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CAPÍTULO 2. IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL: EM BUSCA DA

2.2 INFORMAÇÃO CONTÁBIL NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.2.2 Requisitos da Informação Contábil

O Accounting Principles Board/APB n. 04 – “Basic Concepts and Accounting Principles Underlying Financial Statements of Business Enterprises”, indica as qualidades da informação contábil (IC) como sendo: relevância, compreensão, neutralidade, oportunidade, comparabilidade e inteireza.

Para o American Institute of Certified Public Accountants (AICPA), as informações contábeis deveriam servir, primariamente, àqueles que têm limitado acesso a essas informações ou limitada capacidade de interpretá-las. Percebe-se que ambos tratam de uma forma genérica a informação contábil, sendo características que deveriam existir, quer no âmbito público, quer no âmbito privado.

Sob um ângulo mais específico, a International Federation of Accountants (IFAC) define o objetivo geral da informação contábil governamental como sendo proporcionar informação financeira, de desempenho e de fluxos de caixa de uma entidade, necessária para a tomada de decisões de uma vasta gama de usuários e demonstrar a responsabilidade das entidades públicas pelos recursos que lhe foram confiados. Essa definição se alinha às definições anteriores, e corrobora com a necessidade de que a contabilidade, traduzida por meio dos seus relatórios, sirva para amenizar os conflitos de agência e minimizar a assimetria informacional.

O Financial Accounting Standards Board (FASB), no §3º da SFAC 4, apresenta os seguintes objetivos da informação financeira: ajudar os seus utilizadores na adoção de decisões racionais sobre a gestão dos recursos da organização; permitir que os fornecedores de recursos avaliem os serviços que a organização presta e a sua capacidade para continuar a prestar; informar sobre os recursos econômicos, obrigações, recursos líquidos de uma organização e possíveis transações, acontecimentos e circunstâncias que modificam os recursos e os interesses neles.

De uma forma geral o FASB contribui no sentido de que a informação deve atender e propiciar a possibilidade de decisão dos usuários, caso contrário não será informação contábil. Sob outra perspectiva, o National Council on Governmental Accounting estabelece, consoante o tipo de informação, os seguintes os objetivos da informação contábil pública (NCGA, 1983):

1. Determinar e descrever os fluxos, fundos e necessidades de recursos financeiros a curto prazo da entidade governamental;

2. Determinar e enunciar a condição econômica da entidade governamental e as alterações ocorridas;

3. Avaliar se foram cumpridos os requisitos legais e contratuais;

4. Planificar e orçamentar para determinar o impacto da aquisição e destinação de recursos, no cumprimento dos objetivos operacionais;

5. Avaliar o desempenho alcançado pelos gestores públicos e pela própria entidade;

6. Comunicar a informação relevante da forma que melhor facilite a sua utilização.

Corroborando essa definição, Azevedo (2004) defende que se pode considerar a Contabilidade Pública como integrante da área de estudos das finanças públicas, que estuda um dos aspectos ou atividades do Estado: a obtenção e emprego dos meios materiais e serviços para a realização de seus fins, sendo a atividade financeira do Estado envolvendo as funções de obtenção, criação e gestão do dinheiro público, visando à satisfação das necessidades da sociedade assumidas pelo Estado.

Neste mesmo sentido, o Governmental Accounting Standards Board (GASB), se refere aos objetivos da contabilidade e dos relatórios governamentais: possibilitar a prestação de contas, permitir a avaliação dos resultados e dar a conhecer o nível dos serviços prestados e a possibilidade de os manter.

Ainda como características da informação financeira pública, o GASB (1987), no seu documento – “Performance Measurement Information Clearinghouse for Governments”, destaca a compreensibilidade, fidelidade, exatidão, relevância, consistência e comparabilidade. O IFAC complementa as características qualitativas sendo as seguintes: compreensibilidade, relevância e fidelidade.

Conectos com a discussão das dimensões de accountability na gestão pública então discutida percebe-se que, no âmbito internacional há uma convergência no sentido da definição da informação contábil, em especial na área pública, no sentido de que os relatórios sejam úteis como forma de prestação de contas e consequente tomada de decisão dos cidadãos, o que por sua vez se traduz desde a sua decisão de voto até a busca e controle das informações por meio da participação em conselhos sociais, por exemplo.

No âmbito nacional, uma discussão ampla sobre o objetivo da informação contábil, pode ser vista no trabalho de Dias Filho e Nakagawa (2001), quando defendem que caminham no mesmo nível de importância a necessidade de produzir a informação

certa e a de garantir que ela se torne compreensível ao usuário, de forma que proporcione um instrumento de apoio ao processo decisório.

Na contabilidade governamental estes atributos não são diferentes, entretanto, os fundamentos básicos são definidos em Lei, tendo a Lei nº. 4.320/64 como instrumento basilar para o exercício da contabilidade pública no âmbito Federal, Estadual ou Municipal no Brasil. De outro lado o Decreto-lei nº. 200/67, a Constituição Federal de 1988, a Lei Complementar 101/00 – Lei de Responsabilidade Fiscal, as Portarias STN nºs. 516 e 517, de 14 de outubro de 2002, entre outros, dispõem também sobre normas de organização das entidades governamentais no sentido de disponibilizar informações objetivando subsidiar as decisões dos gestores nas áreas social, econômica e financeira, atendendo às premissas básicas do controle contábil.

No Brasil, o CFC – Conselho Federal de Contabilidade, através da Resolução n° 785/95, relaciona os atributos indispensáveis às informações contábeis, com o intuito de promover divulgação satisfatória sobre a Entidade, e facilitar a realização dos propósitos dos usuários, sendo eles: confiabilidade (veracidade, completeza e pertinência), tempestividade, compreensibilidade e comparabilidade.

Reis (2000) esclarece a função dos normativos na contabilidade governamental quando explica que a legislação em vigor consolida-se no sentido de que a Contabilidade Governamental seja organizada a fim de permitir:

• Evidenciar perante a Fazenda Pública a situação de todos quanto, de

qualquer modo, arrecadam receitas, efetivem despesas, administrem ou guardem bens a ela pertencentes ou confiados (diretamente ligado à responsabilização dos agentes públicos);

• A tomada de contas dos agentes responsáveis por bens e dinheiro públicos

acompanhamento da execução orçamentária; o conhecimento da composição patrimonial (ligado ao dever de prestação de contas, à transparência e accountability);

• A determinação dos custos dos serviços, bem como a análise e a

interpretação dos resultados econômicos e financeiros (ligada às informações de desempenho da gestão pública);

• O controle dos direitos e obrigações oriundos de ajustes ou contratos em que

a Administração Pública for parte;

• Enfim, o controle de todos os fatos de natureza financeira ou não,

Assim, conforme defende o autor, os relatórios da contabilidade pública, traduzem um complexo sistema de informações para os usuários, em especial a sociedade.

Partindo destas características, pode-se afirmar que além de atender aos pré- requisitos acima mencionados, a informação contábil, os relatórios contábeis na área pública deverão gerar impacto, ou seja, atender as necessidades principais de seus usuários, no sentido de tomada de decisão e apreciação das contas públicas.

Caso não haja entendimento dos demonstrativos públicos no acompanhamento dos gastos públicos, a sociedade, bem como, seus representantes constitucionais, vereadores, conselheiros municipais, diretores de associações, presidente de sindicatos e outros atores que atuam na avaliação da comunidade como um todo, terão suas decisões sobre as ações governamentais prejudicadas, e a contabilidade estará se omitindo de seu principal papel.

Cumpre registrar que tal entendimento acerca da informação contábil pública é aplicável a relatórios e demonstrativos de órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União ou a Controladoria Geral da União, pois sendo sua função prioritária auditar e/ou fiscalizar a aplicação dos recursos públicos, os seus relatórios incumbem-se de traduzir para a sociedade a atuação da gestão.

Neste sentido, estes relatórios deverão ser revestidos das características da informação contábil pública então discutidas e promover a transparência da gestão pública sob análise. Em razão do exposto, far-se-á uma breve análise do controle na administração de forma que se possa conectar a atuação do controle e as informações produzidas, no intuito de promover a accountability societal.