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3.1 Unidade de Conservação

3.1.2 Tipologia

3.1.2.2 Unidades de Conservação de Uso Sustentável

3.1.2.2.1 Reserva Extrativista

Observa-se, em análise da Lei do SNUC, que há previsão de algumas formas de UC especificamente destinadas a abrigar as populações tradicionais, conferindo-as o uso e a posse. São elas as unidades de conservação de uso sustentável: Reservas Extrativistas e Reservas de Desenvolvimento Sustentável.

Assim, a Lei n° 9.985/2000 procedeu por considerar a relevância da contribuição das populações tradicionais para a conservação e o uso sustentável do bioma brasileiro. Objetiva, com tal criação, além de promover uma proteção dos recursos naturais por meio de um uso sustentável, resguardar a cultura e os meios de vida das comunidades tradicionais.

A Reserva Extrativista surgiu em um contexto de luta pela reforma agrária e a partir de mobilizações sociais e políticas realizadas inicialmente pelos seringueiros da Amazônia. A criação de Reservas Extrativistas foi proposta inicialmente no I Encontro Nacional dos Seringueiros, de inspiração no modelo de terra indígena, de propriedade da União e de posse coletiva e compartilhada, assim como o uso dos recursos naturais.

Nas palavras de Juliana Santilli75:

A criação de reservas extrativistas se deu em um contexto político em que o extrativismo foi redescoberto como uma atividade não- predatória, uma possível via de valorização econômica da Amazônia, e passou a ser exaltado como uma alternativa ao impacto ambiental devastador provocado pelos grandes projetos de colonização e agropecuários e pela abertura de grandes rodovias.

75 SANTILLI, 2005a, p. 144.

A Lei do SNUC, nos termos do artigo 18, define a Reserva Extrativista, in verbis:

É uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.

A Reserva Extrativista é uma unidade de conservação que visa proteger os meios de vida e de cultura das populações tradicionais, como também garantir o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.

Trata-se de área de domínio público, sendo a posse e o uso conferidos às populações tradicionais, mediante contrato de concessão de direito real de uso, na forma a ser estabelecida no regulamento da Lei.

A concessão de direito real de uso, segundo o artigo 7º, do Decreto- Lei n° 271, de 28 de fevereiro de 1967, que criou o instituto, é contrato administrativo pelo qual o Poder Público transfere o uso, remunerado ou gratuito, de terreno público a particular, como direito resolúvel, para fins específicos de urbanização, industrialização, edificação, cultivo de terra, ou outra utilização de interesse público.

Essa concessão será formalizada por escritura pública ou termo aditivo, inscrito no competente Registro de Imóveis. O direito é transferível por ato inter vivos ou por sucessão legítima ou testamentária, salvo disposição contratual em contrário. Quando o concessionário ou seus sucessores derem ao imóvel destinação diversa da estabelecida no contrato, o imóvel se reverterá à Administração Pública.

De acordo com o artigo 4° do Decreto n° 98.897, de 30 de janeiro de 1990, que dispõe sobre as Reservas Extrativistas, a exploração auto- sustentável e a conservação dos recursos naturais nessas áreas, pelas populações tradicionais será regida pelo Decreto-Lei n° 271/1967. Entretanto, disciplina que o direito real de uso será concedido a título gratuito e o contrato incluirá o plano de utilização76 aprovado pelo Instituto Brasileiro do Meio

76 José Heder Benatti entende que plano de utilização “nada mais é do que um documento escrito, proposto e elaborado pelos moradores da área protegida, a partir de seus conhecimentos acumulados historicamente, por meio da convivência com a natureza e do desenvolvimento de formas não predatórias de utilização dos recursos naturais, que garantem a conservação da floresta”. BENATTI, José Heder. Presença Humana em Unidade de

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), bem como cláusula de rescisão, diante da realização de quaisquer danos ao meio ambiente ou da transferência da concessão inter vivos. Ao IBAMA caberá a fiscalização sobre as áreas extrativistas, para observar o fiel cumprimento das condições pactuadas no contrato.

Na hipótese de rescisão contratual por interesse das partes contratantes ou por interesse público relevante, o concessionário terá direito à justa indenização pelas benfeitorias e trabalhos realizados no bem.

A Lei do SNUC, com o fim de resguardar, sobretudo, o caráter sustentável dessa UC, enumera várias restrições que devem ser observadas por parte das populações tradicionais. Assim, é proibido o uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou de práticas que danifiquem os seus

habitats. Além disso, é também proibida a prática ou atividade que impeça a

regeneração natural dos ecossistemas, sem prejuízo de observância de outras normas previstas na legislação, no PMUC e no contrato de concessão de uso. Há, ainda, proibição de exploração de recursos minerais e da caça amadorística ou profissional na reserva extrativista.

Acrescenta, ainda, o artigo 23 que a comunidade tradicional está obrigada a participar da preservação, recuperação, defesa e manutenção da UC. Nesse sentido, fica assegurada a participação de representante dessa comunidade em Conselho Deliberativo, com a finalidade de gerir a Reserva Extrativista, devendo aprovar o PMUC.

Segundo dados do MMA, há, na esfera federal, 25 Reservas Extrativistas federais no país, com grande parte delas localizadas na região amazônica77. No Ceará, existe apenas a Reserva Extrativista de Batoque, com

área de 7.098 hectares78.

Conservação: um impasse científico, jurídico ou político? In: CAPOBIANCO, João Paulo Ribeiro et al. (orgs.). Biodiversidade na Amazônia brasileira: avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. São Paulo: Estação Liberdade – Instituto Socioambiental, 2001, p. 304.

77 MILARÉ, op. cit., p. 255. 78 BRASIL, 2006.

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