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O slogan publicado no canto superior direito, acima do logotipo da revista, sintetizava

a linha editorial da publicação: voltar-se para o apreciador do mundo musical, fosse ele

amador ou profissional. Com esse bordão, a publicação tinha como público-alvo o admirador

de música que não se limitasse a ler amenidades e fofocas sobre a vida de celebridades do

mundo dos pop stars.

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Isso é percebido pela quantidade de editorias existentes, como Cartas Técnicas, Teoria

Musical, Música nas Escolas, Música Eletrônica, Violão Clássico e Popular, Guitarra-

170 “O problema remonta a Portugal. As estruturas feudais mantiveram-se não apenas pelos séculos afora num Portugal atrasado, que foi aos poucos se enfurnando na condição de mero fornecedor de matérias-primas das colônias para que os holandeses e principalmente os ingleses se transformassem em manufaturas. Tinha de transferir tais relações aos tempos e às terras brasileiras, num processo que se prolongou aos nossos dias. Ainda hoje a profissão de músico é desvalorizada no Brasil, e não por suas peculiaridades atuais [...] mas principalmente por essa herança cultural, por enquanto inextinguível” (SQUEFF, 1983, p. 102).

171 Slogan impresso na capa das primeiras edições da revista.

172 Conforme se observa na linha editorial da revista Pop, por exemplo, em que vários artistas tinham sua intimidade publicada nas páginas.

Jazz/Rock, Contrabaixo, Percussão, Teste”, Baixo, entre outras

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. Havia ainda um encarte,

contendo sucessos musicais nacionais e estrangeiros cifrados para violão e guitarra.

No caso das editoriais, eram abordagens voltadas para o aprendizado musical, tanto

teórico quanto prático, privilegiando a performance e a técnica. Uma curiosidade diz respeito

à editoria Teste, que avaliava instrumentos musicais produzidos no Brasil. Essa seção,

contudo, não era editada com regularidade, além de não ter tido vida longa. Para se ter uma

noção do rigor de tais testes, todos os instrumentos recebiam uma avaliação em diversos

quesitos e uma ficha técnica, além dos preços.

Os responsáveis por essas seções eram músicos – em grande parte conhecidos como

Nélson Ayres, Egídio Conde, Tony Osanah, Cláudio Lucci –, os quais já participavam de

gravações e já tinham uma vida artística consolidada. Mas também profissionais de outros

gêneros, como o erudito, representado pelos maestros Fausto de Paschoal e Ettore Pescatore.

Quanto às outras seções, tratavam-se de artigos escritos por especialistas sobre o

assunto em questão. No caso dos instrumentos, comentários e observações pessoais ilustrados

por fotos (a maneira e a forma de tocar o instrumento) e partituras (explicações sobre as notas

musicais).

Na edição número 16, ocorreram mudanças nessa chamada parte técnica:

Através de pesquisa realizada recentemente, apuramos que nossos leitores esperavam da revista, com relação à parte didática, uma forma mais prática e generalizada de ensino, assim como a utilização de músicas que estivessem nas paradas, como veículo principal para esta finalidade. Também o fato de cada seção estar explicando coisas diferentes para cada instrumento vinha dificultando o aprendizado. Desta forma, os grupos de amigos não podiam estudar juntos nem debaterem a respeito desta ou daquela dificuldade, assim como não podiam colocar em prática o que haviam aprendido, pois as músicas ou exercícios nunca eram os mesmos para cada instrumento. Assim, resolvemos generalizar o estudo, passando a usar como meio de ensino uma forma integrada, musicalmente falando, onde todos os instrumentos têm a mesma linguagem de ensinamento. ([MUDANÇAS], 1977, n. 16, p. 55)

É importante ressaltar que as seções sofreram muitas modificações ao longo da

existência da revista. A partir do terceiro ano de publicação, deixaram de serem opinativas, ou

seja, escritas por um articulista, e passaram a apresentar entrevistas, geralmente ilustradas

com uma pequena transcrição de uma composição relacionada à execução do instrumento. Por

exemplo, se fosse contrabaixo, era publicado o trecho de uma partitura destinada

especificamente ao instrumento em questão.

173 Estas seções não tiveram regularidade ao longo da existência da publicação. Algumas que começaram a ser publicadas logo no primeiro número não completaram um ou dois anos de vida. Outras foram criadas durante a existência de Música.

Essa pratica, porém, não durou muito. A partir da edição número 21, uma nova

mudança ocorreu: as respectivas seções incorporaram entrevistas com instrumentistas

associados ao que está relacionado. E assim foi até o número 49, quando a publicação foi

extinta definitivamente, embora tenha ficado marcada como um veículo impresso que

transcendeu o jornalismo e a crítica musical.

Nas respectivas edições que estiveram disponíveis para consulta nesta pesquisa, a

primeira constatação diz respeito à forma como o rock, tanto estrangeiro quanto brasileiro, foi

tratado. A presença do rock brasileiro não é destacada, se comparada com as edições até agora

observadas. As análises das críticas a esse gênero são secundárias se comparadas com a

Música Popular Brasileira (MPB). Basta ver o número de capas destinado aos artistas ditos

representantes do rock no Brasil.

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Outro fator importante diz respeito a duas vertentes de crítica. A primeira é referente

aos shows, e a segunda, aos LPs. Embora houvesse limitações em relação ao espaço editorial

– muito semelhante com Pop e Rolling Stone, com textos curtos – os textos eram muito

contundentes. Quanto aos shows, Música é a publicação que começa a dar os primeiros sinais

de renovação da crítica musical.

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Apesar disso, a crítica musical dá um salto qualitativo de forma expressiva, não

somente ao rock como um todo, mas em relação a todos os gêneros musicais presentes, além

de não ficar restrita somente à análise de obras gravadas. E aqui se percebe um avanço

expressivo no que diz respeito ao desempenho, em relação às publicações anteriormente

analisadas.

A seguir, serão apresentadas as análises das duas vertentes.

174 Os exemplares disponibilizados nesta pesquisa foram: 1-11, 13-19, 21, 23, 25, 32-33, 35- 49, 51-54, 60, 67 e 69. De todas essas edições, apenas os números 1 e 3 trouxeram artistas ligados ao rock, Rita Lee e Raul Seixas, respectivamente.

175 A partir das publicações analisadas e também concentradas exclusivamente no gênero focado nesta pesquisa, o rock brasileiro.

Shows. In: Revista Música. Imprima Comunicação e Editora. Março 1978.

Número 23. p. 30