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Rugosidade – Ponte de Pedra “Ponte do Imperador” (1832)

População de Cachoeira do Sul (1780-2015)

5. INVENTÁRIO DAS RUGOSIDADES DA PAISAGEM RURAL DE CACHOEIRA DO SUL/RS

5.1. RUGOSIDADES DO SISTEMA DE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E PES SOAS

5.1.1. Rugosidade – Ponte de Pedra “Ponte do Imperador” (1832)

A história da Ponte de Pedra (Figura 20) sobre o rio Botucaraí inicia em 1832, através da sessão da Câmara Municipal, sob a presidência de José Custódio Coelho Leal, quando foi feito o registro da determinação do Presidente da Província, De- sembargador Manoel Antônio Galvão, para que fosse elaborada a planta da ponte.

Figura 20 - Ponte de Pedra, localidade de Forqueta no município de Cachoeira do Sul, em 2016.

Fonte: Arquivo particular da autora, 2016. Org: Lisane Regina Vidal Conceição.

Em 1847, Lopo de Almeida Henriques Botelho e Mello encaminhou a planta e orçamento da ponte ao Presidente da Província, Manoel Antônio Galvão, a qual de- veria ser construída no passo ou pouco acima do Passo Real do Botucaraí. No ano seguinte, em 10 de janeiro de 1848 foi realizado o contrato com a empreiteira, cujo contrato estipulava que:

“A Ponte de Botucaraí será construída de alvenaria, revestidas as arestas dos talhamares de pedra lavrada a picão. Os arcos serão do melhor tijolo e a argamassa nela empregada será de cal e areia na razão de 1:1, isto é, tanto de cal como de areia e igual argamassa se empregará em todos os reboques e parapeito que também era de tijolo. A argamassa empregada no

interior dos maciços será de cal e areia na razão de 1:2, isto é, o duplo de areia. O pavimento da ponte será todo calçado de pedra própria para este emprego assim nas dimensões como na qualidade. Porto Alegre, 25/1/1848. Lopo Almeida Henriques Botelho e Mello, Arquivo Histórico do RS, fundo obras.” (ARQUIVO HISTÓRICO DE CACHOEIRA DO SUL, 2017).

Em 28 de outubro de 1848, um oficio foi remetido a Francisco Jose de Souza Soares d’Adrea, Presidente da Província, oficializando que o arrematante concluiu a Ponte de Pedra e, ainda, afirma que ela parecia sólida, pois por ela já havia passado carretas e tropas de gado e não apresentou nenhum problema de rachaduras. (AR- QUIVO HISTÓRICO DE CACHOEIRA DO SUL, 2017).

Assim, a Ponte de Pedra, construída durante o Império, foi a primeira do tipo construída no estado do Rio Grande do Sul, em 1848. Segundo o historiador Aurélio Porto “até então a navegação do Jacuí era feita unicamente por canoas de tolda, sendo a maior parte do comércio por via terrestre, havendo no Botucaraí uma ponte de pedra, a primeira que se fez no Rio Grande do Sul.” (Relatório do Intendente Isi- doro Neves da Fontoura, 1910, p. 7). Ela representava a principal via de acesso e passagens de tropas entre a Vila de Cachoeira e os municípios de Rio Pardo e Porto Alegre (Figura 21).

Figura 21 – Ponte de Pedra (1951-1955).

Fonte: Arquivo Histórico Municipal, foto de Alvino Friedrich (1951-1955). Org: Lisane Regina Vidal Conceição.

A Ponte de Pedra, construída sobre o rio Botucaraí, além de ser um elemento arquitetônico, reúne técnicas de construção da primeira metade do século XIX. Sua construção ocorreu no contexto histórico da Revolução Farroupilha, cujo principal objetivo era servir de ligação entre a então Vila Nova de São João da Cachoeira e a Vila de Rio Pardo e, por conseguinte, a Porto Alegre. Além disso, representou por muito tempo ponto de encontro das famílias cachoeirenses, contribuindo para formar no imaginário popular que ela teria sido construída para dar passagem ao Imperador Pedro II, pois de acordo com a história ele já a teria atravessado.

Assim, a Ponte de Pedra era vista como símbolo de orgulho e ponto de en- contro dos moradores locais. Símbolo de modernidade e beleza ligava a vila com a capital da província, por ela eram escoados os principais produtos produzidos bem como chegavam mercadorias e pessoas, além de ser ponto de encontro para as fa- mílias se refrescarem e pescarem nos finais de semana (Figura 22).

Os dados levantados através do trabalho de campo mostram que a Ponte de Pedra deixou de ser utilizada na década de 1950. Entre os motivos para o seu desu- so pode-se destacar que os carros batiam o assoalho na elevação da pista, as en- chentes decorrentes das chuvas torrenciais que associada ao relevo relativamente plano, ao entorno, contribuía para as sucessivas quedas de cabeceiras da ponte e a deterioração dos bueiros que cobriam as sangas ao longo da estrada de acesso à ponte e, principalmente com a construção da nova estrada que liga a cidade de Ca- choeira do Sul a Rio Pardo através do Capão do Valo, atual RS 403, estrada de 62 quilômetros, que somente foi asfaltada parcialmente no ano de 2010.

O seu desuso contribuiu para a deterioração e abandono da ponte (Figura 23). Contribuiu para que a mata ciliar tomasse conta da estrada ao entorno, bem como as sucessivas enchentes do rio Botucaraí destruíram suas cabeceiras e estru- tura em geral.

Desta forma, a Ponte de Pedra, desde sua construção passou por inúmeras reformas, as quais decorrem, especialmente, da ação do tempo e das intempéries climáticas, sendo a última reforma ocasionada pelo desabamento da cabeceira cau- sada pelo excesso de chuvas em janeiro de 2010.

Figura 22– Famílias na Ponte de Pedra (1951-1955).

Legenda: A - Família Friedrich na Ponte de Pedra em 1951; B - Família Friedrich na Ponte de Pedra

em março de 1955; C e D– Ponte de Pedra em 1955 quando o leito do rio Botucaraí estava pratica- mente seco.

Fonte: Museu de Cachoeira do Sul, foto de Alvino Friedrich (1951-1955). Org: Lisane Regina Vidal Conceição.

No ano seguinte, mais precisamente no primeiro semestre de 2011, ganhou força um movimento pró-Ponte de Pedra, liderado pelo arquiteto Osni Schroeder e apoiado pelo COMPAHC, cujas ações visavam à recuperação da Ponte de Pedra. Assim, em 2011 foi realizada a última reforma da ponte, que teve ajuda da comuni- dade e do Exército Brasileiro (Figura 24).

A B

Figura 23 – Ponte de Pedra, em 1989.

Fonte: Museu Municipal de Cachoeira do Sul Org: Lisane Regina Vidal Conceição

A Ponte de Pedra passou por várias transformações, as quais afetaram tanto sua estrutura original como sua função. Misturou sua originalidade caracterizada por uma arquitetura do século XIX, a qual a transformou na primeira na modalidade no estado, com uma arquitetura contemporânea ao ser reformada. Deixou de ser ponto de encontro entre cidades, pessoas e mercadorias para ser tornar ponto de encontro com o passado, ao revisitar a memória da comunidade local e, também atrativo turís- tico municipal (Figura 25).

Figura 24 – Ponte de Pedra (2010-2011).

Legenda: A e B - Registros feitos com o ultraleve da COLORTEC em novembro de 2010; C e D Visita e vistoria do Departamento de Engenharia e Construção de Porto Alegre/RS e do 3º Batalhão de Engenharia e Combate de Cachoeira do Sul,em março de 2011; E – Registro das Obras em 1 de Junho de 2011 pelo Sargento Vanderlei Rauber; F e G – Registro das Obras em 15 de Junho de 2011

pelo Sargento Vanderlei Rauber; H – Registro das Obras em 30 de Junho de 2011 pelo Sargento Vanderlei Rauber.

Fonte: Blog da Ponte Pedra. Acesso em 2017 e disponível em: https://pontedepedra.blogspot.com.br Org: Lisane Regina Vidal Conceição.

A B

C D

E F

H G

Figura 25 – Ponte de Pedra (2012-2016).

Legenda: A – Vistoria das obras na Ponte de Pedra em 2012; B – Vista da Ponte de Pedra a montan- te do rio Botucaraí em 2016; C – Vista da Ponte de Pedra em direção à estrada para Cachoeira do Sul em 2016; D - Vista da Ponte de Pedra em direção à estrada para Rio Pardo em 2016; E – Vista da Ponte de Pedra a Jusante do rio Botucaraí em 2016; F – Vista da estrutura superior da Ponte de Pedra em 2016; G – Vista da paisagem ao entorno da Ponte de Pedra; H – Placa de informações

sobre a Ponte de Pedra em 2016.

Fonte: Blog da Ponte de Pedra acesso em 2017 (fotografia A) e Arquivo pessoal da autora. Org: Lisane Regina Vidal Conceição.

A C E B D F G H

A Ponte de Pedra, considerada monumento histórico de Cachoeira do Sul tor- nou-se patrimônio estadual tombado pelo IPHAE, portaria nº 34/2013, de 17 de maio de 2013, cuja inscrição no livro tombo data de 16 de dezembro de 2013. Seu tom- bamento se deve por ser uma ponte a base de pedra, construída ainda no século XIX, que resistiu ao tempo, considerada marco referencial e atrativo turístico em seu município.

O tombamento trouxe motivação aos integrantes COMPAHC e a colaborado- res do grupo que se mobilizaram pela restauração da ponte. Como projeto de res- significação da ponte, o COMPAHC defende a existência de uma lei específica para criar um parque municipal na área da Ponte de Pedra.

Outro aspecto que merece destaque é a preservação da mata nativa no en- torno do rio Botucaraí, especialmente da preservação das trilhas ao longo das suas margens. Além disso, é ponto de encontro para quem procura descanso e contado com a natureza, destacando-se a pescaria e servindo de balneário para famílias e comunidade local.

Sua ressignificação na contemporaneidade e função na reprodução social es- tá intimamente ligada ao turismo, entretanto, observa-se o mau aproveitamento de sua potencialidade turística, à medida que não há preocupação de cuidado com o lugar, por parte do poder público municipal, pois suas vias de acesso encontram-se em precárias condições.

Um fator que poderia potencializar a atividade turística do local, além de transformá-la em parque municipal, seria agregar às vias de acesso a modalidade de estradas parques17, devido à beleza cênica do lugar onde se encontra, alicerçada a uma política que privilegie a sinalização e infraestrutura de acesso à mesma, pro- porcionando a integração do homem com a natureza e a promoção de novas fontes de recursos aos moradores locais, através de um desenvolvimento sustentável do lugar.

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De acordo com o Sistema Estadual de Unidades de Conservação – SEUC – Decreto nº 34.256/1992, regulamentado pelo Decreto nº 38.814/1988, que cria e regulamenta as Unidades de Conservação do Estado, a Estrada Parque fazia parte das Unidades de Manejo Sustentado/Categoria de Uso Direto e, é assim definida: parques lineares, sob administração pública, de alto valor panorâmico, cultural, educativo e recreativo. As margens, em dimensões variadas, são mantidas em estado natural ou seminatural, não sendo necessária a desapropriação mas, somente, o estabelecimento de normas quanto ao limite de velocidade, pavimentação, sinalização e faixa a ser protegida. (SEMA, 2018).

Neste contexto, a rugosidade Ponte de Pedra ou Ponte do Imperador como também é conhecida, datada de 1832, cujo principal objetivo de sua construção era viabilizar as rotas de circulação entre Cachoeira do Sul e Rio Pardo. Construída du- rante o Período Imperial no Brasil, quando a circulação se dava através do uso da força animal, sua construção representou o meio para transpor as adversidades na- turais decorrentes da presença dos acidentes geográficos, como os rios, considera- dos intransponíveis para a época. Sua técnica era bastante rudimentar, construída por blocos de rochas, através do trabalho e engenharia humana, com auxílio da for- ça animal e capital público.

O Estado é o seu agente criador e usa seu poder de organizador espacial pa- ra materializar formas no espaço. A Ponte de Pedra perde função na reprodução social a partir da criação das estradas de rodagem, criadas na segunda metade do século XX para atender a necessidade de circulação mais rápida, promovida pela implantação de estruturas modernas. Durante a permanência de sua função e de- pois da extinção dela passou por várias reformas, as quais modificaram sua estrutu- ra inicial. Atualmente, está tombada pelo IPHAE como patrimônio cultural estadual por representar a primeira de seu estilo construída no Rio Grande do Sul. Encontra- se ressignificada e considerada ponto turístico municipal e, por conseguinte, lugar de lazer dos moradores locais.