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CAPÍTULO VI – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.2 Resultados: uma síntese inicial considerando as categorias de análise

Quadro 4 – Categorização das narrativas Narrativas Causas de abandono e

insucesso escolar Participação efetiva do poder público Construção de cidadania Concepção de educação

1 Trabalho/cansaço Não entende Incerteza Ajuda a ter um bom

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2 Trabalho/descaso Pouca Incerteza Educação inclusiva

3 Trabalho/descaso Suficiente Educação Com responsabilidade

4 Descompromisso Pouca Individual Ultrapassada

5 Trabalho/cansaço Insuficiente Educação

sociedade

e Capacitação

profissional e amor pela educação

6 Trabalho/descaso Mínima Educação Com respeito

Fonte: Elaboração própria 2018

O quadro reflete, sinteticamente, o que dizem as entrevistas/narrativas. Para Libâneo, citado por Gadotti (1994, p.12): a pedagogia liberal sustenta a ideia de que a escola tem função de preparar os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais. Para isso, os indivíduos precisam adaptar-se aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes, através do desenvolvimento da cultura individual (...). Ao se observar acima na segunda coluna, da esquerda para direita, os narradores indicam que a causa da evasão escolar é o cansaço que muitos estudantes de EJA têm; no entanto, narrativas indicaram que a evasão e o fracasso escolar ocorrem, também, por descompromisso dos próprios estudantes.

Na terceira coluna, a síntese das respostas sobre a participação do poder público, houve respostas diversas e nas narrativas não houve consenso do tipo de participação que o poder público tem na escola. Lugli e Gualtieri (2012, p. 12) meditam sobre a prática educacional “é complexa e se encontra no cruzamento de aspectos muito diversos que dizem respeito à dinâmica da instituição escolar”.

Na quarta coluna, se consegue entender que a escola auxilia na construção da cidadania. As respostas foram distintas; todavia, colocaram a participação escolar como se fosse a única base para a cidadania, e para que ocorra a construção da cidadania deve haver ação que perpasse o ensino, a conscientização, o conhecimento de si e minhadade. Segundo Azevedo (2011, p. 5), o problema da evasão e da repetência escolar no país tem sido um dos maiores desafios enfrentados pelas redes do ensino público. Entre muitas outras, as causas estão ligadas a fatores sociais; culturais, políticos e econômicos; carência alimentar; a dificuldade em conciliar

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escola e trabalho; a inadequação dos métodos de ensino; as limitações nos aspectos como: baixa visão; pouca audição; dor de cabeça; dor muscular; desajuste psicossocial; ausência de professores; professores desqualificados; sala de aula com eventual número excessivo de alunos, impossibilitando o atendimento individual do professor para aqueles que precisam; a descredibilização da escola como uma via conducente à ascensão social; má distribuição de orçamentos para as escolas de EJA; via de regra, a inexistência de local na escola para a realização de eventual prática de educação física (desporto); falta de democracia na escola e, principalmente, a falta de autonomia escolar.

Nesse cariz, percebe-se que as causas do abandono e insucesso escolar nas escolas investigadas são muitas. Algumas delas envolvem um contexto social maior, impossível de ser resolvido na instituição. No entanto, se a escola conseguir eliminar os problemas relacionados com a instituição em si, já estará feita uma boa parte do processo. Em Porto Velho, os problemas são gerados, basicamente, a partir de três diferentes dimensões: fatores de natureza política e social; valores de aspetos motivacionais dos alunos; aspetos de natureza interna à escola.

As causas e abandonos da EJA como demonstra o quadro 4, ressalta, também, o que já foi estudado: o abandono é provocado pela desmotivação. A desumanização provoca fracasso e como o próprio quadro demonstra, a permanência e educação provocam, consequentemente, humanização e libertação.

Quadro 5: Demonstrativo de causas e consequências das ações humanas

De acordo com o quadro acima, na perspetiva de Lugli e Gualtieri (2012, p. 12) sobre o insucesso do aluno fica evidente que “a dificuldade da escola em proporcionar a escolarização pretendida para a totalidade dos que a procuram”. Os

Fonte: Elaboração própria 2018

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mesmos compreendem que “o fracasso na escola tem como contrapartida inevitável o fracasso da escola”.

Segundo o quadro 5, o abandono e insucesso escolar tem consequências e causas, entretanto, a desmotivação não é provocada somente na escola. Há fatores externos que também a provocam, tais como: o interesse do aluno em aprender; a situação socioeconómica e cultural da família e da sociedade; falta de um ambiente familiar favorável à educação escolar que pode mediar e incentivar a permanência do estudante na escola. Arroyo (2006) destaca que, para se configurar a EJA, deve-se conhecer quem são os seus sujeitos, no sentido de adequar a escola frente às necessidades de uma educação diferenciada.

As razões apontadas como geradoras do absentismo e insucesso escolar, são inúmeras. Todavia, pode-se concluir que, de todas elas, a desmotivação é a mais importante. A desmotivação aliada a um desinteresse por parte dos alunos conduz, inevitavelmente, a uma inerente falta de estudo, falta de empenho na resolução de tarefas propostas e a dificuldades de concentração na sala de aula.

A figura que se refere à categorização encontrada na divisão dos papéis executados pelos narradores, apresentada abaixo, índica que em uma sociedade de consumo, a compulsão pela compra ou posse de produtos tecnológicos de ponta, deixam nas famílias com um sentimento de revolta por não possuírem o que gostariam.

Conforme Lugli e Galtierl (2012):

O fracasso escolar acompanha o desenvolvimento do próprio Sistema Educacional no Brasil. Entre os anos 1930, momento de organização do sistema educacional brasileiro, e as décadas de 1960 e 1970, época intitulada desenvolvimentista, várias interpretações foram construídas para explicar o fracasso que responsabilizaram com pesos diferentes as próprias crianças, os jovens, suas famílias, seus professores ou a instituição escolar, dependendo do referencial teórico e ideológico utilizado para construí-las. E, como veremos nessas explicações o fracasso na escola geralmente não foi compreendido também como fracasso da escola (Lugli & GualtierI, 2012, p. 13).

O insucesso escolar é um problema político que deve ser interpretado como algo que deve ter fim, para isso as entidades de classe e a sociedade devem pressionar

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o poder público para implantar políticas públicas eficientes para acabar com esse fenômeno social.

A leitura que fizemos dos resultados, permitiram construir um quadro/esquema (quadro 6) que realiza a categorização e divisão dos papéis dos narradores. De acordo com isso, a forma como verão a educação e a sua atitude perante o problema.

Assim, há professores otimistas e pessimistas, estes menos capazes de contribuir para uma diminuição das taxas de abandono; mas, ambos, os tipos de professores estão presos ao sistema público de ensino e ao que ele se preocupa em primeiro lugar, ou seja, índices e taxas em detrimento do ensino e da aprendizagem. Há gestores democráticos que interagem com a comunidade. Há gestores autoritário. Dificilmente, contribuem no processo educativo e permanência do aluno na escola. Por último, os alunos, os protagonistas da escola: apresentam-se como indiferentes ao processo. Tal sentimento, não parece ser favorável à promoção do sucesso e à permanência deles na escola. Lugli e Gualtieri (2012, p. 108) se referem: “apenas com mudanças significativas no modelo de organização escolar poderão reduzir os índices de insucesso”.

Quadro 6 – Categorização e divisão dos papéis dos narradores

Freire defende que

Fonte: Elaboração própria 2018

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A autoridade coerentemente democrática, fundando-se na certeza da importância, quer de si mesma, quer da liberdade dos educandos para a construção de um clima de real disciplina, jamais minimiza a liberdade. Pelo contrário, aposta nela. Empenha-se em desafiá-la sempre e sempre; jamais vê, na rebeldia da liberdade, um sinal de deterioração da ordem. A autoridade coerentemente democrática, mais ainda que reconheça a eticidade de nossa presença, a das mulheres e dos homens, no mundo, reconhece, também e necessariamente, que não se vive a eticidade sem liberdade e não se tem liberdade sem risco. O educando que exercita sua liberdade ficará tão mais livre quanto mais eticamente vá assumindo a responsabilidade de suas ações. (Freire, 2003, p. 93).

O reconhecimento e o respeito ao estudante, ao professor e ao gestor também o auxilia na construção da consciência de si e da minhadade, fundamentais na vida do indivíduo. “Não há educação fora das sociedades humanas e não há homem vazio” (Freire, 1978, p. 35).

6.3 Resultados das experiências da Educação de Jovens e Adultos em

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