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2.7 Tecnologia móvel e os paradigmas da educação

2.7.2 Síntese e Cognitivismo/Construtivismo

O conceito de síntese contrapõe-se ao de mímese, pois afirma que, inevitavelmente, o aprendiz constrói e desconstrói ativamente o conhecimento. Ela encoraja o aluno a buscar, pesquisar, conhecer, construir e reconstruir saberes e informações a sua volta. Trabalhando também a autonomia do aprendiz, a síntese transfere o conceito de agência para o aluno em si e não mais para a instituição de ensino, como na mímese.

O processo de aquisição de conhecimento é bastante importante. Aqui não basta chegar a um resultado, mas sim entender as fases que fazem parte desse caminho.

Kalantzis e Cope (2008) mostram que o construtivismo faz parte da pedagogia sintética. Bastante pensada pelo estudioso Jean Piaget12, o construtivismo mostra que o verdadeiro conhecimento é produzido e semeado pelo aprendiz, de forma ativa. O conhecimento não é simplesmente passado, mas sim absorvido e repensado. A cultura e a identidade do aprendiz são consideradas nesse conceito, os quais devem estar presentes no processo de construção e aquisição de conhecimento. A síntese está intimamente relacionada com a teoria de ensino/aprendizagem cognitivista.

O cognitivismo surgiu com o objetivo de investigar os processos mentais relacionados à aprendizagem (LOPES, 2010), também preconizados na pedagogia sintética. Ao contrário do que levava em consideração no behaviorismo, o cognitivismo

12Nesta abordagem, o psicólogo Jean Piaget foi um grande representante. Para ele, o desenvolvimento

humano envolve diversas etapas biológicas, singulares em cada indivíduo, como o ser humano lida com o meio ambiente, se organiza, se comporta diante de problemas e desafios e adquire conceitos e uso de símbolos verbais (Romero, 2007), além de esquemas mentais que se aplicam à realidade (Moreira, 1999).

pensa na maneira pela qual a mente humana pensa e constrói conhecimento e processos mentais envolvidos na aprendizagem.

Mizukami (1986, p 01) afirma:

Consideram-se aqui formas pelas quais as pessoas lidam com os estímulos ambientais, organizam dados, sentem e resolvem problemas, adquirem conceitos e empregam símbolos verbais. Embora se note preocupação com relações sociais, a ênfase dada é na capacidade do aluno de integrar informações e processá-las.

Diferentemente do behaviorismo e da pedagogia mimética, onde o individualismo era propagado, a teoria cognitivista/sintética “quebra” esse pensamento, sendo uma perspectiva interacionista que levava em consideração as estratégias mentais utilizadas pelos alunos.

Aqui, o aprendiz é participante ativo no processo de ensino-aprendizagem, interagindo com a língua estrangeira, elaborando hipóteses na nova língua. Os focos do processo são: atenção, percepção e memória, no qual cada aluno vai elaborar sua ideia de língua e suas táticas de aprendizagem e construir suas visões de mundo. Procura-se entender os processos mentais que levam o indivíduo a procurar um equilíbrio13 entre o conhecimento prévio e as experiências vividas.

Na aprendizagem de línguas, o aluno recebe a informação, sobre a nova língua e a ajusta ao conhecimento prévio, sendo a aprendizagem do novo idioma um processo gradativo.

Aqui a ideia de personalização é bastante presente. É possível adequar o conteúdo ensinado aos interesses dos aprendizes. “Relevância, necessidade, diversidade e escolha”, são palavras que definem a pedagogia e currículo sintéticos (KALANTZIS e COPE, 2008, p.272). Essa característica em contrapartida, demonstra certa limitação, pois em diferentes contextos muito pode ser deixado de lado ou explorado de formas não eficientes.

13 Na abordagem cognitivista, dois elementos são fundamentais no processo de equilibração no

ensino/aprendizagem: assimilação e acomodação. Assimilação: processo de recepção da informação, transformação causada pela mente, ao conhecimento que já temos; Acomodação: processo de mudança do conhecimento prévio e mudança para a nova informação.

Na abordagem cognitivista, assim como na pedagogia sintética, o conhecimento nunca chega ao seu máximo. A mente humana é capaz de trabalhar, equilibrar, assimilar e acomodar milhares de vezes de acordo com o estímulo que é oferecido. Desta forma, o professor propicia essas situações externas aos alunos, fazendo com que eles se tornem capazes de memorizar, entender, argumentar, entre outras funções (WILLIAMS e BURDEN, 2002).

Para Ramos et al. (2003, s.p) o construtivismo define-se:

Como uma abordagem na qual os alunos não só aprendem através dos processos de construção do próprio conhecimento no seu contexto, aprendem através das interações sociais emergentes no contexto de aprendizagem como também aprendem em situações de envolvimento ativo nos processos de construção do conhecimento para os outros. Isto é aprender com os outros e aprender para os outros, rompendo com os limites convencionais da aprendizagem e do currículo.

Para Holmes et. al (2001) as tecnologias móveis que permitem acesso à internet possibilitam aos aprendizes descarregar e publicar grande multiplicidade de recursos multimidiáticos enquanto trabalham em grupo ou estão realizando outras atividades. Através desta oportunidade, os usuários podem refletir, gravar e compartilhar experiências de aprendizagem colaborando com outros usuários.

Em uma abordagem construtivista, o professor seria o indivíduo que identifica os problemas e propõe soluções (FOSNOT, 1996). Dentro do m-learning o usuário é quem faz esse papel. Ele utiliza a infinidade de informações e conhecimento que os ambientes on-line proporcionam e através de uma auto reflexão, ele procura sanar o problema, dentro das suas experiências.

Os ambientes virtuais deixaram de ser somente ferramentas que apresentam conteúdos e passaram a dar, ao usuário, a chance de participar da sua construção, instrumento de manipulação (MOURA, 2010). A abordagem behaviorista não possibilitava o controle e construção da aprendizagem. A autora acrescenta (p. 149):

O computador veio propiciar um conjunto de ferramentas capazes de oferecer ambientes de ensino/aprendizagem inovadores. Veio permitir a cooperação virtual no apoio ao processo de desenvolvimento cognitivo e social dos alunos, no sentido da construção coletiva de conhecimentos através do compartilhamento de informações, processadas e distribuídas de forma síncrona e assíncrona. Com o desenvolvimento das tecnologias interativas, o ambiente sociocultural do indivíduo passa a assentar em novas formas de

pensar e conviver. Também os dispositivos móveis estão criando oportunidades de inserir o aluno em contextos de aprendizagem reais e ter acesso a ferramentas de apoio. Para Naismith et al. (2004), as simulações participativas são um bom exemplo de implementação da tecnologia móvel que promove ambientes baseados na teoria construtivista.

Em contraposição, ou melhor, em um sentido de complementação, surge a Teroria Sociointeracionista e a Pedagogia Reflexiva, também conhecida como Nova Aprendizagem, que, diferentemente da mimese/behaviorismo e cognitivismo/síntese, acredita que a interação ocorre diretamente entre o indivíduo e seu entorno social.