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RESULTADOS E DISCUSSÃO

No documento Síndrome de Down (páginas 53-68)

Os dados apresentados são referentes aos 18 adultos com SD participantes, que tinham idade cronológica acima dos 35 anos, sendo sete mulheres com idade média de 47± 8,68 anos e 11 homens com idade média de 47 ±10,14 anos.

O perfil antropométrico encontrado para o grupo estudado mostrou que as

mulheres apresentaram média de IMC=33,41kg/m2 e os homens, média de

IMC=29,82kg/m2. Considerando-se os dados do Sistema de Vigilância Alimentar e

Nutricional, e comparando-se com a classificação do estado nutricional de idosos, observa-se que os participantes apresentaram perfil de sobrepeso. Se for considerado o perfil do adulto, as mulheres seriam classificadas como obesas, com IMC>30 (BRASIL, 2020).

O IMC calculado para a SD pode ser comparado com o estudo desenvolvido por Bertapelli et al., (2017), que foi realizado com 706 jovens com SD entre dois e 18 anos de idade e propuseram índices específicos, considerando as características dessa população (Anexo IV). Com índices calculados para jovens até os 18 anos, esta é uma referência nacional para pessoas com SD. Pelos valores de referência do estudo para 18 anos, o IMC das mulheres fica próximo ao percentil 85%, enquanto para os homens os índices encontrados situam-se entre 50 e 75% (Anexo V).

A média de peso e altura para as mulheres foi de 62,71kg e 1,37m. Para os homens, a média para o peso foi de 71,64kg e para altura 1,55m. Os valores de medida para peso e altura, no caso da SD, têm sido analisados em diversos estudos nacionais e estrangeiros de acordo com as curvas de crescimento desenvolvidas por Cronk et al., (1988), porém os dados publicados também se referem à faixa etária até 18 anos. Para os autores, índices abaixo de 5% representam baixo peso, entre 5% e 95% situam-se os indivíduos eutróficos e índices acima dos 95% refletem sobrepeso ou obesidade.

Embora esses dados não contemplem a faixa etária aqui estudada, pode-se observar que as mulheres se encontram, considerando as curvas de Cronk et al., (1988) próximas ao percentil 75 para peso e próximas ao percentil 10 para altura. Os homens, igualmente se encontram próximos ao percentil 75 para peso e pouco

acima dos 50% para altura. Desta forma, considerando esses valores de referência, todos os participantes seriam eutróficos.

Zemel et al., (2015) realizaram novo estudo com 637 participantes, do

nascimento aos 20 anos e propuseram novas curvas de crescimento para a SD. Esses dados são atualmente adotados como normativos pelo o CDC, Centers of Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos, para a população americana. De acordo com os índices do IMC para SD do CDC (Anexo VI) os homens aqui avaliados estão acima do percentil 90 e as mulheres entre 95 e 97% (Anexo VII), o que representa uma diferença grande em relação aos dados do estudo brasileiro de Bertapelli et al., (2017). De acordo com os autores, a população brasileira com SD apresentou diferentes padrões de IMC quando comparada com as referências do CDC.

As causas fisiológicas do sobrepeso e obesidade na SD não são totalmente compreendidas, e discussões mais profundas são necessárias para esclarecer seus mecanismos. As discussões atuais apontam para fatores como o hipotireoidismo; a baixa taxa metabólica em repouso, associada à hipotonia; disfunções mastigatórias, como a dificuldade em comer frutas cruas e mastigar alimentos fibrosos, ocorrendo preferência por alimentos mais ricos em carboidratos; tendências comportamentais como a impulsividade. Além dos cuidados com a alimentação e o acompanhamento em saúde, deve haver o incentivo à prática de atividades físicas e à limitação de atividades sedentárias, como assistir televisão (ARTIOLI, 2017).

A família deve ter acesso à educação alimentar desde o nascimento da criança com SD como medida preventiva e a prática de exercícios anaeróbicos pode promover aumento da massa muscular e consequente aumento de força, com maior metabolismo basal e aumento do gasto calórico para que as chances de viver uma vida melhor e mais saudável possam se ampliar (ARTIOLI, 2017).

Na avaliação do nível de atividade física pelo IPAQ, seis participantes foram classificados como irregularmente ativos A e 10 como irregularmente ativos B. Vale ressaltar que dois participantes não realizaram esse teste por apresentar dificuldade de compreensão das perguntas contidas no questionário.

Estudos de Seixas et al., (2012) analisaram o perfil da qualidade de vida de pessoas com SD através da resposta do questionário IPAQ realizado por seus responsáveis e com um n=33, 36,36% dos participantes pontuaram como muito ativos, 39,40% foram considerados ativos e 24,24% irregularmente ativos A, obtendo

assim um nível de atividade física coerente com o proposto pela OMS, diferentemente dos resultados aqui encontrados.

Pode-se considerar que a característica do déficit intelectual nas pessoas com SD representa um desafio à aplicação de instrumentos que exigem um raciocínio lógico e operacional para as respostas e que, o cálculo de tempo necessário para responder às questões do IPAQ pode dificultar, de fato, a compreensão das perguntas.

Diversos estudos disponíveis na literatura referem o uso de quase todos os instrumentos aqui utilizados com grupos de pessoas com SD. Porém, pouco se discute sobre as estratégias de aplicação e coleta de dados, considerando que uma das características da SD é a presença do déficit intelectual. Desta forma, a compreensão para execução das tarefas solicitadas pode ser comprometida em seus escores finais devido às dificuldades de interpretação dos comandos ou pelo estado emocional momentâneo, isto é, se o participante está ou não motivado no momento da execução da tarefa solicitada.

A avaliação da imagem corporal mostrou que, considerando a numeração das imagens de 1 a 12, sendo 1 a mais magra e 12 a mais obesa, a escolha das mulheres para silhueta real (SR) foi em média para a imagem 6±4,43, enquanto para os homens foi a imagem 5±3,39. Todavia, a avaliação do examinador, prevista no corpo observado (CO) foi para a figura 10±3,41 para as mulheres e de 7±3,2 para os homens. Considerando esses valores e os valores do IMC, observa-se uma discrepância na percepção de própria imagem corporal mais evidenciada para as mulheres, que se identificavam com uma silhueta mais magra do que realmente apresentavam.

De Sousa Santos et al., (2019) afirmam em seus estudos que mulheres

idosas ativas ou não fisicamente, estão insatisfeitas com sua imagem corporal, justificando-se pela influência da mídia com a fantasia do corpo perfeito, ocasionando uma distorção na imagem corporal. Sugere-se que a atividade física seja importante aliada nesse momento por seus aspectos biopsicossociais influenciando no entendimento da imagem corporal. Menezes et al., (2014), relatam que em idosos essa distorção da imagem corporal deve-se a avaliação da saúde, muitas vezes negativa, excesso de peso, ausência de atividades físicas entre outros. A Tabela 1 descreve os resultados das avaliações das variáveis imagem corporal, força muscular respiratória (FMR), TC6M, Dinamometria, TUG e

flexibilidade para homens e mulheres. Observa-se que as provas de FMR e o TC6M não foram realizadas por todos os participantes, sendo estas, as tarefas de maior dificuldade de compreensão para os comandos e execução.

Tabela 1 - Valores de média e desvio padrão

Legenda: IMC= Índice de Massa Corporal; FMR – força muscular respiratória, TC6M – teste de caminhada de 6 minutos; TUG – Timed up and go; FLEX – flexibilidade

Pesquisas com pessoas com SD que fazem uso do IPAQ, da manovacuometria, do TUG, do TC6M e do dinamômetro estão disponíveis na literatura, porém, sem discutir as condições de aplicação. Estudos referem o uso, por exemplo, do clipe nasal para as coletas de valores da PImáx e PEmáx, sem

TESTES MULHERES HOMENS GRUPO

IMAGEM CORPORAL (referente ao número da silhueta) n=07 n=11 n=18 Silhueta real 6 ± 4,43 5 ± 3,39 7 ± 3,81 Silhueta ideal 10 ± 2,23 6 ± 3,9 5 ± 3,91 Corpo observado 10 ± 3,41 7 ± 3,2 8,3 ± 3,53 FMR (cmH2O) PImáx n=06 n=08 n=14 Medido 30± 8 43 ± 37 35,4 ± 31,1 Previsto 88 ± 4 118 ± 6 99,4 ± 30,7 PEmáx n=06 n=09 n=15 Medido 43 ± 9 48 ± 30 46,4 ± 25,4 Previsto 88 ± 5 126 ± 7 111,8 ± 20,1 TC6M (m) n=05 n=08 n=13 364 ± 32 442,5 ± 79 416 ± 80,37 DINAMOMETRIA (kg/f) n=07 n=11 n=18 Direita 10,2 ± 2,2 17,5 ± 8 14,7 ±6,77 Esquerda 9,8 ± 3,25 16,2 ± 8,74 13,7 ± 7,06 TUG (seg) n=07 n=11 n=18 8,6 ± 1,63 8,9 ±2,15 8,7 ± 2,2 FLEX (cm) n=07 n=11 n=18 61,3 ± 8,17 54,6 ± 20,57 57,2 ± 15,6

discutir a aceitação desse acessório pelos participantes da pesquisa com SD. No presente estudo, houve recusa por parte de alguns participantes em permanecer com o clipe nasal, sendo necessária uma adaptação manual para substituir o clipe, com auxílio do pesquisador ou do próprio avaliado para impedir o escape do ar.

Os resultados obtidos foram agrupados em três blocos para correlação. Foi usada a correlação de Pearson entre as variáveis que compõem a dimensão composição corporal e aptidão física, a saber: a) IMC x imagem corporal; b) manovacuômetria x TC6M; c) Dinamometria x TUG x Flexibilidade (Tabela 2).

Tabela 2 - Teste de correlação

HOMENS MULHERES GRUPO

Variáveis r p r p r p IMC x SR 0,366 0,268 -0,418 0,35 0,216 0,389 IMC x CO 0,62 0,042* 0,917 0,004* 0,704 0,001* TC6M x PEmáx, cmH2O 0,934 0,002* 0,574 0,312 0,387 0,214 TC6M x PImáx, cmH2O 0,700 0,080 -0,471 0,423 -0,029 0,930 PImáx cmH2O x PEmáx cmH2O 0,680 0,093 -0,081 0,897 0,540 0,070 DIND x DINE 0,895* 0,000* 0,669 0,100 0,901 0,000* DIND x TUG -0,531 0,093 -0,859 0,013* -0,430 0,075 DIND x FLEX 0,295 0,378 0,046 0,922 0,112 0,658 DINE x TUG -0,384 0,244 -0,708 0,075 0,353 0,151 DINE x FLEX 0,422 0,196 0,028 0,953 0,228 0,362 TUG x FLEX 0,056 0,87 -0,184 0,693 -0,002 0,995

Legenda: IMC= Índice de Massa Corporal; SR- Silhueta Real; CO - Corpo observado; TC6M – teste de caminha de 6 minutos; PEmáx, cmH2O - Pressão Expiratória máxima; PImáx, cmH2O - Pressão inspiratória máxima; DIND - Dinamometria direita; DINE - Dinamometria Esquerda; TUG – Timed up and go; FLEX – flexibilidade. *Valores significantes p ≤ 0,05

a) IMC x Teste de Imagem Corporal

As correlações entre o IMC e a SR foram de magnitude baixa para o grupo (r=0,216). Para os homens foi moderada (r=0,366) enquanto para as mulheres, apresentou-se como uma correlação linear negativa (r=-0,418) sendo neste caso, interpretada como uma distorção da própria imagem corporal.

A correlação entre IMC e CO, que representa a observação do avaliador, foi, como esperado, de grande magnitude para o grupo completo, n=18 (r=0,646/p= 0,004) como para os sexos masculino (r=0,615 / p=0,044) e feminino (r=0,878 / p=0,009), observando-se valores de “p” significantes.

No estudo de Schiavo (1999) investigou-se em um grupo focal com pessoas com SD características sobre a imagem corporal e como essas pessoas se veem. Como resultado, as pessoas com SD participantes do estudo mostraram uma autoimagem positiva e autoestima elevada, sendo este achado atribuído pelo autor à prática regular de atividades físicas associada ao apoio, estímulo recebidos. Tavares (2003) cita que a imagem corporal reflete a relação da pessoa com seu corpo e auto percepção, logo, para construir essa imagem ao longo do tempo são necessárias experiências e memórias de vivencias das interações com o ambiente.

Conceição et al., (2013) avaliaram a massa corporal, estatura e percepção da autoimagem de 11 indivíduos com média de idade de 28 anos de ambos os sexos com SD. Como instrumento foi utilizado a escala de silhuetas, e os resultados não mostraram distorção de imagem corporal, diferentemente do presente estudo.

b) TC6M x Manovacuometria

O desempenho do grupo avaliado nos testes de manovacuometria para PImáx e PEmáx foi comparado com os volumes esperados para a idade a partir dos cálculos propostos por Costa et al., (2010) sendo para os homens: PImáx: y = −1,24 × idade + 232,37 e PEmáx: y = −1,26 × idade + 183,31. Para as Mulheres PImáx: y = −0,46 × idade + 74,25 e PEmáx: y = −0,68 × idade + 119,35.

Observou-se, de acordo com a Tabela 3, que os volumes obtidos pelos participantes se encontravam sempre abaixo do previsto para a idade.

Houve grande variabilidade nos valores de desempenho, com percentuais sobre os valores previstos de 11% a 71% para PImáx e de 15% a 76% para PEmáx.

Tabela 3 - Força muscular respiratória

PART. SEXO Pimáx Final Previsto %

Previsto PEmáx Final Previsto

% Previsto P1 F -30 -57,23 52 50 94,19 53 P2 F -30 -51,71 58 40 86,03 46 P3 F -40 -57,23 70 40 94,19 42 P4 F -20 -47,11 42 30 79,23 38 P5 F -20 -50,79 39 60 84,67 71 P6 F -40 -56,31 71 40 92,83 43 P7 M -20 -176,57 11 30 126,61 24 P8 M -20 -177,81 11 60 127,87 47 P9 M -20 -179,05 11 20 129,13 15 P10 M -100 -181,53 55 100 131,65 76 P11 M -20 -153,01 13 20 102,67 19 P12 M -120 -181,53 66 100 131,65 76 P13 M -20 -181,53 11 30 131,65 23 P14 M -20 -165,41 15 36 115,27 31 P15 M -42 -172,85 24 66 122,83 54 P16 M - - - 20 103,93 19 MÉDIA -40,18 -125,98 37 46 110 42 DP 35,78 61,82 23,95 24,55 18,72 19,38

As correlações entre o TC6M e a manovacuometria demonstraram que, para o grupo, o TC6M e a PEmáx apresentaram correlação moderada (r=0,387 / p=0,214) e para TC6M e PImáx, correlação baixa (r=-0,029 / p=0,930) (Tabela 2).

Na análise por sexo, o grupo dos homens apresentou forte correlação da PImáx com o TC6M (r=0,700 / p= 0,080), o mesmo ocorrendo para a PEmáx (r=0,934 / p=0,002). Para as mulheres as correlações com o TC6M foram

moderadas para PImáx (r=-0,471 / p=0,423) e fortes para PEmáx (r=0,574 / p=0,312), de acordo com os parâmetros de magnitude de Cohen (1988).

Seguindo os mesmos parâmetros, a PImáx e PEmáx mostraram forte correlação para o grupo (n=12, r=0,540 / p=0,070) e para os homens (r=0,680 / p=0,093); o resultado das mulheres, possivelmente pela irregularidade de desempenho nos testes e pelo número reduzido de apenas 5 participantes na análise, apresentou correlação praticamente inexistente (r=-0,081 / p=0,897).

Esperava-se, como resultado, que as correlações de PImáx e PEmáx se mostrassem de grande magnitude para ambos os sexos, uma vez que espera-se que quanto melhor seja o desempenho para a PImáx, melhor sejam as respostas de PEmáx, exceto em casos específicos de doenças pulmonares. Quanto maior for a força dos músculos inspiratórios, mais ventilação alveolar e maior a captação de oxigênio. Isto melhora o metabolismo muscular e sua potência. Já os valores de PEmáx referem-se a força da musculatura expiratória, dos músculos abdominais e intercostais.

A ausência de boa correlação no grupo feminino pode ser justificada uma vez que as participantes mostraram algumas dificuldades em realizar o teste com boa consciência e controle respiratório.

A manovacuômetria apresentou algumas alterações necessárias para sua aplicação, uma vez que na tentativa de utilização do clipe nasal, os participantes não se sentiram cômodos com o objeto e tiraram do nariz. Eles aceitaram realizar a própria obstrução das narinas para realizar as ventilações, com eficiência do tamponamento verificada pela pesquisadora.

O desempenho no TC6M dos indivíduos com SD pode ser prejudicado pela característica da baixa estatura. Os integrantes do grupo feminino apresentaram média de 1,37 mde altura, enquanto os integrantes do grupo masculino tiveram a média de 1,55 m, estando ambos abaixo dos percentis da população típica. As mulheres, principalmente, foram classificadas próximas ao percentil 10 nas curvas para a SD.

Soares e Pereira (2011) descrevem em seus estudos valores de referência para adultos saudáveis no Brasil para o TC6M, com valores aproximados da distância percorrida no teste, sendo 566 ± 87m em homens e 538 ± 95m em mulheres (p = 0,08). Nesse estudo, os autores observaram que a distância

percorrida foi maior para aqueles com maior estatura e foi menor para os que eram mais velhos e que apresentavam maiores índices de IMC.

Rikli e Jones (2008) exemplificam valores de referências para TC6M em adultos acima de 60 anos. Logo, quando comparamos as pessoas com SD deste estudo com idosos típicos vemos que a distância percorrida no TC6M pelos homens com SD equivale a um homem acima dos 75 anos, pois a média foi de 442m. Ao relacionarmos esses dados com o sexo feminino vemos que se comparadas SD e idosas típicas a idade relativa é de 80 anos.

Estudos de Vasconcellos (2007), com idosas sedentárias que realizaram manovacuometria e TC6M demonstrou correlação positiva e significativa entre a distância percorrida e a força de músculos inspiratórios. Indicando que quanto menor a força da musculatura inspiratória, menor é a capacidade funcional.

Simões et al., (2010) afirmam que houve uma correlação positiva e

significativa entre as funções dos músculos respiratórios e dos membros inferiores auxiliando na capacidade funcional, assim recomendando que haja uma inclusão de treinamento da musculatura respiratória para minimizar o impacto do processo de envelhecimento através de programas de prevenção e reabilitação.

No TC6M, a cada volta foi perguntado sobre exaustão seguindo a escala de Borg. Apenas um participante chegou à escala máxima de Borg e pediu para parar e descansar, os demais realizaram sem anormalidades. Na literatura, o TC6M é usado com esta população sem descrição de dificuldades para os avaliados.

Vis et al. (2009) produziram um estudo para validar o TC6M como ferramenta para medir o desempenho funcional durante o exercício físico em pessoas com SD. Participaram desse estudo pacientes adultos com SD com e sem doença cardíaca grave (respectivamente n=29 e n=52), categorizada por ecocardiografia. Para testar a reprodutibilidade, um grupo de pacientes com SD realizou o TC6M duas vezes. Concluíram que o TC6M entre os dois grupos não foi significativamente diferente, no entanto, a distância a pé está inversamente correlacionado com o nível de deficiência intelectual. Sendo assim afirmam que o TC6M não é um teste válido para examinar a restrição cardíaca em pacientes adultos com SD.

Assim como os apontamentos de Vis et al. (2009), os resultados aqui obtidos apontam para a necessidade de estudos futuros para investigar outros parâmetros que podem ser usados para avaliar a capacidade funcional em indivíduos com SD ou modificações que podem melhorar a validade do TC6M para esta população.

c) Dinamometria x TUG x Flexibilidade

As correlações da dinamometria entre a mão D e E foram consideradas de grande magnitude para ambos os sexos, (sexo feminino r=0,669 / p=0,100; sexo masculino r= 0,895 / p= 0,000), com significância estatística para o sexo masculino, o que refere uma simetria na força de preensão manual. Este achado foi reforçado com a forte correlação quando se avalia o grupo, sem distinção de sexo (r=0,901 / p=0,000).

Ao observar-se a força de preensão manual no público com SD e idosos típicos observamos uma grande diferença. Usamos a equação antropométrica para estimativa da força de preensão manual em idosos sugerido por Tveter et al., (2014). A estimativa de média para as mulheres era de 27,2kgf, porém o realizado pelo grupo com SD foi de 10,2 kgf. Quando observamos a média estimada em idosos do sexo masculino a média do grupo seria de 46,6 kgf, contudo a média realizada foi de 17,5 kgf muito abaixo do esperado.

Na análise dos 18 participantes seguindo os parâmetros de Cohen (1988), a força manual tanto direita (r=-0,430 / p=0,075) quanto esquerda (r=0,353 / p=0,151) apresentaram correlação moderada com o risco de queda. Quando separados por sexo observou-se correlação linear negativa de grande magnitude para o sexo masculino na mão D (r=-0,531 / p=0,093) e moderada para mão esquerda (r= -0,384 / p=0,244), enquanto o sexo feminino apresentou correlação linear negativa grande para mão D (r=-0,859 / p=0,013) e E ( r= -0,708 / p= 0,075).

A força de preensão manual é uma das cinco características biológicas mensuráveis que compõem o fenótipo da fragilidade no idoso (LANA, SCHNEIDER, 2014; FRIED et al., 2001), aumentando o risco de queda. Desta forma, a força de preensão reduzida encontrada em pessoas com SD deve ser avaliada com atenção estendendo-se o cuidado da avaliação também para a força de membros inferiores, que podem comprometer as atividades funcionais, como por exemplo, a habilidade para levantar-se e sentar-se numa cadeira. Atividades manuais que fortaleçam a preensão devem ser consideradas com atenção em programas destinados a essa população em fase de envelhecimento, bem como atividades de fortalecimento muscular globais.

A avaliação com o uso do dinamômetro foi realizada sem intercorrências, com boa aceitação pelo grupo e sem apresentação de dificuldades que pudessem influenciar negativamente os resultados.

O risco de queda foi avaliado pelo TUG, que é um instrumento para avaliar a mobilidade e como tal, é considerado um preditor do risco de queda. A média de execução do teste para os homens de 8,9 segundos e a média das mulheres de 8,6 segundos. Segundo Safons e Pereira (2007) os dados obtidos nessa amostra para o TUG equivalem a performance de idosos típicos de 85 anos para homens e 80 anos para mulheres. Todavia, quanto ao escore de realização do teste, todos se enquadram em até 10 segundos sendo um tempo normal de execução para indivíduos independentes (MATHIAS; NAYAK; ISAACS, 1986).

Embora nossos resultados tenham demonstrado que a população avaliada alcançou o tempo de execução dentro dos limites apontados pela literatura para ausência de risco de queda, esse dado deve ser olhado com cautela, tendo em vista que população com SD apresenta características físicas como: hipotonia, frouxidão ligamentar, hipermobilidade articular e sobrepeso (ARTIOLI, 2017).

Dificuldades foram observadas no quesito mobilidade na tarefa de girar e sentar-se, ainda que realizadas dentro do tempo de execução esperado. Tal achado pode ser atribuído às limitações de mobilidades características da população estudada. Todavia, o feedback imediato e o incentivo para a realização do teste pelo examinador podem ter auxiliado o bom desempenho durante a fase de caminhada linear do teste. Ou seja, apesar da amostra ter realizado o teste no tempo esperado, ficou evidenciado a fraqueza muscular e o déficit de equilíbrio nas etapas de girar e sentar-se.

Mello e Machado (2020) realizaram uma revisão de literatura com meta-análise que garantem ser de suma importância a inclusão de programas de exercícios físico com treinamento resistido e exercícios que envolvem equilíbrio para auxiliar na redução da taxa de quedas em idosos.

O TUG foi validado para aplicação em crianças e adolescentes com SD no estudo de Nicolini-Panisson e Donadio (2014), gerando valores de referência para as idades entre três e 18 anos. No presente estudo, mostrou-se um teste de fácil execução para os participantes, com boa compreensão para os 18 avaliados. Observou-se que a maior dificuldade apresentada por este grupo foi na atividade de sentar-se ao final do teste, podendo esta dificuldade ter tido maior influência no tempo cronometrado. Esta observação não foi encontrada em outros estudos que utilizaram o TUG com esta população.

A flexibilidade avaliada neste estudo para homens obteve média de 54,6 e nas mulheres 61,3, pessoas com SD apresentam alta flexibilidade devido à diminuição do tônus muscular.

Benedetti et al. (2014) adaptaram em seus estudos a bateria de testes físicos da AAHPERD (American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and

No documento Síndrome de Down (páginas 53-68)

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