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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.4 Rotinas

Vários estudos da microeconomia buscam entender o modos operandi das organizações e como estas realizam as suas decisões. Esta busca, na perspectiva neoschumpeteriana, leva ao conceito de rotinas. As organizações são formadas por indivíduos com racionalidade limitada, ou seja, não possuem todos os recursos cognitivos necessários. Como eles precisam tomar decisões, adotam regras e padrões de comportamento simples que guiam as suas escolhas. Nesse contexto, eles optam por rotinas, que, por sua vez, são formadas por tentativas e erros (Milagres, 2011). Para Sbicca e Fernandes (2005) as rotinas estão presentes no comportamento em função dos limites cognitivos dos indivíduos e das características complexas oriundas da interação entre os mesmos. Eles entendem que as rotinas irão suprimir muitas das deliberações a serem feitas no momento das decisões tornando-as, assim, mais simples. Segundo Simon (1965) o individuo assume padrões recorrentes de mundo e regras simples para evitar a sobrecarga de informações. As rotinas são uma forma de perceber elementos que refletem uma situação já conhecida, mesmo que esteja diante de uma situação nova. Assim, as organizações, de acordo com Nelson e Winter (1982), irão adotar rotinas com o intuito de darem um caráter previsível e regular para o comportamento dos indivíduos.

Os agentes em ambientes de grande incerteza, de acordo com Dosi e Egidi (1991), tendem a seguir um conjunto de regras, na tentativa de reduzir ou minimizar essas mesmas incertezas, podendo ser mais ou menos automáticas. Desse modo, são capazes de responder às mudanças do ambiente externo e ao processo interno de aprendizagem. Para Milagres (2011), não há consenso acerca do conceito de rotinas. Por causa disso, ele divide os autores em três grupos e em cada um deles a rotina é entendida a partir de uma perspectiva própria. O primeiro grupo de autores entende que a rotina está relacionada a padrões de comportamento para ser mais específico. Winter (2000), definiu rotina como padrões repetitivos de

comportamento sujeitos a mudanças diante de variações de contexto. As rotinas apresentam características de regularidade por serem repetitivas e coletivas.

O segundo grupo de autores define as rotinas como regras, ou seja, procedimentos operacionais padrões. Cybert e March (1963) representam essa visão, definem esses procedimentos padrões como regras simples de decisão. As empresas agem com base nessas regras, segundo eles, para poderem evitar a incerteza. Ao se basearem em regras as organizações minimizam a necessidade de preverem eventos futuros incertos. Além disso, as regras garantem um padrão de ação, propiciando certa estabilidade no comportamento da empresa. O terceiro grupo, para Milagres (2011), possui a ideia de que rotinas são disposições coletivas que levam os agentes a praticarem comportamentos adquiridos ou adotados previamente sendo colocados em prática mediante determinado estímulo ou contexto. Entendem que, rotinas envolvem, além de padrões de comportamento, conhecimento e memória, estruturas organizacionais e hábitos individuais. As rotinas podem ser entendidas como repertórios de possíveis comportamentos. Abaixo está um quadro que apresenta o conceito de rotinas a partir de alguns autores.

Quadro 2: Conceitos de Rotina Fonte: Alves (2010)

Nelson e Winter (1982) entendem que as rotinas advêm das habilidades dos indivíduos que, correspondem à capacidade de agir de forma coordenada e sequencial. Essas habilidades são programáveis em uma sequência de passos que podem ser determinados e originar outros passos, e assim por diante. Também apontam para o fato das habilidades envolverem um conjunto numeroso de escolhas, apesar delas possuírem um alto grau de automaticidade. Em toda atividade que requer habilidade, os agentes que irão exercê-la necessitarão mais do que de um plano a ser executado. Eles precisarão saber as diferentes etapas do processo, que somadas, levarão a determinado resultado. Uma atividade realizada com base em habilidades é alcançada devido à observação de uma sequência de regras, já conhecidas.

Milagres (2011) coloca que as rotinas servem, num contexto marcado pela incerteza, como guia para orientar as ações da organização. Como visto acima, para Simon (1965) as organizações movem-se em torno de objetivos. Para alcança-los, é necessário avaliar constantemente o ambiente e introduzir variações no comportamento. Caso esses comportamentos auxiliem na realização desses objetivos eles serão selecionados, retidos e repetidos. Trata-se de um processo de tentativa e erro, em que o conhecimento gerado e acumulado formará a base para a criação de rotinas. Por isso as rotinas:

· Dão estrutura para as ações das empresas, sequência e uniformidade, exercendo, portando, papel de coordenação (Dosi et al, 2000);

· Constituem um conjunto de ferramentas que auxiliam o gerenciamento em períodos de crise, provendo coerência às ações (Nelson e Winter,1982);

· Entram em cena quando certas maneiras de fazer as coisas levam a resultados satisfatórios (Nelson e Winter, 1982);

· Advêm das necessidades dos agentes resolverem problemas em contextos marcados por incertezas (Milagres, 2011);

· É a forma como as empresas memorizam, explicitam, estocam e transmitem o conhecimento que possuem (Nelson e Winter, 1982);

· São parâmetros para a coordenação das organizações oferecendo referências para ação dos indivíduos (Simon, 1965).

Segundo Milagres (2011), as rotinas também direcionam a condução das ações das organizações rumo aos objetivos estabelecidos por meio de sua estratégia. Tais rotinas se tornam referências para o comportamento individual de forma que o indivíduo possa conduzir

suas ações e avaliar se estão agindo conforme o esperado, promovendo, assim, sua autoconfiança. Dessa maneira, a rotina tem uma série de papeis que podem ser resumidos no quadro abaixo:

Quadro 3: Papéis da rotina Fonte: Milagres (2011)

De acordo com Tidd et al (2008), existe uma rotina dentro do processo de inovação. Ela é necessária para que a organização consiga mediar os conflitos existentes e lidar com as incertezas que surgem ao longo desse processo. A falta de uma de uma metodologia, rotinas ou procedimentos estruturados na inovação de acordo com Boeddrich (2004) pode causar uma série de efeitos negativos como:

· O processo de seleção, no início, não ocorre de forma eficiente. Ideias que não oferecem perspectivas de sucesso, se continuam sendo discutidas por muito tempo consumem recursos;

· Tempo de trabalho é desperdiçado;

· Falta de transparência no monitoramento da inovação;

· Não ocorre um processo de aprendizado que busque gerar melhorias para os processos.

Este argumento de Boeddrich demonstra a importância que as metodologias possuem no processo de inovação e os impactos negativos que podem existir caso não sejam utilizadas.

Além disso, ele justifica a importância do uso das rotinas na gestão da inovação. A falta delas, ou seja, de uma metodologia, pode ocasionar uma série de problemas como foi mostrado por ele. Por isso mesmo a gestão eficaz da inovação, para diferentes autores, é resultado basicamente da concepção e incremento de rotinas efetivas. No próximo tópico, serão mostrados certos padrões na forma de gerenciar o processo de inovação que darão origem, por meio de regras e rotinas, aos modelos.