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8. Cessação do contrato de franquia

8.4. Resolução

“A resolução do contrato é o acto pelo qual alguma das partes declara, de per si ou mediante intervenção judicial, que tem o contrato por ineficaz, em regra com efeito retroactivo, com base numa causa legal ou contratualmente prevista e superveniente à

celebração do negócio”.249

A resolução do contrato, que opera quer nos contratos de duração determinada quer indeterminada, pode fazer-se tanto judicial (através de acção declarativa) como extrajudicialmente (mediante declaração à outra parte).

Consiste num acto unilateral, fundado num poder vinculado, isto é, não discricionário. À parte que tenciona extinguir a relação contratual impõe-se que alegue e prove a verificação dos pressupostos legal ou convencionalmente exigidos para o efeito.

Quanto aos efeitos que produz entre as partes, a lei equipara a resolução à nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico, mas a retroactividade que caracteriza o regime da invalidade cede quando contrarie a vontade das partes ou a finalidade da resolução, sendo ainda que nos contratos de execução continuada ou periódica não abrange as prestações já efectuadas. Além disso, os direitos adquiridos por terceiro, incluídos os que incidam sobre bens imóveis ou móveis sujeitos a registo que tenha registado antes do registo da acção tendente a resolver o contrato, não são prejudicados pela resolução.

Como se disse já, nada impede que a resolução possa operar através de fundamentos convencionados pelas partes, as cláusulas resolutivas.

247PINTO MONTEIRO, Contrato de Agência, Anotação ao Dec.-Lei nº 178/86, de 3 de Julho, cit., pág. 124. 248ROMANO MARTINEZ, Da Cessação do Contrato, cit., pág. 526.

249 Definição sintetizada por RUI DE ALARCÃO resultante do contributo dos mestrandos do Curso de 2008/09, em

O art. 30º prescreve nas suas duas alíneas os fundamentos legais para a resolução no contrato de agência, que são o incumprimento e a impossibilidade, respectivamente.

Quanto ao incumprimento, impõe a lei que ele assuma uma tal gravidade ou reiteração que torne inexigível para a parte cumpridora a subsistência do vínculo contratual.

O contrato de franquia consiste numa relação contratual de execução continuada, que se caracteriza pelo estabelecimento de uma especial relação de confiança mútua, cuja intensidade não terá paralelo mesmo noutros contratos de distribuição.

Ora, o incumprimento de obrigações contratuais neste tipo de contratos só justificará o

direito à resolução se a gravidade250 ou reiteração dessa violação resultar numa quebra na

relação de confiança estabelecida entre as partes251.

O segundo dos fundamentos de resolução previstos para o contrato de agência tem carácter objectivo.

A “justa causa objectiva”252 ocorrerá, de acordo com a lei, sempre que se verifique a

superveniência de circunstâncias não imputáveis a qualquer das partes que impossibilitem ou prejudiquem gravemente a realização do fim visado pelo contrato.

Trata-se de uma situação em que as razões que conferem às partes o direito de extinguir o contrato não se ligam com a relação de confiança estabelecida entre elas. Aliás, o contrato estará até a ser regularmente cumprido até ao momento em que ocorrem aquelas circunstâncias que quebram de tal modo o equilíbrio das prestações nele previstas que torna inexigível a sua subsistência.

250 ROMANO MARTINEZ, Da Cessação do Contrato, cit., pág. 232, considera que a gravidade deverá ser

ponderada tendo em conta um princípio da proporcionalidade entre a prestação incumprida e a cessação do vínculo.

251 Sobre as especificidades no regime da resolução contratual, designadamente no âmbito das relações

duradouras, vide ROMANO MARTINEZ, Da Cessação do Contrato, cit., págs. 231 e segs. Este Autor considera que a quebra da relação de confiança há-de resultar de um juízo de prognose quanto à viabilidade da subsistência do contrato. PINTO MONTEIRO, “Anteprojecto do Contrato de Agência”, in BMJ, cit., pág. 111, realça que a perda da

confiança que se estabelece entre as partes no contrato de agência (e que nos parece ser ainda mais intensa no contrato de franquia) e que torna legítima a resolução do contrato, pode resultar não apenas do incumprimento de determinada prestação, mas também de atitudes que afectem a relação de recíproca colaboração e lealdade que, segundo a boa fé, une os contraentes. Já VAZ SERRA, “Anotação ao Acórdão do STJ de 07/03/1969”, in RLJ, cit., pág. 234, nota 2, considera que os contratos duradouros exigem para a respectiva execução, na maior parte das vezes, uma cooperação plena de confiança ou especial atenção e cuidado na preservação do próprio interesse e na realização de uma actividade assumida, dado que, no caso de longa vinculação no tempo, cada um dos contraentes, “em medida mais forte do que fora daí, confia na boa vontade do outro e na observância da convenção”, pelo que “os deveres de observância da boa fé, da consideração pessoal, obtêm uma importância maior”.

O fundamento da resolução baseada nesta justa causa objectiva caracteriza-se, deste modo, pela similitude com o instituto da alteração das circunstâncias previsto no art. 437º do

Código Civil253.

Quanto à declaração de resolução, ela deve ser feita por escrito, no prazo de um mês a partir da data do conhecimento dos factos que a justificam e fundamentada.

A doutrina tem entendido, com base em argumentos como a equiparação da resolução sem fundamento à denúncia sem pré-aviso e o forte carácter ‘intuitu personae’ do contrato de agência, que, relativamente a este tipo contratual, a circunstância de a resolução ter sido declarada sem fundamento não implica a manutenção da relação contratual, dando lugar

apenas ao direito a indemnização254.

253 PINTO MONTEIRO, Contrato de Agência, Anotação ao Dec.-Lei nº 178/86, de 3 de Julho, cit., pág. 127.

BAPTISTA MACHADO, “Anotação ao Acórdão do STJ de 17/04/1986”, in RLJ, cit., pág. 184, afirma também tal

semelhança, entendendo contudo que o instituto da alteração das circunstâncias apenas será de aplicação subsidiária nas relações contratuais duradouras, tendo em conta que a resolução com justa causa “aparece como especialmente concebida para este tipo de relações, ao levar particularmente em conta o factor duração, ou seja, a vinculação à continuidade da relação (o que não permite pôr-lhe termo por um acto de cumprimento”.

II - A INDEMNIZAÇÃO DE CLIENTELA

A indemnização255 de clientela surgiu como um modo de protecção do agente

comercial, consubstanciado na necessidade de assegurar o equilíbrio entre as prestações das partes no contrato de agência para além do respectivo período de execução. Essa circunstância de a cessação do contrato gerar, em simultâneo, a extinção dos direitos e deveres que dele derivavam para os contratantes e o surgimento de uma obrigação, a cargo de um deles, de assegurar uma compensação, fundada no contrato extinto, a favor do outro, constitui uma situação que, sem dúvida pela sua falta de correspondência na generalidade dos contratos, faz da figura da indemnização de clientela um instituto singular na ordem jurídica, originalidade que desde sempre despertou interesse pelas dificuldades que apresenta e que levaram já a

doutrina a considerá-la o “nó górdio” do regime jurídico do contrato de agência256.