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DOS RESULTADOS DO ESTUDO: ALGUNS APONTAMENTOS DE SÍNTESE ALGUNS APONTAMENTOS DE SÍNTESE

Por meio da Carta Constitucional de 1988 e da LDBEN/96 a Gestão Democrática passou a ser adotada como um princípio educativo em oposição a um modelo burocrático e centralizador que dificultava a criação de instrumentos de comunicação e compartilhamento do poder no contexto dos sistemas públicos de ensino brasileiro.

A LDBEN assegura, na letra da lei, o princípio da gestão democrática e possibilita aos sistemas de ensino refletir sobre as formas de participação da comunidade nas decisões da escola e no projeto político pedagógico. Dessa forma, O estudo teórico da legislação pertinente ao tema articulado com dados da pesquisa aponta ainda os grandes desafios que estão postos entre o ideal e o real na construção da democracia e cidadania nas escolas do sistema de ensino municipal, especificamente, a escola pesquisada.

Os resultados da pesquisa assinalam o caminho percorrido pela escola municipal no sentido da tentativa do exercício de práticas mais condizentes com participação da comunidade escolar no que tange as decisões quanto aos aspectos pedagógicos e administrativos da unidade educativa. No entanto, identificamos nos depoimentos dos entrevistados, bem como no processo de observação vivenciado pela pesquisadora que existe um discurso bem orquestrado, dos técnicos e secretária da SEMED, de colocar em prática um modelo de gestão que guarda coerência com aquilo que está previsto na Constituição e na LDBEN. Nesse sentido, identificamos que a SEMED tem um Plano Decenal Municipal de Educação com vigência de 2006 a 2015 que ainda não foi implementado em que pese constar no documento. Os relatos dos entrevistados são esclarecedores no que diz respeito à falta de conhecimento dos princípios da gestão pretendidos pelo poder público. Portanto a contradição entre a letra da lei e as práticas adotadas no sistema municipal quanto à gestão democrática revelam a estrutura organizacional verticalizada entre a SEMED e as escolas. Essa dicotomia

entre os que concebem e os que executam fica evidente nas decisões que devem ser cumpridas pela escola, advindas da secretaria.

Por ouro lado, cabe enfatizar que apesar da legislação federal, a LDBEM e o Plano Decenal do Município destacarem como meta o processo de provimento ao cargo de diretor de ensino como uma das variáveis da gestão democrática escolar, tal procedimento ainda não é efetivado como prática nas escolas do município. A forma de acesso ao provimento do cargo de diretor ainda se faz por meio da indicação política sem a participação da comunidade escolar (ANEXO XIV).

Com base nos depoimentos, percebermos o resultado dessa falta de democracia nos conflitos na escola, na não-participação em algumas atividades e no silêncio de alguns profissionais quando são convocados a participarem de algumas decisões na escola. Apesar de a diretora tentar conduzir seu trabalho na perspectiva da participação, existe uma tensão que é camuflada devido ao fato da diretora e vice-diretor terem sido escolhidos por critérios de ordem político-partidária, desconsiderando a efetiva participação das comunidades local e escolar nesse processo. De acordo com Dourado (2001) a escolha de diretores pelo executivo tem as marcas do clientelismo, traduzido em autoritarismo e marginalização da comunidade escolar na participação democrática no processo de escolha de seus representantes. Nesse contexto, o diretor da escola vivencia um dilema, pois tenta assumir uma postura supostamente democrática junto a comunidade escolar, sem ter sido conduzido ao cargo democraticamente.

No que tange a escola é possível observar nos relatos dos entrevistados que a comunidade educativa tenta encontrar suas próprias alternativas no sentido de atender a sua função social com a comunidade na qual está localizada, buscando colocar os atores no centro de algumas decisões periféricas, em nível local. A mesma tem desenvolvido atos coletivos para rever rumos e processos organizacionais. De acordo com Bobbio (2000) a democracia não é uma formação social idealmente desejada, ela está presente nas relações sociais como conquista do Estado pautado pelo direito, contudo encontra enormes problemas para sua efetivação (p.21). A dificuldade expressada pelo autor pode ser percebida nos depoimentos dos entrevistados que revelam uma variação na

participativos oportunizados pela escola. Na visão do corpo docente, a escola vem tentando construir caminhos que permitam mais participação e inclusão de todos no processo. Entretanto, os dados apontam a não participação dos profissionais nos assuntos da unidade escolar, que acaba com base em problemas de natureza pessoais, e a falta de tempo. A esse respeito em pesquisa sobre o PDE e a inovação na escola Silva (2004) identificou como resultado o pouco envolvimento dos professores e falta de interesse, “pois limitavam as reuniões de conselho, para prestar esclarecimento, pois [...] a participação só pode ser entendida como objeto de política educacional e jamais como mero instrumento técnico para funcionamento da escola” (p.121). Outro aspecto que merece ser considerado é a falta de gestão e planejamento dos profissionais de ensino que são designados para trabalhar nas unidades escolares do sistema. Os depoimentos dos professores revelam o caráter de professores itinerantes. Essa falta de visão de conjunto da SEMED provoca repercussões na qualidade da organização do trabalho coletivo, bem como no comprometimento dos professores itinerantes para coma escola. Os resultados da pesquisa indicam que o educandário sofre com a marginalização por parte de muitos professores uma vez que muitos, evitam trabalhar na referida unidade devido a localização geográfica no município. A escola está localizada num bairro considerado de periferia, de alto risco social, contribuindo para a permanência temporária de alguns professores. Na primeira oportunidade que os mesmos têm de pedir remoção para outra escola mais bem localizada no município, deixam a unidade pesquisada, o trabalho com os alunos e a comunidade escolar.

A participação dos discentes é considerada muito limitada. Todavia algumas ações na escola são realizadas na medida em que tenta criar um canal de comunicação mais efetivo com os alunos por meio dos representantes de turma. O exercício do diálogo ainda não representa o foco central do processo democrático. A participação se faz na superficialidade do dia a dia escolar sem um projeto de curto, médio e longo prazo que permita consolidar uma formação voltada para a democracia e a cidadania dos alunos. Com relação à participação da família, identificamos algumas contradições nos depoimentos dos entrevistados no que se refere ao envolvimento dos pais nos assuntos escolares. Entretanto, os dados apontam em quais atividades da escola os

familiares acabam se envolvendo: em eventos desenvolvidos pelo educandário, questões disciplinares e por ocasião de recebimento de benefícios públicos.

Contudo, nas entrevistas constatamos algumas iniciativas de mobilização coletiva no sentido de realizar planejamentos participativos, objetivando a consolidação de uma identidade própria. No entanto, um longo caminho deve ser percorrido considerando a necessidade de maior clareza quanto aos conceitos de democracia e participação dos profissionais da escola. Para Lima (2000) a gestão democrática é um fenômeno político sustentado por ações e métodos democráticos mais do que processos participativos em tomadas de decisões trata-se de processos que recriem alternativas voltadas para a educação política (p.19).

Podemos dizer, com base nos dados e na discussão anterior, que a democracia no espaço público e a participação dos envolvidos nos destinos e rumos da escola ainda são marcadas por contradições entre o ideal preconizado na legislação educacional brasileira e o que realmente acontece na estrutura e organização do ensino da unidade escolar pesquisada.