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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Ação na videira e prejuízos

EM PALMELA, PORTUGAL: CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA SUA BIOECOLOGIA

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Ação na videira e prejuízos

A avaliação da intensidade de ataque de A. bimaculatus nas vinhas em estudo encontra-se no Quadro 1. O número de orifícios por sarmento variou entre 1 e 7, sendo que a grande maioria dos sarmentos amostrados apresenta 1 ou 2 orifícios. Procedeu-se ao cálculo da distribuição de frequências dos orifícios ao longo do sarmento (Fig. 4).

Quadro 1. Avaliação da intensidade de ataque de Amphicerus bimaculatus (Olivier)

para as três vinhas em estudo (Palmela, Setúbal): Rui Lobo/Poceirão (A), Fernando Santana/Fonte da Barreira (B), Vasco Machado/Fernando Pó (C).

Vinha Nº varas observadas Nº varas infestadas % ataque

A 200 1 0,5

B 200 16 8

C 200 3 1,5

Figura 4. Distribuição de frequências dos orifícios ao longo do sarmento (1=gomo da coroa) rea- lizados por Amphicerus bimaculatus (Olivier).

Nas vinhas estudadas, o tipo de poda utilizado é Royat bilateral ascendente, sendo deixados ca de 2 gomos à carga/talão, à poda. A frequência de ataque das 3 primeiras ordens (ordem da coroa mais os 2 primeiros nós) corresponde aproximadamente a 20%. Usando este valor e a estimativa de ataque preliminar calculado para as vinhas (Quadro 1) obtém-se a estimativa do prejuízo na ordem dos 0,1%, 1,6% e 0,3%, respetivamente para as vinhas A, B e C. Os estragos económicos mais significativos serão nas vinhas com condução Guyot, pois são deixados mais gomos na poda. A estimativa de prejuízo, por ser preliminar, deve ser analisada com alguma reserva.

3.2 - Mecanismos de seleção do hospedeiro e reação a estímulos (ensaio com arma- dilhas em campo)

No período de amostragem, não foram capturados indivíduos de A. bimaculatus em nenhuma das armadilhas testadas. Foram, no entanto, observados vários indivíduos adultos em voo no dia 01-04. O facto de não terem ocorrido capturas pode dever-se ao facto de os adultos não se encontrarem em período de voo durante o tempo do ensaio de campo, até porque foram visíveis adultos em voo antes da instalação das armadilhas. Seria interessante testar armadilhas mais cedo (antes de abril) e após agosto novamente.

A não ocorrência de capturas pode ainda ser explicada pelo facto de as armadilhas escolhidas não serem as mais adequadas para a espécie em estudo, sendo esta hipótese menos provável.

3.3 - Mecanismos de seleção do hospedeiro e reação a estímulos (preferência cromá- tica de Amphicerus bimaculatus a curta distância)

Dos 76 indivíduos participantes no ensaio, 5 ofereceram respostas nulas (não efe- tuaram nenhuma escolha). O número de indivíduos considerados para a análise esta- tística foram 71 (35 machos e 36 fêmeas). No caso das fêmeas, não foram verificadas diferenças significativas para as cores testadas (N= 36; χ23=2,222; p=0,528), sendo o preto a cor mais escolhida. Para os machos, verificaram-se diferenças significativas nas cores testadas (N=35; χ23 =26,829; p< 0,001), sendo o preto a cor significativamente mais escolhida (Fig. 5).

Figura 5. Ensaio para a preferência cromática de Amphicerus bimaculatus (Olivier) cujas cores testadas foram preto, verde, castanho e vermelho: resultados do teste de χ2 para as fêmeas (N=36) à esquerda e para os machos (N=35) à direita.

O facto de não ter ocorrido resposta clara pelas fêmeas pode significar que os mecanismos de seleção do hospedeiro impliquem vários fatores, como mais que uma cor ou até outros estímulos, como atrativos químicos. As fêmeas fecundadas e em período de postura poderão ser mais ativas para sondar o hospedeiro com o objetivo de realizar posturas, mas nada garante que, à data do ensaio, estivessem todas fecun- dadas. Já os machos, após a fecundação das fêmeas, não têm necessidade de explorar o ambiente a não ser para alimentação. Nos machos, a análise estatística mostrou diferen- ças significativas nas cores testadas, sendo o preto a cor mais escolhida; Tal preferência poderá ser explicada pelo facto de o preto ser a cor mais semelhante ao abrigo conferido pelas galerias dos sarmentos.

3.4 - Estudo dos estados de desenvolvimento de Amphicerus bimaculatus

No ensaio em contexto da presença de hospedeiro, observou-se vários comporta- mentos, desde alimentação, exploração do habitat e sondagem do substrato para postura com o oviscapto (Fig. 6). Foi registada atividade superior das fêmeas em relação à dos machos ao longo do dia. Os locais selecionados pelas fêmeas para as posturas foram as zonas junto aos nós dos sarmentos e de corte da videira. Não foi observado nenhum padrão de postura, sendo esta, por isso, aleatória (Fig. 7). Foi, igualmente, possível observar pupas e larvas nos sarmentos em campo (Fig. 8).

Figura 6. Pormenor do oviscapto da fêmea de Amphicerus bimaculatus (Olivier) em atitude de postura.

Figura 7. Ovos depositados por Amphicerus bimaculatus (Olivier) em corte de videira.

Figura 8. Pupa (à esquerda) e larva (à direita) de Amphicerus bimaculatus (Olivier) presente nos sarmentos recolhidos do campo nas vinhas estudadas (Palmela, Setúbal).

O estudo permitiu documentar os estados de ovo, larva e pupa, através das reco- lhas no campo e observação em laboratório, sendo possível esboçar a ocorrência sazonal de uma parte do ciclo de vida anual de A. bimaculatus (Quadro 2).

Mediante as observações realizadas, deve existir, pelo menos, uma geração anual de

A. bimaculatus em Palmela. As galerias efetuadas nas videiras, causadas por larvas ou

pelos adultos para alimentação e abrigo, são então detetáveis na altura da poda, expli- cando as queixas dos viticultores.

Quadro 2. Ocorrência sazonal de Amphicerus bimaculatus (Olivier) (a listado: campo;

a liso: laboratório). Entre outubro e fevereiro, não há dados para suportar a ocorrência sazonal. A- início do trabalho de campo e laboratório. B- fim do trabalho de campo.

C- fim do trabalho de laboratório.

4. CONCLUSÃO

Este estudo levou a diferentes conclusões acerca da bioecologia de A. bimaculatus que podem ter contributos proveitosos para a adoção de meios de proteção da vinha em relação a esta espécie. Nas vinhas em estudo (Palmela), a estimativa do prejuízo causado por esta espécie rondou os 0,1-1,6%. As diferentes armadilhas testadas em campo e o ensaio da preferência cromática de A. bimaculatus permitiram uma primeira aborda- gem aos mecanismos de seleção do hospedeiro a curta e longa distância. O estudo dos diferentes estados de desenvolvimento possibilitaram acompanhar os estados imaturos, obtendo vários registos fotográficos que auxiliam numa melhor identificação da praga em campo. Na região estudada, deve existir pelo menos uma geração anual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Campos, LPMS, 2008. Efeito de factores de natureza visual na localização de fontes de feromona pelos machos de cochonilha algodão dos citrinos, Planococcus citri (Risso). Dissertação de Mestrado em Engenharia Agronómica, ISA/UTL, Lisboa.

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