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Reprodução Assistida por casais homoafetivos

4. RESOLUÇÕES DO CFM

4.1. Reprodução Assistida por casais homoafetivos

Por muitos anos, no Brasil somente era reconhecida como família a unidade composta por homem, mulher e seus possíveis filhos, ignorando as outras formas de família, a restrição desse conceito impedia que os médicos realizassem os procedimentos de reprodução assistida

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BRASIL, Exposição de Motivos da Resolução 2013/2013. Disponível em: <

tanto em mulheres solteiras quanto em mulheres lésbicas, não sendo nem cogitada a possibilidade do uso de tais técnicas por homens solteiros ou homossexuais.

O principal argumento dessa corrente é o princípio do melhor interesse da criança, que estaria, supostamente, privada de uma estrutura familiar adequada para seu desenvolvimento, quando não crescesse em família biparental heteroafetiva.

Levando em conta especialmente o princípio do melhor interesse da (futura) criança que, privada do pai ou da mãe, se sujeitaria à estrutura familiar parcial, tornando-a desigual em relação às demais pessoas desde o momento da concepção.54

Sendo assim, tanto os casais homoafetivos quanto as pessoas solteiras, encontravam grandes entraves no acesso aos procedimentos de reprodução assistida, uma vez que não havia o reconhecimento da pluralidade no conceito de família.

Essa é uma questão atual, ainda em debate na Câmara dos Deputados, onde corre o Projeto de Lei nº 6583/2013, que cria o Estatuto da Família, retomando o conceito restritivo de família como união entre homem e mulher e seus possíveis filhos, reconhecendo somente a monoparentalidade, entre as novas formas de família, apresentando verdadeiro retrocesso tanto para o Direito das Famílias quanto para a concretização dos direitos fundamentais constitucionais.

Outra dificuldade enfrentada era a comprovação da infertilidade por parte do casal, uma vez que a reprodução assistida apresentava finalidade terapêutica, visando o prestar auxílio às mulheres inférteis na realização do seu direito reprodutivo, não podendo ser utilizada como nova forma de concepção.

Dessa forma, pessoas solteiras e casais homoafetivos, apesar da clara impossibilidade de atingir naturalmente a realização do projeto parental, eram impedidos de se utilizarem de técnicas de reprodução assistida quando não apresentassem condição médica diagnosticada de infertilidade.

Essa dificuldade foi superada com a Resolução nº 1957/2010 do CFM, que garantiu o acesso à reprodução médica assistida a todas as pessoas interessadas, retirando a exigência da condição de infertilidade dos beneficiados, abrindo espaço, pela primeira vez, aos casais homoafetivos para sua utilização.

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GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. A nova filiação: o biodireito e as relações parentais: o estabelecimento da parentalidade - filiação e os efeitos jurídicos da reprodução assistida heteróloga. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p.1004

Autorizado expressamente pela Resolução nº 2013/2013, depois do reconhecimento da família homoafetiva pelo STF, o acesso das técnicas de reprodução assistida por casais homoafetivos para a realização do projeto parental representou grande conquista contra o preconceito alcançada pelo movimento LGBT.

Antes da permissão do CFM, o sonho de exercer a paternidade era inalcançável para muitos casais homoafetivos, principalmente casais de gênero masculino. Isso se devia ao preconceito, que embasava o não reconhecimento do relacionamento homoafetivo como unidade familiar, dificultando também o processo de adoção, em que o Estado adotava uma postura em que ignorava a existência das relações homoafetivas, se omitindo diante desse fato social.

Esta é com efeito, a razão pela qual se admite que um gay ou uma lésbica possa adotar, sozinho, uma criança, impondo-se-lhe, na maioria das vezes, a conduta hipócrita de ocultar sua orientação sexual para obter sucesso, mas não se admite que ele o faça em conjunto com seu companheiro ou companheira, porque, aí, a homossexualidade tornar-se-á visível e terá que ser repudiada, como uma forma de punição por ter sido exposta, sob a justificativa humanitária de se estar preservando os interesses da criança. [...] Situação similar é a da reprodução artificial, em que a busca da técnica reprodutiva não encontrará respaldo na esterilidade ou na infertilidade dos parceiros, mas, isto sim, na impossibilidade de um casal homossexual ter um filho através de uma relação sexual entre eles, o que, novamente, trará visibilidade à homossexualidade.55

Os casais de gênero feminino já faziam uso da reprodução assistida, onde uma das companheiras se submetia ao processo como se solteira fosse, porém essa solução não era suficiente, uma vez que a outra não tinha participação formal na maternidade da criança.

Com a permissão expressa trazida pela Resolução nº 2013/2013, é possível garantir que ambos os companheiros constem no registro de nascimento da criança, garantindo os direitos de filiação quanto a ambos os pais.

Há o mito que cerca não apenas o casal homossexual com filhos, mas todo relacionamento homoafetivo de que um tem que exercer o papel ativo (considerado masculino) e o outro o passivo (entendido como feminino). Voltamo-nos, mais uma vez, à história da nossa civilização para compreendermos que gênero é uma categoria social, historicamente flexível e, portanto, mutante, sujeita às modificações de cada sociedade em seus diversos momentos56

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SAPKO, Vera Lúcia da Silva. Do direito à paternidade e maternidade dos homossexuais: sua viabilização pela adoção e reprodução assistida. Curitiba: Juruá, 2005, p. 137

56 SANTOS, Claudiene. A parentalidade em famílias homossexuais com filhos: um estudo fenomenológico da vivência de gays e lésbicas. 2004. 458 f. Tese (Doutorado) - Curso de Psicologia, Departamento de Psicologia e Educação, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto / USP, Ribeirão Preto, 2004. Disponível em: <file:///D:/Documentos/monografia/tese.pdf>. Acesso em: 13 maio 2014, p. 438.

Sabendo disso, ainda que conseguissem atingir o objetivo da paternidade, a família homoparental continua sendo alvo de preconceito em diversas esferas sociais, inclusive nas escolas onde estudam seus filhos. Esse preconceito, muitas vezes, é fruto da ignorância e da influência religiosa, fazendo com que a sociedade rejeite o modo de vida homoafetivo, não reconhecendo na prática sua condição de família.

4.2 Gestação por substituição como solução para a reprodução de casais homoafetivos

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