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Símbolos, chaves do sentido

A obra polifônica de C. G. Jung está evidentemente destinada a representar um papel primordial de instigação à transformação do ser humano durante o século XXI. A contribuição do simbolismo maçônico é da mesma ordem. A

psicologia das profundezas, como método de

introspecção que permite a passagem de um modo de ser a um outro, nos abre à exploração do inconsciente individual e do inconsciente coletivo. Para retomar um célebre título de Jung, ela abre ao homem a descoberta de sua alma e

demonstra que a psicologia não é unicamente um fato pessoal. Jung gosta de nos lembrar que o "inconsciente, que possui suas próprias leis e mecanismos autônomos, exerce sobre nós uma influência importante que poderia ser comparada a uma perturbação cósmica. O inconsciente tem o poder de nos transportar ou de nos ferir da mesma maneira que uma catástrofe cósmica ou meteorológica". Além do mais, Jung questiona incessantemente não apenas os símbolos no interior de uma análise individual, mas também o simbolismo dos mitos e os símbolos coletivos e principalmente os grandes mitos fundadores de nossa humanidade. Sabendo que o "signo é sempre menos do que o conceito que ele representa, enquanto o símbolo sempre remete a um conteúdo mais vasto do que seu sentido imediato e evidente", Jung escruta os símbolos coletivos como as imagens religiosas, essas representações coletivas que "emanam dos sonhos e da imaginação criadora dos primitivos" e que, como tais, "são manifestações involuntárias, espontâneas, que não devem nada à invenção deliberada". Toda a sua obra interroga os arquétipos em sua autonomia e a função do símbolo, esta última sendo sempre, como escreve Marie-Madeleine Davy, a "de unir o alto e o baixo, de criar entre o divino e o humano uma comunicação de forma que se tornem inseparáveis um do outro".

Ora, na abertura de um terceiro milênio desencantado e ameaçado por toda espécie de terrorismos stricto sensu e intelectuais, cada um

procura encontrar, reencontrar ou inventar suas referências e às vezes também seu ou seus deuses, e o processo de individuação, pela

transferência, convida-o a uma melhor

aproximação do Si-mesmo.

Por seu lado, a Maçonaria Especulativa, com seus ritos e o caráter sagrado de seus símbolos, propõe aos exploradores espirituais a iniciação e o caminho que a amplia como percurso de progressiva transformação de si mesmo e de sua relação com os outros. A longa viagem iniciática é também um processo preciso, com suas etapas, seus graus, suas qualidades, sua escada de Jacó, todo um conjunto de ensinamentos orais, e mesmo de gestos, de atitudes corporais, de deambulações, como vindos muitas vezes do fundo do inconsciente das idades. A aventura iniciática "equivale a uma mutação ontológica do regime existencial", resume em algum lugar Mircea Eliade. E os ritos de passagem propostos na Maçonaria sugerem uma concepção do mundo, uma cosmologia, dos mitos, que formam seu contexto.

Certamente, para compreender melhor os pontos de convergência entre individuação e iniciação, para esclarecer melhor as contribuições tanto de uma quanto de outra no campo de uma melhor compreensão do humano, não se pode hesitar em jogar o jogo do espelho, esforçando-se para que este não seja demasiado infiel. De todo modo, ninguém poderia resumir sem deformar, mesmo em uma obra de 400 páginas ou mais, a propedêutica de Jung e a da Maçonaria em geral,

os ensinamentos de uma e de outra, as duas vias originais e completas! Por outro lado, parece possível esperar uma apreensão justa das duas posturas propostas: a individuação, abordagem progressiva de um Centro que o homem não pode realmente jamais alcançar, e a iniciação, abordagem progressiva de uma sabedoria que o eterno aprendiz, que todos nós permanecemos até o último suspiro, não pode realmente jamais adquirir. E pode-se ousar então a hipótese, evidentemente um pouco iconoclasta, que é a

partir da Maçonaria, ao se servir de seus rituais

de origem e de suas ferramentas, que C. G. Jung, de certa forma, como um bom "lobinho" (é assim que se nomeia o neto de um maçom), extraiu suas ideias, seus conceitos, a filosofia que o conduziu a criar e a aprimorar sua técnica, sua

psicologia das profundezas. Talvez não tivesse

existido a via junguiana sem o mito de Hiram? Com efeito, "a hermenêutica faz passar da

palavra (a Maçonaria é originariamente

oralidade) ou do símbolo à sua compreensão ao longo de todos os graus do ser e dos níveis da escritura. Passar da Câmara de Reflexão, da gruta primordial ao esquife de Hiram, à abóbada estrelada atesta que a viúva, o tempo e o mundo não bastam mais à identidade: aquele que nasceu deve morrer para renascer", nos relembra com conhecimento de causa Bruno Etienne.

Claro, pode-se afirmar também que a Alquimia precede a Maçonaria e que Jung extraiu da tradição alquímica a intuição de "sua"

individuação. De qualquer forma, seu comentário sobre o tratado taoísta Mystère de la Fleur d'Or, tratado alquímico chinês que alguns remontam à origem do I Ching, é uma etapa capital, talvez crucial, de seu caminho de precursor. Com efeito, ali Jung inaugura sua pesquisa fascinante sobre as civilizações orientais. Ali ele desenha a maior parte de seus grandes conceitos (como a alma ou a consciência total) a partir dos quais vai se estruturar seu processo analítico.

Uma constatação se impõe: a psicologia das profundezas e a Maçonaria não deixam de questionar o sentido da vida. Ambas almejam uma leitura real do comportamento humano, elas se prevalecem de uma antropologia, são um labirinto facilitador da emergência do Sagrado, a interrogação sobre o enigma da morte e a descoberta dos arcanos da sexualidade.

Trata-se de reconhecer que os dois laboratórios reabilitam o Sagrado, fazem emergir de uma deambulação a outra, muitas vezes, o numinoso. Aquele de Jung e aquele da Loja são vizinhos e se prestam às análises comparativas. De qualquer forma, pode-se ver ali a tríplice recusa daquilo que Mircea Eliade chamava de "mestres do reducionismo": recusa em seguir Freud, que acreditava poder reduzir as raízes múltiplas do ser humano à única realidade sexual da criança, recusa em se submeter a Marx que parecia reduzir a origem de toda atividade humana e mesmo espiritual a um dado estritamente econômico, recusa, enfim, de Nietzsche e de seu anúncio imperativo da morte de Deus.

Se individuação e iniciação propõem ao paciente em análise ou ao profano que bate à porta do Templo uma via de progressiva transformação de si-mesmo e de sua relação com o outro, essas duas vias formam uma dupla "postura": aquela do analisado, que, guiado pelo analisando, mergulha no inconsciente, tendo em vista um suplemento de compreensão de si-mesmo, aquela do profano, que se torna Aprendiz e vai aprender pouco a pouco o manejo das ferramentas simbólicas suscetíveis de trabalhar sua pedra bruta para dela fazer, talvez, um dia, uma espécie de pedra filosofal pessoal. Em suma, trata-se sempre, engajado tanto em uma introspecção quanto na outra, de atravessar as provas de morte e de ressurreição simbólica.

Capítulo III