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4.2 O PROCESSO DE AFASTAMENTO NA UNIDADE SIASS-UFRN

4.2.1 Resgate histórico do trabalho médico pericial na UFRN

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte teve sua fundação em 1958, através da Lei nº 2.307, de 30 de agosto de 1954 e Decreto Federal nº 45.116, de 26 de dezembro de 1958, com as faculdades existentes: Farmácia, Odontologia, Direito, Medicina, Filosofia, Ciências, Letras e Engenharia. Através da Lei nº 3.846, de 17 de dezembro de 1960, aconteceu a sua federalização, passando a ser uma Instituição Federal de Ensino Superior – IFES (VARELA, 2005).

Para compreensão dos anos de 1960 a 1990, vale a pena ressaltar a atuação do médico perito Décio Leal Teixeira. Pode-se dizer que o Dr. Décio é “o pai da junta média da UFRN”, por ter trabalhado cinquenta anos na UFRN, boa parte na Junta. Em 1960, por recomendação judicial, assumiu como primeiro presidente da Junta Médica o Dr. Olavo Silva de Medeiros (dermatologista) e os membros, Dr. Gilberto Wanderley e Dr. Marcelo Carvalho. Interessante registrar que Dr. Décio Leal ingressou na junta em 1964, antes de terminar o curso de medicina, atuando poucos meses na parte administrativa, como secretário do serviço (ANTÚRIO, COPO DE LEITE).

A sede da primeira Junta Médica foi no antigo Hospital das Clinicas, que em 1994 recebeu outra denominação (Hospital Universitário Onofre Lopes - HUOL), em homenagem ao criador da UFRN. O serviço funcionava duas vezes na semana, nos dias terça e quinta pela manhã. As coisas eram muito simples, no início funcionava nas enfermarias da dermatologia, era um serviço itinerante (ANTÚRIO).

Em 1968 ocorreu a reforma universitária no país. A UFRN passou por um processo de reorganização, que marcou o fim das faculdades e a consolidação da atual estrutura, com o agrupamento de diversos departamentos acadêmicos, que a depender da natureza dos cursos e disciplinas, organizaram-se em centros acadêmicos. Em 1970, teve início a construção do Campus Central (VARELA, 2005).

Com o tempo, Dr. Olavo saiu da presidência da Junta, assumindo como segundo presidente o Dr. Cleone Noronha (cirurgião), seguido por Dr. João Cabral Neto (Oftalmologista) e Dr. Décio Teixeira Leal (Pediatra) como quarto presidente, passando quinze anos no cargo e sendo sucedido Dr. José Deusamar de Sousa Fernandes (oftalmologista), último presidente deste modelo, destacando também nesse contexto, Izabel dos Santos Bezerra, por trabalhar 28 anos como secretária da Junta, de 1982 a 2010 (ANTÚRIO, COPO DE LEITE E TULIPA).

A junta permanecia sem local fixo e passou a funcionar no terceiro andar do prédio do Centro de Ciências da Saúde (CCS). Porém, pela dificuldade de acessibilidade dos servidores enfermos, foi transferida para uma sala própria no CCS, antigo arquivo do Centro, de acordo com antúrio, copo de leite, tulipa e girassol. Em 1990, a Junta Médica passou a ser regida pela Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, o Regime Jurídico Único dos servidores federais, prestando inegáveis e relevantes serviços à instituição por meio de um conjunto de atividades, as que se referem ao processo de avaliação da capacidade laboral, homologação das licenças médicas para tratamento de saúde, e aposentadorias por invalidez, entre outras (SILVA, 2002).

Em 1994, a Junta foi transferida para o Centro de Convivência no Campus Universitário, por sugestão do então reitor Prof. Geraldo dos Santos Queiroz, passando apenas quatro meses nas dependências do Departamento de Pessoal – DP, em conformidade com o relato de copo de leite. Em 1995, num contexto de significativas mudanças político-gerenciais na Administração Central da UFRN, foi criada a Pró-reitora de Recursos Humanos – PRH, na primeira gestão do Prof. Ivonildo do Rego (1995-1999), incorporando oficialmente em sua estrutura, a junta médica da instituição (SILVA, 2012; CAMPELO, 2015).

Silva (2012) aponta a criação da PRH/UFRN como um avanço no sentido de estruturar ações mais abrangentes de cuidados com o servidor, ampliando o setor denominado Departamento de Pessoal – DP que, neste ponto, passou a se constituir a partir de três Departamentos, o Departamento de Administração de Pessoal – DAP, o Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos – DDRH e o Departamento de Assistência ao Servidor – DAS.

O DAS passou a funcionar com três divisões: Divisão de Assistência à Saúde (DAS), Divisão de Assistência Social (DSO) e a Divisão de Higiene Segurança e Medicina do Trabalho (DHSMT), nessa última, a Junta médica estava enquadrada como serviço de Perícia Médica ao lado da Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT). Na gestão do diretor Benedito Braz Baracho no DAS, entre o ano 2000 a 2003, precisamente no ano 2002, chega no departamento, a enfermeira Neuma Maria da Silva, vinda do HUOL. Por ter experiência na área de sistemas de informações em saúde, o diretor apresentou preocupação em realizar um levantamento sobre a morbidade dos servidores da UFRN, em virtude do elevado número de servidores se afastando e se aposentando (CRISÂNTEMO, ANTÚRIO, GIRASSOL).

Para ajudar na realização da primeira pesquisa sobre a morbidade dos servidores da instituição, chega no DAS, a assistente social Ana Beatriz Medeiros de Siqueira, cedida do HUOL para assessorar Neuma Silva e a gestão na elaboração desse importante trabalho. Os

dados registrados pelos membros da Junta Médica nas Fichas Individuais de Registro de Licenças Médicas e o Livro de Registro das Aposentarias por Invalidez, progressivamente passaram a ser digitadas (SILVA, 2002, p. 9).

A partir da aquisição de microcomputadores por essa Divisão e com o apoio decisivo da Assessoria Técnica da PRH, teve início o processo de informatização da Junta Médica, o que abriu possibilidades mais concretas para o planejamento e a implementação de um sistema de informação que, se adequadamente estruturado, poderá funcionar como uma importante ferramenta gerencial, com capacidade para gerar e disponibilizar informações epidemiológicas confiáveis, ágeis e oportunas (SILVA, 2002, p. 9).

O programa informatizado era simples, na linguagem do MS-DOS, dificultando exportação dos dados para o ambiente Windows. Desta forma, os dados foram digitados novamente, cerca de três mil registros numa planilha do Excel. Em junho de 2002, o projeto piloto foi realizado, sendo intitulado “Características da morbidade em servidores da UFRN, a partir dos dados gerados pela Junta Médica”, conforme descreveram (GIRASSOL, CRISÂNTEMO).

Do desenvolvimento dessas atividades resulta considerável volume de dados de interesse da Epidemiologia, os quais, se transformados em informações, poderão fornecer valiosa contribuição ao conhecimento de importantes aspectos do processo saúde-doença de significativa parcela de servidores. Conhecimento esse, indispensável ao planejamento e melhor gerenciamento das políticas de recursos humanos da instituição (SILVA, 2002, p. 9).

Na conjuntura de 2003, o governo por meio do Ministério do Planejamento, criou a Coordenação Geral de Seguridade Social e Benefícios do servidor. No âmbito da UFRN, esse momento também é marcado por mudança de gestão no DAS, assumindo como diretor do DAS Joseleno Marques e Neuma Silva a coordenação da DHSMT (GIRASSOL, COPO DE LEITE).

O documento final foi concluído, sendo denominado “Contribuição ao conhecimento sobre o perfil da morbidade em servidores da UFRN, a partir de dados registrados pela Junta Médica Oficial da Instituição, no período de janeiro a dezembro de 2003”. O documento, junto com o piloto (de 2002), se configuram como os primeiros documentos institucionais sobre o perfil epidemiológico de morbidade dos servidores da universidade (GARDÊNIA, CRISÂNTEMO, GIRASSOL).

Em relação à Junta Médica, a gestão passou a realizar mudanças significativas. Entre outros pontos, merece destaque a revisão da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que

assinala que nem todos os casos de licença para tratamento da própria saúde deveriam ser encaminhadas para Junta Médica. A lei previa que até 29 dias de afastamento no prazo de 12 meses, o servidor deveria passar por perícia simples (atualmente perícia singular) e, acima de 120 dias em 12 meses, seria submetido a Junta Médica (TULIPA, GIRASSOL).

A perícia em saúde do DAS passou a ser realizada por meio de duas modalidades: perícia simples (presença de um médico perito) e a junta médica (composição de três médicos peritos). Desta forma, observa-se uma melhoria para a instituição, por otimizar o serviço da perícia médica e para o servidor, por ser menos exposto, pois todos os servidores, independentemente da quantidade de dias de afastamento solicitados, passavam pela junta (GIRASSOL).

A gestão do DAS atuou também na estruturação do que vem a ser hoje o prontuário físico do servidor, pois percebeu-se, na época, que os laudos periciais eram enviados para o arquivo geral da UFRN. A partir de cinco anos guardados, entretanto, como esses documentos não constavam na régua dos documentos oficiais, eram descartados. Os laudos passaram a ser arquivados junto com o atestado médico do servidor, se constituindo no seu prontuário físico. Os prontuários, organizados em envelopes, por ordem alfabética, arquivados em caixa arquivo (GARDÊNIA, GIRASSOL, COPO DE LEITE).

Assim como, a gestão promoveu análise no banco de dados informatizado da época, considerando o sistema falho, porque todo programa, todo banco de dados precisa de manutenção, atualização e desenvolvimento e não era o caso do sistema em uso “a junta médica se sentiu insegura em ficar só jogando os dados no sistema, na época a cópia de segurança era em disquete, não tinha rede, não tinha toda estrutura como hoje” (GIRASSOL, TULIPA).

Nesse período foi estruturado um novo modelo no fluxo dos afastamentos do trabalho da UFRN, pois o Ministério do Planejamento não dispunha de nenhuma normatização ou regulamento para orientar as IFES sobre como esses serviços deveriam funcionar (tudo dependia da necessidade imediata dos diversos órgãos federais e cada um fazia do seu modo). O fluxo proposto consistia na orientação ao servidor para que este, ao sair do seu médico assistente com um atestado, informasse a chefia imediata e entregasse o atestado diretamente no DAS no prazo de cinco dias corridos (TULIPA, GIRASSOL e ANTÚRIO).

O processo de implantação da Unidade SIASS-UFRN ocorreu de forma gradual. Carneiro (2011) pontua que os caminhos para a construção da Política de Atenção à Saúde e Segurança do Serviço Público Federal – PASS se deu por meio de discussões coletivas, ocorridas nos Encontros Nacionais de Atenção à Saúde do Servidor, com planejamento

estratégico conduzido pelo Ministério do Planejamento, fóruns, oficinas, formação de grupos de trabalho para discussão de assuntos específicos, realização de consulta pública, reunião com gestores de diversos órgãos da Administração Pública Federal (APF) e publicações de legislações e documentos, como manuais, normas operacionais, decretos e portarias.

A partir de 2009, as instituições públicas federais foram orientadas a formar Unidades do SIASS, cuja operacionalização ocorreu por meio da assinatura do Acordo de Cooperação Técnica (ACT), envolvendo um grupo de instituições das quais uma referida unidade seria escolhida como sede, numa lógica de parceria, conforme estabelece a Portaria Normativa nº 1.397, de 10 de agosto de 2012 (BRASIL, 2012a).

Vale a pena ressaltar que a organização do serviço na UFRN serviu de base para o SIASS, com destaque para o fluxo, (sendo detectado que outros órgãos federais já trabalhavam de forma semelhante) e o estudo da morbidade dos servidores da UFRN realizado em 2002, serviu de base para estruturação do subsistema nacional, tendo Neuma Silva à frente das negociações do SIASS no RN (GARDÊNIA, GIRASSOL).

Através do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) n° 033/2010, a Unidade do SIASS- UFRN foi oficializda, atendendo a maioria dos servidores públicos federais do Estado que utilizam os serviços de Perícia Oficial de Saúde para a concessão dos seus direitos, a exemplo da Licença para Tratamento da Própria Saúde. Sendo a partir de então, alimentado o banco do SIAPE SAÚDE na UFRN. A Enfermeira Neuma Silva assume como primeira coordenadora da Unidade. Em 26 de maio de 2010, foi realizado uns dos primeiros eventos do SIASS à nível de Brasil, o “I Encontro dos Integrantes da Rede SIASS do RN: Integrando pessoas e internalizando conhecimento para uma nova prática de Atenção à Saúde do Servidor Público”, depois de Brasília (CAMPELO, 2015; COSTA, 2016).

Em seguida, foi elaborado o primeiro folder da Unidade SIASS-UFRN (ANEXO A) com as orientações sobre o afastamento por Licença para Tratamento da Própria Saúde: Direitos e Deveres dos servidores, na gestão da segunda coordenadora da Unidade SIASS- UFRN, a Enfermeira Lúcia de Fátima Macedo com as orientações que constam atualmente na Carta de serviço da Diretoria de Administração de Pessoal (DAP) (GIRASSOL, TULIPA).

Como os avanços proporcionados pelo Plano de Reestruturação e Expansão da UFRN (REUNI), o Regime Interno da Reitoria (ano 2011) foi reformulado, contemplando os princípios da PASS, a parir de então, a estrutura da UFRN passou por reformulações internas, a PRH/UFRN passou a denominar-se Pró-reitora de Gestão de Pessoas - PROGESP/UFRN (UFRN, 2011).

A PROGESP/UFRN tem a missão de “Promover a política de Gestão de Pessoas da UFRN, visando o desenvolvimento pessoal, social e profissional, zelando pelos direitos, saúde e qualidade de vida no trabalho”, com a visão de “Ser referência na Gestão de Pessoas no âmbito do serviço público federal, com práticas inovadoras e atendimento de excelência” (UFRN, 2016, p. 5).

O novo organograma da PROGESP/UFRN traz como composição: Assessoria Técnica, Secretaria Administrativa, Coordenadorias (Concurso; Atendimento; Qualidade de Vida e Acumulação de Cargos) e Diretorias (Diretoria de Administração de Pessoal – DAP; Diretoria de Desenvolvimento de Pessoas – DDP e a Diretoria de Atenção à Saúde do Servidor – DAS).

A DAS é o setor “responsável pela gestão de ações referentes à saúde, perícia em saúde e vigilância e segurança no trabalho e qualidade de vida”, conforme Regimento Interno/2011. A composição da DAS também foi reestruturada, com Secretaria administrativa e quatro Coordenadorias (Coordenadoria de Assistência à Saúde do Servidor – CAS, Coordenadoria de Apoio Psicossocial do Servidor – COAPS, Coordenadoria de Promoção da Segurança do Trabalho e Vigilância Ambiental – COPS e a Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica e Perícia em Saúde – COVEPS), nas quais são atendido os servidores em busca do direito de afastamento do trabalho (UFRN, 2011).

Na atualidade assumem a coordenação da Unidade SIASS-UFRN as enfermeiras do trabalho Danielle Loren Costa e Lídia Costa Araújo Magalhães, juntamente com a equipe da perícia em saúde da COVEPS formada por servidores da UFRN e de outros órgãos federais parceiros, nas diversas categorias profissionais, incluindo médicos peritos, odontólogos peritos, auxiliares e técnicos administrativos, com a colaboração das demais coordenadorias da DAS, com uma equipe multiprofissional ampla, que contempla, médicos do trabalho, enfermeiros do trabalho, psicólogos, assistentes sociais, engenheiro e técnicos em segurança no trabalho, técnicos e auxiliares de enfermagem (GARDENIA, TULIPA, GIRASSOL, CRISÂNTEMO) .