• Nenhum resultado encontrado

Na busca por estudos atuais sobre as contribuições da Matemática para a formação profissional, poucos trabalhos foram encontrados diretamente ligados ao tema da pesquisa. Nesse sentido optou-se por apresentar estudos realizados no cenário nacional, sobre temas ligados a questão central da pesquisa.

No Instituto Federal do Espírito Santo, a Matemática passou por transformações ao longo da sua história. O autor Antonio Henrique Pinto (2006), em sua tese de Doutorado intitulada “Educação Matemática e formação para o trabalho: práticas escolares na Escola Técnica de Vitória” retratou as memórias da Educação Profissional na Escola Técnica de Vitória, do período de 1942 a 1990. Além dos relatórios de docentes e servidores que viveram a história da época, a tese fez uma

análise da Matemática, nas perspectivas de currículo, avaliação, metodologias, ensino e aprendizagem nas variadas fases da Escola Técnica de Vitória.

Diante do trabalho do autor, constata-se as mudanças da modalidade de Educação Profissional e as transformações do currículo da disciplina de Matemática, mostrando-se importante nesse processo.

O conteúdo programático da Matemática de 1942, dos cursos básicos industriais da Escola Técnica de Vitória, era direcionado às oficinas, favorecendo a aplicação dos conceitos através da escolha de conteúdos essenciais para tal prática, a metodologia utilizada pelo docente não era evidenciada no programa.

Com o movimento de aproximação do curso profissionalizante com o Secundário, na década de 1960, novas características foram acrescidas no currículo da Matemática, “a sequência e distribuição dos temas, a terminologia utilizada, a introdução da teoria dos conjuntos associada a outros itens desse conteúdo corroboram a opção por um programa de „Matemática Moderna‟” (PINTO, 2006).

A construção do currículo de Matemática, que era imposta por legislações, fez com que a Matemática se distanciasse da prática das oficinas, ou seja, da formação profissional, ao mesmo tempo em que Educação Profissional se modernizava, acompanhando a evolução da indústria e do mercado que exigia formação de mão- de-obra qualificada.

Novos recursos didáticos utilizados pelos docentes, na década de 1970, também contribuíram para o “distanciamento” da Matemática da Educação Profissional. A inserção do livro didático nos programas de ensino foi um dos fatores que “provocaria mudanças nas práticas docentes do ensino de Matemática da Escola Técnica de Vitória e contribuiria significativamente para a introdução da concepção tecnicista nesse ensino” e ainda, “o uso dos livros pelos alunos faria com que o ensino da Matemática nos cursos técnicos, se identificasse ainda mais com o das escolas secundárias não profissionais” (PINTO, 2006).

Outro ponto importante a ser considerado, em relação às transformações da Educação Matemática no contexto apresentado, é a ausência de um planejamento integrado, com a participação de docentes de diversas áreas, evidenciados a partir de meados da década de 1970. O planejamento integrado na Educação Profissional, com a participação de todos envolvidos no processo escolar, é essencial para a elaboração de um currículo coeso e, que integre a educação “propedêutica” e a Educação Profissional, favorecendo a formação integral do sujeito.

Nesse sentido, as contribuições da obra de Pinto (2006), auxiliam na compreensão da história da disciplina de Matemática no contexto da Educação Profissional na Instituição de ensino onde se realizou a pesquisa, Instituição centenária que passou por diversas transformações.

A dificuldade em aprender Matemática, pode influenciar na formação profissional do sujeito. Em sua dissertação de Mestrado, Joaquim Clemente da Silva Filho (2008) investigou sobre a Educação Matemática no Curso Técnico de Mecânica, no CEFET-PA, abordando o tema “Educação Matemática – uma investigação sobre a Teoria e Prática no Ensino Regular e Médio Profissionalizante do CEFET-PA”. Sua pesquisa envolveu os alunos e docentes do Curso Técnico de Mecânica.

Segundo o autor, comumente alguns alunos ingressantes no Ensino Médio apresentam dificuldades na disciplina de Matemática. Na Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio essas dificuldades tornam-se mais abrangentes, tendo em vista a presença de disciplinas técnicas no currículo escolar, que utilizam conteúdos da Matemática.

Diante disso, o autor fez uma reflexão sobre o impacto dessa dificuldade no desenvolvimento do aluno na Educação Profissional Técnica Integrada ao Ensino Médio. A contextualização da Matemática e sua interdisciplinaridade com as disciplinas da formação profissional são cruciais para a formação integral do aluno. Assim é necessário “buscar alternativas para que o ensino técnico possa ser construído para a cidadania e para a plenitude do educando, harmoniosa e culturalmente” (SILVA FILHO, 2008).

Na sua pesquisa, o autor constatou que a maioria dos alunos pesquisados apresentam dificuldades na aplicação da Matemática durante o ensino técnico, evidenciando a falta de integração no currículo escolar, sem diálogo entre a Educação Propedêutica e a Profissional.

A Matemática na Educação Profissional, ao construir o currículo escolar, requer cuidados ao propor as habilidades e competências que a Instituição pretende desenvolver na formação do sujeito, que são exigidos na sociedade contemporânea e no mundo do trabalho.

As mudanças no currículo da Matemática envolvem as transformações da sociedade, através da relação entre currículo, cultura e poder. Elenilton Vieira Godoy (2011), em sua tese “Currículo, cultura e educação matemática: uma aproximação possível?”, o autor refletiu sobre a Educação Matemática e suas relações com o poder e cultura e coloca a Matemática como ciência e que tem seu papel singular no currículo. Um dos objetivos da pesquisa foi investigar em que medida o conhecimento matemático é usado na sociedade contemporânea e como se manifesta nas relações de poder.

Na percepção do autor, na relação mútua entre o saber e o poder, as disciplinas escolares detêm conhecimentos específicos e, de certo modo, poderosos; pensando no currículo como prática de significação, esses conhecimentos dão sentido às ações.

A ideia de currículo adotada pelo autor foi de um artefato cultural “pois, institucionalmente, é uma invenção social, uma prática discursiva atrelada à produção de identidades culturais e sociais” (GODOY, 2011) e a Matemática como uma construção social, na perspectiva de que o conhecimento é socialmente construído. Nesse sentido, o autor destaca as quatro metas da Educação Matemática, sendo elas:

[...] determinar, para cada indivíduo, a competência matemática que lhe cabe; preparar cada indivíduo para a vida adulta, reconhecendo que alguns alunos requerem mais instrução Matemática que outros; est imular o reconhecimento fundamental da utilidade da Matemática em nossa

sociedade; desenvolver habilidade para usar modelos matemáticos com vistas à resolução de problemas (GODOY, 2011, p. 99).

A inclusão da Matemática no currículo escolar é justificada por poucos especialistas, segundo o autor, de maneira superficial. Assim, ao analisar o processo de ensino e aprendizagem da Matemática, evidenciou-se um distanciamento entre a teoria e a prática que, muitas vezes, foi descontextualizada da realidade social e econômica, sem associações. O autor defende que “não basta uma lista de enunciados sobre os valores e utilidade da Matemática que não venha acompanhada de uma planificação adequada que indique o que fazer, como fazer e quando realizar etc.” (GODOY, 2011).

A Matemática se faz necessária no currículo escolar devido ao desenvolvimento de competências e habilidades do sujeito, tornando-o capaz de utilizar os conhecimentos matemáticos para atividades práticas no que tange aspectos quantitativos da realidade (grandezas, contagens, medidas, cálculos etc) e para desenvolver o raciocínio (capacidade de abstrair, generalizar, projetar etc).

Buscando apontar as possibilidades de participação da Matemática na construção do currículo do Curso Técnico em Metalurgia Integrado ao Ensino Médio na Modalidade EJA, a autora Rosangela Cardoso Silva Barreto (2013) abordou as temáticas Currículo Integrado, Educação de Jovens e Adultos, Conteúdos Matemáticos e PROEJA na sua dissertação intitulada “A Matemática na construção de um currículo integrado: possibilidades e desafios para o Ensino Médio e a Educação Profissional de jovens a adultos”. O objetivo geral da pesquisa foi:

Analisar a participação da Matemática nas ações e materiais didáticos utilizados por professores em diferentes disciplinas do Curso Técnico em Metalurgia Integrado ao Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (BARRETO, 2013, p. 22).

A pesquisa partiu do princípio da Educação como um direito, especialmente dos jovens e adultos que não puderam ou não tiveram a oportunidade de concluir seus estudos na idade escolar.

Tendo a Matemática como protagonista na integração do currículo do curso, na modalidade EJA, toma-se os pressupostos da Educação Matemática Crítica.

A Educação Matemática Crítica (EMC) como uma tendência do ensino e aprendizagem da matemática é relativamente recente. Talvez por isso, nas práticas cotidianas de educadores matemáticos, estes pareçam não partilhar dessa tendência, pois ainda é mais perceptível a utilização de estratégias e métodos que apontam para um ensino mecanicista e imposto, limitando as possibilidades de significação (BARRETO, 2013, p. 36).

Por mais que surjam novos estudos, tendências e teorias, a formação continuada dos docentes é importante para o aprimoramento da prática docente, a fim de acompanhar e modernizar o processo de ensino e de aprendizagem e ampliando a visão de relação entre docente e aluno.

Frente à prática do ensino e aprendizagem da matemática e suas relações com uma sociedade em crise e que vem experimentando um alto grau de recursos tecnológicos à sua inteira disposição, a EMC preocupa-se em refletir articuladamente sobre educação matemática, educação e sociedade, considerando que essa tendência na Educação Matemática não é uma metodologia de ensino e sim uma nova postura educacional (BARRETO, 2013, p. 38).

A pesquisa realizada teve caráter qualitativo e os instrumentos de pesquisa (observação de aulas, entrevistas e questionários) foram direcionados a alunos e alunas, docentes e coordenação, todos do Curso Técnico em Metalurgia Integrado ao Ensino Médio na modalidade EJA, ofertado pelo IFES campus Vitória.

A análise curricular do curso em questão, “aponta que o PROEJA ainda se apresenta como uma realidade (im)posta” (BARRETO, 2013, p. 69), por meio de decretos e defesas de posicionamento de docentes, se fazendo necessária uma maior reflexão e ação no sentido da integração currículo, na formação integral.

Quanto aos conteúdos matemáticos evidenciados no material didático analisado, identificou-se conteúdos matemáticos em todas as disciplinas, porém “não tem proporcionado aos estudantes uma organização curricular que potencialize a integração” (BARRETO, 2013, p. 99).

Assim, concluiu-se que muito ainda precisa ser refletido e feito para que a integração curricular e a formação integral do aluno aconteçam. Trabalhar com o material didático não garante a integração curricular.

A partir dos documentos e materiais didáticos analisados, observações, entrevistas e questionários aplicados, entendemos que a matemática está inserida em todas as disciplinas, podendo, portanto, servir como um elemento articulador curricular. E, por isso, contribuir para a integração entre as diversas áreas do conhecimento, dirimindo a dicotomia entre ensino propedêutico e ensino profissional, tendo como referência a qualificação da condição de existência do cidadão (BARRETO, 2013, p. 126).

Sendo a Matemática um articulador curricular, para a formação profissional do Técnico em Administração, é necessário o trabalho interdisciplinar da Matemática com as disciplinas técnicas para a educação crítica e integrada.

Documentos relacionados