mínimos e, na maioria das vezes, mesmo no ato de escolha ou eleição dos conselheiros, não consta a especificação das respectivas representações.

Quadro 1 – Principais entidades/órgãos com assento nos CME da microrregião de Guarabira - Paraíba

Secretaria de Educação 11

Professores de escolas municipais 11 Diretores de escolas públicas 11

Pais / mães 10

Secretaria de Assistência 8

Sindicato dos Trabalhadores Rurais 6

Secretaria de Saúde 6

Sindicato de Servidores Municipais 4

Escolas particulares 3

Conselho Tutelar 2

Câmara Municipal 1

Os CME têm apresentado pouca diversidade de atores sociais com representação. Isto se deve, historicamente, as dificuldades estruturais dos municípios, como poucas entidades da sociedade civil, concentrando a representação sempre nas mesmas secretarias, grupos, pessoas, de governo a governo, repetindo, da mesma forma, o que acontece no campo político-partidário. Os atores, quando vindos de entidades civis, em grande parte representam instituições que não estão vinculadas especificamente ao campo da educação, como os sindicatos de trabalhadores rurais e de associações rurais. No entanto, alguns municípios já têm sindicatos de servidores municipais e de professores e estes garantem assento nos CME. O mesmo acontece com as escolas particulares.

As diversas entidades de estudantes com atuação em alguns municípios da microrregião de Guarabira não são lembradas nos CME. A Associação Guarabirense de Estudantes (AGE), por exemplo, com um número considerado de filiados, não tem assento garantido no CME do seu município-sede, cuja legislação ignora a representação de alunos. O mesmo acontece com a representação da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) que atua em toda a microrregião e não faz parte de nenhum dos conselhos dos municípios de sua área de atuação.

Muitos dos representantes das entidades da sociedade são, também, funcionários públicos lotados nas secretarias de educação. No caso específico dos representantes de pais/responsáveis, verificamos que as vagas são assumidas por mulheres e mulheres que exercem cargos no poder público, isto é, ou são professoras, ou diretoras escolares ou merendeiras, geralmente em cargos comissionados, como as falas registradas abaixo:

A indicação de representantes dos pais é um caso à parte, pois as mães que participam, e participam muito pouco, não são apenas mães de alunos, são pessoas escolhidas pela secretaria de educação ou pela diretora de uma escola e são sempre pessoas ligadas ao poder público, são funcionárias contratadas, e esta é uma estratégia para garantir que o conselho aprove o que a secretaria mandar, sem questionamento, sem controle (E 17).

Não posso falar muito sobre isso, mas fui contratada para ser professora recentemente e no dia da contratação me pediram para participar do conselho, pois estava faltando uma pessoa e me senti até lisonjeada. E estou aqui, mas não compreendo muita coisa. Acho até não sou a pessoa mais certa para está no conselho (E 8).

Os conselheiros têm consciência da importância da escolha dos representantes e, como alerta Mendonça (2004, p. 131), “[...] a composição dos conselhos [...] deve estar pautada pela preocupação de não permitir o atrelamento político, partidário ou ideológico com o governo”. Como enfatiza uma entrevistada: “A escolha dos representantes é fundamental para o trabalho do conselho. E o que percebo é que a secretaria convida pessoas sem nenhum preparo, às vezes, até mesmo professores, mas que nem sabem o papel do conselho” (E 3). E mais: “Acho que nosso conselho não funciona bem por falta de capacitação e apoio do poder público, pois sem recursos não podemos fazer nada” (E 4).

Por parte dos governos municipais, os órgãos com assento nos CME são as secretarias municipais e, entre elas, além da secretaria de educação, a de assistência social e a de saúde. Destas secretarias são indicados os respectivos chefes ou seus adjuntos para participarem dos CME.

Gráfico 5 – Principais órgãos e entidades com representação nos CME da microrregião de Guarabira - Paraíba

Fonte: Elaborado pelo autor.

A participação dos representantes do governo e da sociedade civil nos CME é um problema evidente nas falas dos entrevistados. “Os representantes do governo quase nunca participam, pois têm muitos trabalhos importantes e não têm muito tempo para frequentar as reuniões do conselho. Mas sempre temos o cuidado de avisar para eles sobre o que discutimos” (E 11). Esta fala indica um dos principais

motivos alegados para o não funcionamento dos CME: a ausência da representação governamental que “não tem tempo” para participar dos encontros, conforme as discussões das SE. A pouca participação é criticada por ambos os setores – governo e sociedade civil – e geralmente focam a questão do tempo, das condições estruturais dos conselhos e o desinteresse dos conselheiros.

Um mês desses tive que visitar todos os conselheiros para saber quando podíamos nos reunir e, acredite, não conseguimos no reunir em nenhum dos 30 dias do mês. Convoquei reunião para a primeira semana do mês seguinte e somente três conselheiros vieram e um veio avisar que não podia ficar por problemas de trabalho, pois a diretora da escola não autorizou sua liberação (E 5).

Esta fala atesta que há um completo desconhecimento sobre o papel dos CME nos municípios, tanto por parte da sociedade como do governo. Este, em específico, ao que parece, arquiteta estratégias para inviabilizar o funcionamento dos conselhos. A atitude da diretora – como citada na fala acima – enfatiza esta realidade de “menosprezo ao conselho”.