• Nenhum resultado encontrado

SÍNTESE DIALÉTICA: NERUDA PÓS-ESPANHA

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 117-137)

Uma análise apressada e puramente sectária da poesia de Neruda pós Espanha pode seguir por caminhos de incompreensão de sua estética e de sua temática. De um lado, para uma apologia do engajamento, com apagamento de toda a arte poética anterior, como sendo de menor qualidade, ou de menos importância, já que seriam traços de um poeta menor e sem compromisso político. Quem assim age, reduz a poesia a discurso utilitarista e a um biografismo estéril, e não consegue enxergar nem as marcas de continuidade na poesia de Neruda, nem a importância de cada passo de construção da sua poesia. De outro lado, uma outra forma de sectarismo, a de enxergar nesta fase de poesia engajada do bardo uma poesia menor, uma poesia reduzida, ortodoxa e dogmática, a serviço da luta social e por isto, menos livre em forma e conteúdo. Esta análise é a outra face da mesma moeda da crítica anterior, defendemos que Neruda alargou a temática de sua poesia, sem abrir mão de nenhuma das características anteriores. Na fase militante de sua poesia, encontramos o lirismo, o panteísmo, o pictórico, o onírico, a variedade de temas humanos. Ao lado do mineiro comunista chileno, estão as uvas, o mar, a cebola. O poeta militante negou-se a reduzir sua poesia de forma sectária, e fiel ao seu Manifesto por uma poesia impura, a alargou para todo e qualquer campo de conhecimento e atividade humana, como no famoso adágio humanista, nada do que é humano me é estranho. Neruda ao fim e ao cabo, se definiu melhor no manifesto que publicou na revista Caballo Verde, e ao qual foi fiel por toda a vida:

Es muy conveniente, en ciertas horas del día o de la noche, observar profundamente los objetos en descanso: las ruedas que han recorrido largas, polvorientas distancias, soportando grandes cargas vegetales o minerales, los sacos de las carbonerías, los barriles, las cestas, los mangos y asas de los instrumentos del carpintero. De ellos se desprende el contacto con el hombre y de la tierra como una lección para el torturado poeta lírico. Las superficies usadas, el gasto que las manos han infligido a las cosas, la atmósfera a menudo trágica y siempre patética de estos objetos, infunde una especie de atracción no despreciable hacia la realidad del mundo. La confusa impureza de los seres humanos se percibe en ellos, la agrupación, uso y desuso de los materiales, las huellas del pie y de los dedos, la constancia de una atmósfera humana inundando las cosas desde lo interno y lo externo. Así sea la poesía que buscamos, gastada como por un ácido por los deberes de la mano, penetrada por el sudor y el humo, oliente a orina y a azucena salpicada por las diversas profesiones que se ejercen dentro y fuera de la ley. Una poesía impura como traje, como un cuerpo, con manchas de nutrición, y actitudes vergonzosas, con arrugas, observaciones, sueños, vigilia, profecías, declaraciones de amor y de odio, bestias, sacudidas, idilios, creencias políticas, negaciones, dudas, afirmaciones, impuestos. La sagrada ley del madrigal y los decretos del tacto, olfato, gusto, vista, oído, el deseo de justicia, el deseo sexual, el ruido del océano, sin excluir deliberadamente nada, sin aceptar deliberadamente nada, la

entrada en la profundidad de las cosas en un acto de arrebatado amor, y el producto poesía manchado de palomas digitales, con huellas de dientes y hielo, roído tal vez levemente por el sudor y el uso. Hasta alcanzar esa dulce superficie del instrumento tocado sin descanso, esa suavidad durísima de la madera manejada, del orgulloso hierro. La flor, el trigo, el agua tienen también esa consistencia especial, ese recurso de un magnífico acto. Y no olvidemos nunca la melancolía, el gastado sentimentalismo, perfectos frutos impuros de maravillosa calidad olvidada, dejados atrás por el frenético libresco: la luz de la luna, el cisne en el anochecer, “corazón mío” son sin duda lo poético elemental e imprescindible. Quien huye del mal gusto cae en el hielo (NERUDA, 1974)

A primeira coisa a ser notada neste manifesto é o plural, o nós, e não é um plural majestático. Neruda está no ápice de um debate com Ramón José Jimenez, que simbolizaria a “poesia velha”, a que não tem inspiração vanguardista e que defende os motivos nobres e a forma casta, petrarquista. Neste debate, Neruda que poucas vezes é catalogado como um poeta da Geração de 1927, faz um manifesto de toda esta Geração. As preocupações temáticas e estéticas desta geração estão sintetizados de forma sucinta em Para uma poesia impura, uma poesia que se abre para o cotidiano, para a fealdade, para o banal e vulgar, para o sexo sem amor e castidade, para a velhice e a morte, para a guerra, para a exploração e luta de classes. É um calidoscópio do experimentalismo desta geração, na transversal do tempo entre o passado e o futuro, buscando em formas antigas populares a renovação estilística da literatura espanhola.

Olhando este manifesto conseguimos enxergar uma continuidade no Neruda pós-Espanha face aos Nerudas anteriores, um alargamento. Isto não significa que Espanha e a Guerra Civil, assim como sua estada como Cônsul em Madrid e Barcelona não tenham modificado sua poesia, o que defendemos é que houve um salto, uma síntese dialética que alargou seu campo de entendimento da poesia, sem que ele houvesse abandonado características e influências anteriores. O Neruda pós-Espanha não é um poeta “melhor”, é um poeta mais completo, mais variado, com uma maior visão social e melhor compreensão do mundo. Não conseguimos enxergar como uma visão mais aprofundada do mundo e dos problemas humanos possa rebaixar uma poesia ou reduzi-la. Na poesia sem pureza de Pablo cabe seu passado nos bosques em Temuco, sua dura passagem pelo Oriente, a amizade e as tertúlias em comum com os poetas da Geração de 1927 e o horror da Guerra Civil.

Para se entender esta fase político engajada por Guerra Civil espanhola é necessário entender os móveis político-ideológicos, os fatores que o levarão a se

tornar um poeta militante, socialista e membro do Partido Comunista Chileno e do movimento comunista internacional. Usaremos o conceito gramsciano de bloco histórico (conjunto de fatores econômicos, políticos, ideológicos que acontecem agrupados em um determinado tempo histórico) para entender o conjunto de acontecimentos que levarão não só Neruda, mas um grande número de intelectuais, tanto na Europa, quanto na América, a se situarem no campo marxista entre as décadas de 1930 e 1950: Gabriel García Marques, Nancy Cunard, César Vallejo, Oscar Niemeyer, Jorge Amado, Dias Gomes, Pagu, Di Cavalcanti, Portinari, André Breton, Frida Khalo, Diego Rivera, Paul Róbson, Carlos Drummond de Andrade, Tarsila do Amaral, Cesar Vallejo, dentre outros.

A Guerra Civil Espanhola quando, em que pesem todas as críticas à União Soviética, a República somente recebeu ajuda e apoio dos soviéticos, que solidarizou-se enviando ajuda militar, inclusive com assessores para treinar o exército republicano e as incríveis brigadas internacionais, que reuniram voluntários do mundo inteiro para lutar até a morte ao lado da República assassinada, levou a uma onda de simpatia pelo movimento comunista internacional. Esta onda de simpatia teve um lapso com o pacto de não agressão entre Alemanha e URSS entre 1939 e 1941, mas a onda pró movimento comunista foi retomada com a invasão da União Soviética, e a resistência russa, principalmente em Moscou, Leningrado e Stalingrado. Os comunistas não organizavam somente a resistência na Rússia, os principais movimentos guerrilheiro de resistência na Europa eram organizados pelos comunistas, os chamados partisanos. A conhecidíssima resistência na França ocupada (e não o governo francês no estrangeiro) era encabeçada pelos comunistas e pelo Partido Comunista Francês, na clandestinidade. Também os movimentos intelectuais de resistência ao nazifascismo eram quase todos encabeçados por intelectuais comunistas. Num bloco histórico como este, não seria de se estranhar que Neruda tomasse partido pelos comunistas, embora ele só se filie formalmente ao Partido Comunista do Chile em 1945.

A simpatia e o trabalho junto com os intelectuais comunistas começa em Neruda ainda em 1936, na Espanha que resistia ao fascismo dos falangistas e de Franco:

Aunque el carnet militante lo recibí muchos más tarde en Chile, cuando ingresé oficialmente al partido, creo haberme definido ante mí mismo como comunista durante la guerra de España. Muchas cosas contribuyeron a mi profunda convicción.

hombre encantador. Entre sus atractivos el mejor era un anárquico sentido de indisciplina y de burlona rebeldía. En plena guerra civil se adaptó fácilmente a llamativa propaganda de la FAI (Federación Anarquista Ibérica). Concurría frecuentemente a los frentes anarquistas, dónde exponía sus pensamientos y leía sus poemas iconoclastas. Estos reflejaban una ideología vagamente ácrata, anticlerical, con invocaciones y blasfemias. Sus palabras cautivaban a los grupos anárquicos que se multiplicaban pintorescamente en Madrid mientras la población acudía al frente de batalla, cada vez más cercano. Los anarquista habían pintado tranvías y autobuses, la mitad roja y la mitad amarilla.

Con sus largas melenas y barbas, collares y pulseras de balas, protagonizaban el carnaval agónico de España. Vi a varios de ellos, calzando zapatos emblemáticos, la mitad de cuero rojo y la otra de coro negro, cuya confección debía haber costado muchísimo trabajo a los zapateros. Y no se crea que era una farándula inofensiva. Cada uno llevaba cuchillos, pistolones descomunales, rifles y carabinas. Por lo general se situaban a las puertas principales de los edificios, en grupos que fumaban e escupían, haciendo ostentación de su armamento. Su principal preocupación era cobrar las rentas a los aterrorizados inquilinos. O bien hacerlos renunciar voluntariamente a sus alhajas, anillos y relojes.

Volvía León Filipe de una de sus conferencias anarquistas, ya entraba de noche, cuando nos encontramos en el café de la esquina de mi casa. El poeta llevaba una capa española que iba muy bien con usa barba nazarena. Al salir rozó, con los elegantes pliegos de su atuendo romántico, a uno de sus quisquillosos correligionarios. No sé si la apostura de antiguo hidalgo de León Filipe molestó a aquel “Héroe” de la retaguardia, pero lo cierto es que fuimos detenidos a los pocos pasos por un grupo de anarquistas, encabezados por el ofendido del café. Querían examinar nuestros papeles y, tras darles un vistazo, se llevaron al poeta leonés entre dos hombres armados.

Mientras lo conducían hacia el fusilamiento próximo a mi casa, cuyos estampidos nocturnos muchas veces no me dejaban dormir, vi pasar dos milicianos armados que volvían del frente. Les expliqué quién era León Filipe, cuál era el agravio en que había incurrido y gracias a ellos pude obtener la liberación de mi amigo.

Esta atmósfera de turbación ideológica y de destrucción gratuita me dio mucho que pensar. Supe las hazañas de un anarquista austríaco, viejo y miope, de largas melenas rubias, que se había especializado en dar “paseos”. Había formado una brigada que bautizó “Amanecer” porque actuaba a la salida del sol.

— No ha sentido usted alguna vez dolor de cabeza? — le preguntaba a la víctima.

— Sí, claro, alguna vez.

— Pues yo le voy a dar un buen analgésico — le decía el anarquista austríaco, encañonándole la frente con su revólver y disparando un balazo. Mientras estas bandas pululaban por la noche ciega de Madrid, los comunistas rema la única fuerza organizada que creaba un ejército para enfrentarlo a los italianos, a los alemanes, a los moros y a los falangistas. Y eran, al mismo tiempo, la fuerza moral que mantenía la resistencia y la lucha anti-fascista.

Sencillamente, había que elegir un camino. Eso fue lo que yo hice aquellos días y nunca he tenido que arrepentirme de una decisión tomada entre las tinieblas y las esperanzas de aquella época trágica (NERUDA, 2005, pp. 155).

Assim, Neruda toma partido e faz opção pelos comunistas ainda na Guerra Civil Espanhola, embora só vá se declarar formalmente ligado ao partido em 1945. Era algo comum na época os artistas tomarem posição a favor dos

comunistas, já que estes eram os mais fervorosos propagandistas contra a guerra e o nazifascismo. Para os artistas, o nazifascismo significava guerra, morte, exílio: o Puntsch de Hitler na Áustria em 1934, a Guerra da Etiópia em 1935, a reocupação da Renânia e a Guerra Civil Espanhola em 1936. Os móveis desta decisão estão narrados acima, da citação retirada do livro “Confieso que he vivido”, em que ele narra como sua casa ficava no meio do caminho da frente de batalha e como ele foi testemunha dos trágicos acontecimentos, tomando partido a favor dos republicanos e militando por eles. Temos que retomar neste capítulo, a cadeia de acontecimentos, alguns já relatados no capítulo anterior, que abre a fase do Neruda engajado, militante socialista, com uma poesia manchada de sangue, do sangue dos seus companheiros mortos em batalha, ou simplesmente fuzilados pelos fascistas.

A narrativa poética do desaparecimento de Federico García Lorca tem a confissão de próprio punho de uma virada intelectual e poética. O marco de mudança causado pelo trauma da perda e da guerra. O sacrifício de Lorca é um símbolo, cruel, absurdo, mas exatamente por isto um marco. O maior poeta daquela geração morto por ser “rojo y maricas”. Lorca não foi assassinado sequer por sua militância política, mas por suas obras e pensamentos. A velha Espanha tentando matar a primavera vermelha ao destruir as flores. O cordeiro branco sacrificado lembra a mitologia cristã, com os sacrifícios de Jesus e João Baptista, ou o assassinato de Sócrates por suas ideias. É uma vítima inocente que pagou por crimes que não cometeu para que simplesmente a Espanha nascente revolucionária e popular fosse sufocada.

Como poeta autobiográfico, é fácil seguir as pegadas de mudança de Neruda, porque ele as deixas visíveis nas próprias obras, não só em Confieso que

viví ou para Nascer Nasci, mas também nos seus poemas, como España en el Corazón, esta marcado o itinerário poético. Mesmo a morte de Lorca, acontecimento

trágico, é pintado em prosa poética:

Federico tuvo un preconocimiento de su muerte. Una vez que volvía de una gira teatral me llamó para contarme un suceso muy extraño. Con los artistas de “La Barraca” había llegado a un lejanísimo pueblo de Castilla y acamparon en los aledaños. Fatigado por las preocupaciones del viaje, Federico no dormía. Al amanecer se levantó y salió a vagar solo por los alrededores. Hacía frío, ese frío de cuchillo que Castilla tiene reservado al viajero, al intruso. La niebla se desprendía en masas blancas y todo lo convertía a una dimensión fantasmagórica.

(…) un corderito pequeñito llegó a ramonear las yerbas entre las ruinas y su aparición era como un pequeño ángel de niebla que humanizaba de pronto la soledad del paraje. El poeta se sintió acompañado.

bestias oscuras, cerdos negros semisalvajes con hambre cerril y pezuñas de piedra.

Federico presenció entonces una escena de espanto. Los cerdos se echaron sobre el cordero y junto al horror del poeta lo despedazaron y lo devoraron.

Este escena de y soledad hizo con que Federico ordenara a su teatro ambulante continuar inmediatamente el camino.

Transido de horror todavía, tres meses antes de la guerra civil, Federico me contaba esta historia terrible.

Yo vi después, con mayor y mayor claridad, que aquel suceso fue la representación anticipada de su muerte, la premonición de su increíble tragedia.

Federico García Lorca no fue fusilado, fue asesinado. Naturalmente nadie podía pensar que lo matarían alguna vez. De todos los poetas de España era el más amado, el más querido, y el más semejante a un niño por su maravillosa alegría. Quién pudiera creer que hubiera sobre su tierra, y sobre su tiempo, monstruos capaces de un crimen tan inexplicable.

La incidencia de aquel crimen fue para mi la más dolorosa de una larga lucha. Siempre fue España un campo de gladiadores, una tierra con mucha sangre. La plaza de toros, con su sacrificio y su elegancia cruel, repite, engalanando de farándula, el antiguo combate mortal entre la sombra y la luz (NERUDA, 2005, p. 168-170).

A simbologia deste trecho é autoelucidativa. No caso, há até simbologia cristã, com Federico García Lorca sendo sacrificado e pagando com seu sangue como um cordeiro (como Jesus, cordeiro de Deus), pelos ímpios. Os porcos, que na bíblia são possuídos por demônios, demonstram, nesta constituição parabólica da conversação entre ambos os poetas, porcos negros (cor do fascismo), a opinião depreciativa que Neruda tinha dos golpistas. Lorca era sem dúvida nenhuma um poeta que tinha amigos dos dois lados da contenda, não era um militante socialista (embora fosse um simpatizante) e não havia tomado lado na guerra. Pensou que estaria seguro indo para sua terra natal e cometeu um terrível erro. Foi morto pelo que significava a sua poesia e seu teatro, uma denúncia permanente de uma Espanha Feudal e conservadora, o que é uma demonstração irrefutável de que a arte pode ter um engajamento, para além até do que pretendem seus autores. A reação de Neruda ao crime contra Lorca foi a de pegar os mesmos motivos que ensejaram a poesia de Lorca, ser a voz do oprimido e continuá-la, dando nova roupagem. O Neruda pós-Espanha é resultado, síntese dialética deste conjunto de influxos.

O Neruda pós-Espanha, militante socialista e poeta engajado, começa na Espanha, durante o conflito, com a Terceira Residência na Terra e seu poema Espanha no Coração:

España en el Corazón Explico algunas cosas

Y la metafísica cubierta de amapolas? Y la lluvia que a menudo golpeaba sus palabras llenándolas

de agujeros y pájaros?

Os voy a contar todo lo que me pasa. Yo vivía en un barrio

de Madrid, con campanas, con relojes, con árboles. Desde allí se veía el rostro seco de Castilla como un océano de cuero. Mi casa era llamada

la casa de las flores, porque por todas partes estallaban geranios: era

una bella casa

con perros y chiquillos. Raúl, te acuerdas? Te acuerdas, Rafael? Federico, te acuerdas debajo de la tierra,

te acuerdas de mi casa con balcones en donde la luz de junio ahogaba flores en tu boca? Hermano, hermano!

Todo eran grandes voces, sal de mercaderías, .

aglomeraciones de pan palpitante,

mercados de mi barrio de Argüelles con su estatua como un tintero pálido entre las merluzas:

el aceite llegaba a las cucharas, un profundo latido

de pies y manos llenaba las calles, metros, litros, esencia aguda de la vida, pescados hacinados,

contextura de techos con sol frío en el cual la flecha se fatiga,

delirante marfil fino de las patatas, tomates repetidos hasta el mar. .

Y una mañana todo estaba ardiendo, y una mañana las hogueras

salían de la tierra devorando seres, y desde entonces fuego, pólvora desde entonces, y desde entonces sangre.

Bandidos con aviones y con moros, bandidos con sortijas y duquesas, bandidos con frailes negros bendiciendo venían por el cielo a matar niños, y por las calles la sangre de los niños corría simplemente, como sangre de niños. Chacales que el chacal rechazarla,

piedras que el cardo seco mordería escupiendo, víboras que las víboras odiaran!

para ahogaros en una sola ola de orgullo y de cuchillos! Generales traidores: mirad mi casa muerta, mirad España rota:

pero de cada casa muerta sale metal ardiendo en vez de flores,

pero de cada hueco de España sale España, pero de cada niño muerto sale un fusil con ojos, pero de cada crimen nacen balas

que os hallar n un día el sitio del corazón. Preguntaréis por qué su poesía

no nos habla del sueño, de las hojas, de los grandes volcanes de su país natal? Venid a ver la sangre por las calles,

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 117-137)