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CAPÍTULO VI – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3 Resultados das experiências da Educação de Jovens e Adultos em narrativas

6.3.2 Resultados obtidos com gestores

própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores; III - quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica (Brasil, 2000, pp.1-2).

A citação supra relembra que as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos permitem flexibilidade, e que os professores têm alternativas para ofertar aulas motivadoras e de facilitação à aprendizagem.

Em tal horizonte, vimos nos resultados obtidos dos professores de cada escola investigada, que as narrativas seguiram os guiões. Algumas, foram além. Relataram histórias de vida que subsidiaram o investigador, a cientificamente, ver nas escolas pesquisadas de 2015 a 2018, pontuais flutuações das taxas de abandono e insucesso em Porto Velho.

Esses dados também permitiram ao investigador conhecer mais de perto, um pouco do universo docente, discente e diretivo em um grupo de escolas de EJA em Porto Velho.

6.3.2 Resultados obtidos com gestores

A apresentação dos resultados referente aos gestores segue a mesma lógica da realizada com os professores. Cada gestor será denominado de G1-N1 e, assim, sucessivamente.

Quadro 8 - Caracterização dos gestores entrevistados Gestor Gênero Idade Tempo na

Educação Tempo de serviço Formação Académica Concursado Básica G1-N1 F 32 10 3 Letras Sim G2-N2 F 43 9 4 Letras Sim G3-N3 M 55 23 15 Matemática/Pedago gia Sim G4-N4 F 47 15 3 Pedagogia Sim G5-N5 F 48 22 6 Pedagogia Sim

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G6-N6 F 34 10 4 Pedagogia Sim

Com a mostra acima, características dos gestores entrevistados nas escolas investigadas. Dois são jovens no cargo e na idade. Os demais, estão na faixa etária entre 40 a 55 anos. Quase todos pedagogos. Dois tem o curso de Letras, e especialização em gestão escolar. Isso significa que, com responsabilidade e eficiência, estão qualificados para gerir uma escola em Porto Velho.

Outra narrativa é de uma jovem gestora (G1-N1) que tem uma visão otimista da EJA. Vejamos:

“Depois que passei a ser gestora, vejo essa modalidade com olhos diferentes. Essas pessoas que estudam aqui no noturno necessitam de muito apoio da escola e do poder público. O abandono só existe porque a EJA está implantada sem valorizar os alunos. Muitos desses alunos me dizem que no final, nada vai melhorar em suas vidas. Eles estão em busca do resgate da cidadania e inclusão social; porém, não enxergam nada disso ao término do curso. É isso que ocorre com colegas e isso faz com que diante das primeiras dificuldades, desistam”. (G1-N1)

Valorizar as necessidades dos alunos. Sempre que se planeja algo se pensa no que é necessário para ter sucesso. Na EJA não é assim. Os professores não estão capacitados para ensiná-los. Eles não vislumbram nenhuma melhoria de vida após concluírem os estudos. Está na hora de Porto Velho pensar em políticas públicas voltadas para esse público.

Sobre o abandono escolar ela deu um exemplo:

“O que causa o abandono na EJA? É impossível enumerar o que causa o abandono. Vou dar um exemplo: Uma dona de casa com três crianças que trabalha como empregada doméstica das 7 da manhã às 17 horas. Ao chegar em casa tem os filhos para cuidar, fazer comida, lavar roupa, pagar as contas, comprar comida, consertar as roupas dos filhos, e tudo isso com um salário mínimo e às 19 horas já estar aqui estudando. É fácil? Poucas conseguem” (G1-N1).

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Verifica-se, pois, que a cada narrativa os motivos elencados são semelhantes. A falta de apoio familiar é preocupante. O cansaço faz parte da vida de quem estuda e trabalha. A monotonia em sala de aula é outra razão referida.

A gestora disse também das dificuldades da escola. Por outro lado, ressaltou, ver os alunos abandonarem a sala de aula, e nada poder fazer. O absentismo, segundo ela, provoca prejuízos, não somente para a escola. Todos perdem. Os alunos não conseguem atingir seus objetivos. A sociedade de Porto Velho perde cidadãos capazes de modificar o habitat.

Em tal horizonte, a gestora deu um exemplo que cala, profundamente, que nos faz refletir como é a vida dessas mulheres e homens que enfrentam dificuldades diárias e, ainda assim, tem coragem de frequentar a escola. No exemplo, vê-se, trabalhadores e trabalhadoras, alunos da EJA, espalhados por Porto Velho, Rondônia e Amazônia brasileira - povo sofrido - que não perde a esperança de que um dia vencerá.

Sobre o êxito, assim referiu a gestora:

“O sucesso da EJA depende de atitudes, estas poderão determinar o sucesso ou o fracasso da educação. E quem tem de tomar essas atitudes somos nós. Nosso salário depende do aluno. Juntos podemos construir uma inclusiva e motivadora educação de jovens e adultos”. (G1-N1).

Em certa medida, esta narrativa é de uma gestora graduada em Letras (G2- N2). Há 9 anos, atua na educação básica, e como diretora, 4 anos.

Vejamos, sinteticamente, sua opinião sobre abandono e EJA:

“O sentimento que tenho pela EJA é de que ela é necessária para a sociedade. No entanto, falta alguma coisa para realmente ajudarmos. Ela não é importante somente para mim. É vital para todos. A maioria dos professores trabalha em outros turnos e vem aqui completar a carga horária”. (G2-N2)

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“Falta muito para, democraticamente, se implantar a EJA em Porto Velho. Os alunos vêm cansados às aulas. Os professores, idem. As aulas são desmotivadas. No terceiro horário, os alunos vão embora e nada podemos fazer. São adultos. Se governam”. (G2-N2).

Nessa altura, Gramsci (2000) numa proposta de educação pensada a partir da realidade das classes dominadas expressa sua crença na força social de uma escola crítica e transformadora. Para ele, a educação pode desempenhar um papel estratégico na concepção de mundo e, consequentemente, em sua transformação. Para que isso ocorra, é preciso que a educação aponte na direção de uma crítica às concepções confusas e contraditórias:

Com o seu ensino, a escola luta contra o folclore, contra todas as sedimentações tradicionais de concepções do mundo, a fim de difundir uma concepção mais moderna, cujos elementos primitivos e fundamentais são dados pela aprendizagem da existência de leis naturais como algo objetivo e rebelde, às quais é preciso adaptar-se para dominá- las, e de leis civis e estatais, produto de uma atividade humana, que são estabelecidas pelo homem e podem ser por ele modificadas tendo em vista seu desenvolvimento coletivo; a lei civil e estatal organiza os homens do modo historicamente mais adequado a dominar as leis da natureza, isto é, a tornar mais fácil o seu trabalho, que é a forma própria através da qual o homem participa ativamente na vida da natureza, visando transformá-la e socializá-la cada vez mais profundamente e extensamente (Gramsci, 2000, p. 42).

Quanto ao abandono escolar, a gestora assim se manifestou: “Muitas vezes

já me questionei sobre o absentismo na EJA. Por quê? Difícil responder. Aulas monótonas, exaustão laboral, desmotivação. Em síntese: a forma como, nas escolas investigadas, o sistema trabalha a modalidade”. (G2- N2).

A gestora alerta para a dificuldade em responder a questão. Sabe-se da existência de uma série de fatores que provocam o abandono. Ela, porém, deu a mesma explicação que os demais professores. Adicionou que o sistema deveria respeitar as especificidades da modalidade, especialmente no que se refere ao local onde a escola está situada. O Brasil possui uma base curricular comum em todo o território nacional; todavia, em alguns estados, em Rondônia em especial, há

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necessidade de estudos de novos conteúdos na EJA; definição de calendário letivo com horário flexível e que qualifique o ensino.

A narrativa seguinte é de um gestor (G3-N3) que tem 23 anos de educação básica, atua há 15 como gestor, é graduado em Matemática e Pedagogia.

Sobre a EJA, disse:

“Desde que aqui trabalho, temos EJA. Sua implantação na escola, chegou com erros. Os professores são os mais exauridos. Via de regra, trabalham o dia inteiro e vem dar aula cansados. Ministram aulas da maneira das que dão para adolescentes do ensino regular. Esquecem que estão na EJA. Alguns professores são tão despreocupados em relação aos alunos da modalidade, que transferem os mesmos conteúdos e atividades do ensino regular. No planejamento, se questionados, dizem que estão transmitindo os conteúdos indicados pela secretaria de educação. Quase nunca avaliam a aprendizagem dos alunos. Para esses docentes, os alunos parecem não ter nenhum significado. Num outro extremo, existe professor que conhece cada um dos alunos da escola de EJA investigada. Existe, também, aluno interessado. Para este e para todos, ministra aulas enriquecedoras, inclusivas e de enfrentamento ao grande flagelo do atual sistema de ensino de Porto Velho que é abandono escolar. Criar condições de promoção do sucesso escolar e educativo a todos os alunos favorecendo assim a igualdade de oportunidades. Alie-se a esse ambiente, a existência de uma necessária linha de atuação do governo, de combate à exclusão social, nomeadamente através do apoio às famílias. Na verdade, defendeu o matemático-pedagogo, mais educação e mais formação traduzem-se em mais igualdade de oportunidades, melhores condições de emprego, recursos humanos mais preparados para a economia local e aumento da qualificação dos cidadãos”. (G3-N3.)

Em seguida, transcreve-se parcelas da narrativa da gestora e pedagoga (G4-N4). Tem 15 anos na educação básica. Atua como gestora há 3 anos. Deixou claro desde o início da entrevista que não se preocupa com a EJA. Vê o aluno jovem ou adulto como qualquer outro protagonista do ambiente escolar. Ela disse: “Sou concursada. Só

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burocrático. A EJA é, para mim, como qualquer outra modalidade de ensino. Entendo que todos os alunos, têm o mesmo valor. Na escola, a EJA é tão importante quanto o aluno. Em sala de aula, entre os alunos, registro algumas diferenças tais como: idade; gênero; estilo de vida; conhecimentos; inserção no mundo do trabalho; qualificação escolar; perda de autoestima; tristeza e irritação; medo de expressar emoções; problemas de relacionamento; abuso de drogas e álcool; desrespeito pelos professores; número elevado de faltas. No final, todos são todos meus alunos e merecem ter aulas bem ministradas”. (G4-N4).

Quanto à EJA, a gestora respondeu:

“Se a EJA está implantada, corretamente? Sim. Às vezes há falta de professores, mas oferecemos o que temos. Se os alunos não aprendem não é culpa da escola. O abandono da EJA acontece por falta de interesse dos alunos. Quando se matriculam sabem das dificuldades que enfrentarão e desistem logo que têm problemas”. (G4- N4).

Para a gestora, o desinteresse dos alunos pelas aulas da EJA, existe; logo, tem que ser enfrentado pela sociedade”.

A quinta narrativa (G5-N5) está nesse trabalho na íntegra. É um pretenso resgate da história educacional de Porto Velho. São contributos para a investigação. Vejamos:

“Antes de ser gestora, fui professora de EJA. No ano de dois mil, já tinha sido implantado o sistema aqui. Tinha muito aluno. A escola era lotada. Andei pensando neste processo: temos alunos de idades bem diferentes. Dos dezoito aos cinquenta anos. Tinha um casal de senhores do terceiro ano. Eram tão bonitos. Ele, de idade avançada. Na época da instalação das usinas hidrelétricas em Porto Velho, houve uma explosão de gente procurando a EJA. Havia oferta de emprego. Salário atraente. Para você ganhar mais, para mudar de nível funcional, tinha que ter pelo menos o ensino médio. Cresceu a procura por vagas. As usinas exigiam mais estudo dos candidatos a emprego. A procura era grande. Notava-se elevação da idade.

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Depois que deu acalmada na oferta de emprego. Caiu a idade da maioria dos alunos que procurava a EJA. Hoje, temos alunos com dezoito, dezenove e vinte anos. Ampliou-se a demanda de vagas para que a escola reduzisse os indicadores de evasão, e na avaliação se atingisse as metas. Ocorre que o abandono que ‘derruba’ a gente, não para. Os professores do ensino médio que trabalham de manhã e à tarde são os mesmos que trabalham na EJA. É claro que eles percebem que não dá para exigir muito deste aluno. Se trabalhássemos na EJA no mesmo nível do ensino médio regular, as taxas de reprovação disparariam. No sistema de ensino atual, não dá para se ofertar a aula dos sonhos. Não se consegue aprofundar assuntos. Presentemente, a escola tem a ajuda da AMAC - atividade multidisciplinar - por área de conhecimento. Antes, eu percebia que os alunos ficavam soltos, sem compromisso com a pesquisa. Distribuíamos os livros da EJA e eles ficavam à deriva. Nesse instante, não. Os que têm compromisso de estudar em casa os conteúdos, levam os livros porque os professores vão passar atividades da AMAC. São horas complementares que o aluno tem que fazer. Ou seja, atividade adicional. Querendo ou não, estão se interessando. Estão estudando. Tem aluno que diz: gostaria que a biblioteca ficasse aberta. E eu perguntava, de que você está precisando? Ele respondia: queria o livro tal. Eu ia ao responsável pela biblioteca e este emprestava o volume ao aluno para ele consulta-lo. Geralmente, o aluno levava o livro emprestado. Via de regra, o aluno pesquisava na biblioteca. O livro do professor não era emprestado. Dessa maneira, percebia-se o interesse do educando em buscar novos conhecimentos. Outra coisa: existe aluno que só faz atividade quando o professor pede. Tem aluno que quer fazer licenciatura. Há aquele que, para ser promovido ou trocar de emprego, quer terminar o ensino médio. Aqui na escola, a gente enfrenta todo tipo de problema. Um deles, e que marca como evasão e abandono escolar, é que algumas pessoas, que vem se matricular no primeiro ano buscam a vaga e somem; sobretudo, quando recebem o cartão do transporte de ônibus - o SIM - Sistema Integrado Municipal. Todo ano, a gente tenta incentivar esse tipo de aluno a não desistir de frequentar o curso. Nessa tarefa, pedimos a ajuda de todos os professores. Os alunos do primeiro ano, hoje, serão o nosso segundo de amanhã. Por exemplo: se reprovado no primeiro ano, ele não vai para o segundo ano, nem para o terceiro. No terceiro ano, é diferente. Noventa e cinco por cento,

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conclui. Consequência: temos que ficar atentos aos alunos do primeiro ano. A maioria tem dezoito anos de idade. Desiste fácil. Não obstante, a procura, não só aqui, mas em outras escolas públicas de Porto Velho, é drástica redução de vagas de EJA. Depois do Carnaval, nota-se um leve crescimento das matrículas.

No primeiro ano, é terrível o abandono. Temos como público-alvo mecânicos, motoristas, cobradores de ônibus, trabalhadores da construção civil, comerciários etc. Alunos da tarde que completaram dezoito anos e passaram para a noite. Como já são maiores, querem ficar namorando na escola. Advirto-os: não pode namorar no corredor. À noite, tudo é diferente. Se nas noites que eu estava no colégio acontecia alguma ocorrência, eu chamava a polícia. Afinal, os alunos, são todos maiores. Felizmente, não criavam confusão. Sabiam do meu rigor. Não ‘batia boca’ com aluno. Mantinha sempre aberta a porta da diretoria. Eles entravam, conversavam, brincavam, davam boa noite e iam para a sala de aula.

Quanto ao uniforme, para que não desistissem da EJA, a gente relevava. Bermuda era proibida. Não deixava entrar na sala de aula. Uma vez, um aluno veio fazer prova de bermuda. Não o impedi. Ele fez a prova na diretoria. Não o prejudiquei. Não tínhamos novas turmas por falta de professor. Antes, eram sete salas. Não abrimos novas turmas. Não era por falta de procura. Era por escassez de docentes. Não tínhamos professor para suprir a demanda. Principalmente, professores de Matemática, Química e Física. Os alunos cobravam. A solução que adotava era ir adiantando disciplinas com professor ocioso; ou quando nenhum professor podia adiantar, eu colocava à disposição da turma a professora de espanhol.

Alguns reclamavam. Explicava-lhes: gente, isso é para vocês não ficarem sem aula. Não é tapa buraco. Amanhã, no exame nacional do ensino médio - ENEM - vocês poderão escolher o espanhol como língua estrangeira. Eles gostavam dessa professora. Ela tinha domínio da disciplina. A gente pedia que não faltassem. Olhava na pasta do aluno se fosse a terceira vez que estava se matriculando no primeiro ano e não concluía; ou a terceira vez que queria se matricular no segundo ano, explicávamos: se em dois mil e catorze você se matriculou; em dois mil e quinze, novamente, e em dois mil e dezessete queria se matricular de novo, eu dizia, não. Espera! Se sobrar vaga tu te matrículas. Você não termina curso nenhum. Nesse caso, ele pedia, por favor, para que déssemos uma nova oportunidade de ingresso

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na escola. Geralmente, eu dava. Esse aluno, quase sempre, conseguia concluir o ensino médio. Agora, um aluno que queria fazer pela quinta vez o primeiro ano; todo ano se matriculava e desistia. Era não! Isso para a escola, era ruim. Na unidade de ensino, os indicadores de aproveitamento na unidade de ensino ficavam prejudicado. Eram três salas: um primeiro, um segundo e um terceiro ano. No total, onze salas. À noite funcionava a EJA com três salas. Cada sala com cinquenta alunos. Tranquilo. No terceiro ano, tínhamos alunos com necessidades educacionais especiais: uma aluna com epilepsia. Tomava remédio controlado. Tinha dia que ela não estava bem. Morava perto da escola. Avisava quando estava mal de saúde. Não gostava de faltar às aulas.

Periodicamente, entrava na sala e falava-lhes da importância da frequência, da falta às aulas, uniforme, aproveitamento, desempenho etc.

Eu me dava muito bem com o outro gestor. Entrei aqui na escola “com todo gás” (motivada). Totalmente, disponível. Fazia tudo em cima da portaria da secretaria da educação. Não fugia uma vírgula. Hoje, estou diria, mais ‘pacificada’. É gratificante quando você volta à escola, e um pai abre a porta da direção e cumprimenta, conversa. Tem pai que não sabe nem o nome do diretor. Nem da vice. Aqui, graças a Deus, os pais sentam e contam histórias, dão palpite, tiram dúvidas, tem confiança na gente. Isso é importante. Até mesmo pais de alunos de EJA vem aqui na diretoria. Vem conferir a frequência do filho ou filha. Teve um discente que desistiu. Matriculou. Cursou uma semana. Talvez nem isso. Não veio mais. Saia de casa toda noite. Rumo à escola. O pai esteve aqui. Conferi o diário eletrônico. Estava reprovado por faltas. O pai insistiu para vir com o filho, falar com a direção. O aluno retrucou que já era maior de idade. Realmente, dei a informação para o pai, em respeito a ele; é verdade, o aluno era maior de dezoito anos. Nada mais a fazer. Outros alunos, os pais avisam quando estão doentes. Da mesma forma, o marido ou a esposa. Trazem o atestado médico. Avisam quando a esposa ganha bebê. Ou alguém da família, morreu. Teve uma vez que um senhor, pai de uma menina, estava com câncer. Ela teve que auxiliá-lo até a morte. Assim mesmo, veio dar explicações à escola” (G5-N5).

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“No primeiro ano é terrível o abandono. Temos como público-alvo mecânicos, motoristas, cobradores de ônibus, trabalhadores da construção civil, comerciários etc. Alunos da tarde que completaram dezoito anos e passaram para a noite. Como já são maiores, querem ficar namorando na escola. Advirto-os: não pode namorar no corredor! À noite, tudo é diferente”. (G5-N5).

No primeiro ano do ensino médio os alunos são egressos do nono ano do ensino fundamental ou passaram muito tempo sem estudar, provocando a reprovação e o abandono. Muitos alunos são mecânicos, comerciários, cobradores de ônibus etc. Desejam o certificado, mas não desejam estudar muito, por isso é difícil a escola segurar esses alunos em sala de aula.

Ao pensar na inclusão na EJA, do aluno com necessidade especial deve-se ter a mesma preocupação. Afinal, este aluno também possui experiência de vida. Dessa maneira, na Pedagogia do Oprimido, Freire (1987, p. 28) diz:

[…] de tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não sabem nada, que não podem saber que são enfermos, indolentes, que não produzem em virtude de tudo isto, terminam por se convencer de sua “incapacidade”. Falam de si como os que não sabem e do “doutor” como o que sabe e a quem devem escutar.

A narrativa é mais uma análise sobre a educação de jovens e adultos em uma escola investigada em Porto Velho. Percebeu-se na gestora, conhecimento, vivência e participação. Nota-se quanto ela entende e gosta do que faz. A narrativa incentiva o debate sobre absentismo, causas e dificuldades da modalidade.

Com efeito, em pequenos trechos da sexta narrativa (G6-N6) a gestora

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