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REPRESENTAÇÕES DO AMOR NAS TELENOVELAS: A

“O amor feliz não tem história. Só existem romances do amor mortal, ou seja, do amor ameaçado e condenado pela própria vida. O que o lirismo ocidental exalta não é o prazer dos sentidos nem a paz fecunda do par amoroso. É menos o amor realizado do que a paixão de amor. E paixão significa sofrimento. Eis o fato fundamental”.

Denis de Rougemont

4.1 – Sabor da Paixão

4.1.1 – Enredo e personagens

Sabor da Paixão narra a história de amor entre Diana Coelho e Alexandre Paixão.

Eles se conhecem no primeiro capítulo da novela, apaixonam-se e enfrentam muitas dificuldades até conseguirem ficar juntos no fim da história.

A família de Diana é composta por seus pais, Miguel e Cecília, sua avó materna, Hermínia, as duas irmãs e a sobrinha da protagonista. Miguel é proprietário de um bar na Lapa, no Rio de Janeiro, bairro onde mora a família e cenário principal para o desenrolar da narrativa. Além do Bar Flor do Douro, há outros ambientes que ajudam a compor o ambiente da Lapa, como o antiquário, a lanchonete, o sebo e a academia de dança.

O patriarca dos Coelho morre no início da história e deixa muitas dívidas para a família administrar. Mas resta uma esperança: um terreno em Portugal que Miguel recebera como herança e não fora apropriado. Com a ajuda de um fiel amigo da família (Jean), Diana luta para reaver a propriedade, ocupada indevidamente por Zenilda, a mãe de Alexandre.

Alexandre é sommelier e tem uma enoteca no Rio, a qual administra com dois sócios, e passa períodos em Portugal, país onde mora sua mãe. Zenilda é viúva e trabalhou muito para enriquecer e recuperar o vinhedo da família do marido, o Comendador Paixão. Ambiciosa e arrogante, Zenilda fará de tudo para manter o terreno que pertence à família de

Diana, sobretudo, porque é a parte do vinhedo de onde provém o melhor vinho de sua produção. Além da enoteca e do cenário de Portugal, uma loja de roupas no shopping constitui-se como um outro ambiente para o desenrolar da história.

Zenilda vem ao Brasil e, para executar seus planos, conta com a ajuda do administrador do Vinhedo Paixão, sobre quem mantém uma relação de domínio. Alexandre, por sua vez, conta com a ajuda de dois outros empregados da família que procuram alertá-lo contra os golpes da mãe.

Muitas temáticas perpassam e constituem as tramas secundárias de Sabor da Paixão, como adoção, violência contra crianças, analfabetismo de adultos, homossexualismo

e alcoolismo. Essas temáticas e as demais personagens ajudam a compor a trama central da novela: a história de amor entre Diana e Alexandre e os muitos obstáculos que eles precisam enfrentar para a realização plena desse amor.

4.1.2 – Diana e Alexandre: a concretização do amor romântico

A história de amor de Diana e Alexandre pode ser sintetizada da seguinte forma: uma paixão mútua envolve os dois, que enfrentam vários empecilhos até a realização do amor. Pouco tempo depois de se conhecerem e começarem o relacionamento, eles já declaram o amor que sentem um pelo outro. Após vencerem as dificuldades, eles se casam no último capítulo da novela, fazendo promessas de amor para o resto da vida. Assim, a relação amorosa estabelecida entre eles pode ser situada na categoria amor romântico.

O primeiro encontro entre Diana e Alexandre atualiza traços do mito da Cinderela. Como a Gata Borralheira, Diana perde os sapatos, deixando-os cair do segundo andar da boate em que está e atingindo a testa de Alexandre. É assim que se inicia essa história de amor: ele diz que se apaixonou à primeira vista. Como aponta Giddens, “o ‘primeiro olhar’ é uma atitude comunicativa, uma apreensão intuitiva das qualidades do outro. É um processo de

atração por alguém que pode tornar a vida de outro alguém digamos assim, ‘completa’” (Giddens, 1993: 51).

Querendo satisfazer um desejo de sua mais nova paixão, Alexandre leva Diana para assistir, das coxias, a um balé. É nesse cenário, no palco em que está sendo exibido o Lago dos Cisnes, que acontece o primeiro beijo entre os dois. Esse primeiro encontro pode ser considerado um rapto, utilizando a figura de Barthes: “episódio tido como inicial (mas pode ser reconstituído depois) durante o qual o sujeito apaixonado é ‘raptado’ (capturado e encantado) pela imagem do objeto amado (nome popular: gamação; nome científico: enamoramento)” (Barthes, 2000: 245).

Nesse momento da narrativa, Diana namora Nelson, mas o sentimento é abalado assim que ela conhece Alexandre. Este namora a produtora cultural Cacau e tenta despistá-la, enquanto procura por Diana, que fora embora do primeiro encontro sem se despedir. Assim, é instaurado o triângulo amoroso em Sabor da Paixão.

Diana pode ser considerada uma heroína clássica: é bonita, inteligente, uma boa moça. Percebendo que seus sentimentos em relação a Nelson não são mais suficientes para sustentar a relação, ela recusa o pedido de casamento dele e termina o romance, pois não suporta mentiras. Alexandre pode ser considerado uma espécie de Dom Juan: bonito e sedutor, seu coração pertence a todas as mulheres. Ele preza a liberdade amorosa e gosta de conquistar todas as belas. Mas o ar de conquistador cederá espaço ao amor verdadeiro através de Diana, e a postura de Alexandre será modificada através desse valor. Dessa forma, desde que se reconhecem apaixonados um pelo outro, Diana e Alexandre lutam para ficar juntos.

Ao iniciarem a relação amorosa, Diana e Alexandre assumem certos papéis sociais, ou seja, eles agem e falam a partir de um lugar que remete à situação social de cada um. Diana é uma mulher trabalhadora e dedicada, que fez curso de contabilidade e sempre ajudou o pai a administrar o bar. Após a morte de Miguel, é a primogênita quem assume os

negócios para prover o sustento da família. Mesmo quando começa a namorar Alexandre, essa sua postura em relação ao trabalho não se modifica, e ela até decide fazer um curso sobre vinhos para administrar melhor o terreno de Portugal. Diana não corresponde, portanto, ao padrão de mulher dependente e restrita ao universo doméstico.

Alexandre é formado em administração, com pós-graduação nos EUA. É produtor e comerciante de vinhos e gosta do ramo em que atua, mas não deixa de curtir a vida e desfrutar da riqueza de sua família em nome do trabalho. São seus sócios que, de fato, levam adiante a enoteca que possuem. Assim, em relação aos papéis sociais assumidos por Diana e Alexandre, não existe uma divisão interna rígida do trabalho.

Um dos obstáculos a ser enfrentado pelo casal até alcançar a plena felicidade é o ex-namorado de Diana. Nelson vivia um relacionamento morno e rotineiro com a heroína, configurando um relacionamento fixado (Giddens, 1993). Diana parece ter mantido o romance com ele por uma questão de obrigação de rotina, o que caracteriza esse tipo de relacionamento viciado em sua forma mais benigna.

Nelson não se conforma com o término do romance e tenta reconquistar a amada e separá-la de Alexandre. A princípio, ele realiza atitudes românticas, como fazer uma serenata para Diana — que não aparece na janela. Frente ao desprezo e à rejeição da protagonista, ele muda de estratégia e realiza muitas atitudes maldosas e cruéis para separá-la de Alexandre, tais como: apresenta-se a Alexandre como o noivo de Diana e mente ao dizer que ela planejava dar o golpe nele; passa-se por herói usando Jean; associa-se a Zenilda para elaborar planos contra o casal; conta mentiras, faz intrigas e chantagens; seqüestra Diana; provoca uma explosão no bar Flor do Douro, matando uma pessoa e deixando Alexandre gravemente ferido.

Muitas atitudes de Nelson são agressivas e violentas, o que configura um comportamento compulsivo, que “está associado a uma sensação de perda de controle sobre o eu” (Giddens, 1993: 84). Ele tornou-se dependente da relação mantida com Diana e incapaz

de se libertar desse vínculo amoroso antes estabelecido. Nesse caso, o elo é “realmente destrutivo para as partes interessadas” (Giddens, 1993: 102), delineando um relacionamento fixado mais turbulento, sustentado por um amor destrutivo.

Ao mesmo tempo em que luta pelo amor de Diana, Nelson mantém um envolvimento com Tânia, a qual trabalha com ele no antiquário. É uma relação de domínio, que parece ser sustentada por um sentimento de posse e conquista dele e um temor por parte dela. A relação entre os dois é permeada por ameaças e exigências. Nelson afirma a ela seu amor por Diana, mas quer conquistar uma espécie de vida dupla: quer Diana como sua mulher e Tânia como sua serva. Até o fim da narrativa, quando está preso, Nelson reitera o amor por Diana. Mas este é, na visão de outras personagens, um “amor torto”; não é um sentimento verdadeiro.

Outro grande obstáculo à realização do amor entre Diana e Alexandre é a mãe deste, Zenilda. Ela nutre um sentimento de posse pelo único filho e sempre sonhou casá-lo com uma mulher rica, preservando-o da vida pobre e miserável que ela tivera na infância. Para garantir a riqueza para Alexandre, fingiu que este era filho de um homem rico, quando, na verdade, ele é filho de um trabalhador do vinhedo.

Ao saber que o filho está envolvido com uma moradora da Lapa, que quer recuperar o terreno incorporado à propriedade da família Paixão, Zenilda inicia suas estratégias para impedir que o romance vingue: faz denúncia falsa de roubo contra Diana; tenta comprar as terras por um preço muito inferior ao que elas valem; faz chantagens e ameaças contra Diana e sua família; planta notícia falsa na imprensa sobre o casamento do filho com outra mulher; recupera fatos do passado de Alexandre para provocar os ciúmes e a raiva em Diana; finge estar muito doente para comover o filho — até compra exames falsos para comprovar a farsa; suspende o pagamento das parcelas previstas no contrato de aquisição do terreno; investiga a vida de pessoas próximas a Diana para prejudicá-las; pede que Nelson provoque uma explosão no Flor do Douro.

Zenilda justifica as suas atitudes em nome do amor ao filho e só aceita o romance entre ele e Diana, depois da explosão do bar, quando Alexandre pede à mãe que ela faça um sacrifício por amor a ele. Zenilda pede perdão a Diana por seus erros e que ela faça Alexandre feliz. A protagonista diz que o amor que Zenilda diz sentir pelo filho é “torto”, “feio”, “impossível de ser reconhecido”. Ela não soube aceitar os desejos e respeitar os sentimentos de Alexandre; não preservou os limites que separam a relação entre mãe e filho e quis realizar as escolhas em nome dele. Diana perdoa Zenilda, mas exige não vê-la, o que acontece durante algum tempo. Depois, ela reata com a sogra e vai visitá-la em Portugal com Alexandre e a filha do casal.

Os obstáculos colocados pelos vilões Nelson e Zenilda entre Diana e Alexandre, muitas vezes, conseguem despertar a desconfiança entre os dois, motivada, sobretudo, pela questão do terreno em Portugal. Envolvido pelas mentiras de Nelson, Alexandre acredita na história do golpe de Diana para recuperar o terreno da família. A protagonista, por sua vez, também desconfia, em diferentes momentos da narrativa, de que Alexandre quisesse dar um golpe nela junto com a mãe. O casal também suspeita dos sentimentos que mantém o vínculo entre os dois. Diana teme que Alexandre continue com sua vida de Dom Juan e não gosta do passado do namorado. Alexandre desconfia de que Diana ainda tenha algum vínculo com Nelson e não acredita quando ela nega o envolvimento com o ex.

Nos momentos em que falta a confiança, a manutenção plena do relacionamento é dificultada. Tendo em vista que uma característica central do amor romântico é “a possibilidade de se estabelecer um vínculo emocional durável com o outro, tendo-se como base as qualidades intrínsecas desse próprio vínculo” (Giddens, 1993: 10), não existem suportes exteriores para a sustentação do elo amoroso. Nesse caso, a confiança e o compromisso mútuos são fundamentais na consolidação da relação. É somente com a

presença desses elementos que o vínculo entre Diana e Alexandre configura-se claramente como sustentado pelo amor romântico.

Outro obstáculo interposto ao casal é a desigualdade social que, a princípio, existe entre eles, quando Diana ainda não sabe o quão valioso é o terreno de sua família. Certa vez, no início do romance, Alexandre espera a amada com uma mesa requintada e pede que seu mordomo vá buscá-la com flores em uma carruagem, atualizando, novamente, o mito da Cinderela. Ela entra com roupas simples, as flores na mão e diz que pertence a um mundo completamente diferente do dele. Percebendo as disparidades, ele joga o champanhe fora, faz alguns sanduíches e leva-a para comer no jardim.

Além desses obstáculos, a relação entre Diana e Alexandre é permeada por desencontros, que podem ser vistos como contingências para “dificultar a ambição de felicidade do sujeito apaixonado, como se o acaso intrigasse contra ele” (Barthes, 2000: 92). Certa vez, eles combinam de se encontrar, mas quando ela está a caminho, o pai dela morre. Em Portugal, eles também se desencontram: por duas vezes, estão no mesmo local, mas acabam não se vendo.

Apesar dos obstáculos, dificuldades e contingências, o posicionamento do casal é o de lutar pela concretização desse amor, endossando a afirmação de que “é preciso assumir o amor” (Morin, 2002: 9). Tanto Diana quanto Alexandre confessam-se apaixonados um pelo outro, ao falar com amigos, parentes e também com os vilões da história. Certa vez, Diana diz a Nelson que só conheceu o amor de verdade com Alexandre e que se arrepende de ter perdido tanto tempo de sua vida com uma pessoa como o ex-namorado. Conversando com a mãe, Alexandre diz que ama Diana e deseja ser perdoado por seus erros. Em outro diálogo com Zenilda, depois da explosão no bar, Alexandre reitera seu amor por Diana e afirma que só será feliz ao lado dela:

A: [...] Eu nunca mais vou conseguir ser feliz. [...] Eu nunca mais vou encontrar uma mulher como a Diana.

Z: [impaciente] Diana, Diana... [...] Isso é uma obsessão, Alexandre.

A: É amor, mãe. Eu amo a Diana mais do que tudo nessa vida. [suspira] Ai, ela não vai me perdoar nunca.

Z: Alexandre, olha, se essa moça gosta mesmo de você, ela vai te perdoar. Quem ama faz qualquer coisa.

A: Mesmo você? [ela estranha] Do que você seria capaz de fazer pra provar o seu amor por mim?

Z: Qualquer coisa, meu filho. Eu juro.61

Na tematização do amor por Alexandre, a associação entre amor e felicidade é bastante evidente. Ele destaca a importância do amor em sua vida, mas não é o amor por qualquer mulher: é o sentimento forte que sente por Diana, a mulher de sua vida. Ao verbalizar o amor, Diana também fala de um sentimento bonito, idealizado, que não apresenta limites. Isso fica claro em uma conversa com Zenilda:

Z: Perdoa o meu filho, ama o meu filho, fica com ele, querida. Para sempre. Faze-o feliz. Eu pago qualquer preço pra que isso aconteça.

D: [uma lágrima escorre] Não precisa pagar nada. O seu dinheiro não compra o que eu já ofereço de graça. Ofereci antes, pelas suas costas, nessa mesma cama onde ele tá agora. Mesmo antes de saber que ele era inocente, depois de tudo o que eu o acusei. Porque diferente do seu, Dona Zenilda, o meu amor não tem limite.62

Na visão de Diana, o amor não pode ser comprado, não está associado ao dinheiro. Ele é oferecido ao outro, sem esperar qualquer coisa em troca além da reciprocidade. Para a protagonista, o amor está vinculado à capacidade de perdoar e de não guardar rancor.

É por esse amor verdadeiro, único, sem limites, capaz de trazer a felicidade plena aos parceiros, que Diana e Alexandre lutam. Mas não é só por amor que eles batalham; afinal, o amor não é um valor independente (Giddens, 2002: 88). Diana e Alexandre prezam outros valores e sentimentos, que são acionados na realização do amor. A heroína preza a verdade, a família, a dignidade, a amizade, a justiça e a solidariedade. Alexandre também preza a amizade, a dignidade, a justiça e a solidariedade, mas acha que a namorada se preocupa

61 Capítulo 148, exibido em 20 de março de 2003, quinta-feira.

demais com os problemas dos outros. Ele não teve uma vida em família como Diana: seu pai morrera, e sua família era composta por ele e a mãe. Alexandre não prezou a verdade desde o início do relacionamento e mentiu em relação ao valor do terreno de Diana em Portugal, em um momento em que se questionava sobre seu amor por ela. Teve, contudo, a humildade de reconhecer o erro, tentar corrigi-lo e pedir perdão.

Assim, na constituição da relação amorosa entre esses dois sujeitos, houve sofrimentos e decepções, mas o desdobramento dessa história de amor exibe a coroação de outros sentimentos e valores. Para Diana e Alexandre, o amor parece estar articulado a prazer, bem-estar, conforto, felicidade, boa vida e alegria (Costa, 1999: 161). O vínculo emocional que se estabeleceu entre eles foi conquistado e sustentado pelo esforço dos dois parceiros, já que houve o engajamento de ambos na luta pela concretização do amor. Em Sabor da Paixão, salienta-se a importância do casal na construção mútua do laço amoroso. Assim, nessa novela, a personagem mais importante nessa construção não é só a mulher ou só o homem. Na relação estabelecida entre Diana e Alexandre,

a personagem central essencial do amor é o casal. [...] A futura família, a do casamento que deixa entrever o happy end, não tem sentido senão enquanto consagração do casal. A partir daí o amor é muito mais que amor. É o fundamento nuclear da existência [...] É a aventura justificadora da vida — é o encontro de seu próprio destino: amar é ser verdadeiramente, é comunicar-se verdadeiramente com o outro, é conhecer a intensidade e a plenitude (Morin, 1997a: 135).

O amor entre Diana e Alexandre é coroado com o casamento no último capítulo da história. Na cerimônia, eles fazem promessas de amor e união para o resto de suas vidas, afinal, “há amores que duram, do mesmo modo que dura uma vida” (Morin, 2002: 25). Eles falam da importância do amor e da forma como pretendem construir o futuro juntos.

A: [coloca a aliança, a câmera vai se aproximando, até fechar um close up em um e em outro, no fim da declaração] Eu, Alexandre Paixão, tomo você, Diana, como meu maior amor, pro resto da vida. Prometo te apoiar em todos os momentos e, quando passarmos por qualquer dificuldade, vamos superar com o nosso amor, com a nossa união. Eu prometo fazer do nosso amor a minha prioridade de vida.

D: [coloca a aliança, close up nos dois] Nós passamos por tantas dificuldades, não é? Mas eu acho que, na verdade, a gente tava sendo preparado pro nosso futuro juntos. Eu prometo manter vivas as boas lembranças e fazer desaparecer as ruins. Eu prometo que cada dia vai ser novo pra te amar. Eu jamais vou trair os votos que a gente fez aqui e eu vou lutar sempre, até o fim dos meus dias, pra te dar o meu amor. Eu, Diana, te recebo, Alexandre, como meu marido, meu amado, meu companheiro. A cada batida do meu coração, eu vou te amar [close up nos dois, beijo].63

Por tudo que foi exposto, é possível concluir que, com o desdobramento da relação entre Diana e Alexandre, emerge a concretização do amor romântico como sustentador do vínculo: há um encontro de almas, uma comunicação psíquica, em que um preenche o vazio do outro. Tematizando o amor como um sentimento verdadeiro, ambos manifestam um desejo de que a relação assim constituída seja única e para sempre. Considerando que seus sentimentos são fortes e profundos o suficiente para garantir esse envolvimento duradouro, Diana e Alexandre se engajam num processo de constituição de uma narrativa biográfica mútua, que tanto remete às dificuldades e às boas lembranças do passado quanto projeta um futuro cheio de amor, união e companheirismo.

A narrativa de Sabor da Paixão, através da trajetória de Diana, Alexandre e Nelson, mostra a importância do amor na vida das pessoas e a força que esse valor apresenta em nossa sociedade: ele é forte o suficiente para superar todos os obstáculos e mudar o comportamento dos sujeitos. É capaz até mesmo de promover mudanças na hierarquia de valores de uma pessoa: quando conhece o amor verdadeiro através de Diana, Alexandre passa a prezar a fidelidade como um valor em sua experiência amorosa. As representações do amor que emergem a partir dessas personagens estabelecem uma espécie de classificação entre o que seria um “amor bom” e o que configuraria um “amor ruim”.

O amor que Nelson sente por Diana é “ruim”: é um “amor torto”, que pode levar a atitudes extremas, como um seqüestro, uma explosão e a morte de alguém. O modelo de amor que emerge a partir dessa personagem está relacionado à personalidade meio doentia dela:

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