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2. Turismo Cultural e Turismo Religioso

2.2. Turismo Religioso

Ainda que o turismo religioso tenha subjacente a ideia de uma viagem com sentido turístico, os seus motivos são de carácter religioso, devocional e espiritual. De facto, esta tendência está a crescer, no entanto, é preciso ter em atenção a fronteira entre turismo religioso e turismo cultural, uma vez que a maior parte do património histórico-cultural é de origem ou cariz religioso, confundindo-se, por vezes, a tipologia dos próprios visitantes.

Maria Olinda Marques defende que “O turismo religioso é difícil de separar do turismo cultural, já que não é fácil distinguir aqueles turistas, cujo motivo da visita é a curiosidade pela cultura ou a fé, ou se os dois motivos.”296

Segundo Licínio Cunha, “as peregrinações e os centros religiosos são as formas mais antigas de turismo tendo, desde sempre, originado viagens em todas as épocas e em todas as partes do mundo. A religião, motor espiritual de todas as civilizações, teve sempre os seus centros de peregrinação: o templo de Amon no Egipto, Delfos e Olímpia na Grécia, Benares na Índia, Meca na Arábia Saudita, Lourdes em França, Santiago de Compostela em Espanha,

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CUNHA, Licínio, Perspectivas e Tendências do Turismo. Lisboa: Edições Universitárias Lusófonas, 2003, p.229.

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121 Roma em Itália, ou Fátima em Portugal, são exemplos do passado e de hoje que originam a movimentação de milhões de pessoas em cada ano.”297

Frequentemente, o turismo religioso e a peregrinação são confundidos, distinguindo-se pelas suas motivações e finalidades, muito distintas, embora os processos sejam próximos ou idênticos, processos tais como as viagens, os alojamentos, os guias, entre outros.

No entanto, “alguns recusam a designação «turismo» para as peregrinações e não aceitam designar o peregrino por turista mas trata-se de um preconceito sem sentido. Aliás, o próprio Papa João Paulo II considerou o «turismo como um meio para implementar certos valores religiosos», dando como exemplo as peregrinações.”298

O turismo religioso engloba não só as grandes manifestações religiosoas e as peregrinações, mas também as festas e as romarias. De facto, as grandes manifestações religiosas e as peregrinações permitem a estruturação de correntes turísticas, abrangendo, além do local de peregrinação, os circuitos de locais sagrados ligados à peregrinação desenvolvida; por outro lado, as festas e romarias permitem uma atracção pontual.

Em todo o caso, “Para algumas regiões, o turismo religioso pode ser uma base para o seu desenvolvimento turístico e, consequentemente, económico. Para elas as atracções mais importantes e que lhes concedem uma assinalável vocação turística são constituídas pelo património e pelas manifestações religiosas.”299

Em 1960, na Conferência Mundial de Roma, o turismo religioso é definido como “uma atividade que movimenta peregrinos em viagens pelos mistérios da fé ou da devoção a algum santo. Na prática, são viagens organizadas para locais sagrados, congressos e seminários ligados à evangelização, festas religiosas que são celebradas periodicamente, espetáculos e representações teatrais de cunho religioso.”300

O turismo religioso pode ser entendido em três vertentes: espiritual, cultural e intermédia. Na vertente espiritual, associada às peregrinações, “(…) a motivação principal da deslocação/estadia é a fé e os lugares directamente relacionados, chamados santuários («lugar por excelência da proximidade de Deus»).” Na vertente cultural, denominada de “«Turismo em lugares religiosos e Turismo de objectos religiosos» (…) a principal razão das visitas «não

297 CUNHA, Licínio, Economia e Política do Turismo. Lisboa: Editorial Verbo, 2006, p.234. 298 Idem.

299 Idem, p.235.

300 SILVEIRA, Emerson J. Sena da, “Turismo Religioso Popular? Entre a ambiguidade conceitual e as oportunidades de

122 é conhecer o objecto religioso como tal, mas como um produto da cultura humana», i.e., é uma abordagem sociológica de «acesso à cultura emanada das grandes religiões».” Na vertente intermédia, “a componente religiosa é menor e em que a peregrinação é sobretudo pretexto para fazer turismo, i.e., visitar lugares e monumentos que de outra forma não se visitariam; nesta categoria o Turismo Religioso pode-se definir como «um complemento do cultural e do espiritual que dá lugar a uma interacção valorizante para o homem».”301

De facto, o turismo religioso, além dos motivos religiosos e espirituais, impele os turistas a deslocarem-se igualmente por motivos de cultura, considerando o património existente em torno do “sagrado”, no qual o património religioso assume um importante recurso turístico de uma região ou país, que, além do seu valor histórico e artístico, tem uma forte componente religiosa ou espiritual.

Segundo Katharina Maak302, o turismo religioso pode situar-se entre a peregrinação e o turismo, uma vez que agrega elementos religiosos, turísticos e económicos, apresentando assim as tipologias de turistas/peregrinos:303

Peregrinação Turismo Religioso Turismo

Peregrino puro Peregrino > Turista Peregrino = Turista Turista > Peregrino Turista secular

Sagrado Fé / Profano Conhecimento base Secular

No turismo religioso, é possível identificar as diversas tipologias dos turistas/peregrinos: peregrino304, situando-se completamente fora do turismo, adoptando uma vivência religiosa e espiritual; praticante tradicionalista, que viaja em grupo, normalmente com guia ou assistente espiritual; praticante liberal, que tem como objectivo estimular a sua

301 SAER (Sociedade de Avaliação de Empresas e Risco), Reinventando o Turismo em Portugal. Estratégia de

Desenvolvimento Turístico Português no I Quartel do Século XXI. Lisboa: Confederação do Turismo Português, 2005, p.645. (as três transcrições do parágrafo)

302 MAAK, Katharina, “El Camino de Santiago como posible motor turístico en zonas rurales de escasos recursos: el caso de

Brandeburgo” in Cuadernos de Turismo (nº. 23). Murcia: Universidad de Murcia, 2009, p.155.

303 Esquema adaptado, tendo por base o consultado na referência bibliogáfica anterior (Katharina Maak).

304 Ainda se pode apontar uma “subtipologia” do peregrino: peregrino-piedoso (que sai de casa com motivação religiosa),

peregrino-devoto (que vai em peregrinação e devoção todo o caminho), peregrino-turista (que parte com intenção religiosa e turística em simultâneo), turista-peregrino (que se deixa envolver pelo sagrado do lugar visitado) e turista-secular (que visita lugares sagrados).

123 espiritualidade, lembrando os mistérios da salvação e a procura da santidade; apreciador de arte e cultura, que encara a sua experiência apenas do ponto de vista das ciências sociais.

Em suma, o turismo religioso é uma tipologia muito especial, uma vez que os locais ou caminhos são repletos de carga espiritual, além de aglutinar uma componente importante na vida humana. “A especificidade deste tipo de Turismo, sobretudo nas acepções mais espirituais e menos culturais reflecte-se na forma como as pessoas viajam e nas exigências destes turistas. (…) A forte componente emocional associada ao Turismo Religioso evidencia-se na sensibilidade deste tipo de turista e obriga os agentes que actuam neste segmento a políticas comerciais e de marketing específicas.”305