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CAPÍTULO VI – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3 Resultados das experiências da Educação de Jovens e Adultos em narrativas

6.3.1 Resultados obtidos com professores

Assim, para compreensão da realidade vivida, metodologia e narrativa, segundo Caldas (1999 e 2006) tornam-se instrumentos de investigação no contexto educacional.

As narrativas foram elaboradas em guiões semiestruturados (Anexos 3, 4 e 5) como já explicado anteriormente na metodologia hermeneuta-fenomenológica em conjunto com técnicas da oralidade, o que implica em diálogos onde a pergunta em é: “qual a importância da educação de jovens e adultos para você”? E outras perguntas tais como:

• Por que a escolha de trabalhar na EJA? • Por que a escolha de estudar na EJA?

• Você acredita que a EJA está realmente sendo implantada corretamente?

• Na sua concepção porque ocorre o absentismo na EJA? • Qual sua maior dificuldade enquanto cidadão dentro da EJA?

• Que propostas você apresenta para solucionar o absentismo existente na EJA?

• O sucesso da EJA depende de todos. Alunos, professores e gestores. O que fazer para ter sucesso nessa modalidade de ensino?

Através de roteiro do investigador foi possível aos entrevistados expressarem suas narrativas.

Os guiões foram respondidos sob a forma de narrativas. A cada indagação, o entrevistado expressava sua opinião. Este subitem servirá para apresentar as narrativas que não se identificarão nem por escola e muito menos, por nomes, para não comprometer as pessoas que expuseram suas opiniões sobre o tema da investigação.

6.3.1 Resultados obtidos com professores

Os resultados obtidos com docentes, assim como, com os demais atores, serão mostrados por inteiro ou por enxertos narrativos.

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Professor Gênero Idade T na E. Básica

T. S. na EJA

Graduação Concursado Contratado

P1-N1 M 40 15 4 Matemática Sim Não

P2-N2 F 31 3 3 Letras Sim Não

P3-N3 M 46 16 10 História Sim Não

P4-N4 F 50 10 10 Geografia Sim Não

P5-N5 F 52 22 12 Pedagogia Sim Não

P6-N6 M 52 28 8 Letras Sim Não

P7-N7 F 29 5 5 Matemática Sim Não

P8-N8 M 31 9 3 Biologia Não Sim

P9-N9 M 45 22 2 Letras Não Sim

P10-N10 M 55 30 12 Pedagogia Sim Não

P11-N11 M 45 18 5 Ed. Física Sim Não

P12-N12 F 40 15 4 Letras Sim Não

P13-N13 F 45 19 6 Química Não Sim

P14-N14 M 38 15 8 Filosofia Não Sim

Os professores (as) entrevistados foram denominados de P1N1..., isto é, professor 1 e narrativa 1, os demais foram acompanhando a sequência numérica. De acordo com as informações colhidas, constatamos que existe um equilíbrio no que toca ao gênero dos entrevistados: 7 homens e 5 mulheres. Quanto à idade, verificou- se que grande parte (9 dos entrevistados) tem 40 ou mais anos de idade.

O tempo de serviço na educação básica é diversificado; no entanto, a esmagadora maioria (10 em 12) trabalha no setor há 10 ou mais anos, e 3 há mais de 20 anos.

Em relação ao tempo de atuação na EJA, o tempo de experiência é menor. Apenas 3 trabalha na EJA há 10 ou mais anos. Na verdade, metade dos professores trabalha apenas há 5 ou menos anos na modalidade. Isso significa, que alguns desses professores não têm a necessária qualificação para lecionar para esses alunos.

No que diz respeito à formação acadêmica todos são graduados, somente dois são pedagogos e os demais atuam em suas áreas específicas de conhecimento. A maioria dos docentes é efetiva. Três professores, contratados.

Nessa concepção, a primeira narrativa analisada é de um professor de Matemática. Ele diz de sua experiência com a EJA, e emite sua opinião sobre abandono e o insucesso. Aqui, esta narrativa será tornada pública na íntegra. As demais, trechos relevantes. A estrutura de uma, é idêntica às outras.

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“Sou professor graduado em Matemática, exerço a docência há 15 anos, porém estou na EJA nestes últimos quatro anos, sou concursado da rede estadual de ensino, inicialmente vim apenas para complementar minha carga horária de 40 horas. Porém, de professor passei a aprendiz. E agora quero continuar aqui”. “Não propus

trabalhar na EJA, mas, atualmente, quero ficar onde estou.

Nestes quatro anos de aulas de EJA entendi que eu até posso saber as regras e conceitos matemáticos que meus alunos não sabem e necessitam aprender, porém aprendi que eles sabem a Matemática deles que é mais fácil e eficaz para eles. É a Matemática da vida, com ela eles conseguem sustentar suas famílias com um salário mínimo. Outros conseguem dividir tão bem que é surpreendente. São operações tão exatas que surpreendem o melhor e mais exigente professor de Matemática.

Nestes anos atuando como professor da EJA, numa escola situada em uma área de conflitos, onde muitos dos nossos alunos são usuários ou até vivem do tráfico de drogas conheci muitos alunos bons, outros nem tanto, mas de uma coisa tenho certeza, todos tem uma vida sofrida, foram excluídos em algumas situações da vida. Vejo na educação de jovens e adultos uma oportunidade de incluir muitos jovens e adultos na sociedade, não como sujeitos passivos, mas como cidadãos participativos e atuantes onde vivem.

Nossa escola pode não ser a melhor, mas tem estrutura adequada para que os alunos se sintam bem. Porém, falta-nos formação contínua para trabalhar com alunos da EJA é necessária refletir sobre a melhor forma de se ensinar essas pessoas que não conseguiram estudar numa idade mais adequada.

Apesar de gostar do que faço e de saber que estou contribuindo para modificar a história de muita gente, há algo preocupante, o abandono, o (in) sucesso, no início do ano letivo nossas turmas estão cheias de alunos, já no segundo semestre temos a metade dos alunos. Há anos em que somente um terço conclui o ano com aprovação.

Acho que são muitas interferências que contribuem para esse abandono, gosto de conversar com meus alunos, eles sempre que podem me dizem que estão cansados, muito vem à escola sem jantar, (fome), outros dizem que não tem apoio da família, outros afirmam que dificilmente suas vidas vão melhorar se continuarem estudando. Então na minha concepção, o abandono ocorre na EJA por inúmeros fatores, até

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mesmo da própria escola que não oferta um ensino que motive esses alunos a permanecerem na escola.

Todos nós sentimos dificuldades, especialmente quando se trata de pessoas adultas, mas inicialmente senti dificuldades de entender o mundo desses alunos, de me colocar no lugar desses alunos, depois dessa reflexão foi melhor e eles sentiram que podiam confiar em mim.

As propostas que tenho para diminuir o abandono da EJA é preparar melhor os professores atuantes na EJA com cursos de formação nessa área, realizar pesquisas sobre o ambiente em que esses alunos vivem e formar conselhos onde os próprios alunos podem falar abertamente sobre o que desejam aprender, ofertar toda a infraestrutura da escola a esses alunos, etc.

Os professores dessa modalidade de ensino devem estar atentos ao ambiente onde seus alunos vivem e como vivem, a sua cultura e economia para entendê-los. Paulo Freire nos deixou esse legado. O mestre nos ensinou que essas pessoas têm uma história de vida e conhecimentos que devem ser respeitados e sistematizados”.

Essa narrativa, demonstrou que o professor gosta do que faz e sente-se feliz em ajudar as pessoas. Procurou conversar com os alunos e conhecê-los. Sobre o absentismo escolar na EJA tem a sua opinião:

“As propostas que tenho para diminuir o abandono da EJA é preparar melhor os professores atuantes na EJA com cursos de formação nessa área, realizar pesquisas sobre o ambiente em que esses alunos vivem e formar conselhos onde os próprios alunos podem falar abertamente sobre o que desejam aprender, ofertar toda a infraestrutura da escola a esses alunos, etc.” (P1- N1)

Sobre as causas do abandono, o professor diz:

“Acho que são muitas interferências que contribuem para esse abandono, gosto de conversar com meus alunos, eles sempre que podem me dizem que estão cansados, muitos vêm à escola sem jantar, (fome), outros dizem que não tem apoio da família, outros afirmam que dificilmente suas vidas vão melhorar se continuarem estudando”. (P1- N1)

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Todos os autores pesquisados indicam o cansaço como uma das causas do abandono. O apoio familiar é, também, importante. Sem ele a pessoa desanima.

A insegurança aliada à violência escolar, é outra causa séria. Ela é preocupação fundamental dos meios educativos. É difícil chegar a uma definição comum sobre o que é a violência em meio escolar. A metodologia mais comum é interrogar diretamente as vítimas-agressores recolhendo as suas experiências.

Em consonância com essa perspetiva, percebe-se que o professor gosta do que faz e tem posicionamentos firmes a respeito do abandono na EJA.

A falta de apoio familiar, a carência de apoio extra e a ocorrência, por vezes, de conflitos são factores que contribuem para a dificuldade de aprendizagem, uma vez que podem originar no aluno problemas de ordem afectiva e, até mesmo, dificuldades de integração social no meio que o rodeia.

Ou seja, a escola e a família partilham funções sociais, políticas e educacionais, na medida em que contribuem e influenciam a formação do indivíduo. São responsáveis pela transmissão e construção do conhecimento culturalmente organizado, modificando as formas de funcionamento psicológico, de acordo com as expectativas sociais.

Especialistas em educação, defendem hoje o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.

A seguir: a professora entrevistada tratou de diferentes temas. Sua ideia sobre abandono é a seguinte:

“Há muito abandono na EJA. Considero desperdício de dinheiro público, que esta escola tão bem estruturada, oferte ensino a pessoas que não frequentam as aulas, que não valorizam a educação e, por qualquer motivo, abandonam os estudos e nem dão satisfação. Porém, há alunos que se percebe de longe o cansaço, as preocupações, acho que eles abandonam a escola por problemas externos”. (P2- N2).

Assim, no entanto, constata-se pelas palavras da professora que não gosta da escola e muito menos de trabalhar na EJA, o reconhecimento que há muito

absentismo. Ela supõe que esse abandono ocorre por fatores externos à escola e assim, como o outro professor, acha que o cansaço é a principal causa. Há muitos

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professores e estudiosos que entendem o cansaço como uma das causas do abandono na educação de jovens e adultos.

Para se provocar queda nas taxas de absentismo e insucesso na EJA a professora apresentou uma opinião bem característica: para melhorar essa situação, eu preciso entender meus alunos. Para

entendê-los, necessito participar de cursos de atualização docente, e realizar um estudo menos superficial sobre o universo desses alunos” (P2-N2)

Dessa maneira, a professora abordou o assunto que, nos últimos tempos, tem sido estudado, exaustivamente, por investigadores da modalidade, isto é: entender e conhecer o universo discente.

Para Silva, (2015), os educadores da EJA devem conhecer o universo dessas pessoas para entender melhor seus problemas e, assim, reduzir o quadro de absentismo dominante na modalidade.

As classes de EJA também recebem alunos com níveis cultural e educacional diferenciados, o que faz do espaço da sala de aula um ambiente marcado pela diversidade. Além disso, os alunos em função de fracassos anteriores, possuem, muitas vezes, uma baixa autoestima; portanto precisam ser motivados, e o educador deverá buscar diferentes maneiras de promover e despertar o interesse e o entusiasmo e acima de tudo mostrar a esses alunos que é possível aprender (Silva 2015, p. 26741).

A professora complementa as dificuldades:

“Minha maior dificuldade em relação à aprendizagem dos alunos na EJA é encontrar uma forma de fazê-los aprender. É erro demais, é muita gente falando errado, às vezes ou, quase sempre, me sinto perdida”. (P2 – N2)

A docente pede cursos de aperfeiçoamento e atualização. Não causa espécie, portanto, que a presença de varáveis taxas de abandono e insucesso na EJA. Alunos e professores falam o mesmo idioma, mas não falam a mesma linguagem.

O professor 3 (P3-N3) gosta de trabalhar na EJA. Eis a opinião:

“A EJA está precisando de muita coisa para funcionar bem. Falta

aprendizagem. Falta interesse de professores e alunos. Estes, desistem diante de qualquer dificuldade. No início do ano, as turmas são cheias e, no final, temos

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poucos que terminam o ano, aprovados. Por isso, digo a EJA não está implantada, corretamente”.(P3-N3).

Para o professor falta aprendizagem e interesse. O número de abandonos é grande. Os professores precisam rever sua forma de ensinar. Para ministrarem motivadoras, necessitam de dinamismo e apoio da direção da escola.

Ele, acrescenta:

“Estou morando neste bairro há 10 anos e na minha concepção o abandono na EJA ocorre sim, por problemas internos e externos. Muitas dessas senhoras que estudam à noite têm um companheiro que não ajuda em nada, ou seja, a família é fundamental para que continue estudando. Há, também, por parte da escola, uma parcela de culpa nessa realidade social. Muitos colegas ministram aulas como se fosse para adolescentes. Muitos vêm à aula, famintos. Depois do eventual lanche, não retornam à sala”. (P3-N3)

Essa dura realidade precisa ser enfrentada pelo poder público. É grave a desigualdade social.

A próxima narrativa é interessante: a professora mora no mesmo bairro da escola. Conhece vários alunos. Demonstra prazer em lidar com eles.

Vejamos alguns trechos de sua narrativa:

“É importante sim, o ensino para jovens e adultos. Eu, por exemplo, me graduei depois que meus filhos, cresceram. Apesar de ter muito abandono, há pessoas que conseguem ir em frente. Alguns, ingressam em faculdade; outras, conseguem melhorar o salário”. (P4-N4)

Em contraponto à narrativa supra, há que se refletir que aulas desanimadas ou desmotivadas são um dos pontos críticos na EJA. Para permanecerem em sala de aula, os cansados alunos necessitam de algo que atraia sua atenção. Somente aula expositiva não surte efeito; logo, o sistema de ensino estimula alterações nas taxas de abandono e insucesso escolar.

Na esteira dessas preocupações, Freire (2000b, p.23) clarifica: “Do ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do processo educativo do ato político”.

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Outros entrevistados sugeriram mudanças na EJA: “todos devem rever a forma de ver a modalidade: alunos, poder público e sociedade”.

Na narrativa, a P5-N5 destaca:

“A EJA não está implantada, corretamente. A mudança deve começar pela escola”.

Sobre o abandono refere:

“Por várias razões, principalmente, o desânimo da população jovem e adulta que não estudou na idade certa. A escola precisa rever suas práticas e o poder público precisa ofertar cursos para o setor”. (P5-N5).

As práticas pedagógicas de uma escola, ou seja, de seus professores, são determinantes para a aprendizagem. Os alunos têm de gostar da aula. Da forma como os conteúdos são abordados. No atual contexto educacional, já não há mais lugar para aulas expositivas.

A Pedagoga considera que:

“As propostas para acabar com o abandono são difíceis; mas, às vezes, as respostas estão dentro da própria escola. Unirem-se todos contra esse inimigo é o melhor remédio. Um bocadinho de responsabilidade, motivação e desejo de mudanças são os ingredientes necessários para diminuir pelo menos”. (P5-N5).

Segundo essa entrevistada, a resposta para a melhoria da educação de jovens e adultos está diante de todos, dentro da escola. Citou a responsabilidade e motivação, como ingredientes cruciais para que a EJA, prossiga analisando as alterações encontradas nas taxas de absentismo e insucesso em Porto Velho.

Para Caio (2014), a motivação, o incentivo e o apoio familiar são fundamentais na permanência de alunos na escola. A narrativa da pedagoga- professora tem sentido. Muitas soluções são fáceis de encontrar. Falta reflexão, inclusão social, formação profissional, exercício de cidadania, medidas que promovam o acesso de todos à escola, reforço do apoio psicológico e psico- pedagógico, incentivo à qualidade da escola, medidas de apoio discriminativo, reforço na autonomia da escola – concretizada e a concretizar em medidas do

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governo, programas de inserção na vida ativa e estímulo à oferta educativo-formativa profissionalmente qualificante. Essas medidas são, no seu conjunto, projetos que podem contribuir para a diminuição das taxas do abandono escolar. São também de anunciar e de destacar, no quadro da revisão curricular do ensino na EJA, o pressuposto da modalidade dos alunos entre os diferentes tipos de oferta educativo- formativa, que permite corrigir opções que se revelaram menos conseguidas e que, por isso, poderão motivar desistências, como também a diminuição da sobrecarga horária, como medidas incentivadoras da permanência na escola.

De não menor importância, a definição do envolvimento crescente dos governos no planejamento, no assegurar e no providenciar da oferta educativa e formativa.

Arroyo (2005) aponta que o direito à educação, é um desafio para as escolas de camadas populares.

. O impasse está posto: como equacionar o direito à educação de jovens e adultos egressos de humildes camadas da sociedade e o dever do Estado de lhes tutelar educação? (Arroyo, 2005, p.46).

Nesse âmbito de compreensão, potencialize-se a narrativa de um professor licenciado em Letras, mas que, dá aulas de Biologia (P6-N6). Ele confirma o que alguns educadores dizem sobre o aluno gostar ou não gostar das aulas na EJA. Vejamos a opinião:

“Sinto-me bem na EJA. Os alunos gostam das minhas aulas, falar sobre vida, ciência e sexualidade debatidas, cientificamente, interessa aos alunos. Sinto que estou ajudando. A EJA é importante demais; não somente para mim. É um resgate dos direitos das pessoas. É importante para a sociedade que a população seja letrada. Eu gosto de trabalhar, não importa se na EJA ou não. Os alunos são carentes de tudo. Gosto de ajudá-los”. (P6-N6).

O professor ressaltou que os alunos gostam de suas aulas. Mais uma teoria comprovada: os professores devem dar aulas motivadoras para seus alunos absorvam os conteúdos, aprendam, e se aprendem, não abandonem a escola. Biologia é interessante para os adultos, especialmente. Um professor que aborda conteúdos de

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forma correta, e estimula seus alunos a pesquisar e desejar aprender, está formando futuros investigadores. Isso ocorre, independentemente, de idade ou gênero.

Constatamos o quanto os professores têm repetido os motivos do abandono, apoio familiar, desmotivação, aulas monótonas, desinteresse dos alunos estão sempre presentes. Em relação às propostas do professor para redução do abandono são providências simples, porém, por falta de vontade política, difíceis de fazer, (Silva, 2014).

Narrativa de uma professora de Matemática (P7-N7), contratada há 02 anos nessa escola. Percebe-se que gosta da EJA. Vejamos o que diz:

Gosto da EJA, são alunos adultos que precisam de mais uma chance, alguns aproveitam essa nova oportunidade, infelizmente a maioria abandona. Observo na EJA uma importância grandiosa, é a chance de alfabetizar e tornar letrada a maioria da população analfabeta do nosso país. (P7 – N7)

A chance de tornar letrada parte da população é o que torna a EJA importante. Uma chance a mais é o que muitos necessitam para vencer. Se a EJA é importante para às pessoas está na hora de se repensá-la.

A falta de políticas públicas para jovens e adultos, é histórica. O pior é que a escola também contribui para essa exclusão. Se houver motivação, mais rapidamente os alunos superarão o cansaço e a insegurança. Ver tantos abandonos desanima a todos, até os professores.

A professora confirmou:

“Para a educação de jovens e adultos ter mais sucesso é necessário um maior envolvimento de todos os atores da escola. Um maior compromisso com os alunos mais assíduos, aulas mais motivadores, gestores atentos e poder público promovendo ações de incentivo”. (P7-N7).

Esse envolvimento na educação é fundamental para que juntos encontremos soluções que possam resolver problemas permanentes na educação de jovens e adultos.

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O papel do trabalhador social que opta pela mudança, num momento histórico como este, não é propriamente o de criar mitos contrários, mas o de problematizar a realidade dos homens, proporcionar a desmitificação da realidade mitificada.

Essa desmitificação, de que para os jovens e adultos das camadas mais simples, a educação não deve ser de qualidade, tem que acabar. Todos tem o direito de uma educação de qualidade.

A próxima narrativa é de um professor de Biologia (P8-N8), prestes a se aposentar. Professor experiente, com contributo à pesquisa:

“Considero a EJA importante. Tento ser amigo dos alunos. Gosto de dar aulas para eles. Às vezes fico zangado. Nos últimos horários já tem poucos alunos, a maioria vai embora. Os que ficam são o que geralmente são aprovados. Para mim, a modalidade de educação de jovens e adultos não está implantada, corretamente. Precisa de mudanças. Algo não está bem e muito menos surtindo efeito”. (P8-N8)

Para o professor, é inarredável ser amigo dos alunos. Mesmo próximo à sua reforma do serviço, ele não perdeu a capacidade de, eventualmente, se indignar com a aprendizagem ou não dos alunos.

A esse respeito, Hasquin, 2001para Unesco, 2001, p.53) assim se posiciona: Em geral o desenvolvimento individual e o desenvolvimento coletivo foram privilegiados, isoladamente, enquanto eles constituem um todo indissociável em nosso mundo atual. O primeiro conceito remete ao advento da sociedade do conhecimento; por sua vez, o segundo abrange a educação para a cidadania. [...] A escola é o primeiro espaço onde se desenrola a aprendizagem da solidariedade e dos direitos e deveres que ligam cada indivíduo aos outros. Apesar de não ser possível decretá-la, a cidadania pode ser suscitada.

A escola é um espaço privilegiado onde ocorre a aprendizagem de conteúdos necessários ao desenvolvimento dos alunos. Motivo de pontual indignação.

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A narrativa do professor de Português, mas que leciona Educação Física (P9-N9)

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