3.2 A FORMAÇÃO DA RMS NA RELAÇÃO COM AS ÁGUAS
3.2.2 Síntese da condição ambiental dos principais rios da RMS
Os dados e informações sobre a condição ambiental dos principais rios inseridos na
RMS foram obtidos através de pesquisa bibliográfica em relatórios, artigos e dissertações.
(PORCIUNCULA, 2011; SANTOS, 2011; NEVES, 2010; BAHIA, 2007a; 2014a; 2014b;
2015a; 2015b; 2015c; 2016; 2007b; AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS, 2016)
O rio Pojuca nasce no município de Santa Bárbara, atravessa os municípios de
Conceição do Jacuípe, Teodoro Sampaio, Terra Nova, Pojuca e deságua no Oceano
Atlântico, nas proximidades do distrito de Praia do Forte, no município de Mata de São
João. Tem como principais afluentes, pela margem esquerda, os rios Salgado, Paramirim,
Camarujipe, Pitanga, Una Catu, Quirocó Pequeno e Papucu Grande; e, pela margem direita,
os rios São José, Cabuçu, Juruaba e Itapecerica. Traspassa localidades dos municípios de
Camaçari e Mata de São João.
O principal tipo de captação de suas águas é a direta e os principais usos são
abastecimento industrial, abastecimento público, abastecimento doméstico, pesca artesanal,
lazer, esportes náuticos (na zona estuarina), dessedentação de animais e irrigação. As
atividades relacionadas ao uso das águas e a ocupação da bacia hidrográfica são: a pecuária
(avicultura, seguida da bovinocultura); indústrias de laticínios; de estruturas de madeira; de
produtos químicos orgânicos; de produção de ferro, aço e ferro ligas em formas primárias e
semiacabados. Os usos acabam por determinar os principais impactos ambientais
verificados nessa bacia, quais sejam: poluição por utilização de agrotóxicos, poluição por
lançamento de 15 mil litros de óleo combustível, lançamento de esgotos domésticos sem
tratamento, desmatamento e a disposição inadequada de resíduos sólidos. (PAIXÃO et al .,
2013; BAHIA, 2016)
Sobre a degradação ambiental, é possível verificar que se trata de um processo que
tenciona de forma mais direta o modo de vida rural, caracterizado pela relação direta com a
natureza, produzindo reações não normóticas (como angústia, tristeza, indignação,), sobretudo,
naqueles sujeitos que vivenciam a deterioração desse ecossistema e a percebem como sendo a
própria deterioração do seu modo de vida, do seu trabalho, da sua condição humana.
Vão acabar com o Rio Pojuca. Todo mundo que toma banho aqui com a
maré seca sai se coçando todo. E não adianta virem dizer que tá tudo bem
porque, se fosse saudável, eles não jogavam o esgoto no rio, deixavam lá
mesmo, reclama o artesão Manoel Augusto dos Santos. O pescador Jacó Dias
Soares, de 23 anos, nasceu e se criou em Itacimirim e sempre viveu da pesca.
Ele fica triste e indignado quando conta sobre o esgoto no rio. Segundo o
pescador, na alta temporada, os peixes amanhecem mortos, com a barriga
inchada. Esse rio já teve muito peixe, mas hoje diminuiu muito por causa
desses esgotos, que descem que nem torneira, empesteando tudo com o
mau cheiro. Quando adolescente, conta ele, eram três viagens de canoa para
levar os peixes pescados com tarrafa de tanta fartura. Hoje, a gente para o
barco no meio do rio e para pegar um peixe é um sacrifício, desabafa. [...]
(VÃO acabar..., 2006, p. 9).
O rio Jacuípe nasce no município de Conceição do Jacuípe e ao longo do seu curso
atravessa os municípios de Amélia Rodrigues, Terra Nova (que não fazem parte da RMS), São
Sebastião do Passé, Mata de São João, Dias d’Ávila, Camaçari e Salvador. Tem como principais
afluentes, pela margem esquerda, os rios Camaçari, Pitanga e Arembepe; e pela margem direita,
os rios Capivara Grande, Capivara Pequeno e Jacumirim. Traspassa os municípios de Amélia
Rodrigues, São Sebastião do Passé, Mata de São João, Dias d’Ávila, Camaçari e Salvador.
Apresenta um barramento, a barragem de Santa Helena, construída em 1980, cujo lago
abrange os municípios de Dias d’Ávila, Camaçari e Mata de São João. Em 1985, a barragem se
rompeu e em 1992 voltou a operar. Os principais usos da água desse rio são: abastecimento
humano e industrial, irrigação, pesca artesanal, lazer, dessedentação de animais, esportes
náuticos. Com relação ao abastecimento humano, as águas da barragem são utilizadas para
regular os níveis da barragem de Joanes II, no período seco; com relação ao uso industrial, ela
supre o Sistema de Abastecimento de Água (SAA) da Braskem e demais indústrias do
Complexo Petroquímico de Camaçari, além de ser utilizada em usinas de açúcar e destilarias
de aguardente. (BAHIA, 2007b; NEVES, 2010; PORCIUNCULA, 2011; SANTOS, 2011;
BAHIA, 2016)
As principais atividades existentes na bacia hidrográfica são indústrias, usinas de açúcar,
destilarias, exploração de Petróleo (no município de S. Sebastião do Passé), Estação de
Tratamento de Água (ETA) da Braskem.
Os principais impactos ambientais identificados se referem à sensível diminuição da
biodiversidade e à forte degradação dos recursos naturais, sobretudo na região de Camaçari,
ocasionadas pela intensiva urbanização e industrialização, aliadas a técnicas inadequadas de
manejo das águas, com sensível diminuição da qualidade ambiental; aumento da descarga de
substâncias tóxicas (fertilizantes, rejeitos industriais, presença elevada de hidrocarbonetos,
além de mercúrio, zinco, chumbo e outros metais pesados); lançamento de esgotos domésticos
(somente do bairro planejado na década de 1970, para servir de suporte ao polo industrial, foram
identificados quatro pontos de esgoto lançados diretamente no lago da barragem de Santa
Helena) (PORCIUNCULA, 2011); eutrofização do lago da barragem; ocupação da APP da
Lagoa (por loteamentos de projetos habitacionais do Governo Federal e informais, bares,
restaurantes, casas.); extração ilegal de areia; desmatamento, disposição de resíduos sólidos.
(BAHIA, 2007b; NEVES, 2010; PORCIUNCULA, 2011; SANTOS, 2011; BAHIA, 2016)
O rio do Cobre tem como principal afluente o riacho Mané Dendê e a sua principal
nascente é a Lagoa da Paixão. Também apresenta um barramento, a barragem do Cobre,
construída em 1932 e desativada em 2005, por perda da qualidade da água, paradoxalmente
após a criação da Área de Proteção Ambiental (APA Bacia do Cobre / São Bartolomeu), em
2001 (Decreto Estadual nº 7.970 de 5 de junho de 2001), onde estava determinado: I - assegurar
a qualidade das águas da Represa do Cobre, parte integrante do sistema de abastecimento
humano de Salvador, dentro de limites compatíveis principalmente com o uso doméstico; II -
disciplinar o uso e a ocupação do solo na área; III - tornar-se uma zona de proteção da Represa
do Cobre; IV - preservar e recuperar os ecossistemas de matas ciliares no entorno do espelho
d’água. (BAHIA, 2001)
De acordo com a EMBASA, até a sua desativação, cerca de 120 litros de água por
segundo contribuíam para o abastecimento de 600 mil pessoas, respondendo por 20% do
abastecimento de Salvador. Após a desativação da barragem, os bairros servidos pelas águas
do Cobre foram inseridos no sistema integrado de abastecimento, cujo principal manancial é o
rio Paraguaçu. (CORDEIRO, 2009)
Tratava-se de um dos últimos rios que, estando totalmente inserido nos limites do
município de Salvador, tinha suas águas aproveitadas para o abastecimento e a sua área abriga
um dos últimos remanescentes de Mata Atlântica do município. Os usos que permanecem na
atualidade são aqueles relacionados à pesca, a banho no lago da represa e a atividades religiosas,
tradicionalmente relativas aos rituais de candomblé, sobretudo nas cachoeiras de Oxum e
Oxumaré, na Pedra do Tempo e na Pedra de Omulu. (SERPA, 1996; CORDEIRO, 2009;
BORGES; ARAUJO, 2012)
Desde a criação do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental da bacia hidrográfica
do rio do Cobre, em 2005, diversas ações passaram a ser desenvolvida, sobretudo com o intuito de
chamar a atenção do poder público para a importância da sua recuperação, bem como de suas
nascentes e da vegetação. Nesse sentido, é possível identificar ações socioambientais pontuais,
desenvolvidas por moradores dessa APA, como caminhadas ecológicas, replantio de árvores, entre
outras iniciativas. No entanto, tais ações não foram suficientes para impedir que no ano seguinte a
barragem fosse interditada pela Embasa e suas águas deixassem de ser usadas para o abastecimento,
por perda da potabilidade. (EMBASA, 2017)
Essa situação perdura até a atualidade, a despeito das várias ações de moradores locais,
do “povo de santo” e de demais órgãos da sociedade civil organizada, visando recuperar esse
manancial. Por enquanto, tem-se como principal justificativa para o abandono dessa barragem
os altos custos financeiros para recuperar o sistema. O diretor Bruno Jardim Silva, da Diretoria
das Águas
87, assim expressou sua opinião ao ser questionado, em entrevista realizada em 8 de
janeiro de 2016, sobre a possibilidade de recuperar as águas da barragem do rio do Cobre:
Seria mais barato se o esgoto estivesse sido implantado a muito tempo atrás,
agora...e tem outra coisa: O Cobre de hoje não é mais o Cobre de 50 anos
atrás. Por quê? Porque a urbanização impermeabilizou muito a área, por isso
as relações entre o que chove e o que vira água ali no Cobre é diferente. Então
você tem dois impactos diferentes: 1- impacto da qualidade e 2- impacto da
quantidade. (Informação verbal).
88
As atividades relacionadas à área dessa bacia hidrográfica são: a mineração, lavanderia
de material hospitalar, Hospital do Subúrbio, indústria, garagem de ônibus urbano, criação de
animais e hortas.
Os principais impactos ambientais são aqueles resultantes do acentuado processo de
urbanização, com adensamento populacional, lançamento de esgotos in natura nas nascentes e no
lago da barragem, impermeabilização do solo, destruição da vegetação de Mata Atlântica com a
ocupação espontânea e planejada (construção de conjuntos habitacionais pelo Governo estadual),
87 Diretoria das Águas, INEMA, Bahia.
perda da biodiversidade, degradação dos solos, processos erosivos; assoreamento, destruição dos
ecossistemas de leito da bacia e margens, lançamento e depósito de resíduos sólidos, lançamento
de óleos no rio, descarte de embalagem de produtos químicos agrícolas, alteração da qualidade da
água, desaparecimento da fauna aquática. (ALENCAR, 2009; BAHIA, 2009; CORDEIRO, 2009;
SANTOS; PINHO, 2010; CORDEIRO; MORAES, 2013)
O rio Joanes tem como principal afluente o rio Ipitanga e, secundariamente, os rios
Uberaba, Lamarão, Sucuricanga e Bandeira; e pela margem direita destacam-se o riacho São
Francisco e os rios Ibirussu, Boneçu, Petecada, Jacarecanga, Itabaoatã, Muriqueira e Ipitanga.
Traspassa os municípios de Salvador, Candeias, Madre de Deus, São Francisco do Conde,
Lauro de Freiras e Simões Filho.
Juntos, os rios Joanes e Ipitanga integram a Área de Proteção Ambiental
Joanes-Ipitanga. Essa APA foi criada pelo Decreto estadual n. 7.596, de 1999, com o objetivo de
preservar as nascentes, bem como as represas dos rios Joanes e Ipitanga, além da região
estuarina, visando assegurar a conservação e a recuperação dos ecossistemas existentes. O
Sistema Joanes e Ipitanga integra as represas e Joanes I, construída em 1955, Joanes II,
construída em 1971, Ipitanga I, construída em 1935, e Ipitanga II e III construídas em 1971;
juntas, elas integram o Sistema de abastecimento integrado da RMS, respondendo por 40% do
abastecimento, no atendimento aos municípios de Salvador, Candeias, Madre de Deus, São
Francisco do Conde, Lauro de Freitas e Simões Filho. (SOUZA, 2014)
Os principais usos de suas águas são: abastecimento doméstico e abastecimento
industrial (do Polo Petroquímico e Centro Industrial de Aratu - CIA Norte, CETREL, Complexo
do Cobre e Polo Automotivo); secundariamente, destacam-se outros usos, tais como: lazer e
esportes náuticos, dessedentação de animais (bovinos e búfalos, no entorno dos pontos de
nascente) e a pesca em alguns trechos do rio, principalmente na zona estuarina e,
clandestinamente, ao longo dos espelhos d’águas das represas Joanes I e II, Ipitanga I, II e III;
suas águas também são usadas como corpo receptor de efluentes. (BAHIA, 2007b, p. 40;
BAHIA, 2009)
As principais atividades relacionadas à bacia hidrográfica são: indústrias, mineração,
ocupações irregulares, condomínios e loteamentos residenciais, hortas, criação de bovinos e
bubalinos e explorações petrolíferas (gás e óleo bruto).
Dentre os principais impactos ambientais presentes nesse manancial, destacam-se a
rio, responsável pelo elevado teor de fósforo das águas, o que tem facilitado a proliferação de
bactérias, sobretudo as cianobactérias; têm-se registros, também, de lançamento de efluentes
industriais nos mananciais, de problemas com efluentes gasosos provenientes do lançamento
de indústrias instaladas no Complexo Petroquímico de Camaçari, risco de acidentes por
derramamento de produtos químicos, processos erosivos e assoreamento. (BAHIA, 2007b;
SOUZA, 2014; BAHIA, 2016)
A degradação ambiental que acomete o rio Joanes é reconhecida aqui para além de um
fenômeno capaz de comprometer a capacidade de existência de um determinado ecossistema,
mas possível de comprometer também a condição de existência das pessoas que, de geração em
geração, vivem do que o rio oferece.
A marisqueira Isabel de Sena, 60 anos, é uma das 40 mulheres carentes de
Lauro de Freitas que sobrevivem da pesca no Rio Joanes, cada vez mais
escassa por causa da poluição provocada por esgoto, lixo e principalmente
pela destruição da vegetação dos manguezais. Para quem, como Isabel,
cresceu entrando naquelas águas e criou sete filhos e dez netos na mariscagem,
o desconsolo e a indignação com a degradação ambiental que vem
acontecendo ao longo dos anos são imensos. “Aqui era maravilhoso. Tinha de
tudo aqui dentro e a gente sempre viveu deste rio. Hoje não tem mais nada, só
doença. Peixe mesmo você só encontra morto, contaminado, ninguém tem
coragem de consumir, mas a gente não acha emprego em lugar nenhum com
esta idade e tem dia que não acha nada para comer. Fazer o quê? Só rezando
a Deus mesmo”, desabafa ela, cansada de pedir providencias para salvarem o
rio. Com o pouco que consegue pescar, sustenta a família e, quando vende,
compra açúcar, pão e carne com o dinheiro. (FORÇA feminina..., 2005, p. 4)
O rio Ipitanga tem como principais afluentes, pela margem esquerda, os rios Uberaba,
Lamarão, Sucuricanga e Bandeira; e pela margem direita destacam-se o riacho São Francisco e
os rios Ibirussu, Boneçu, Petecada, Jacarecanga, Itabaoatã, Muriqueira e Ipitanga. Traspassa os
municípios de Salvador, Simões Filho e Lauro de Freitas.
Os principais usos da água são o abastecimento urbano e industrial, assim organizado:
a barragem de Ipitanga I serve para regularizar as águas do rio Ipitanga e complementar a
“produção” de água potável de Salvador e Lauro de Freitas; a barragem de Ipitanga II é
destinada ao fornecimento de água bruta e ou tratada às indústrias do Centro Industrial de Aratu;
e a barragem de Ipitanga III é destinada à acumulação e transposição das águas do rio Joanes
no período de estiagem, revertidas para o Ipitanga I e II. Suas águas também são utilizadas
como corpo receptor de efluentes, para pesca artesanal, considerada clandestina por ocorrer nos
lagos das represas Ipitanga I, II e III, cujo acesso é proibido; lazer e esportes náuticos. (BAHIA,
Usos não econômicos ou usos não consultivos também são verificados nos lagos dessas
barragens inseridas na RMS, contudo cabe ressaltar que tais usos se dão clandestinamente, sem
qualquer acolhimento por parte do poder público. Assim, diferentes das praias que contam com
o serviço público de salva vidas, os lagos das barragens que também são utilizados, sobretudo
no verão, não possuem nenhum tipo de proteção:
Verão, brisa e sol na Barragem de Ipitanga
Para chegar na Barragem de Ipitanga é preciso descer uma trilha longa e
estreita, que parece não acabar mais. Sem aviso, surge uma curva a represa da
Área de Proteção Ambiental Joanes/Ipitanga. O lago é ponto de encontro no
verão, e vira uma grande extensão do quintal da vizinhança. “Vem
famílias inteiras, gente de Mussurunga, até de Itapuã desce pra cá”, conta
a estudante Cecília Nascimento, 23. Se nadar por lá é perigoso? “A represa
é um pouco funda, mas é só não ir muito longe”. Pelo chão, marcas de
fogueira dos acampamentos da noite, pegadas. Luiz Calos Souza, 22, conta
que todo final de semana tem mountain bike numa trilha [...]. (VERÃO...,
2008, p. 6, grifo nosso)
As principais atividades relacionadas à bacia hidrográfica são: Centro Industrial de
Aratu (CIA), em Simões Filho, desde 1970; Central de Abastecimento da Bahia (CEASA),
desde 1973; mineradoras (pedreiras, extração de areia e arenoso); Aterro Metropolitano Centro
em Salvador, com início da operação em 1997; sítios particulares com atividades agrícolas,
hortas, residências e comércios.
Dentre os principais impactos ambientais, destacam-se: o lançamento de efluentes
domésticos e oriundos das atividades industriais e de exploração mineral, a disposição inadequada
de resíduos sólidos oriundos da construção civil, a ocupação espontânea, construção de conjuntos
habitacionais populares, com aumento expressivo da população residente, perda da vegetação,
retirada ilegal de madeira e perda gradual da qualidade da água. De acordo com resultados de
análise da qualidade da água, o rio Ipitanga chega ao ponto de confluência com o rio Joanes com
a qualidade considerada péssima, de acordo com o cálculo do índice de qualidade das águas
(IQA). (BAHIA, 2007b; LUZ, 2009, p. 17; SANTOS, 2011, SOUZA, 2014)
O impacto socioambiental à vida provocado pelo Aterro Central pode ser apreendido no
relato presente na matéria jornalística a seguir:
Mau cheiro incomoda moradores
Conviver constantemente com o mau cheiro do Aterro Sanitário
Metropolitano Centro não é tarefa fácil. [...] O corretor de seguros Ari
Carneiro mora em uma chácara nas margens da estrada CIA/Aeroporto, na
Rua São Gerônimo, desde 1974, onde cria cavalos, galinhas e cachorros. Com
um pomar, nascente de rio e rodeado da Mata Atlântica, ele diz que sua vida
seria em um perfeito paraíso se não fosse o aterro [instalado na década de
1990], que derrubou árvores centenárias e trouxe moscas que nenhum
inseticida consegue eliminar, pousando nos alimentos e ratos que trazem
doenças. Ele conta que muitos vizinhos abandonaram o local por causa dos
aborrecimentos e o mau cheiro. “Tem dias que está insuportável, chega a arder
o nariz. As nascentes dos rios estão sendo aterradas, e preocupa a
contaminação das águas, porque o chorume vaza direto. [...] Eu ainda
tenho água mineral dos poços porque estou acima do aterro, mas meus
vizinhos que estão abaixo, agora, têm que pagar água da Embasa porque
está tudo contaminado. Você só vê as placas de vende-se na porta das
propriedades, ninguém quer ser vizinho de um aterro”, comentou.
[...]quando chove, o chorume transborda e a enxurrada leva a poluição para o
rio, você só vê a espuma. A terra já soterrou o rio todo, lamenta. Chorume:
[...] Quando enche, o chorume vai direto para a canaleta, que cai no rio.
Antigamente, era fundo e alto, todo mundo tomava banho, vinha buscar
água e lavava roupa. Agora, o povo vê a espuma e fica com medo, e tem
partes onde está cheio de terra. A água dos rios Itinga e Passagem mudou
de cor, é uma tristeza ver o que está acontecendo, desabafa. Comunidades
do Jardim Capelão, Parque São Paulo e Itinga não possuem água encanada e
continuam utilizando água do rio para beber e lavar roupa. Pessoas simples,
como Maria Helena dos Santos, 62 anos, que não têm para onde ir e mal sabem
do risco que correm. “A noite e quando chove é quando mais fede e quase
não se dorme por causa do mal cheiro. [...] A água que uso é do rio, que
passa nos fundos da casa. Faço tudo com ela. Se pudesse, sairia daqui, diz
[...]. (MAU cheiro..., 2005, p. 9, grifo nosso)
O rio Imbassaí não conta com barramentos e não faz parte do Sistema Integrado de
Abastecimento de Água da RMS. Contudo, suas águas são utilizadas para complementar o
abastecimento do município de Mata de São João, especialmente os distritos de Imbassaí, Diogo
e Santo Antônio.
Os principais usos das águas são: pesca, consumo doméstico, abastecimento público,
lazer, esportes náuticos, dessedentação de animais. As atividades relacionadas à bacia
hidrográfica são: agricultura (lavouras de subsistência no interior da bacia), pecuária, avicultura,
indústrias de cerâmica não refratária e embalagens de plástico, empreendimentos imobiliários
e turísticos (como loteamentos, pousadas e hotéis); plantações de eucalipto e pinus, intercaladas
com vegetação natural e atividades agropecuárias. (BAHIA, 2007b; GOMES et al., 2007;
OLIVEIRA et al., 2014)
Diferente dos demais rios citados anteriormente, este está numa área cujo o processo de
metropolização é capitaneado pela intensificação da atividade do turismo, também responsável
por uma série de impactos ambientais, tais como: adensamento de loteamentos, condomínios,
resorts, hotéis e pousadas em áreas de vulnerabilidade ambiental, como restingas e dunas; com
a deficiência do serviço de esgotamento sanitário, é possível constatar o lançamento de esgotos
domésticos in natura diretamente em vários trechos do rio. (BAHIA, 2007b; GOMES et al.,
Contaminação de nascentes
[...] Esta situação acontece em várias regiões do Estado, como, por exemplo,
em Dias d´Ávila, onde já mataram o Rio Imbassaí, outrora procurado por
turista; pelo seu balneário com águas medicinais. Os esgotos do bairro de
Nova Dias d'Ávila são jogados na lagoa da Embasa, cujas águas são
direcionadas à Represa de Santa Helena, que reforça o abastecimento da
Região Metropolitana de Salvador. Fábricas engarrafadoras de água mineral
são inauguradas todos os meses, sem um prévio estudo técnico sobre a
capacidade do lençol freático, que está com sua qualidade em suspeição, em
visita de um estudo da Ufba que aponta provável contaminação proveniente
do Pólo Petroquímico. Tais alertas não sensibilizam o governo nem a
oposição. Faltam políticos sérios e competentes. (CONTAMINAÇÃO...,
2007, p. 2, grifo nosso)
Outros impactos verificados se referem à disposição inadequada de resíduos sólidos, ao
desmatamento, com perda expressiva da biodiversidade, ao lançamento de efluentes líquidos
industriais, à poluição por uso de agrotóxicos oriundos da atividade agropecuárias, ao uso