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V.2. Limitações do presente trabalho

V.2.3. Resultados

De entre as 517 crianças com idade para inclusão no estudo apenas foi possível realizar o ques- tionário em 320 casos (62%), tendo-se verificado diferenças significativas no recrutamento entre as três UCIPs envolvidas (p<0,001) com taxas de recrutamento de 69%, 45% e 76% respectivamente nas UCIPs de Coimbra, Lisboa e Porto. A menor taxa de recrutamento na UCIP de Lisboa deveu-se a uma maior dificuldade de presença de investigadores desta unidade nos momentos próximos da admissão, decorrentes do seu modelo de funcionamento e das funções clínicas atribuídas aos inves- tigadores envolvidos este projecto, que dificultaram este contacto em tempo oportuno. Apesar da principal dificuldade de recrutamento para a realização do questionário ter sido a ausência de inves- tigadores em momentos próximos à admissão na UCIP, não verificámos diferenças no recrutamento ao longo deste estudo por ano e por mês de admissão (p=0,810 e 0,342, respectivamente).

A percentagem de caso excluídos por se tratar de re-admissões ou admissões com menos de um mês de intervalo foi de 5,4% (28 casos) do total de casos com idade maior ou igual a seis anos. Este número é semelhante aos 5,8% relatados por Konopad et al (11) mas superior aos 4,5% relatados

por Wehler et al (205) em estudos de avaliação da QVRS em adultos, com metodologias semelhantes

à do nosso estudo.

As crianças recrutadas para o estudo foram significativamente diferentes das excluídas (p<0,001) no que diz respeito ao Grupo de Diagnóstico o que, associado a outras limitações já referidas, con- diciona ainda mais a possibilidade de generalização dos resultados deste estudo.

A percentagem de crianças em que foi possível obter um questionário de seguimento (79% das elegíveis) foi muito boa, atendendo a que se tratava de um questionário telefónico e com um período muito reduzido para o recrutamento (sete dias). Na análise das crianças incluídas e excluídas neste momento de avaliação (seguimento aos seis meses) continuam a verificar-se diferenças significativas em vários dos parâmetros analisados. Nesta análise não se verificaram diferenças significativas no Grupo de Diagnóstico (p=0,065) mas estas ocorreram quanto ao tipo de admissão e duração de internamento (com muito provável interacção entre estas duas variáveis – menor duração interna- mento nas admissões planeadas).

Conforme já referido os estudos publicados de avaliação da QVRS nos Cuidados Intensivos Pediátricos são escassos (5, 8, 14, 21, 22, 85, 100, 103, 104, 107) e, que seja do nosso conhecimento, não existe

nenhum trabalho com uma metodologia semelhante à nossa o que impede a utilização de compa- rações directas e, como tal, teremos que nos socorrer de comparações com valores que a priori não deveriam ser comparados. Este facto ocasiona sérias limitações nesta análise comparativa e requer uma cuidadosa avaliação das várias publicações bem como uma enorme prudência na tentativa de comparação da nossa com as restantes populações.

Num estudo de MacCarthy (49) sobre a avaliação da QVRS (utilizando o PedsQL) em 438 sobre-

viventes de traumatismo crânio-encefálico (TCE) foi obtido o consentimento em 87% dos casos possíveis, mas apenas 75% foram incluídos na fase inicial do estudo. No nosso estudo apenas foi possível recrutar 62% dos casos possíveis. Nesse estudo (49), na fase de seguimento aos três meses

apenas foram estudados 92% dos casos incluídos e 87% na avaliação do seguimento aos 12 meses; o seguimento foi efectuado através de entrevistas telefónicas, mas não temos o relato de quantas tentativas foram efectuadas are a obtenção da entrevista ou à sua exclusão do estudo, tendo os au- tores recorrido à utilização de uma empresa especializada na realização de inquéritos.

Orwelius et al (213) num estudo em adultos sobreviventes a cuidados intensivos apenas conseguiu

recrutar, após as exclusões protocoladas para o estudo, 270 casos que representavam 14% da po- pulação admitida na UCI e 28% dos casos elegíveis para análise.

Knoester et al (108) avaliaram a QVRS de uma população de crianças sobreviventes à hospita-

lização numa UCIP com um intervalo de seguimento aos 3 e aos 9 meses após a alta da UCIP, utilizando os instrumentos TAPQOL e TACQOL e apenas tiveram taxas de respostas de 57% (o consentimento para participação no estudo foi solicitado por carta e contacto telefónico), o que realça a dificuldade de obter a colaboração dos proxies em estudos de seguimento a longo prazo. Estes autores realçam que a morbilidade verificada aos 9 meses de seguimento é menor que aos 3 meses, e que os valores aos 9 meses são semelhantes aos obtidos para um grupo de população “geral” Holandesa, o que sugere a necessidade de um período de vários meses para a recuperação total dos doentes e estabilização das suas sequelas. Contudo, estes autores chamam também a atenção para a possibilidade de com o passar do tempo existir uma acomodação à doença e uma consequente mudança dos referenciais internos utilizados para a valorização subjectiva da QVRS, ou seja, a possibilidade da melhoria da QVRS se dever apenas à natural tendência de acomodação à doença e não apenas a mudanças concretas (e num sentido positivo) do estado de saúde.

Tilford et al (27) num outro estudo de seguimento de crianças vítimas de TCE, com idades entre

5-17 anos (n=114) apresentaram taxas de resposta a entrevistas telefónicas de 59% aos três meses e de 67% aos seis meses. Neste estudo foi previsto um prazo de um mês entre a primeira tentativa de contacto e a “desistência”, para cada um dos períodos de seguimento. Estes valores comparam-se com a percentagem de 79% conseguida no seguimento aos seis meses, no nosso estudo.

Num estudo de seguimento, com avaliação da QVRS através do CHQ, de crianças vítimas de trauma aos um e seis meses após a lesão, Winthrop et al (204) tiveram taxas de respostas de 80%

ao primeiro mês e de 50% ao sexto mês de seguimento, apesar de terem cerca de 90% de taxa de recrutamento no início do estudo. Apesar das dúvidas metodológicas existentes, o seguimento foi efectuado com uma combinação de entrevistas pessoais, telefónicas e de questionários enviados por correio para tentar recrutar o máximo de doentes que, mesmo assim, tiveram valores baixos aos seis meses de seguimento.

Num estudo em crianças admitidas numa UCIP Holandesa, utilizando o HUI2 e com avaliação aos 12 meses de seguimento, Keizer et al (8) apenas consideraram elegíveis 53% dos 468 doentes

admitidos na UCIP. A grande maioria de casos de exclusão deveu-se aos critérios de recrutamento, com apenas 8 casos (1,7%) de recusa de participação no estudo (em oposição aos 2 casos (0,6%) no nosso estudo). No fim dos 12 meses de seguimento apenas foi possível aos autores recolher dados em 227 doentes (92% dos casos elegíveis) com dados completos em apenas 209 casos (85% dos elegíveis). O número de casos com respostas incompletas foi de 18, o que corresponde a uma perda de 8% dos 227 casos possíveis, que se compara com as perdas (por dados incompletos) de 8% e 13% no nosso estudo, respectivamente na admissão e no seguimento aos seis meses.

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