CAPÍTULO 6- ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES
6.1.1 Síntese da entrevista com a professora especialista iniciante de História-
O fio condutor do depoimento da professora Taciana é a experiência de desamparo e o
isolamento que vivencia dentro da escola em relação aos pares.
O desamparo já foi sentido pela docente logo na entrada na carreira, quando iniciou na Rede Estadual. Ela relata que teve experiências boas e ruins em duas escolas em que trabalhou. Quanto a estas, cita as condições difíceis de trabalho como salas cheias, salário baixo, péssima infraestrutura e, principalmente, a falta de apoio dos colegas. Quanto às boas, fala da surpresa com relação ao comportamento dos alunos de uma das escolas, pois, apesar de ser nova e esperar desprezo, eles a ouviam e faziam as atividades com interesse.
Dois aspectos, segundo ela, contribuíram para que as aulas caminhassem bem. Um refere-se à ajuda de uma funcionária da limpeza, que era a funcionária mais antiga da escola e quem a auxiliava comentando as características de cada aluno, ajudando-a a conhecê-los melhor. O outro aspecto diz respeito à ajuda de um professor de Didática que lecionava em seu curso de Licenciatura. Ao que parece, o que Taciana realmente precisava para contribuir com sua atuação eram orientações iniciais que a ajudassem logo no começo, como uma conversa sobre as características do alunado e de que forma poderia trabalhar com a turma, aspectos que não foram discutidos com a direção, com os docentes e tampouco com a coordenação, por não existirem tais debates na instituição, porque a equipe não trabalhava de modo integrado.
Na Rede Municipal, local onde trabalha atualmente, Taciana descreve características diferentes do emprego anterior, principalmente no aspecto como funcionária pública, pois as condições são melhores; o salário apresenta-se como um bom exemplo. Porém, igualmente relata problemas que vivencia e mais uma vez percebe-se um sentimento de desamparo. Quando começou, o ano letivo também já tinha iniciado e no primeiro dia participou de uma reunião. Sentiu-se perdida, pois ninguém atendia aos seus pedidos de explicação sobre o funcionamento do projeto pedagógico. Nesta escola, o que se nota, é que também não recebeu informações iniciais que pudessem orientar seu trabalho.
Para ela, os professores não trabalham conjuntamente e o currículo não é estruturado, fazendo com que eles ensinem conforme posições pessoais, sem seguimento de diretrizes. Nesse sentido, Taciana não vê ajuda da direção e da coordenação, uma vez que não há diálogo sobre essa característica. Aqui, além do desamparo, fica evidente o sentimento de isolamento perpassando sua experiência. Tal característica é realçada quando menciona as chamadas “salas
ambiente,”51 visto que acredita que elas atrapalham o entrosamento entre o corpo docente, porque
os professores se isolam nas salas e são individualistas.
Para Taciana, as reuniões pedagógicas são poucas (participou somente de três) e as decisões mais importantes são tomadas das reuniões apenas os professores que têm a Jornada Especial Integral de Formação- JEIF52 estão aptos a participar. Ela acredita que não há muita contribuição vinda das reuniões para sua prática. Em verdade, duas contribuições são fundamentais para seu trabalho: o aprendizado que teve com seu professor de Didática (já referido) e dicas de seu marido (que também atua como docente na Rede Estadual). Sobre esse aspecto, não conta com a colaboração dos pares por não se sentir integrada no grupo e por notar que não há troca de experiência entre eles.
Dentro da sala de aula, a docente enumera quatro dos maiores problemas que enfrenta: 1) sala cheia, dificultando acompanhamento individual; 2) a questão da inclusão, não há informação que mostre como trabalhar com alunos pertencentes ao processo de inclusão; 3) falta de material; não há mapas, livros, dicionários etc., necessários para sua aula de História; 4) e a questão da indisciplina. Estes são problemas que fazem parte da escola pública e sobre os quais ela não consegue dialogar com seus pares.
Apesar de apontar erros que considera que a CP comete em seu trabalho, como não tentar integrar os professores, por exemplo, Taciana reconhece alguns de seus esforços. Tece elogios com relação à organização da profissional e ao amparo que oferece quando os docentes precisam enfrentar problemas com a indisciplina dos alunos. Contudo, também entende que as dificuldades do trabalho dela são reflexos da resistência dentro da própria escola, especialmente por parte da direção, que possui uma postura diferente e não dá respaldo para as ações da CP.
O depoimento de Taciana aponta para um desconforto que enfrenta em seu ambiente de trabalho acarretando sentimentos de tonalidades desagradáveis, resultado do desamparo e do isolamento que vivencia, influenciando em sua atuação. Logo quando entrou, não recebeu orientações sobre as turmas com as quais trabalharia, sobre o projeto pedagógico e nem sobre o conteúdo. As dúvidas enfrentadas no cotidiano não são compartilhadas com os professores e com
51 Sala ambiente: É uma sala de aula na qual se dispõem recursos didático-pedagógicos que
atendam um fim educacional específico. A ideia é fazer o aluno interagir com uma maior diversidade de recursos e materiais pedagógicos e ter mais condições de estabelecer uma relação entre o conhecimento escolar, a sua vida e o mundo[...] A ideia de organização escolar em salas ambiente concebe uma especialização das salas de acordo com as disciplinas que sediarão. Assim, pode-se ter salas de geografia, de história, matemática etc., e os alunos, não mais os professores, se deslocarão entre as salas a cada mudança de aula. O objetivo desta organização de espaços é que cada sala, uma vez especializada, conte com os subsídios materiais necessários para a ilustração e enriquecimento das aulas. Conjuntos de mapas, fotos e gravuras nas salas de geografia; microscópios, substâncias químicas, órgãos e animais conservados em formol na sala de ciências, e assim por diante.
(Fonte: http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=62)
os gestores tanto em um ambiente formal, como em uma reunião pedagógica, quanto em um informal, como na sala de professores. Sente-se sozinha porque relata existirem grupos fechados de professores na escola aos quais ela não consegue se integrar.
6.1.2 Síntese da entrevista com o professor especialista iniciante de