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Escolha do Tema “Informática na Educação”

P RIMEIROS PROJETOS NO B RASIL

Voltando ao Brasil, fui trabalhar no Núcleo de Informática Biomédica (NIB), coordenado pelo Prof. Renato Sabbatini. No final de 1983, durante todo o ano de 1984, minha esposa, Ann Berger Valente6, e eu praticamente dedicamos o nosso tempo integral na disseminação dos resultados do trabalho realizado no MIT e na montagem de propostas para projetos sobre o uso da informática na educação especial. O primeiro projeto

6 Conheci Ann como aluna do programa de mestrado em Tecnologia Educacional da Universidade de

Harvard. Veio até o MIT interessada em conhecer o trabalho sobre o uso de computadores com crianças deficientes físicas. Posteriormente ela foi contratada como pesquisadora no Laboratório Logo e trabalhou na formação de professores de educação especial até novembro de 1983, quando nos casamos e viemos para o Brasil.

Capítulo 1 – Escolha do Tema – Informática na Educação

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desenvolvido “Aplicações da Informática na Educação Especial”, teve início em janeiro de 1985, foi financiado pela Secretaria Especial de Informática (SEI), Embratel e Itautec. A Embratel já estava desenvolvendo trabalhos na área de informática na educação, por intermédio do Projeto Ciranda. Os entendimentos para a elaboração da proposta de financiamento do projeto foram muito interessantes e marcaram a maneira como iríamos conduzir os nossos trabalhos no Brasil.

O interesse da Embratel era disseminar no Brasil resultados alcançados no MIT, mas que isso fosse feito por professores de instituições, formados pelo projeto. Como foi colocado por um dos dirigentes do Projeto Ciranda, “nós sabemos que vocês são capazes de trabalhar com essas crianças; mostre-nos que vocês são capazes de formar os nossos profissionais para realizarem o que vocês fizeram no MIT”. Esse desafio foi seguido pelo projeto “Aplicações da Informática na Educação Especial”, e a formação de educadores para o uso da informática na educação passou a ser uma importante área de trabalho ao longo da minha vida acadêmica.

Para a realização desse projeto, foram escolhidas duas instituições: a Sociedade Campineira de Reabilitação da Criança Paralítica (ou simplesmente Casa da Criança Paralítica) onde era realizado o trabalho com crianças com deficiência física, e o Centro de Reabilitação Gabriel Porto, onde era feito o trabalho com crianças com deficiência auditiva e uma criança com deficiência mental, com Síndrome de Down. Seis profissionais, três de cada uma destas instituições, foram selecionados para trabalhar no projeto e seis computadores I-7000 da ITAUTEC foram instalados, três em cada uma das respectivas instituições participantes. O foco do projeto era a formação desses profissionais, que aprendiam a programação Logo e usavam o Logo com as crianças. No trabalho com esses profissionais, tivemos a primeira surpresa com relação ao processo de formação. Na nossa concepção, o processo seria breve, pois estávamos trabalhando com profissionais que tinham curso superior e já estavam atuando com as crianças. Com um pouco de experiência com o Logo, deveriam ser capazes de usar esse recurso com suas crianças. Na verdade, essa formação foi muito mais complicada e se estendeu por cerca de um ano.

Por outro lado, o trabalho de formação desses profissionais já era feito usando algumas concepções do que veio a ser caracterizado como o ciclo de ações descrição-execução- reflexão-depuração. Semanalmente eles elaboravam uma proposta de trabalho a ser desenvolvida com as duas crianças com quem trabalhavam. Durante a semana essas propostas eram implementadas e os dados colhidos eram descritos em um relatório, que era discutido nas reuniões que realizávamos toda sexta-feira. Com base nessas discussões, uma nova proposta de trabalho era gerada, a assim por diante. Portanto, a formação era baseada na implantação no trabalho com a criança e com base em propostas explicitadas (descrição), que eram colocadas em prática (execução) e cujo resultado era usado como objeto de discussão (reflexão). A nova proposta era como a depuração da anterior.

O segundo dado interessante, que acabou tendo um impacto grande nas decisões sobre a escolha de temas a serem pesquisados, aconteceu em uma dessas atividades que realizamos sobre a disseminação do trabalho no MIT. Uma das pessoas na audiência achou que nós éramos representantes de um das empresas de computadores e nossa função era vender máquinas. Isso fez com que a pesquisa na área da informática a educação fosse dirigida para a busca da verdadeira função que os computadores podem desempenhar no processo educacional, de modo que seu uso pudesse ser justificado não em termos econômicos, mas como um recurso que acrescenta algo que não pode ser obtido com qualquer outro recurso tradicionalmente usado na educação.

Com essa breve caminhada, de aproximadamente sete anos, compreendi que os temas de pesquisa na área de informática na educação devem voltar-se para uma aplicação prática, realista em termos das condições educacionais brasileiras, prioritariamente dirigidos para a formação de educadores e que o uso dos computadores possa ser justificado não em termos econômicos, mas como recurso que definitivamente adiciona algo novo no processo educacional.

C

ONCLUSÕES

Os primeiros anos de vida acadêmica na Unicamp já indicavam um certo interesse pela área relacionada com o uso da informática na educação. Porém, os objetivos nessa área não estavam claros. Esse interesse foi consolidado com as ações desenvolvidas como parte do trabalho de mestrado e doutorado realizados no MIT.

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Principalmente com relação ao trabalho de mestrado, a preocupação maior foi o uso do computador como auxiliar no processo de diagnóstico do desenvolvimento conceitual das crianças com paralisia cerebral. Já a pesquisa realizada no doutorado procurou aprofundar os estudos relacionados com o diagnóstico, porém mostrando que algumas das deficiências encontradas podiam ser superadas por intermédio da realização de atividades usando o computador.

A ênfase, nesses dois trabalhos, era mostrar o potencial educacional do computador como recurso a ser utilizado com crianças deficientes, no sentido de encontrar uma resposta para o questionamento sobre o uso dos computadores nas condições educacionais brasileiras. No contexto do trabalho com essas crianças, era inquestionável a necessidade do computador.

No trabalho com os deficientes, o computador assumiu a função do “caderno eletrônico” com o qual essas crianças realizavam suas atividades. Ele passou a facilitar a superação de uma deficiência, do mesmo modo que os óculos auxiliam a superação da deficiência visual. E ninguém questionava se os óculos eram ou não necessários para o deficiente visual. Do mesmo modo, esse trabalho com os deficientes físicos mostrou que o computador podia tornar-se necessário para o deficiente físico, criando enormes possibilidades, tanto do ponto de vista educacional como profissional.

No entanto, esses trabalhos, para ser implantados no Brasil, necessitavam da formação de novos profissionais e seria fundamental poder entender o verdadeiro papel do computador no processo de construção de conhecimento. Se a sua função fosse realmente especial, se não ficasse restrita à de caderno eletrônico, não seria o caso de usá-lo também com as crianças normais? Assim, a questão que passou a dirigir parte do meu interesse foi a de entender o que esse objeto “computador” tem de especial e como essa característica pode ser de fundamental importância no processo de construção de conhecimento.

Com isso, os temas pareciam bem definidos e teve início a caminhada no sentido de buscar respostas para as questões que foram apresentadas em diferentes ocasiões nesse início de vida acadêmica.

Os próximos capítulos descrevem como a concepção sobre o papel do computador no processo de construção de conhecimento foi alterando e como essa pesquisa ainda continua sendo desafiadora, considerando os novos avanços da tecnologia digital.

Os Diferentes Usos do Computador na Educação e a