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CAPÍTULO I – TUBERCULOSE: HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DA DOENÇA 14

CAPÍTULO 2 – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS

2.1. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DAS

2.1.4. Representações sociais 78

A tuberculose concentra na figura do doente, as consequências dos estigmas que ainda hoje persistem na sociedade. De acordo com TAKAHASHI e SHIMA (2004: 132) “O imaginário colectivo sobre a tuberculose e o tuberculoso é recheado de imagens que foram sucessivamente construídas em cada momento histórico da humanidade e modificadas por influência das transformações sociais ocorridas”.

Após analisados os discursos expressos pelos participantes foi possível identificar cinco categorias relacionadas com as representações sociais, que revelam o impacto dos preconceitos que se constroem sobre a doença. As categorias identificadas são: relacionadas com a morte, com a pobreza, com a discriminação/exclusão, com a toxicodependência e com o alcoolismo.

Tal como sucedeu em outras áreas temáticas, a designação das categorias foi baseada nos termos utilizados pelos participantes do estudo.

Pela leitura do quadro 10, constatámos que a tuberculose tem sido vivenciada pelas pessoas de formas diferentes, em diferentes contextos sócio-culturais pelo que lhe foi atribuída significados diferentes.

Quadro 10: Representações sociais da tuberculose Categorias relativas às

representações sociais

Entrevistados Unidades de registo

Morte E1, E3, E14 11

Pobreza E1, E3, E6, E9, E11, E20, E22,

E23

9

Discriminação/Exclusão E2, E6, E11, E14, E16 16

Toxicodependência E6, E20 2

Alcoolismo E18 2

Morte

A morte, também referida noutras áreas temáticas, encontra-se presente nos discursos de três (3) participantes tendo sido identificadas onze (11) unidades de registo.

Os testemunhos relativos a esta categoria vêm ao encontro de TAKAHASHI e SHIMA (2004: 132), quando referem que “ (…) há 50 anos a tuberculose era um mal cujo nome deveria ser evitado, uma doença mortal”, porque ainda não era conhecido tratamento eficaz e as pessoas acabavam por morrer com a chamada “peste branca”.

-“É uma doença que quando a gente houve falar assusta, …sempre assustou” (E1, sexo masculino, 34 anos)

-“Pensa que vou morrer”, (E3, sexo feminino, 53 anos)

-“É uma doença que assusta muita gente inclusive a mim”, (E14, sexo masculino, 62 anos)

Pobreza

No final do século XIX e como refere TAKAHASHI e SHIMA (2004: 132) ao citar Sontag (1989), “A tuberculose era imaginada como uma doença da pobreza e da privação, falta de roupas, corpos magros, higiene deficiente, alimentação inadequada (…)”. A noção de que a tuberculose está associada à subalimentação, à falta de higiene e à pobreza foi identificada em nove (9) unidades de registo e referida por oito (8) participantes.

-“Isto é assim: eu tinha tanto cuidado com a alimentação, comigo, com a limpeza, porque isso também conta muito (…)”, (E3, sexo feminino, 53 anos)

-“Explicaram-me que dantes era a doença do pobre, da miséria, agora não qualquer pessoa está sujeita a apanhar a doença”. (E1, sexo masculino, 34 anos)

-“Eu tinha uma alimentação correcta, eu não tinha fome, tinha uma alimentação correcta, comia várias vezes ao dia.” (E6, sexo feminino, 50 anos)

-“”Eu tinha a ideia que a tuberculose dava nas pessoas pobres, com falta de alimentação, com uma vida um bocado desregrada”. (E9, sexo feminino, 52 anos) -“Na altura falava-se que estes doentes morriam à fome” (E11, sexo masculino, 60 anos)

-“Na altura ficaram admirados, … como é que foi. Mas depois descobriu-se. Porque eu deixei de comer carne e peixe” (E16, sexo feminino, 44 anos)

-“Eu até como peixinho, tomo banhinho todos os dias, porto-me bem (…) não havia razões” (E22, sexo masculino, 43 anos).

Discriminação/Exclusão

Ao falar-se de tuberculose não surpreende, o aparecimento de expressões alusivas a esta categoria porque como refere TAKAHASHI e SHIMA (2004: 133), “ o estigma do doente de tuberculose foi sendo estruturado a partir do entendimento da culpabilidade do doente pela própria infecção, por representar uma ameaça social devido à possibilidade de disseminá-la entre os sadios e por se constituir em um agente danoso ao meio social (…)”.

Foram cinco (5), com dezasseis (16) unidades de registo, os entrevistados que referiram esta categoria.

-“ (…) Éramos quase tratados como leprosos, quase postos de parte”(E14, sexo masculino, 62 anos)

-“ (…) As pessoas às vezes nos atendem com uma pedra nas mãos”. (E2, sexo masculino, 47 anos)

-“Sinto-me cada vez mais diminuído quer das capacidades físicas quer psicológicas” (E11, sexo masculino, 60 anos)

- (referindo-se à sua comadre) “Um dia viu-me na rua e fugiu, quase que saiu encostada à parede” (E14, sexo masculino, 62 anos)

-“Como sou HIV, já tive que enfrentar tantas situações de discriminação, acho que é um treino (…)” (E16, sexo feminino, 44 anos)

-“”Eu devo dizer que não me sinto em sociedade, sinto-me excluída, excluída, porque não estou completamente tratada. Há sempre um dedo que se aponta e diz: aquela é tuberculosa!” (E6, sexo feminino, 50 anos)

Toxicodependência

Sabe-se nos países em desenvolvimento a partir da década de 80 a tuberculose tem vindo a aumentar devido ao impacto da infecção por HIV. “ (…) A infecção pelo HIV constitui, por si, o maior factor de risco em relação ao aparecimento da tuberculose” (DINIZ, 2000: 529), associado a factores sociais, como a toxicodependência, o fenómeno crescente dos “sem-abrigo”, o rápido crescimento do número de pessoas em instituições mais ou menos fechadas (por exemplo: prisões, lares, etc) e os movimentos migratórios crescentes de países de elevada prevalência de infecção para outros de menor prevalência (DINIZ, 2000).

Na análise de conteúdo dos segmentos de texto dos discursos de dois (2) participantes, foram identificadas duas (2) unidades de registo onde é feita esta associação.

-“Pensei que isso fosse uma coisa que quem apanhava eram os drogados”. (E20, sexo masculino, 41 anos)

-“As pessoas não sabem, nem porque deixa de ser! Depois dizem logo, …é uma toxicodependente! (…) As pessoas pensam logo que tinha hábitos (…)”.(E6, sexo feminino, 50 anos)

Alcoolismo

O alcoolismo, é um problema social, que está também relacionado com a tuberculose. É um fenómeno, que tem repercussões ao nível das perturbações orgânicas e psíquicas, perturbações no meio familiar bem como profissional e social e implicações a nível financeiro, legal e moral (OLIVEIRA, 2001 ao citar a OMS, 1997).

Considera-se alcoólico, todo o indivíduo que não consegue abster-se do álcool e controlar o seu consumo (OLIVEIRA, 2001).

De entre as causas do alcoolismo, salientamos, as “razões individuais” e as “de ordem psicológica” (OLIVEIRA, 2001: 317), que parecem estar subjacentes às expressões encontradas, no discurso de um dos participantes, que anteriormente referiu “sentir-se só”. Nesta categoria foram identificadas duas (2), unidades de registo.

-“Eu penso que derivado ao alcoól…que apanhei isso. Eu estava a beber muito”.(E18, sexo masculino, 50 anos)