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2. Peregrinos a Santiago de Compostela

2.3. Rituais dos Peregrinos

Chegados a Santiago de Compostela (fig.20), os peregrinos são convidados a participar nos rituais tradicionais da peregrinação jacobeia, tais como o toque na coluna do Pórtico da Glória, o toque na cabeça de Mateo, o contacto com o báculo de São Tiago, o abraço ao Apóstolo, a visita ao sepulcro do Apóstolo e a participação na Missa do Peregrino, com o ritual do botafumeiro.

A coluna central do Pórtico da Glória (fig.21, 22) apresenta a genealogia humana e divina de Jesus, merecendo a atenção do peregrino; paralelamente, existe a crença de que se receberá a resposta a cinco desejos ao colocar os cinco dedos da mão sobre os espaços da árvore de Jessé, ficando mais próximo de Jesus. “O peregrino, lonxe da idea tan espallada que non acredita com ningún documento de que obtén cinco desexos poñendo os seus cinco dedos nos cinco espacios que a piedade profundizou entre as pólas da árbore que nace no peito de Xesé, debe facerse unha idea básica deste rito, a de que se achega á figura de Xesús, camiño e meta do camiño de cada home.”195 De facto, os peregrinos continuam a dirigir-se à coluna central do Pórtico da Glória, agradecendo a protecção a São Tiago durante a sua peregrinação e as graças recebidas no Caminho. “Segundo essa velha tradição oral ou lenda popular atemporal, corrente em Santiago, fora a mão mesma de Deus que deixara impressos os Seus dedos na coluna central do Pórtico, ao endireitar Ele mesmo a catedral, que estava sendo construída mal orientada, por certa incompetência dos mestres-de-obras daqueles tempos tão

195 RODRIGUEZ IGLESIAS, Francisco (dir), La Catedral de Santiago de Compostela. I. Patrimonio Histórico Gallego. 1.

80 longínquos. Logo, os peregrinos poriam a sua mão onde o próprio Deus a pusera para que a catedral do apóstolo São Tiago fosse bem feita e orientada.”196

O toque com a cabeça na escultura de Mateo, mestre que terá construído o Pórtico da Glória, é um dos rituais que o peregrino deve cumprir, não só para apreciar a obra por ele realizada, mas também por se inspirar no seu exemplo de humildade e gratidão pela inspiração divina recebida. “La creencia adscrita a este rito, que no tiene nada de religioso, es la de que se contagia la inteligencia de Mateo a quien entra en contacto com su cabeza.”197

Segundo a tradição, o báculo de São Tiago, encontrado pelo Bispo Teodomiro, entre as relíquias do Apóstolo e do peregrino São Francisco de Siena, que recuperou a visão em Compostela, encontra-se numa coluna de cobre, coroada por uma imagem de São Tiago, sita no transepto da Catedral. “Unha vella columna de cobre, se cadra do século XI ou comezos do XII, coroada por unha imaxe de Santiago, do século XVI, encerra, segundo din, os báculos de Santiago o Maior, encontrado pólo bispo Teodemiro xunto coas relíquias do Apóstolo e de San Francisco de Siena, peregrino penitente que recuperou en Compostela a vista perdida. O peregrino adoita tocar, pola parte de abaixo, o regatón. Neste rito hai que ve-la imaxe do sacrifício da peregrinación, comezando pola de Santiago mesmo, que trouxo ata Fisterra a mensaxe do Evanxeo, e gratitude de quen se sente favorecido por Deus, como o peregrino de Siena.”198

O abraço ao Apóstolo é, sem dúvida, o ritual mais significativo de todos os outros, sendo que o peregrino, após a sua longa jornada, abraça o Apóstolo, sito no altar-mor (fig.23, 24), recordando uma das frases mais trocadas entre os peregrinos: “Antes de abraçares o Apóstolo, já ele te abraçou ao longo do Caminho”. De facto, o abraço “tiene un significado religioso que es preciso destacar. El abrazo se daba tradicionalmente después de haber cumplido los requisitos para ganar las indulgencias de la peregrinación. Los dos últimos se llevaban a cabo en la capilla de la Magdalena, detrás del altar mayor, y, posteriormente, desde el siglo XVI, en la capilla del Salvador. Se trataba de la confesión y la comunión, a las que seguía la entrega al peregrino del certificado correspondiente, la compostela. Los peregrinos, en esse momento, como el hijo pródigo de la parábola, se acercaban a darle el abrazo de paz

196 SINGUL LORENZO, Francisco, O Caminho de Santiago. A Peregrinação Ocidental na Idade Média. Rio de Janeiro:

EdUERJ – Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999, p.154.

197 PRECEDO LAFUENTE, Manuel Jesús, Santiago El Mayor y Compostela. Un apóstol, una ciudad, unos caminos.

Madrid: Aldeasa, 1999, p.105.

198 RODRIGUEZ IGLESIAS, Francisco (dir), La Catedral de Santiago de Compostela. I. Patrimonio Histórico Gallego. 1.

81 al amo de la casa, el apóstol Santiago. Se ha escrito incluso que cada peregrino, al darle el abrazo – en lengua gallega, aperta o apreta –, le diría a Santiago: «Encomiéndame a Dios, amigo».”199

A visita ao sepulcro de São Tiago (fig.25, 26) é um momento muito especial para todos os peregrinos que chegam a Compostela. Situado debaixo do altar-mor da Catedral, encontra-se uma urna de prata, na qual se encontram os restos mortais de São Tiago e dos seus dois discípulos, Atanásio e Teodoro. “La presencia de la cripta debajo del altar mayor responde al deseo de celebrar la Eucaristía sobre el sepulcro del mártir, que en este caso es además Apóstol de Cristo. Aunque mejor se diría que el altar mayor está donde está para mantener la conexión com el sepulcro manifestativo de la confesión de Cristo por parte de Santiago a través de la propia vida, en cumplimiento de la palabra dada a Jesús.”200

A Missa do Peregrino (fig.27) é celebrada diariamente ao meio-dia, sendo que o peregrino participa dela e tem o privilégio de ouvir anunciada a sua chegada201 perante os demais presentes. No final da Eucaristia, os peregrinos são presenteados com o botafumeiro (fig.28), um grande incensário, que balança por todo o transepto da Catedral, ao som de música litúrgica, perfumando toda a Catedral. “Se pone en funcionamiento para incensar la imagen del Apóstol o las relíquias que se llevan en la procesión en las grandes solemnidades. Cuando se acciona el Botafumeiro sin que haya procesión, por ejemplo, com motivo de una peregrinación, es un homenaje a la Eucaristía celebrada y recibida, de modo que puede considerarse como un modo de dar gracias a Dios. Es posible que en algún tiempo, además, se haya utilizado el Botafumeiro como un ambientador, sobre todo en los siglos en los que la Catedral, abierta día y noche, servía de dormitorio para muchos peregrinos.”202

199 PRECEDO LAFUENTE, Manuel Jesús, Santiago El Mayor y Compostela. Un apóstol, una ciudad, unos caminos.

Madrid: Aldeasa, 1999, p.105.

200 Idem, p.57.

201 No momento de acolhimento inicial, o sacerdote dá conta dos peregrinos que chegaram a Santiago de Compostela,

referindo a sua nacionalidade e o seu ponto de partida, dividindo-os pelos diversos Caminhos. Estes dados são fornecidos pela Oficina do Peregrino, à qual os peregrinos se deslocam para receber a sua Compostela.

202 PRECEDO LAFUENTE, Manuel Jesús, Santiago El Mayor y Compostela. Un apóstol, una ciudad, unos caminos.

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